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Aflatoxinas em frangos de corte

Influência das aflatoxinas na resposta vacinal em frangos de corte*

Publicado: 29 de agosto de 2011
Por: Fin, C.D.1,2; Rauber, R. H.2; Giacomini, L. Z.2; Dilkin, P.1; Mallmann, C.A.1 1Universidade Federal de Santa Maria - UFSM- Santa Maria/RS 2Instituto de Soluções Analíticas, Microbiológicas e Tecnológicas - SAMITEC - Santa Maria/RS
*Trabalho desenvolvido pela equipe do Instituto SAMITEC
RESUMO
              Para avaliar a influência de aflatoxinas na resposta imune humoral de frangos de corte, através da titulação de anticorpos, foram utilizados 60 pintos de um dia, da linhagem Cobb, distribuídos em 2 tratamentos de 30 aves cada, em 6 unidades experimentais, sendo: tratamento I: grupo controle e tratamento II: grupo intoxicado com 2,8 ppm de aflatoxina. Ambos os tratamentos foram vacinados com uma vacina inativada oleosa contra o vírus da Bronquite Infecciosa (IBV) aos 7 dias de idade. Decorridos 28 dias de experimento, os animais foram abatidos e realizou-se coleta de soro para titulação de anticorpos anti-IBV, através do método ELISA indireto. A média do logaritmo dos títulos de anticorpos contra IBV foi de 2,14 no grupo controle, sendo esta superior à média do grupo intoxicado, que foi de 1,44. A titulação mínima de anticorpos, no grupo intoxicado, foi de 0,0, demonstrando assim que as aflatoxinas reduzem a eficácia da resposta vacinal em frangos de corte, pois no grupo controle a titulação mínima foi de 1,26. Os valores máximos também foram inferiores no grupo intoxicado (2,89) quando comparado com o grupo controle (3,30). A dispersão dos coeficientes comprova que as aflatoxinas interferem na resposta vacinal, pois houve uma disparidade muito grande entre as amostras no grupo intoxicado (86,60%), demonstrando uma instabilidade na produção de anticorpos, sendo que no grupo controle a dispersão foi de 28,08%. Aplicando-se análise de variância (ANOVA), utilizando-se o teste Bonferroni (P≤0,05) constatou-se que há diferença significativa entre os grupos testados, comprovando-se, assim, que o grupo intoxicado teve a produção de anticorpos reduzida, devido à presença de aflatoxinas na ração.
 
INTRODUÇÃO
            Os frangos de corte são constantemente expostos à uma série de fatores imunossupressivos, aumentando a susceptibilidade às doenças e respostas imunológicas deficientes, por ocasião das vacinações. Dentre estes fatores destacam-se as micotoxinas, metabólitos secundários produzidos por diversos fungos filamentosos presentes ubiquitariamente na natureza (Dilkin, 2002). Mais de 400 micotoxinas são conhecidas, sendo comumente encontradas em sementes e matérias-primas utilizadas na elaboração da dieta de animais, especialmente das aves. As aflatoxinas compõem o grupo de micotoxinas de maior importância toxicológica nas condições tropicais e subtropicais do Brasil. São produzidas por fungos do gênero Aspergillus, sendo os principais representantes, o A. flavus e o A. parasiticus (Moss, 1991).
            Os efeitos tóxicos das micotoxinas nos animais são dependentes do tipo de toxina ingerida, quantidade e do período de exposição. Assim, as micotoxicoses podem ser agudas ou crônicas. O efeito agudo mais freqüente é a deterioração das funções hepática e renal, entretanto, algumas micotoxinas agem primariamente, interferindo na síntese protéica, produzindo dermonecrose e imunodeficiência. O efeito crônico desencadeia principalmente intervenção na replicação do DNA, induzindo alterações carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas, principalmente no fígado (Gompertz et al., 2005). Hsieh (1987) em um de seus estudos alegou que a base molecular e celular e o mecanismo geral responsável pelos efeitos imunossupressores da aflatoxina parecem estar diretamente relacionados ao impedimento da síntese protéica. A inibição da síntese protéica, direta ou indiretamente, impede a contínua reprodução e diferenciação das células do sistema linfóide e a síntese de citocinas que regulam a rede de comunicação entre os componentes do sistema imune, bem como a síntese de imunoglobulinas (Corrier, 1991).
            Vários efeitos tóxicos podem ser causados por aflatoxinas em aves, que incluem diminuição da performance, patologias hepáticas, imunossupressão e mudanças no peso relativo dos órgãos (Wyatt, 1991). Aflatoxinas na dieta podem ser um fator adverso para aumentar reações vacinais e afetar a eficiência de vacinas importantes para o desenvolvimento animal (Gertner, 2009). A imunossupressão causada por micotoxinas pode se manifestar por depressão na atividade de linfócitos T e B, diminuição na produção de anticorpos, redução na atividade do sistema complemento e prejuízo na fagocitose (Corrier, 1991).
            O objetivo deste experimento foi quantificar a resposta imune humoral, através da titulação de anticorpos, em frangos de corte intoxicados com aflatoxinas, vacinados contra o vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas (IBV).
 
