Introdução
Os antimicrobianos promotores de crescimento têm sido regularmente utilizados nas rações de suínos desde a década de 50. Estes produtos agem na modulação da microbiota intestinal, determinando efeitos diretos e indiretos nos animais, melhorando substancialmente o ganho de peso e a e ciência alimentar (PATTERSON, 2005). Segundo Bellaver (2000), para suínos, o uso de antimicrobianos promotores é capaz de incrementar o ganho diário de peso em torno de 21% nas fases iniciais e de 10% na fase de crescimento, comparados com rações isentas destes.
Porém, com o banimento dos antibióticos promotores de crescimento na União Européia, outros produtos alternativos e naturais surgiram no mercado. Estes novos compostos, hoje utilizados em muitos países, devem apresentar elevada e ciência, baixo custo e atender as exigências do consumidor, preservando a ausência de resíduos na carne, o bem estar dos animais e danos ao meio ambiente (CLOSE, 2000).
Estes novos promotores, portanto, devem garantir adequado equilíbrio da microbiota, re etindo positivamente no estado de saúde geral do animal, com in uências conseqüentes no desempenho, na qualidade de carcaça e na carne (SILVA; NÖRBERG, 2003).
Os prebióticos, principalmente os frutoligossacarídeos e os mananoligossacarídeos, (FLICKINGER; FAHEY JÚNIOR, 2002) e os extratos vegetais (CUNHA JÚNIOR; SCHEUERMANN, 2005) representam alguns dos promotores alternativos mais estudados, mas que ainda demonstram resultados práticos bastante variados. Muitos fatores, como a composição da microbiota dos animais (MENTEN, 2001) e o tipo de obtenção e preparação destes aditivos (CUMMINGS; MACFARLANE, 2002) podem contribuir para esta diversidade nos resultados.
Com maior freqüência, os leitões lactentes e os leitões desmamados são objeto de avaliações e usuários de programas que adotam os promotores de crescimento alternativos nas dietas, uma vez que, contrário aos animais que estão em fase de crescimento, estes têm uma população microbiana menos estável e de nida (GÓMEZ, 2006). Neste sentido, pesquisas com promotores alternativos com suínos em fase de crescimento e terminação são mais escassas (CAMPBELL et al., 2006).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do uso de prebióticos como promotores de crescimento nas rações de suínos nas fases de crescimento e terminação sobre o desempenho, as características de carcaça e a qualidade de carne.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no setor de suinocultura da Universidade Estadual de Londrina, Estado do Paraná. As análises referentes às características de carcaça foram realizadas em um frigorí co localizado a 45 km de Londrina; e as
relacionadas à qualidade de carne, no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia e no Laboratório de Análise de Alimentos do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Estadual de Londrina.
As instalações experimentais consistiram de 24 baias, de 3 m² de área (1,8 X 1,7m), edi cadas em alvernaria, com piso compacto, equipadas com comedouros metálicos semi-automáticos e bebedouros tipo nipple.
Foram utilizados 48 suínos machos castrados, da genética DB-DanBred, com peso inicial médio de 32,48 ± 3,71 kg e idade de 72 dias, alojados em número de dois animais por baia. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com restrição na casualização para seis classes de peso inicial, de nindo 4 tratamentos e 6 repetições, sendo cada baia considerada uma unidade experimental.
Os tratamentos experimentais consistiram da combinação de 0,2% de um promotor de crescimento alternativo (Vitalsantos®-Techna) composto de prebióticos (0,1% mananoligossacarídeo e 0,1% frutoligossacarídeo) e do antibiótico apramicina, adicionados às rações das fases de crescimento I, II e terminação, sendo:
T1 = controle (ração isenta de promotor de crescimento);
T2 = 0,2% de prebióticos (0,1% mananoligossacarídeo e 0,1% frutoligossacarídeo)
T3 = 15 ppm de apramicina;
T4 = 0,2% de prebióticos (0,1% mananoligossacarídeo e 0,1% frutoligossacarídeo) + 15 ppm de apramicina
As rações utilizadas nos tratamentos foram fornecidas à vontade e possuíam os mesmos valores nutricionais, sendo formuladas visando atender as exigências mínimas recomendadas pelo National Research Council – NRC (1998). Foram utilizadas rações especí cas para as fases de Crescimento I (30 aos 50 kg de peso vivo), Crescimento II (50 aos 80 kg de peso vivo) e Terminação (80 kg até o peso de abate). A composição percentual e centesimal das rações basais encontra-se na Tabela 1.
