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hormônios tireoideanos carcaça suínos

Níveis de hormônios tireoideanos circulantes, desempenho e qualidade de carcaça e carne de suínos em crescimento e terminação

Publicado: 15 de fevereiro de 2013
Por: Robson Carlos Antunes, Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento, Antonio Vicente Mundim e Natascha Almeida Marques da Silva da Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia - UFU - MG, e Alves Storti e Luana Ribeiro Alves do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Produção Animal, Universidade Federal de Uberlândia - UFU - MG.
Sumário

Objetivou-se neste estudo comparar as concentrações séricas de triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) em suínos de linhagem comercial no início e término da fase de crescimento-terminação, correlacionando-os com o desempenho produtivo, características de qualidade de carcaça e da carne. As amostras sanguíneas de 48 animais foram coletadas no início e no final da fase de crescimento-terminação por punção da veia jugular externa, sempre no mesmo horário (8-10h). As determinações séricas dos hormônios tireoideanos foram feitas por enzimaimunoensaio. Foram feitas avaliações de desempenho e de qualidade de carcaça e de carne. No início e final do alojamento, as concentrações séricas de T3 foram de 1,85 e 1,32nmol L-1 , respectivamente, e para T4 de 100,33 e 86,53nmol L-1 , respectivamente. Houve correlação negativa e baixa entre T3 final e ganho de peso médio diário, peso final e espessura de toucinho. T4 inicial correlacionou-se negativamente e moderadamente com peso inicial. Os valores de T3 e de T4 em suínos no início da fase de crescimentoterminação são maiores que na terminação. Os hormônios tireoideanos estão associados com o peso inicial e final, espessura de toucinho na última lombar, pH45min e pH24h de suínos em crescimento-terminação.

Palavras-chave: suinocultura, ganho de peso, triiodotironina, tiroxina.

