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Detecção da farinha de carne na alimentação de poedeiras com uso dos isótopos estáveis de δ13c e δ15n

Publicado: 20 de outubro de 2011
Por: LA Madeira1, JC Denadai1*, J.R. Sartori 1, C Ducatti2, ESPB Saldanha3, MMP Sartori 2 - Universidade Estadual Paulista - FMVZ – DMNA, Universidade Estadual Paulista – IBB – CIE, 2, APTA, Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Brotas/SP, Brasil.
Sumário

O trabalho objetivou verificar se a inclusão de outros ingredientes, como farelo de trigo, glúten de milho e levedura na dieta de poedeiras, pode interferir na rastreabilidade da FCOB em ovos, pela técnica dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio. Foram utilizadas 256 galinhas poedeiras Bovans Goldline, distribuídas aleatoriamente em oito tratamentos, com quatro repetições. Os tratamentos foram compostos de uma dieta controle a base de milho, farelo de soja e farelo de trigo e as demais dietas foram acrescidos de glúten de milho e/ou 2,5% de FCOB e/ou levedura. No 56º dia foram tomados aleatoriamente 8 ovos por tratamento, dos quais oito ovos serviram para colheitas das amostras de gema e albúmen. Os resultados isotópicos de δ13C e δ15N, foram submetidos à análise multivariada discriminante linear com o auxílio do programa estatístico Minitab. O uso de 3,0% de glúten de milho na ração de poedeiras, não permite a diferenciação dos valores isotópicos de δ13C e δ15N do albúmen e gema destes grupos dos que possuem 2,5% farinha de carne e ossos bovina.
Palavras Chave: Carbono-13, Nitrogênio-15, Galinhas, Rastreabilidade, Isótopos estáveis.

Introdução
Devido as exigências do mercado internacional cada vez mais rigorosas na importação de produtos brasileiros, e ao interesse do consumidor por informações sobre os produtos alimenticios, torna-se necessário atender as exigências de seus mercados consumidores averiguando e assegurando a qualidade do alimento exportado. A rastreabilidade torna-se ferramenta relevante, para assegurar um produto de qualidade aos consumidores. O uso de farinha de carne e ossos bovina (FCOB) serve como fonte de proteínas e principalmente minerais (neste caso o fósforo) para as aves. Sem restrições no mercado interno quanto ao uso dos subprodutos de origem animal na alimentação de poedeiras, a criação comercial tem sido realizada com e sem a inclusão de farinha de carne e ossos bovina nas dietas.
Devido aos últimos acontecimentos no mundo relacionados aos produtos de origem animal nas rações, dentre os quais se podem citar a Crise da Dioxina na Bélgica (1999) e Alemanha (2000/2001) e diversos casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) em diversos países europeus, Canadá, Estados Unidos e Japão (Fernandes Filho & Queiroz, 2001; Cerutti, 2002), seu uso ficou proibido para exportação a países Europeus.
Na tentativa de identificar e quantificar a utilização de subprodutos de origem animal na alimentação de aves, estudos utilizando a técnica dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio vêm sendo desenvolvidas. A integração da composição isotópica do carbono-13 incorporado no corpo do animal e o que foi perdido na respiração e excreção deve ser igual à composição isotópica de carbono da dieta (DeNiro & Epstein, 1976, 1978). Já para o nitrogênio-15 ocorre enriquecimento médio de 3‰ a cada elevação de nível trófico (Kock et al., 1994). A razão isotópica do carbono (13C/12C) em associação à razão isotópica do nitrogênio (15N/14N) permitiu rastrear no produto final a farinha de carne e ossos bovina na alimentação de frangos de corte (Carrijo et al., 2006), farinha de vísceras de aves na alimentação de frangos de corte e codornas (Oliveira et al., 2010; Móri et al., 2007), farinha de vísceras de aves, juntamente com levedura e farelo de trigo, na alimentação de frangos de corte (Gottmann et al., 2008) e farinha de carne e ossos bovina na alimentação de poedeiras (Denadai et al., 2009).
Sendo assim, este trabalho objetivou verificar se a inclusão de outros ingredientes, como farelo de trigo, glúten de milho e levedura na dieta de poedeiras, pode interferir na rastreabilidade da farinha de carne e ossos bovina em ovos, pela técnica dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio.