Tabela 1. Composição percentual e centesimal das rações basais crescimento I, crescimento II e terminação fornecidas durante o período experimental.
As variáveis de desempenho (ganho diário de peso, consumo diário de ração e conversão alimentar) foram calculadas a partir de pesagens semanais e da quanti cação da sobra de ração nos comedouros.
Antecedendo o abate, os animais foram submetidos ao jejum alimentar de 17 horas, mantendo-se a dieta hídrica ad libitum. Os suínos foram transportados no início da manhã para um frigorí co localizado a 45 km da cidade de Londrina, sendo que o tempo do transporte foi de 1 hora. O abate dos animais foi realizado aos 156 dias de idade com peso médio de 115,89 ± 7,48 Kg.
Para as análises das características de carcaça e da qualidade de carne, foi utilizado o delineamento inteiramente ao acaso, sendo cada animal considerado uma repetição.
O abate seguiu os procedimentos convencionais, com insensibilização elétrica e incisão da veia jugular. Após a escaldagem, evisceração e lavagem das carcaças, estas foram divididas ao meio longitudinalmente e pesadas para se obter o peso da carcaça quente (PCQ). Após 45 minutos do abate foi medido o pH (pH inicial) no músculo Longissimus dorsi, na altura da última costela da meia carcaçaesquerda, com auxílio do potenciômetro Sentron 1001. Na seqüência as carcaças foram acondicionadas em câmara fria à temperatura de 2 ± 1ºC.
Após 24 horas de resfriamento, as carcaças foram pesadas, obtendo-se o peso da carcaça fria (PCF). O pH foi novamente medido para obtenção do pH nal. Cada meia carcaça esquerda foi avaliada de acordo com as orientações da Associação Brasileira de Criadores de Suínos – ABCS (1973). Foram medidos o comprimento de carcaça (CC), a profundidade do músculo (PM) Longissimus dorsi e as espessuras de toucinho na primeira costela (ET1), na última costela (ET2) e na última vértebra lombar (ET3), sendo calculada a média destes três pontos (ET). O contorno do lombo foi desenhado em papel vegetal para o cáalculo da área do olho de lombo (AOL), realizada através do programa de informática Autocad 2000 (BRIDI; SILVA, 2006).
A medida da espessura de toucinho e da profundidade do lombo foi realizada na altura do ponto P2, localizado na região de inserção da última vértebra torácica com a primeira lombar a seis centímetros da linha média de corte da carcaça (BRIDI; SILVA, 2006). Com estes valores foi calculado o rendimento de carne na carcaça (RCC) e a quantidade de carne na carcaça (QCC), segundo as fórmulas propostas por Irgang (2004) apud Bridi e Silva (2006).
Após as análises de carcaça, estas foram seccionadas para a retirada do músculo Longissimus dorsi. Transportadas ao laboratório, as peças foramdesossadas para a extração do lombo e a gordura adjacente do músculo foi retirada. No sentido caudal-cranial foram retiradas três amostras (bifes) do lombo de cada carcaça: a primeira para a análise de cor, marmoreio e perda de água por gotejamento; a segunda para a avaliação da perda de água no descongelamento e na cocção e para medir a força de cisalhamento (maciez); e a terceira para a análise sensorial. A segunda e a terceira amostras foram congeladas (-4º C em freezer comercial) para posteriores análises.
A avaliação da cor foi realizada com auxílio do aparelho colorímetro portátil Color – guide 45/0 D65/10º da marca BYK Gardner, que forneceu os valores de L* (luminosidade), a*(componente vermelho-verde) e b*(componente amarelo-azul) através do sistema de cor CIELAB.
O grau de marmorização foi realizado pelo método indireto utilizando-se padrões fotográ cos (NATIONAL PORK PRODUCERS COUNCIL, 1991), atribuindo-se notas de 1 a 5 (1 = traços de marmoreio; e 5 = marmoreio abundante).