MATERIAL E MÉTODOS
Para avaliar a influência das aflatoxinas na resposta imune humoral de frangos de corte, através da titulação de anticorpos, foram utilizados 60 pintos de um dia de idade, machos, da linhagem Cobb. As aves foram alojadas em uma sala climatizada da Unidade Experimental de Frangos do Instituto SAMITEC - Santa Maria/RS.
Foi empregado um delineamento experimental inteiramente casualizado com 2 tratamentos e 3 repetições de 10 aves cada, totalizando 6 unidades experimentais em gaiolas de 0,25 m2. Os animais receberam alimentação (ração e água) ad libitum durante todo o período experimental. As aves receberam dietas isonutritivas, sendo os principais ingredientes utilizados milho, farelo de soja, vitaminas e sal. As dietas foram preparadas constituindo dois tratamentos: A) Grupo controle (sem micotoxinas na ração); B) 2,8 mg de aflatoxina/kg de ração. As aflatoxinas utilizadas no experimento foram produzidas pelo cultivo da cepa toxígena de Aspergillus parasiticus (NRRL 2999). O material de cultivo foi autoclavado, secado a 50°C, triturado e posteriormente, certificado para a concentração de aflatoxinas por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).
As aves de ambos os tratamentos foram vacinados com uma vacina inativada oleosa contra o vírus da Bronquite Infecciosa (IBV) aos 7 dias de idade. Decorridos 28 dias de experimento (21 dias pós-vacinação), realizou-se a eutanásia dos animais e procedeu-se a coleta de sangue e posterior obtenção do soro para titulação de anticorpos anti-IBV, através do método ELISA indireto. Os resultados dos títulos de anticorpos Anti-IBV foram transformados em Log 10 para serem analisados estatisticamente. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística descritiva (ANOVA) para cálculo da média e coeficiente de variação. As diferenças entre as médias foram comparadas pelo teste de Bonferroni (P≤0,05), utilizando o pacote estatístico Statgraphics Centurion XV.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 1 estão representados os resultados da titulação de anticorpos. Observa-se média do logaritmo dos títulos de anticorpos contra IBV de 2,14 no grupo controle. Esta é significativamente superior à média do grupo intoxicado, que foi de 1,44. Esses resultados demonstram que houve diminuição na síntese de imunoglobulinas no grupo intoxicado.
 
Tabela 1 -Média do logaritmo dos títulos de anticorpos anti-IBV, coeficiente de variação, titulação mínima de anticorpos e titulação máxima de anticorpos, de frangos de corte vacinados contra IBV, recebendo ou não dieta contaminada com aflatoxinas, durante 28 dias.
 
Média
CV2
Titulação mínima
Titulação máxima
T1 (controle)
2,14a
28,08
1,26
3,30
T2 (intoxicado)
1,44b
86,60
0,0
2,89
1 CV= Coeficiente de variação (%).
a - b Médias nas colunas com letras diferentes, diferem pelo teste de Bonferroni (P≤0,05).
 
