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A Qualidade do Ar nas Instalações Zootécnicas

Publicado: 4 de dezembro de 2013
Por: Meirelane Chagas da Silva & José Antonio Delfino Barbosa Filho (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (NEAMBE) Universidade Federal do Ceará – UFC).
Ao se falar de ambiência é comum à associação direta feita às variáveis ambientais temperatura e umidade relativa do ar. E esses fatores são, sem dúvida nenhuma, extremamente importantes e exercem considerável influência na produtividade dos animais e no bem-estar dos trabalhadores. Mas existem outros fatores, que por serem mais difíceis de detectar, normalmente não recebem a devida atenção por parte dos produtores rurais, mas que nem por isso são menos importantes. Entre esses fatores, destacam-se os níveis de gases e poeira presentes no ambiente de criação e confinamento animal.
Apesar da importância, pouco se fala sobre o monitoramento dos níveis de gases no interior das instalações e dos prejuízos causados aos animais quando estes níveis estão acima do que é recomendável. Embora estes níveis ainda não estejam bem definidos para todas as espécies, já se sabe que eles podem influenciar vários aspectos fisiológicos e, como consequência, refletir no desempenho apresentado pelos animais podendo tornar-se um fator limitante da produção.
O aumento da concentração de poluentes no ar dentro de um galpão destinado a produção animal pode ser ocasionado por reduzidas taxas de ventilação, podendo também ser consequência de um programa de manejo sanitário mal sucedido, já que, em geral, esses gases são provenientes da degradação dos dejetos liberados pelos animais, como é o caso da amônia.
A unidade de medida desses poluentes é o ppm (partes por milhão) e observa-se que, por exemplo, as aves são bastante sensíveis a concentrações de amônia superiores a 50 ppm, o que infelizmente, é uma situação frequente em algumas instalações.
A baixa qualidade do ar interfere na saúde, no bem-estar, na qualidade do produto final, na conversão alimentar e na eficiência produtiva dos homens e dos animais. Estudos comprovam que a amônia e o gás sulfídrico podem causar lesões nos tecidos, perda de apetite, redução da taxa de crescimento, atraso da maturidade sexual, problemas pulmonares e aborto. Estudos mostram que ambientes com níveis de concentração de amônia a partir de 10ppm poderão causar danos na superfície dos pulmões, a partir de 20ppm, podem aumentar a susceptibilidade a doenças respiratórias e a partir de 50ppm poderão reduzir a taxa de crescimento ou produtividade no sistema de criação de aves poedeiras. O metano, por sua vez, oferece riscos de explosão e pode causar asfixia quando em níveis muito elevados.
Outro poluente presente nas instalações é a poeira, que funciona como um importante veículo de transmissão de doenças, podendo absorver gases e líquidos e carrear microorganismos patogênicos. A poeira inalada pode ser eliminada pelo organismo pela ação mucociliar dos brônquios e dos macrófagos alveolares, mas se for contaminada, por exemplo, pela amônia, poderá destruir os cílios do aparelho respiratório, ficando comprometido este tipo de defesa. Nos homens, é comum o desenvolvimento de problemas respiratórios quando submetidos a um ambiente de trabalho que possui um elevado nível de poluentes no ar, afetando assim o seu rendimento e capacidade de trabalho.
O bem-estar dos animais ficará comprometido em ambientes com níveis elevados de gases nocivos e poeira. Um ambiente com essas condições também irá afetar o bem-estar dos trabalhadores e dessa forma poderá influenciar na sua interação com os animais, causando estresse desnecessário aos mesmos. Sabe-se que quando um animal de produção fica estressado ele não consegue expressar todo o seu potencial produtivo.
Para se proceder com o monitoramento dos gases em uma instalação existem atualmente no mercado equipamentos de fácil manuseio, através dos quais é possível monitorar os níveis de concentração dos principais gases que afetam a produção e a partir dessas leituras, determinar se a condição ambiental encontra-se dentro do que se considera aceitável, no entanto, esses equipamentos ainda são relativamente caros, mas, por outro lado, apresentam uma interessante relação custo/benefício, já que um mesmo aparelho pode analisar a concentração de diferentes tipos de gases.
O método considerado mais eficiente para controlar a qualidade do ar no interior das instalações ainda fica por conta de uma adequada ventilação, que irá proporcionar uma constante renovação do ar. Para tanto esse mecanismo deve ser bem dimensionado para que seja alcançado esse objetivo. Existem ainda métodos mais modernos e sofisticados, mas que ainda não estão totalmente bem definidos, como no caso da utilização de radiação ultravioleta, que "queima" microorganismos, odores e impurezas de difícil controle pelos sistemas usuais.
Diante da importância do assunto, pesquisas vêm sendo desenvolvidas pelo NEAMBE (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem Estar Animal), a fim de se determinar os níveis de poluentes aéreos aceitáveis para os animais de interesse zootécnico. Mas apesar disso, sabe-se que ainda há muitas lacunas a serem preenchidas para que os produtores possam superar as perdas produtivas causadas por este tipo de problema e não tenham comprometidos os índices zootécnicos de sua propriedade. Isso poderá ser conseguido através de um adequado dimensionamento dos galpões e utilização de densidade de criação adequada, além da adoção de boas práticas de manejo evitando-se o acúmulo de dejetos e de poluentes no ambiente de criação proporcionando assim maior produtividade e qualidade de vida aos animais e trabalhadores.
Finalmente é importante também que sejam desenvolvidas novas técnicas de controle da qualidade do ar que sejam mais acessíveis, simples e baratas, tornado o conforto aéreo um ponto de análise constante dentro do monitoramento ambiental moderno das instalações zootécnicas.
***Texto originalmente publicado pelo site Portal Dia de Campo, na Coluna “Construções Rurais e Ambiência” em setembro de 2011.
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Autores:
José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
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Marcelo de Souza Lima
4 de diciembre de 2013