A capacidade de retenção de água da carne foi avaliada por três metodologias: perda de água por gotejamento (BOCCARD et al., 1981), perda de água no descongelamento (diferença em porcentagem do peso da amostra congelada e descongelada em temperatura de 4ºC por 24h) e perda de água na cocção (diferença em porcentagem do peso da amostra descongelada e assada em forno por 40 minutos a temperatura de 170ºC).
A avaliação de maciez foi realizada através da força de cisalhamento fornecida em kg/mm², em amostras de formato cilíndrico e previamente cozidas, por meio da lâmina HDP/BSW Warner-Bratzler acoplada ao texturômetro Stable Mycro Systems TA – XT2i (BOUTON; HARRIS; SHORTHOUSE, 1971).
A análise sensorial foi realizada com o objetivo de avaliar o aroma e o sabor das amostras através do Teste de Ordenação (DUTCOSKY, 1996). As amostras foram assadas sem adição de tempero, por 50 minutos, em forno à temperatura de 180ºC. Foram utilizados 45 provadores não treinados que ordenaram as amostras em seqüência decrescente de sabor, ou seja, da mais saborosa para a menos saborosa.
Todos os dados de desempenho, carcaça e carne (com exceção da análise sensorial) foram submetidos à análise de variância e a comparação das médias ao teste de Tukey, utilizando-se o programa SAEG (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, 1997).
Resultados e Discussão
As médias das variáveis ganho diário de peso, consumo diário de ração e conversão alimentar para as fases de crescimento I, crescimentos I + crescimento II, e total (crescimentos I + crescimento II + terminação) e o peso vivo dos suínos ao nal do período experimental encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2. Efeito dos tratamentos experimentais sobre o ganho diário de peso (GDP), consumo diário de ração (CDR), conversão alimentar (CA) e peso nal (PF) em suínos nas fases crescimento I (Fase I), crescimento I + crescimento II (Fase I+II) e período experimental total, crescimento I + crescimento II + terminação (Fase Total).
Somente foi veri cada diferença (P< 0,05) para o parâmetro conversão alimentar, na fase de crescimento I, para os animais que receberam a dieta com prebióticos em relação ao tratamento com o apramicina + prebióticos. Para os outros períodos experimentais não houve diferença para nenhuma variável de desempenho analisada.
A melhor conversão alimentar na Fase I para o tratamento com prebióticos (0,1% mananoligossacarídeo + 0,1% frutoligossacarídeo), em relação ao grupo tratado com 15 ppm de apramicina + prebióticos (0,1% mananoligossacarídeo + 0,1% frutoligossacarídeo), e a ausência de diferença em relação aos demais tratamentos, não permite indicar uma vantagem para o uso dos prebióticos na apresentação e concentração utilizadas, quer como um aditivo promotor isolado quer associado à apramicina. Todavia, Gebbink et al. (1999), trabalhando com leitões em fase de creche, sob condição de alto desa o sanitário, obtiveram melhor conversão alimentar quando usaram altos níveis de frutoligossacarídeo (5%) em relação a um antibiótico tradicional (0,05% de virginamicina). Os autores observaram que houve uma redução da população de E.coli e aumento da população de bi dobactérias no cólon distal dos leitões tratados com frutoligossacarídeos (P< 0,05) em relação ao tratamento com antibiótico e ao grupo controle, indicando que este prebiótico interferiu na modulação bené ca da microbiota, contribuindo para um ambiente intestinal mais favorável aos processos digestórios.
Para os parâmetros ganho diário de peso e consumo diário de ração na Fase I, a ausência de diferença entre os tratamentos se assemelha aos resultados observados por Ko, Kim e Han (2000), que avaliaram suínos em fase inicial de crescimento (primeiros 28 dias) alimentados com três tipos de ração, com 0,04% de clortetraciclina, com 0,1% de mananoligossacarídeo e isenta de promotores de crescimento. No entanto, os autores observaram que no período total do teste, correspondente à duração de 42 dias, os animais do tratamento controle apresentaram menor ganho diário de peso e menor consumo diário de ração em relação aos animais que receberam prebiótico.
Para a Fase I + II e Fase total não foram veri cadas diferenças entre os tratamentos sobre os parâmetros de desempenho.
