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Desempenho e características da carcaça de bovinos de dois grupos genéticos, terminados em confinamento e abatidos com diferentes pesos

Publicado: 1 de junho de 2007
Por: Fabiana Maldonado, Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Noroeste Paulista, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP; Augusto César de Queiroz, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa -UFV-, MG; Guilherme Fernando Alleoni e Romeu Fernandes Nardon, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Nutrição Animal e Pastagem, Instituto de Zootecnia, APTA, SP; Paulo Roberto Leme, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Un
Sumário

Dezoito novilhos dos grupos genéticos ¾ Nelore-¼ Canchim e ¾ Nelore-¼ Caracu, com peso vivo médio inicial de 312 e 303kg, respectivamente, e média de idade de 22 meses, foram utilizados para avaliar os efeitos dos grupos genéticos e dos diferentes pesos de abate (430, 470 e 530kg) sobre o consumo de matéria seca, conversão alimentar, ganho diário de peso, área de olho de lombo e espessura de gordura subcutânea. Os animais foram confinados e distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 X 3 (grupo genético e peso de abate), com três repetições, sendo alimentados à vontade com uma dieta à base de silagem de sorgo (43%) e concentrado (57%). Os animais foram pesados a intervalos de quatro semanas, após serem submetidos a jejum completo de 18 horas e abatidos à medida que alcançavam os pesos pré-estabelecidos. Não foram observadas diferenças entre os grupos genéticos em nenhuma das características analisadas, possivelmente devido à semelhança nas composições genéticas dos animais, já que apresentavam predominância de sangue Nelore em relação às raças Canchim e Caracu. Entretanto, foi verificada maior área de olho de lombo (ajustada) nos animais abatidos mais leves (27,68cm2 aos 430kg) e maior espessura de gordura nos animais abatidos mais pesados (10,58mm aos 530kg). Contudo, todas carcaças produzidas atenderam às exigências do mercado em termos de peso e grau de acabamento.

Palavras-chave: área de olho de lombo, cruzamento, espessura de gordura, silagem de sorgo.

 

INTRODUÇÃO
A pecuária de corte nacional vem passando por uma significativa reestruturação, em que eficiência e competitividade em sistemas de produção são metas importantes a serem alcançadas. Como conseq üência, características como eficiência alimentar e qualidade da carcaça assumem nesse contexto grande importância.
Desse modo, a comunidade científica vem sendo impulsionada a desenvolver pesquisas voltadas para a conquista de maior competência na produ- ção de carne bovina de qualidade, almejando com isso o aumento da eficiência de produção (benefício para o produtor), oferta de carne com alta qualidade e com freqüência constante (benefício para o consumidor) e obtenção de produtos competitivos no mercado internacional (benefício para o país).
Os produtores de gado de corte podem aumentar a eficiência dos sistemas de produção com a utiliza ção de cruzamentos entre diferentes raças e o confinamento para a engorda de bovinos, sendo que no Brasil este é realizado principalmente nos meses de seca, época em que ocorrem restrições quantitativas e qualitativas de forragens nos pastos. Essa prática resulta em aumento do ganho de peso diá- rio dos animais (dependente obviamente do nível nutricional e tipo de dieta oferecida). Na redução da sua idade ao abate com conseqüente retorno mais rápido do capital investido. Na obtenção de carca- ças de melhor qualidade e permite ainda o melhor aproveitamento das terras na propriedade por meio da concentração dos animais em áreas menores, e melhor manejo dos pastos na época seca.
Já o cruzamento permite ao produtor buscar genótipos mais adequados ao seu sistema de produ ção e que atendam à demanda do mercado, principalmente no requisito qualidade da carcaça e da carne (RESTLE et al., 1999).
Melhorar o nível de alimentação na terminação associado ao material genético com potencial para ganho de peso é a combinação que certamente trará retorno econômico ao sistema de produção (ARBOITTE et al., 2004a).
Assim como a conversão alimentar, a avaliação das características da carcaça dos animais é uma importante ferramenta para complementar a avalia ção do desempenho animal durante seu desenvolvimento, como também subsidia a adoção de técnicas mais eficientes de produção com objetivo de incrementar a lucratividade da atividade.
O presente trabalho teve como objetivos avaliar o consumo de matéria seca, o ganho diário de peso vivo, a conversão alimentar da matéria seca e as características da carcaça de dois grupos genéticos terminados em confinamento e abatidos em três diferentes pesos.
 