Materiais & Métodos
O experimento foi desenvolvido no Setor de Avicultura da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Brotas, do Departamento da Descentralização do Desenvolvimento, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Foram utilizadas 256 galinhas poedeiras da linhagem Bovans Goldline, distribuídas aleatoriamente em 8 tratamentos, com 4 repetições. Aos 56º dias foram tomados aleatoriamente 8 ovos por tratamento. Os tratamentos foram compostos de uma dieta controle a base de milho, farelo de soja e farelo de trigo (MST), e as demais dietas foram acrescidos de glúten de milho (G) e/ou farinha de carne e ossos bovina (2,0% FC) e /ou levedura (L). As amostras foram analisadas no Centro de Isótopos Estáveis (CIE) do Instituto de Biociências, da UNESP, campus de Botucatu. O albúmen foi separado manualmente da gema, seco por 24h em estufa de ventilação forçada a 56ºC e moído criogenicamente para a análise no analisador elementar (EA 1108 - CHN - Fisons Instruments, Rodano, Itália) acoplado no espectrômetro de massas de razões isotópicas (Delta S - Finnigan MAT, Bremen, Alemanha). Os resultados das análises foram expressos em delta per mil (δ) da razão isotópica da amostra em relação aos padrões internacionais Peedee Belemnite (PDB) e nitrogênio atmosférico (N2), para os elementos carbono e nitrogênio, respectivamente, de acordo com a expressão:
δ(amostra, padrão) = 1000[(Ramostra - Rpadrão)/Rpadrão],
onde: R representa a razão entre o isótopo mais pesado e o mais leve, em particular 13C/12C e 15N/14N.
Os resultados isotópicos de δ13C e δ15N, foram submetidos à análise multivariada discriminante linear com o auxílio do programa estatístico Minitab.
Resultados & Discussão
Os grupos formados de acordo com os valores isotópicos de δ13C e δ15N das amostras de gema e albúmen coletadas aos 56 dias encontram - se nas Fig. 1 e 2.
Figura 1. Gráficos das componentes principais de carbono-13 e nitrogênio-15 da gema aos 56 dias.
Detecção da farinha de carne na alimentação de poedeiras com uso dos isótopos estáveis de δ13c e δ15n - Image 1
Observando os dados de gema (Fig. 1), a análise discriminante mostrou três grupos distintos de resposta, onde a esquerda do gráfico verificou-se o grupo formado pelos tratamentos controle à base de milho, soja e trigo (MST), o tratamento com adição de 2,5% de farinha de carne (MSTFC) e o tratamento com adição de levedura (MSTL). Ao centro do gráfico se formou o segundo grupo, onde todos os tratamentos contêm adição de glúten de milho (MSTG, MSTGFC e MSTGL) com exceção ao tratamento com adição de levedura e 2,5% de farinha de carne (MSTLFC), que também se alocou no mesmo grupo. E no lado direito do gráfico encontrou-se o terceiro grupo formado pelos tratamentos contendo o glúten, levedura e 2,5% de farinha de carne (MSTGLFC). Possivelmente, a inclusão de 3% de glúten não permitiu a detecção de 2,5% de farinha de carne. Entretanto Denadai 2008 detectou na gema a inclusão a partir de 3,0% FCOB na alimentação de poedeiras, porém detectou menor nível no albúmen (1,5% FCOB).
Figura 2. Gráficos das componentes principais de carbono-13 e nitrogênio-15 do albúmen aos 56 dias.
Detecção da farinha de carne na alimentação de poedeiras com uso dos isótopos estáveis de δ13c e δ15n - Image 2
 
Logo para o albúmen (Fig. 2), observou-se dois grupos distintos de resposta, alocados do lado esquerdo do gráfico o grupo sem a adição do glúten de milho (MST, MSTFC e MSTL), e um segundo grupo formado pelos tratamentos (MSTLFC, MSTG, MSTGL e o MSTGLFC), que se sobrepuseram, não permitindo a diferenciação destes, concordando com (Denadai et al., 2009) que afirmaram que a adição do ingrediente C4, glúten de milho e a levedura, causaram, aumento no enriquecimento, distanciando ainda mais os valores isotópicos dos ovos e suas frações dos do grupo controle.