INTRODUÇÃO
A qualidade da carne suína é importante em todos os segmentos da indústria (CASSENS, 2000). Para isso, é fundamental conhecer os fatores externos e internos que podem alterar a sua qualidade, disponibilizando para o consumo um produto com característica para atender à demanda e o desejo dos consumidores no que refere as suas qualidades sanitárias, nutritivas e organolépticas (BRYHNI et al., 2002).
Um fator interno que poderia modificar a qualidade da carcaça e carne dos suínos são os hormônios tireoideanos. Estes são, provavelmente, os determinantes primários da taxa metabólica (CUNNINGHAM & KLEIN, 2008) e afetam a quantidade de nutrientes utilizados na manutenção e no crescimento (NORMAN & LITWACK, 1997), ou seja, regulam a síntese e a degradação de outros hormônios e fatores de crescimento.
Além disso, estão ligados à termogênese, uma vez que aumentam a taxa metabólica, além de apresentarem ação potenciadora sobre as catecolaminas (JOHNSON et al., 1988). Portanto, para estes autores, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) podem apresentar valores reduzidos em animais expostos a altas temperaturas, associados à menor produção de calor metabólico.
Assim, objetivou-se, neste estudo, comparar os valores de T3 e de T4 no início e no final da fase crescimento-terminação em suínos de linhagem comercial, correlacionando-os com o desempenho produtivo, qualidade de carcaça e de carne.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas instalações de crescimento-terminação do setor de suinocultura da Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia, em Uberlândia, MG. Foram utilizados 48 suínos, sendo 24 machos castrados e 24 fêmeas híbridos originários do cruzamento Landrace x Large White, com peso médio inicial e final, em kg, de 22,34±3,49 e 96,64±11,57, respectivamente.
Os animais foram alojados em galpão estruturado em concreto com telhas de barro. As baias eram de alvenaria, com piso de 2 /3 concreto e 1 /3 ripado, providas de comedouro de alvenaria linear com abastecimento de ração manual e bebedouros tipo chupeta.
Durante o período experimental, os suínos receberam água e ração à vontade. A ração oferecida era a base de milho e farelo de soja e apresentava os seguintes níveis de garantia por kg: cálcio (Máx.) 1,10%; extrato etéreo (Mín.) 3,00%; fósforo (Mín.) 0,25%; matéria fibrosa (Máx.) 4,50%; matéria mineral (Máx.) 7,00%; proteína bruta (Mín.) 15,00% e umidade (Máx.) 12,00%. O consumo médio diário por animal durante o período experimental foi de 1,834kg.
As variações térmicas no interior no galpão foram monitoradas diariamente às 12h30min por meio de um psicrômetro comum (MOD. INCOTERM) para medida da temperatura de bulbo seco e úmido para caracterizar o ambiente térmico em que os animais foram mantidos. Os valores registrados foram utilizados para calcular a umidade relativa do ar, conforme SILVA (2008), e também a temperatura de globo negro, segundo ABREU et al. (2009) e, posteriormente, calcularam-se o índice de temperatura de globo (ITGU) e a umidade, como proposto por BUFFINGTON et al. (1981).
Os animais foram pesados no início e ao término do experimento (176 dias de idade) para determinação do ganho de peso médio diário (GPMD).
Realizaram-se duas coletas de sangue de cada animal. A primeira ocorreu uma semana após alojamento e a segunda um dia antes do abate, realizadas pela manhã no mesmo horário (de 8-10h). Em cada momento, coletaram-se cinco mililitros (mL) de sangue em tubo sem anticoagulante (Labor Vacuum® ) por punção da veia jugular externa. As amostras foram armazenadas em caixas térmicas e levadas ao laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia. Em seguida, foram centrifugadas (Centrífuga Excelsa Baby Fanen ® - Modelo 208N) a 720xg durante cinco minutos e o soro obtido acondicionado em microtubos identificados (eppendorf) e congelados (-20°C) até análise. As análises de T3 e de T4 foram feitas por enzimaimunoensaio para determinação quantitativa das concentrações séricas de T3 e T4 em suínos, em analisador automático multicanal Chemwell ® , utilizando kit da interkit (Bio check, Inc.) no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia.
Ao final do experimento, os suínos foram abatidos conforme o RIISPOA (BRASIL, 1952). Os animais foram submetidos a jejum de sólidos por 12 horas e dieta hídrica até o abate. Antecedendo o abate, os animais foram submetidos à insensibilização elétrica e submetidos ao processo de sangria na posição horizontal, aguardando o tempo regulamentar de três minutos (BRASIL, 1952). Após a morte do animal, aguardou-se o tempo de 1 minuto fazendo a medição da temperatura (T1min) que foi medida com termômetro digital (modelo mini inox – AKSO®) no músculo Longissimus dorsi (LD) entre a segunda e terceira vértebras torácicas. Após 24 horas do abate, a temperatura da carcaça foi novamente medida (T24h) utilizando o mesmo termômetro e localização da T1min.
O pH a 45 minutos (pH45min) e o de 24 horas (pH24h) foram quantificados com um medidor digital portátil de pH (potenciômetro) (TESTO 205 ® ), calibrado com soluções controle 4 e 7, sendo o pH24h mensurado na meia-carcaça resfriada em câmara, com temperatura entre 0 e 5°C.
Para determinação do comprimento do intestino delgado (ID), este foi identificado, esvaziado, exposto longitudinalmente, lavado com água e medido em centímetros com uma trena metálica graduada.
A espessura de toucinho foi mensurada com régua em milímetros em três pontos: 1- na porção média da primeira vértebra torácica na altura da primeira costela (ETPC); 2- na inserção da última vértebra torácica com a primeira lombar (ETUC); e 3- no local da articulação da penúltima com a última vértebra lombar (ETUL), conforme ABCS (1973).
A porcentagem de carne magra (%CM) foi calculada de acordo com ANTUNES et al. (2003), utilizando-se a medida da espessura de toucinho feita com régua em milímetros, na meia-carcaça esquerda, na linha de abate, no plano sagital mediano, entre a última e a penúltima vértebras lombares.
O comprimento de carcaça (CC) foi obtido pela mensuração entre o bordo cranial da sínfise pubiana e bordo cranial ventral do atlas, em centímetros, com trena metálica graduada, seguindo-se o método brasileiro de classificação de carcaças (ABCS, 1973).