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados dezoito novilhos, sendo nove ¾ Nelore-¼ Canchim (NC) e nove ¾ Nelore-¼ Caracu (NK), castrados, com peso vivo médio de 312 e 303kg, respectivamente, e com média de idade de 22 meses ao início de experimento.
Após passarem por um período de adaptação de 15 dias, durante o qual foram identificados e tratados contra endo e ectoparasitas, os animais foram confinados em baias individuais, dispondo de cocho coberto e bebedouro de concreto e alimentados ad libitum com dieta composta por 43% de silagem de sorgo e 57% de concentrado (base seca). O concentrado foi composto pelos seguintes ingredientes, na base seca: 62% de milho grão moído, 36% de farelo de algodão, 1,5% de uréia e 0,5% de uma mistura mineral composta por 24% de fosfato bicálcico, 24% de farinha de ossos calcinada, 48% de sal comum e 4% de microminerais, formulada de acordo com o NRC (1996), para ganho diário de 1kg de peso vivo.
Os teores de nutrientes da silagem, do concentrado e da dieta total foram determinados de acordo com metodologia descrita por SILVA (1990) e são apresentados na Tabela 1.
 
Tabela 1. Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), nutrientes digestíveis totais (NDT) e matéria mineral (MM) da silagem de sorgo, do concentrado e da dieta total.
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A alimentação foi fornecida duas vezes ao dia ajustada de forma a manter sobras em torno de 10% do oferecido, sendo as sobras coletadas diariamente antes da primeira oferta de alimento, quando se efetuava o registro do alimento consumido (oferecido menos sobras).
Os animais foram pesados a intervalos de quatro semanas, após serem submetidos a jejum completo de 18 horas e abatidos à medida que alcançavam o peso de abate pré-estabelecido de 430, 470 e 530kg. Após o abate procedeu-se a esfola, evisceração e com auxílio de uma serra elétrica a separação simétrica das duas metades da carcaça (direita e esquerda) onde as mesmas foram pesadas quentes e resfriadas por 24 horas, a uma temperatura de 3°C ± 2°C, sendo calculados os rendimentos de carcaça quente e fria, obtidos pela razão entre os pesos de carcaça quente e fria, respectivamente, e o peso vivo de abate.
As ½ carcaças foram separadas entre a 5ª e 6ª costelas em dianteiro (com 5 costelas), traseiro especial e ponta de agulha. O traseiro especial esquerdo foi seccionado entre a 11ª e 12ª costelas, onde na altura da 12a costela, foi medida a área de olho de lombo no contra-filé (músculo Longissimus dorsi), em polegadas através de régua (Loin Eye Area plastic grid) destinada a essa medição e, posteriormente, convertidas em cm2, assim como a espessura de gordura foi medida, em mm, por meio de uma ré- gua convencional.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 X 3 (grupo genético e pesos ao abate), com três repeti- ções. Os componentes analisados por meio de aná- lises de variância utilizando-se o Teste F, em nível de 5% de probabilidade, foram o consumo de maté- ria seca (kg/dia, %PV e g kg-0,75), ganho de peso vivo (kg/dia), a conversão alimentar da matéria seca (kg MS ingerida kg1 de ganho de peso vivo), rendimento de carcaça quente e fria, perdas por resfriamento, área de olho de lombo medida em cm² e ajustada para 100kg de carcaça e espessura de gordura medida em mm e ajustada para 100kg de carcaça. Na comparação das médias aplicou-se o Teste Student Newman-Keuls, a 5% de probabilidade, utilizandose o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas ? SAEG (UFV, 2000).
O modelo estatístico utilizado foi:
Yijk = m + Gi + Cj + GCij + eijk,
em que,
Yijk = Observação referente ao animal k, do grupo genético i e peso de abate j;
m = média geral;
Gi = efeito do grupo genético i;
Cj = efeito do peso de abate j;
GCij = interação entre grupo genético i e peso de abate j;
eijk = erro aleatório.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve interação entre grupo genético (NC e NK) e peso ao abate (430, 470 e 530kg), sendo os efeitos, portanto, considerados independentemente.
Na Tabela 2 são apresentados os resultados de consumo de matéria seca, ganho diário de peso vivo e conversão alimentar da matéria seca dos animais dos dois grupos genéticos e nos três pesos de abate.
 
