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Risco Micotoxinas como ferramenta de gestão na Suinocultura

Publicado: 16 de outubro de 2019
Por: Denize Tyska, Zootecnista, MSc., Diretora de Pesquisa & Desenvolvimento y Adriano Olnei Mallmann, Médico Veterinário, PhD., Diretor Técnico - Pegasus Science
O Brasil ocupa uma importante posição no ranking mundial de produção de carne suína, tanto como produtor quanto exportador, ficando atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos. Esse crescimento deve-se a diversos fatores, como genética, manejo, sanidade e nutrição. Todos esses cuidados tornaram a carne suína muito atrativa e agradável ao paladar, havendo, com isso, a abertura de novos mercados. Dentro dessa cadeia de produção, as rações são intensamente utilizadas, representando cerca de 70 a 80% do custo total. Assim, a qualidade das matérias-primas deve ser garantida, já que pode, além dos custos, representar perdas em termos de produtividade.
Assim como nas demais áreas, a existência de fungos em grãos utilizados na nutrição de suínos, principalmente no milho, provoca perdas nos níveis energéticos; há redução no valor nutricional, além de também poder ocorrer a produção de micotoxinas. A espécie suína é muito sensível às intoxicações por micotoxinas. As principais micotoxinas que afetam esses animais são as aflatoxinas, produzidas por fungos do gênero Aspergillus, e as fumonisinas, a zearalenona e os tricotecenos, que são produzidos por fungos do gênero Fusarium.
As aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2) são causadoras de múltiplos efeitos tóxicos nos animais, sendo os suínos particularmente sensíveis. Os sinais clínicos e a gravidade dos surtos de aflatoxicose podem variar com a idade dos animais; os mais jovens apresentam maior sensibilidade. Outras variantes são o tipo de aflatoxina (B1 é reconhecidamente a mais tóxica), a composição da dieta, o tempo de exposição e a dose ingerida. A aflatoxicose aguda é facilmente observada por lesões hepáticas seguidas por depressão, anorexia, icterícia e hemorragias. Já nos casos superagudos, os sinais clínicos são evidentes em poucas horas e levam o animal rapidamente a óbito. Porém, a doença subclínica é a mais prejudicial; o animal ingere baixas doses da toxina de forma constante, o que determina alterações nos parâmetros produtivos.
A zearalenona é uma micotoxina bastante importante para a espécie suína, pois causa diversos transtornos reprodutivos. A micotoxina ou seus metabólitos causam hiperestrogenismo por promoverem a estimulação dos receptores estrogênicos citoplasmáticos, incrementando a síntese proteica no aparelho reprodutor. Consequentemente, a secreção das células endometriais, a síntese das proteínas uterinas e o tamanho do trato reprodutivo aumentam. Essas deformações podem levar à pseudogestação pela manutenção de corpo lúteo e determinar quadros caracterizados pelo nascimento de leitões fracos e natimortos e, muitas vezes, pela síndrome dos membros abertos ou splay leg. Também pode ocorrer acentuada redução nas taxas de concepção, acompanhada de repetição de cio.
Os suínos também apresentam alta sensibilidade às fumonisinas. Os principais órgãos-alvo são pulmão, coração e fígado, sendo que a síndrome específica nessa espécie é o Edema Pulmonar Suíno, geralmente com hidrotórax. Esses sinais clínicos são comuns em intoxicações agudas, quando o animal ingere altas doses da toxina em um curto período de tempo. Porém, as intoxicações crônicas são as mais frequentes e ocorrem em consequência das lesões hepáticas e intestinais, o que resulta em aparência de mal estado geral do animal. Nesses casos, os animais de um lote normalmente apresentam significativa disparidade. A ingestão de alimento é reduzida, refletindo em menor ganho de peso. Ademais, os suínos apresentam cerdas com menor intensidade de brilho e eriçadas e circulam com maior frequência na baia ao se alimentarem. Essa toxina pode causar efeitos imunossupressores como redução da concentração de macrófagos nos pulmões dos suínos, predispondo os mesmos a doenças respiratórias.
Outro importante grupo de micotoxinas é o dos tricotecenos, cuja principal característica é o seu efeito imunossupressor. A espécie suína apresenta grande sensibilidade a essas toxinas. O principal mecanismo de ação ocorre por inibição da síntese proteica e interferência na síntese de DNA e RNA, atingindo células de alta capacidade metabólica e multiplicação ativa. Dentro desse grupo, o de maior importância toxicológica e econômica para a suinocultura é o deoxinivalenol. Outras toxinas importantes são a diacetoxiscirpenol, toxinas T-2 e nivalenol que, embora com efeitos significativos, têm baixa prevalência nas matérias-primas rotineiramente utilizadas para produzir rações. A Figura 1 ilustra as principais micotoxinas que afetam o desempenho dos suínos, juntamente com o nível de risco que cada uma representa.
Risco Micotoxinas como ferramenta de gestão na Suinocultura - Image 1
Figura 1 – Risco das principais micotoxinas que afetam o desempenho dos suínos.
Outro fator bastante discutido é a ocorrência de múltiplas toxinas e, por isso, diversas ações preventivas devem ser efetuadas. A decisão, por exemplo, do uso ou não de um aditivo antimicotoxinas, bem como da dosagem de inclusão, deve ser tomada em função da avaliação do Risco Micotoxinas. Esse gerenciamento é realizado mediante constante avaliação das matérias-primas utilizadas para fabricação das rações. Hoje dispõe-se de análises através do Near Infrared Spectroscopy (NIR), 0uma ferramenta de gestão muito ágil para a tomada de decisão. O uso do NIR possibilita uma visão geral sobre o risco de exposição micotoxicológica nas diversas fases de produção. 
O risco é um algoritmo que calcula a probabilidade de haver pressão micotoxicológica baixa, média ou alta baseado na frequência de presença e nível de contaminação, além do efeito da coocorrência de outras micotoxinas. A Figura 2 exemplifica o risco zearalenona para suínos em diversas fases de criação de acordo com o histórico de análises e os demais fatores mencionados acima. Assim, a tomada de decisão baseada em um histórico de análises torna-se muito mais segura e econômica: menos aditivo será utilizado quando o risco for baixo e mais quando o risco for alto. Dessa forma, reduz-se as perdas na produção de animais.
Risco Micotoxinas como ferramenta de gestão na Suinocultura - Image 2
Figura 2 – Exemplo do Risco Micotoxinas nas diversas fases de produção ao longo do tempo.
Portanto, o uso do Risco Micotoxinas baseado na ferramenta NIR como um sistema de gestão micotoxicológica é um recurso muito seguro de tomada de decisão. Essa metodologia tem como vantagens a facilidade no preparo das amostras, a não utilização de reagentes, a simples operacionalidade e, principalmente, a agilidade na obtenção do resultado. É uma tecnologia que traz benefícios para o produtor e para o rebanho, possibilitando a tomada de decisão em tempo real com minimização de perdas e maximização de rentabilidade.
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Autores:
Adriano Olnei Mallmann
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