Não foi possível a detecção do glúten, possivelmente pelo baixo nível de inclusão de farinha de carne (2,5%), porém o utilizado pela indústria é de 4,5 a 5,0%. Pode-se ressaltar a necessidade de realização de outros testes em conjunto com as dietas, pois o sinal isotópico da dieta reflete no produto final, no caso o ovo, confirmando a expressão de ordem geral de (DeNiro & Epstein, 1978), os quais afirmam que "o animal é aquilo que consome ± 1‰ para carbono-13", e ± 3‰ (2-5‰) para nitrogênio-15 a cada elevação no nível trófico.
Conclusões
O uso de 3,0% de glúten de milho na ração de poedeiras, não permite a diferenciação dos valores isotópicos de δ13C e δ15N do albúmen e gema destes grupos dos que possuem 2,5% farinha de carne e ossos bovina.
Agradecimentos
Programa Nacional de Pós Doutorado - PNPD, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela bolsa concedida ao primeiro autor e financiamento do projeto.
Ao Evandro Tadeu Silva, funcionário do Centro de Isótopos estáveis pela realização das análises isotópicas.
À APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo por ceder o setor de avicultura para a realização do estudo.
Bibliografia
Carrijo AS, Pezzato AC, Ducatti C, Sartori JR, Trinca L, Silva ET. 2006. Traceability of bovine meat and bone meal in poultry by stable isotope analysis. Revista Brasileira de Ciência Avícola 8(1):37-42.
Cerutti M. 2002. Aplicação de um programa de rastreabilidade na cadeia de frangos de corte. In: Simpósio Sobre Manejo E Nutrição De Aves E Suínos E Tecnologia Da Produção De Rações, 2002, Campinas. Anais...Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal. p. 253-264.
Denadai JC. 2008. Rastreabilidade de farinhas de origem animal em ovos de poedeiras comerciais pela técnica dos isótopos estáveis do carbono (δ13C) e do nitrogênio (δ15N). 90f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
Denadai JC, Ducatti C, Sartori JR, Pezzato AC, Móri C, Gottmann R, Mituo MAO. 2009. Rastreabilidade da farinha de carne e ossos bovinos em ovos de poedeiras alimentadas com ingredientes alternativos. Pesquisa agropecuária brasileira 44(1):1-7.
DeNiro MJ & Epstein S. 1976. You are what you eat (plus a few ‰) the carbon isotope cycle in food chains. Geological Society of America 6:834 (Abstract).
DeNiro MJ & Epstein S. 1978. Influence of diet on the distribution of carbon isotopes in animals. Geochimica et Cosmichimica Acta 42:495-506.
Fernandes Filho & Queiroz AM. 2001; Transformações recentes na avicultura de corte brasileira: o caso do modelo de integração. In: Congresso de Ciências Humanas, letras e arte - CONIFES-UFOP, 5. Ouro Preto: CONIFES, 26P.
Gottmann R, Pezzato AC, Ducatti C, Denadai JC, Mittuo MAO, Móri C, Sartori JR. 2008. Ratreabilidade de subprodutos de origem animal em dietas com levedura e trigo para frangos. Revista Agropecuária Brasileira-PAB 43(12):1641-1647.
Kock PL, Fogel ML, Turons N. 1994. Stable in Ecology and Environmental Science. Blackwell Scientific Publication, p.63-92.
Móri C, Garcia EA, Ducatti C, Denadai JC, Pelicia K, Gottmann R, Mituo MAO, Bordinhon AM. 2007. Traceability of animal by products in quail (Coturnix coturnix japonica) tissues using carbon (13C/12C) and nitrogen (15N/14N) stable isotopes. Brazilian Journal of Poultry Science 9(4):263-269.
Oliveira RP, Ducatti C, Pezzato AC, Denadai JC, Cruz VC, Sartori JR, Carrijo AS & Caldara FR. 2010. Traceability of poultry offal meal in broiler feeding using isotopic analysis (δ13C and δ15N) of different tissues. Revista Brasileira de Ciência Avícola / Brazilian Journal of Poultry Science 12:13-20.
Conteúdo do evento:
Autores:
Juliana Denadai
MMP Sartori
UNESP - Universidad Estatal Paulista
José Roberto Sartori
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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