Tabela 2. Peso vivo de abate (PVA) em kg, consumo de matéria seca (CMS), ganho de peso vivo (GPV) e conversão alimentar (CA) de bovinos dos grupos genéticos ¾ Nelore-¼ Canchim (NC) e ¾ Nelore-¼ Caracu (NK) e nos níveis de peso ao abate de 430, 470 e 530kg e respectivos coeficientes de variação (CV)
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Não foi observada diferença significativa entre os grupos genéticos em nenhuma das variáveis de desempenho animal avaliadas, ou seja, consumo de matéria seca, conversão alimentar e ganho diário de peso vivo. Estes resultados podem ser explicados pelo fato dos animais utilizados neste experimento apresentarem predominância de sangue zebuíno em suas composições genéticas, uma vez que possuí- am maior grau de sangue Nelore (3/4) do que europeu (1/4), que neste caso ainda, eram de raças européias com potencial genético semelhante para peso à maturidade. Outra razão para a falta de diferen ça significativa entre tratamentos para ganho de peso e conversão alimentar, apesar da diferença num érica entre tratamentos extremos variar de 10 a 22%, foram os altos coeficientes de variação observados para estas variáveis.
Entretanto, apesar de não haver diferença estat ística, há tendência de melhores resultados observados nos animais do grupo genético NC do que nos animais NK, o que na prática num sistema de produção em escala pode vir a resultar em alguma diferença econômica.
CRUZ et al. (2001) encontraram, em animais ½ sangue Canchim-Nelore inteiros, valores para consumo de matéria seca iguais a 9,2kg/dia e 2,31 %PV, ambos valores maiores ao do presente estudo com animais ¾ Nelore-¼ Canchim, castrados. Segundo MORAIS et al. (1993), entretanto, o maior consumo pelos animais inteiros seria devido à elevação de suas exigências nutricionais como conseqüência do seu maior potencial para ganho de peso, causado por um estímulo hormonal anabolizante (hormônio testosterona).
LEME et al. (1985) também não encontraram diferen ça significativa no ganho de peso entre animais Nelore-Canchim e Nelore-Caracu (1,04 e 0,94kg/dia, respectivamente), sendo estes valores maiores do que os encontrados no presente estudo. Porém, vale ressaltar que os animais utilizados pelos referidos autores eram inteiros, havendo, conseqüentemente, efeito da sua condição sexual, favorecendo seu melhor desempenho. Já COUTINHO FILHO et al. (1987) encontraram valores para ganho de peso em animais com sangue Canchim (castrados), variando de 1,05 a 1,13kg/dia, de acordo com a fonte protéica usada nas dietas, valores esses maiores do que os encontrados no presente trabalho para o grupo gen ético NC, castrados. Porém, deve-se ressaltar que o nível nutricional das dietas usadas por esses autores era mais elevado que a do presente estudo, apresentando cerca de 20% de PB na matéria seca.
LEME et al. (1985), CRUZ et al. (1996; 2000), ESTRADA (1996) e EUCLIDES FILHO et al. (1997) também não encontraram diferenças na conversão alimentar da matéria seca entre animais cruzados zebu-europeu.
Da mesma forma, não foram observadas diferen ças significativas nas variáveis estudadas entre os pesos de abate avaliados. Uma das possíveis causas da ausência de diferenças significativas entre os tratamentos pode ser devido ao número reduzido de animais utilizados para este estudo.