José Antonio Delfino Barbosa Filho,
Artigo muito interessante e que traz à tona um aspecto muito comentado, importante do ponto de vista de mercado e, infelizmente, pouco praticado, que é o bem estar animal.
Acompanho a avicultura a um bom tempo e atualmente dedico-me profissionalmente na retirada de cama de aviário, processo inicial do mais importante passo da criação intensiva, o vazio sanitário, que também passa pelo processo de compostagem da cama, no caso da reutilização da mesma.
Assim sendo, não é raro encontrar aviários cujos níveis de amônia dentro do aviário é insuportável para seres humanos, com seus narizes a uma média de 1,7 m de altura, imaginem para quem tem seu nariz a cerca de 0,60 m dessa cama. Cama com índice de umidade tão elevado, que após amontoada em leiras para o processo de compostagem, após 7 a 10 dias após ser esparramada novamente no galpão, essa cama ainda libera níveis de amônia capazes de promover cegueira nos pintos na primeira semana. Gostaria de incitar quem lê a imaginar o bico desses pintinhos a aproximadamente 10 cm da cama, com temperatura em cerca de 30ºC e agora expire o ar total de seus pulmões e inspire fortemente até encher os seus pulmões. Calma, essa pontada aguda no meu de seu cérebro e a garganta adocicada pode ser rapidamente eliminada do seu corpo, basta sair de dentro do galpão, pena que os pintinhos não podem, você fechou o portão.
Imaginação a parte, fico muito preocupado quando vejo citações de que equipamentos devem ter seu custo barateado para que possamos atingir os objetivos de bem estar animal e outros tão importantes quanto, porque vejo e observo recomendações técnicas realizadas por veterinários, agrônomos, zootecnistas, que não vêm de encontro com o necessário para obtenção de um estado de produção coerente com o exigido para a ave, basta ver o tipo de cama encontrado nos aviários, a quantidade de poeira aderida nas pás dos exautores e nas telas da saída de vento dos galpões evaporativos adiabáticos com uso de linhas de nebulização.
Inclusive essa variável então é por demais atropelada, pois observo controladores de ambientes que têm sua função de controle de umidade relativa desabilitado para que a quantidade de água nebulizada atinja patamares acima de 85% de umidade relativa e não corte a água da bomba de nebulização, fazendo assim, que as aves sintam sensação térmica mais baixa e sintam nas penas o que os patos sentem na lagoa.
Portanto, vejo com alegria artigo como esse, que possa despertar o princípio físico e fisiológico de variáveis que atuam em animais que vivem em galpões, valendo-se de conhecimento e de equipamentos para atingir tal objetivo.

Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
30 de abril de 2014

Olá, amigos, tudo bem? Espero que sim.

Muito boa a exposição do Dr. José, e as colocações do Dr. Marcelo sempre excelentes.

Trabalho na área de sanidade avícola de forma preventiva e minha atuação básica hoje são problemas respiratórios associados aos problemas ambientais. Várias empresas no Brasil conhecem o problema de amônia e poeira de forma geral. Uma parte deste desconhecimento se dá pela má preparação e conhecimento dos profissionais de campo. Muitas tecnologias existem para prevenção, o problema é que não se relacionam estas tecnologias com o potencial de ganho, ou seja "invisto quanto e ganho tanto", basicamente informamos que o problema existe e que a ave sofre. Um exemplo: Em uma determinada integração do nordeste o problema estava evidente, até alterações histopatológicas foram observadas, foram relacionados os problemas em produtividade e ganho com a utilização de 2 determinadas tecnologias em cama e em água de bebida para reduzir o impacto da amônia, o custo e a relação de ganho financeiro em vários aspectos (R$ 1,00 investido e R$ 4,70 de retorno). Se quer o Diretor de produção entendeu o problema da respiração com ganho de peso...muito menos o ganho financeiro.

Voltando ao assunto...as empresas se quer medem a amônia e quando medem usam as fitas de medição que são extremamente incertas...

A relação do problema - NH3 com os ganhos ou perdas por parte da indústria é o caminho para melhorar as relações de bem - estar nos galpões.

Obrigado.

José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
4 de diciembre de 2013

Obrigado, Sr. Marcelo. Gostei muito do seu exemplo real de sensação quanto à elevada concentração de amônia presente na cama dos aviários, é exatamente assim mesmo que acontece. Por isso esse é um dos pontos críticos de controle de perdas na produção e um dos assuntos que figura entre os principais nas discussões sobre as condições de bem-estar para frangos de corte. Como bem observado pelo sr. depois de detectarmos vários problemas quanto ao excesso de amônia presente nos galpões de criação de frangos, nos voltamos agora para o estudo da umidade. Hoje o NEAMBE possui pesquisas direcionadas exclusivamente ao estudo do comportamento dessa importante variável ambiental nas instalações e seus efeitos nos animais, inclusive já enviamos um texto para o portal Engormix sobre isso e creio que em breve ele será publicado. Obrigado pelos elogios e aproveito a oportunidade para indicar o nosso site (www.neambe.ufc.br) para que acompanhe os nossos estudos e pesquisas. Obrigado!

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