Os resultados obtidos con rmam as observações de Houdijk et al. (1998) e Budiño (2004), que utilizando promotores alternativos, comparados com antimicrobianos promotores e com rações livres destes, indicaram que podem ocorrer variações nos resultados de desempenho em determinadas fases ou etapas experimentais. Porém, ao analisarem o trabalho em todo o período experimental não veri caram diferenças entre os tratamentos.
Neste sentido, Cardoso, Mestre e Pickard (2004), Rekiel, Wiecek e Dziuba (2005) e Campbell et al. (2006), trabalhando com diferentes aditivos promotores de crescimento, incluindo prebióticos e antibióticos, não encontraram diferenças em nenhuma das fases estudadas.
Campbell et al. (2006) não veri caram diferenças (P> 0,05) no desempenho de suínos em fase de terminação que receberam dietas suplementadas com uma fonte comercial de mananoligossacarídeos, acidi cantes, ácido fumárico ou antibiótico mais óxido de zinco. Os autores explicam que a ausência de resultados positivos quando se avalia o uso de prebióticos como promotores de crescimento deve-se à baixa inclusão destes nas rações, à expressiva quantidade de oligossacarídeos presente nos cereais e na soja da dieta basal e ao bom estado de saúde e à idade dos animais. Contudo, os resultados obtidos divergem daqueles reportados por Davis et al. (2002), que observaram um aumento no ganho diário de peso de suínos em fases de crescimento e terminação que receberam mananoligossacarídeos e cobre em suas dietas, comparados com um grupo controle.
Os resultados das características de carcaça estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Efeito dos tratamentos experimentais sobre os parâmetros: peso de carcaça quente (PCQ), peso da carcaça fria (PCF), comprimento de carcaça (CC), profundidade do músculo Longissimus dorsi (PM), espessura de toucinho (ET), rendimento de carcaça (RC), rendimento de carne na carcaça (RCC), quantidade de carne na carcaça (QCC) e área de olho de lombo (AOL).
Pode-se observar que somente para a área de olho de lombo foi identi cada diferença (P< 0,05) entre os tratamentos prebióticos (0,2%) e controle, sendo veri cada uma área 13,48% maior para o grupo tratado com o promotor alternativo. Este resultado pode ser explicado pelos prebióticos (mananoligossacarídeos + frutoligossacarídesos) terem favorecido a microbiota intestinal, possibilitando, assim, uma melhor utilização de proteínas para o desenvolvimento muscular.
Os resultados obtidos, excetuando a vantagem na área do olho de lombo, foram semelhantes aos observados por Cardoso, Mestre e Pickard (2004) e Rekiel, Wiecek e Dziuba (2005), que não encontraram diferenças sobre os parâmetros de carcaça de suínos submetidos a tratamentos com mananoligossacarídeos e antibióticos nas dietas. Bae, Ko e Kim (1999) também não veri caram diferenças nas características de carcaça de suínos tratados, a partir dos 68 kg de peso vivo até o abate, com dietas suplementadas com quatro aditivos distintos: 0,1% de mananoligossacarídeos, extrato de yucca, 0,1% de beta-glucanos e clortetraciclina.
Os parâmetros avaliados relacionados à qualidade de carne estão apresentados na Tabela 4.
Não foram encontradas diferenças entre os parâmetros para as distintas dietas experimentais (P< 0,05), indicando ausência de efeitos sobre as características qualitativas da carne.
A análise sensorial não apresentou diferença entre os tratamentos quanto ao aroma e sabor, já que a maior diferença crítica encontrada entre os totais de ordenação ao nível de 5% de signi cância foi de 13 pontos. Segundo a tabela de Newell e Mac Farlane, este valor deveria ser de no mínimo 32 pontos para resultar diferença signi cativa.
Tabela 4.Efeito dos tratamentos experimentais sobre os parâmetros: porcentagem de perda de água por gotejamento (PAG), perda de água no descongelamento (PAD), perda de água na cocção (PAC), valores de cor (L*, a* e b*), pH inicial (pHi), pH nal (pHf), mamoreio (MAR) e força de cisalhamento (FC) nas amostras do músculo Longissimus dorsi.
Conclusões
Nas condições em que foi realizado o presente estudo, pode-se concluir que o uso dos prebióticos mananoligossacarídeo + frutoligossacarídeo, associados ou não à apramicina, determinou resultados semelhantes para as características de desempenho, carcaça e carne, permitindo sua adoção nas fases avaliadas.