Apesar não ter sido feita uma análise de regress ão para uma avaliação progressiva dos dados, foi observada uma tendência numérica de declínio no consumo de matéria seca e ganho de peso vivo à medida que o peso ao abate aumentou de 430 para 530kg. Esse declínio pode ser supostamente explicado pela redução nas exigências nutricionais dos animais em fase mais tardia de desenvolvimento, com redução ou até mesmo paralisação do crescimento muscular e ósseo, além da redução do volume do trato gastrintestinal, variável essa que não foi analisada no presente estudo. Da mesma maneira, CRUZ et al. (1996; 1998) e ESTRADA (1996) não verificaram diferenças no consumo de matéria seca em kg/dia entre os pesos de abate em bovinos Nelore e seus mestiços com gado europeu, entretanto quando o consumo foi expresso em % do peso vivo e em g/kg-0,75, ESTRADA (1996) observou a mesma tendência de declínio. Segundo o autor, esse comportamento poderia ser explicado pelo decréscimo do tamanho do trato gastrintestinal dos animais em relação ao peso vivo verificado em seu estudo. Também CRUZ et al. (1995) não encontraram diferenças no consumo expresso em kg/dia entre animais Canchim e mestiços Canchim-Nelore, Blond d?Aquitaine- Nelore e Limousin-Nelore.
Por conseguinte, o consumo de matéria seca e o ganho de peso vivo mostraram tendência numérica de declínio quando se elevou o peso de abate (Tabela 2), já que os animais abatidos aos 430kg apresentaram ganho superior que o dos animais abatidos aos 530kg. Essa diferença, apesar de não ter sido estatisticamente significativa, pode ser considerada importante na prática, pois indica uma menor efici- ência para ganho de peso em animais abatidos muito pesados, já que para alcançarem esse peso de abate necessitam ser mantidos por maior tempo em confinamento gerando para isso, maior dispêndio de recursos financeiros. Assim, a eficiência diminui com o aumento da duração do confinamento, seja pela engorda de animais muito leves ou com maior peso de abate. Corroborando tal afirmação, COSTA et al. (2002) relataram que o aumento do peso de abate pode alterar o desempenho animal, alterando os custos do processo de terminação e conseqüentemente sua lucratividade. Em trabalhos de CRUZ et al. (1996, 1998) e ESTRADA (1996), também não foram observadas diferenças no ganho de peso vivo nos animais quando abatidos em diferentes categorias de peso. Entretanto, CRUZ et al. (1995) trabalhando com animais dos grupos Canchim, Canchim-Nelore, Blond d?Aquitaine-Nelore e Limousin-Nelore, observaram diferenças no GPV com o aumento do peso ao abate, verificando valores de 1,74; 1,65 e 1,50kg/ dia para os níveis de 400, 440 e 480kg de peso, respectivamente, corroborando os dados antes citados da tendência de redução no ganho de peso com a elevação do peso de abate dos animais.
Não foi observada diferença significativa para conversão alimentar da matéria seca entre os pesos de abate (Tabela 2). CRUZ et al. (1995; 1996 e 1998) e ESTRADA (1996) também não encontraram diferen- ças na conversão alimentar entre os pesos de abate considerados em seus trabalhos. Entretanto, EUCLIDES FILHO et al. (1997) em seus estudos, afirmaram que independente da dieta e do grupo genético houve tendência geral dos animais mais jovens apresentarem melhor conversão alimentar da matéria seca. A maior eficiência na conversão de alimento em carne em animais mais jovens é citada na literatura (MYERS et al., 1999; SCHOONMAKER et al., 2002a; SHOONMAKER et al., 2002b), devido aos menores requerimentos energéticos de mantença que proporcionam um consumo maior de energia para ganhos (NRC, 1996).
Apesar de não ter havido diferenças significativas para essas variáveis entre os grupos genéticos e os níveis de peso ao abate utilizados neste trabalho, seus valores são importantes como dados de pesquisa a serem utilizados por outros pesquisadores em seus estudos e comparações individuais.
A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos nas análises das características da carcaça dos animais dos dois grupos genéticos e nos três níveis de peso ao abate.
 