            A titulação mínima de anticorpos, no grupo intoxicado, foi nula (zero). Isso indica que as aflatoxinas possuem alta capacidade de diminuir a eficácia da resposta vacinal em frangos de corte, podendo inclusive inibir a produção de anticorpos em decorrência de vacinação, uma vez que no tratamento controle, a titulação mínima foi de 1,26. Essa constatação também se repete quando se compara os valores máximos dos títulos dos anticorpos, que foi inferior no grupo intoxicado (2,89) quando comparado com o grupo controle (3,30).
            A dispersão dos valores das titulações, constatados pelos coeficientes de variação, também são fortes indicativos de que as aflatoxinas interferem na resposta vacinal, pois houve uma amplitude muito grande entre as amostras no grupo intoxicado (86,60%), demonstrando uma instabilidade na produção de anticorpos, enquanto nos animais do tratamento controle a dispersão foi de apenas 28,08%. Essa instabilidade pode ser responsável por causar um aumento à susceptibilidade dos animais às doenças infecciosas, além de resultar em falhas em programas de vacinação por afetar a eficiência de vacinas e aumentar reações vacinais. Esta variação também evidencia os diferentes graus de susceptibilidade das aves às aflatoxinas. Pois, os indivíduos pertencentes ao mesmo lote de animais, intoxicados por aflatoxinas, apresentam diferentes graus de susceptibilidade a esta micotoxina, conferindo desuniformidade ao lote.
 
CONCLUSÕES
            A partir dos resultados obtidos com a realização deste trabalho, pode-se afirmar que as aflatoxinas interferem significativamente na resposta vacinal em frangos de corte, devido a seus efeitos imunossupressores, através da interferência na produção de anticorpos. Diante desta constatação, pode-se estimar perdas significativas por causa da ineficiência vacinal induzida por contaminação de aflatoxinas nas dietas dos animais. A imunossupressão causada pelas aflatoxinas também influencia na prevalência e gravidade de diversas enfermidades nos plantéis de frangos no Brasil, uma vez que estamos numa época marcada pela abolição da antibioticoterapia na produção animal.
 
REFERÊNCIAS
Corrier DE. Mycotoxicosis: mechanisms of immunosuppression. Vet Immunol Immunopathol. 1991;30(1):73-87.
DILKIN,P. Biológico, São Paulo, v.64, n.2, p.187-191, jul./dez., 2002
GERTNER, LUIZ RODOLFO SCAVAZZA. Avaliação do efeito da incorporação de fumonisinas em ração de frangos de corte na histologia de fígado e mucosa intestinal e resposta imunológica humoral à vacina contra doença de Newcastle. Curitiba, 2009.
GOMPERTZ, O. F. et al. Características Gerais das Micoses. IN: Trabulsi, L.R.
Microbiologia. 4. ed. Atheneu: São Paulo, 2004. Cap. 65. p. 451-459.
HSIEH, D. P. H. Mode of action of mycotoxin. In: Krogh P. Micotoxins in food. 6 ed. San Diego: Academic Press; 1987. p.149-76.
JONES, F. T. Is Mold Growth Hurting your Performance Avian Advice, v.7, n.1, p. 8<11, 2005.
MOSS M. O. The environmental factors controlling mycotoxin formation. In: SMITH, J. E., ANDERSON, R. A. Mycotoxins and Animal Foods. Florida: CRCPress, 1991. p. 37-56.
WYATT, R.D. Poultry. In: SMITH, J.E.; HENDENSON, R.S. Mycotoxins and animal foods. Boca Raton: CRC Press, 1991. p.553-605. 
 
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Autores:
Leandro Giacomini
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Paulo Dilkin
LAMIC - LABORATÓRIO DE ANÁLISES MICOTOXICOLÓGICAS
CA Mallmann
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Ricardo Hummes Rauber
Vetinova - Strategic Animal Health
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Carlos A. Mallmann
LAMIC - LABORATÓRIO DE ANÁLISES MICOTOXICOLÓGICAS
13 de septiembre de 2011
Dr. Borochovitz, Os trabalhos com micotoxinas "in vivo" são desenvolvidos por nosso grupo desde 1996. São mais de 300 protocolos desenvolvidos para a avaliação, especialmente para a indústria de Aditivos Antimicotoxinas (Adsorventes). A maior dificuldade é encontrar matéria prima isenta de micotoxinas (todas as principais como aflatoxinas, fumonisinas, ocratoxina A, DON, DAS, T-2, etc...). Temos sim, muito cuidado com isso, por ser o ítem mais importante na condução desta classe de experimentos, além, é claro, da quantidade e concentração da micotoxina em estudo. Atenciosamente!
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Henrique Marcos Borochovitz
10 de septiembre de 2011
estou interessado se a ração foi examinada para outra micotoxinas. no relatorio fala muito em micotoxinas e aflatoxinas dando a impressão de que e a mesma coisa mas sabemos da distinção - aflatoxina e uma micotoxina.
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