Tabela 3. Características da carcaça obtidas da ½ carcaça esquerda fria em função dos grupos genéticos ¾ Nelore- ¼ Canchim (NC) e ¾ Nelore-¼ Caracu (NK) e dos níveis de peso ao abate (430, 470 e 530 kg), e respectivos coeficientes de variação (CV)
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Não foi observada diferença significativa para rendimento de carcaça quente e rendimento de carca ça fria, área de olho de lombo, área de olho de lombo ajustada para 100kg de carcaça fria, espessura de gordura e espessura de gordura ajustada para 100kg de carcaça fria entre os grupos genéticos.
Apesar de não ter havido diferença estatística entre os pesos de abate, os rendimentos de carcaça quente e fria foram maiores nos animais abatidos com maior peso. Esse fato é confirmado por PRESTON e WILLIS (1974), os quais mostraram que o rendimento de carcaça aumenta com o peso de abate e o grau de acabamento (espessura de gordura) e, como ambas as características aumentam com a idade do animal, é de se esperar uma relação positiva entre idade e rendimento de carcaça.
MOLETTA e PEROTTO (1997) verificaram rendimento de carcaça quente igual a 58,7% em animais mesti ços Canchim não castrados e abatidos, em média, com 460 kg. FERNANDES et al. (2004) trabalhando com animais mestiços não castrados ½ sangue Holadês- Zebu e Caracu-Zebu verificaram rendimento de carca ça fria de 56,33% para os dois grupos abatidos dos 420 aos 470kg de peso vivo. JAEGER et al. (2004) verificaram rendimento de carcaça fria igual a 55,52% em animais F1 Canchim x Nelore não castrados, abatidos aos 554kg de peso vivo.
Não foi verificada nesse estudo diferença significativa para área de olho de lombo entre os grupos genéticos. EUCLIDES FILHO et al. (2001) encontraram valores de área de olho de lombo iguais a 72,7 e 75,8 cm2 para os grupos genéticos ½ sangue Angus- Nelore e ½ Simetal-Nelore, abatidos com 471 e 476 kg de peso vivo, respectivamente. Já FATURI et al. (2002) encontraram valor igual a 63,23cm² nos animais mestiços Charolês-Nelore com predominância de sangue Nelore abatidos em média aos 476,95kg de peso vivo. FERNANDES et al. (2004) encontraram valor igual a 73,9cm² de área de olho de lombo em garrotes ½ sangue Caracu-Zebu abatidos em média com 445kg de peso vivo.
LEME et al. (2000) sugeriram que, já que essa caracter ística sofre influência evidente do peso do animal, é melhor que seja expressa por 100kg de carcaça resfriada. Segundo LUCHIARI FILHO (2000) a área de olho de lombo, medida na 12ª costela, deve ter no mínimo 29cm² para cada 100kg de peso de carcaça, e os valores observados no presente experimento foram menores. LUCHIARI FILHO et al. (1985) também trabalharam com animais mestiços Nelore- Canchim e encontraram valores maiores para o grupo Nelore - Canchim (31,1 vs 24,93cm2/100kg de carcaça fria). Porém, vale ressaltar que os animais utilizados pelos referidos autores não eram castrados.
Outro parâmetro utilizado na avaliação de carca ças é a perda de peso devido ao seu resfriamento. Nesse estudo, as perdas por resfriamento da carca- ça foram relativamente altas, mas não sofreram efeito do grupo genético. Esse resultado evidencia a ocorrência de problemas de manejo das carcaças e de armazenagem das mesmas nas câmaras frigoríficas, já que as mesmas apresentavam gordura de cobertura adequada para sua proteção ao frio. Confirmando essa afirmação, KOCH et al. (1976) relatam que o percentual de perda por resfriamento revela a ocorrência de fatores como perda de umidade e reações químicas que ocorrem no músculo e que, portanto, quanto menor esse percentual, maior a probabilidade da carcaça ter sido manejada e armazenada de maneira adequada. JAEGER et al. (2004) encontraram perdas mínimas por resfriamento iguais a 0,27; 0,32; 0,28 e 0,26%, respectivamente, nas carcaças dos animais Nelore, F1 Canchim-Nelore, F1 Limousin-Nelore e F1 Aberdeen-Nelore com cobertura média de gordura de 7,75mm.
Não foram verificadas diferenças significativas entre os pesos de abate para os rendimentos de carca ça quente e fria (Tabela 3). Resultados semelhantes foram encontrados por ESTRADA (1996), JORGE et al. (1997a) e LEME et al. (2000), os quais não encontraram diferenças no rendimento de carcaça quente entre os pesos de abate por eles considerados.
Entretanto, GALVÃO et al. (1991) e JORGE et al. (1999) verificaram diferenças no rendimento de carcaça quente entre as categorias de peso 405, 450 e 500kg, tendo as categorias mais pesadas apresentado os maiores valores. Também ARBOITTE et al. (2004b) trabalhando com animais mestiços 5/8 Nelore-3/8 Charolês abatidos em média aos 425, 467 e 510kg de peso vivo, verificaram tendência de aumento do rendimento de carcaça quente e fria com o aumento do peso ao abate.
Não foi verificada diferença significativa para área de olho de lombo entre os pesos de abate considerados, porém, quando a área de olho de lombo foi ajustada para 100kg de carcaça fria, observou-se diferença (P<0,05), na qual os animais abatidos aos 430kg apresentaram valores maiores do que os outros níveis de peso (470 e 530kg), que não diferiram entre si. Esse resultado poderia ser explicado pelos relatos de LUCHIARI FILHO (2000) de que após atingir a puberdade, animais recebendo níveis nutricionais adequados tendem a alcançar um determinado est ágio, onde o crescimento muscular diminui em rela ção ao crescimento do tecido adiposo.
JORGE et al. (1997b; 1999) e LEME et al. (2000) não verificaram diferenças na área de olho de lombo entre as categorias de peso por eles considerado. Em discordância, estão NARDON et al. (1996), os quais verificaram diferenças nessa medida entre os pesos de abate 383, 463 e 539kg, em média, em animais Nelore (selecionados ou não), Guzerá e Caracu selecionados para ganho de peso, tendo a categoria mais pesada apresentado o maior valor. LEME et al. (2000) verificaram redução na medida de área de olho de lombo ajustada com a elevação do peso de abate de 448 para 515kg, fato também verificado no presente trabalho.
Foi observada diferença (P<0,05) para espessura de gordura medida, entre os pesos de abate de 430, 470 e 530kg, onde o mais pesado apresentou maior valor que os demais pesos, que por sua vez, não diferiram entre si, fato que era esperado observar nesse estudo. Quando a espessura de gordura foi ajustada para 100kg de carcaça resfriada, essa diferen ça desapareceu. Os resultados verificados no presente trabalho estão acima do mínimo recomendado pelos frigoríficos de 3mm de espessura de gordura, com intuito de se evitar o chamado ?cold shortening? (encurtamento das fibras musculares pelo frio) e, conseqüentemente, o endurecimento da carne, garantindo sua qualidade durante a fase de resfriamento. Entretanto, uma análise econômica do sistema de produção deve ser levada em considera- ção, pois a partir de certa idade, peso ou duração do confinamento o animal tende a depositar gordura mais intensivamente que os outros tecidos corporais, a qual, no momento do toilette, será aparada e descartada da carcaça, reduzindo a fração aproveitável da mesma, caso esteja em excesso. Tend ência semelhante foi observada por NARDON et al. (1996), os quais encontraram diferenças na espessura de gordura entre os pesos de abate 383, 463 e 539 kg (5,37; 7,35 e 12,14mm, respectivamente). JORGE et al. (1999) e LEME et al. (2000) também encontraram diferença significativa na espessura de gordura (mm) entre as categorias de peso (448, 493, 515kg e 405, 450, 500kg, respectivamente).
ARBOITTE et al. (2004b) trabalhando com animais mestiços 5/8 Nelore-3/8 Charolês abatidos em mé- dia aos 425, 467 e 510kg de peso vivo verificaram aumento linear na espessura de gordura com o aumento do peso ao abate de 425 para 510kg, assim como para a espessura de gordura ajustada. Esses dados confirmam, portanto, a afirmação de BERG e BUTTERFIELD (1976) de que animais mais pesados tendem a ter uma maior quantidade de gordura devido à desaceleração do crescimento muscular e acelera ção do crescimento adiposo, a partir de certa idade ou peso, e que o comportamento de decréscimo do desenvolvimento do músculo Longissimus dorsi, quando expresso por 100kg de carcaça, é inverso ao verificado com a espessura de gordura, o que é esperado quando o animal se aproxima do peso adulto. Entretanto, COSTA et al. (2002) afirmaram que o limite de espessura de gordura de cobertura desejado pelos frigoríficos brasileiros, para que não seja necessária a retirada (corte) do excesso de gordura da carcaça, é de aproximadamente 6,00mm. No presente estudo nem os grupos genéticos e nem os níveis de peso ao abate mais elevados (470 e 530 kg) apresentaram espessura de gordura de cobertura abaixo desse limite, o que levou a uma maior proporção de corte do excesso de gordura produzidos e posteriormente descartados.
 
CONCLUSÕES
Possivelmente devido à semelhança nas composi ções genéticas dos animais utilizados nesse estudo, já que apresentavam predominância de sangue Nelore em relação às raças Canchim e Caracu, e devido ao coeficiente de variação elevado em algumas variáveis (ganho de peso e conversão alimentar), não foram observadas diferenças significativas em nenhuma das características analisadas entre os grupos genéticos. Maior área de olho de lombo (ajustada para 100kg de carcaça fria) foi verificada nos animais abatidos mais leves e maior espessura de gordura foi observada naqueles abatidos mais pesados, aos 530kg. Entretanto, todos animais produziram carcaças que atenderam às exigências do mercado em termos de peso e acabamento. Portanto, a decisão na escolha do tipo de cruzamento a ser utilizado e o peso de abate dos animais dependerá de uma avaliação econômica do sistema produtivo, que não foi, entretanto, avaliada neste trabalho.
 
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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***O trabalho foi originalmente publicado no Boletim da Indústria Animal (BIA), do Instituto Zootecnia (IZ/APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Brasil.
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Autores:
Fabiana Maldonado
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Flávio Dutra De Resende
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Romeu Fernandes Nardon
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
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