Para comparar os valores dos hormônios T3 e T4 , início e final do experimento, foi aplicado o teste estatístico não-paramétrico de Wilcoxon, por meio do programa INSTAT ® (versão 3.06), em nível de 5%. A correlação de Pearson foi utilizada para verificar a relação entre as variáveis hormonais (T3 e T4) e as de desempenho produtivo (Peso inicial, Peso Final e Ganho de Peso Médio Diário), qualidade de carcaça (ETPC, ETUC, ETUL, ID, CC e %CM) e de carne (T1min, T24h, pH45min e pH24h) pelo programa computacional SAS ® (versão 8.0, 2000).
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios de temperatura ambiente, umidade relativa do ar e ITGU registrados durante o experimento corresponderam a 28,0±2,77°C; 76,0±24,84% e 80,0±3,93, respectivamente. Pode-se inferir que a temperatura média do ar registrada durante o período experimental apresentou-se acima do conforto térmico, conforme PERDOMO (1994). Também que a umidade relativa e ITGU mostraram-se acima do ideal, segundo SARUBBI et al. (2008) e BUFFINGTON et al. (1981), respectivamente. Portanto, percebe-se que havia exposição dos animais ao estresse de calor.
Na semana da primeira coleta de sangue, a temperatura ambiente, a umidade relativa e ITGU médios foram de 25,14ºC; 50,28% e 78,41, respectivamente; na segunda coleta, foram de 28,5ºC; 65,79% e 80,17, respectivamente. Assim, tanto na semana da coleta inicial quanto na final, o ITGU esteve acima da zona de termoneutralidade para suínos na fase de crescimento-terminação.
As médias das concentrações séricas de T3 e de T4 no início da fase de crescimento-terminação foram superiores àquelas obtidas na idade ao abate (P<0,05) (Tabela 1). Esse resultado concorda com os de SLEBODZINSKI (1965) e KALLFELZ & ERALI (1973) que verificaram decréscimo na concentração de T4 com o aumento da idade. Os últimos autores encontraram para T4 médias de 107,69nmol L-1 em animais em aleitamento, 60,25nmol L-1 em suínos próximos à idade adulta e 26,92nmol L-1 em suínos adultos. Entretanto, esses resultados diferem dos obtidos por WAN et al. (1975), que, ao estudar porcas Landrace e Duroc-Jersey de ½ a 3 anos de idade em região subtropical, não encontraram correlação entre idade dos suínos e concentração sérica de T4. Segundo SLEBODZINSKI (1965), a taxa de utilização da tiroxina em suínos de 10 a 34 dias de idade, quando expressos por quilograma de peso corporal, diminuiu com o avançar da idade.
Os valores médios de T3 sérico no início e final do alojamento (Tabela 1) foram superiores aos encontrados por KALLFELZ & ERALI (1973), que verificaram médias de 0,57nmol L -1 em suínos próximos a idade adulta. No entanto, o valor médio encontrado no final do alojamento esteve próximo ao observado por REAP et al. (1978), que obtiveram valor de 1,38nmol L -1 . A concentração sérica de T4 no início e final do alojamento foram superiores aos resultados obtidos por KALLFELZ & ERALI (1973) (72,38nmol L -1 ), REAP et al. (1978) (51,13nmol L -1 ) e WENDLING et al. (2010) (43,72nmol L -1 ).
Houve correlação entre T3 final e peso final e GPMD (P<0,05), sendo negativa e baixa (Tabela 2). Observou-se que quanto menor a concentração de T3 final, maior o peso final e GPMD. Considerando que T3 é o hormônio tireoideano metabolicamente ativo e de meia vida curta, uma menor concentração poderia indicar maior utilização deste pelo organismo animal em resposta ao aumento das demandas metabólicas para crescimento.
Tabela 1 - Valores médios, desvios padrão, mínimo e máximo da concentração sérica de T3 e T4 em nmol L -1 de 48 suínos de linhagem comercial na fase de crescimento-terminação no início e final do alojamento. Uberlândia - MG, 2010.
Níveis de hormônios tireoideanos circulantes, desempenho e qualidade de carcaça e carne de suínos em crescimento e terminação - Image 1
Tabela 2 - Coeficientes da correlação de Pearson entre T3 e T4 no início e no término da fase de crescimento-terminação e as variáveis de desempenho, de qualidade de carne e de características de carcaça de 48 suínos de linhagem comercial na fase de crescimento-terminação. Uberlândia - MG, 2010.
Níveis de hormônios tireoideanos circulantes, desempenho e qualidade de carcaça e carne de suínos em crescimento e terminação - Image 2
Os valores de T4 inicial mostraram-se negativamente e moderadamente correlacionados com peso inicial (P<0,05) (Tabela 2), evidenciando que maior concentração de T4 ocorre em animais de menor peso inicial. Uma possível explicação para esse resultado seria que um valor maior de T4 poderia significar menor deiodinização dele e menor quantidade de T3, que é o hormônio tireoideano metabolicamente ativo, ou seja, indicando que maiores valores de T4 sérico poderiam estar relacionados com menor quantidade de T3 formada e consequentemente menor peso. Resultados da literatura que tratam dos efeitos dos hormônios tireoideanos sobre ganho de peso são contraditórios. WENDLING et al. (2010) não verificaram melhora no ganho de peso de suínos que receberam 400µg de Ltiroxina na ração, por outro lado, MARPLE et al. (1981) observaram que picos de T4 coincidiram com os períodos nos quais os suínos tiveram maior crescimento (14 a 18 semanas de idade), o que, segundo esses autores, apoia as observações clássicas de que os hormônios tireoideanos são necessários para o crescimento. Embora T3 e T4 afetem a taxa de crescimento dos animais, é importante destacar que outros fatores como, manejo, alimentação, ambiente e até mesmo genéticos podem interferir no desempenho produtivo desses animais.
Verificou-se correlação negativa significativa (P<0,05), porém baixa, entre T4 inicial e pH45min, e entre T4 final e pH24h (Tabela 2). Esse resultado difere de MARPLE et al. (1975), que, em seus estudos para determinar a relação da glândula tireoide com a glicólise muscular, não encontraram diferenças significativas no pH45min e no pH de 24 horas em carcaças de suínos. Igualmente, WENDLING et al. (2010) não observaram efeito no pH da carne de marrãs gestantes que receberam T4 na ração.
Os valores de T3 final apresentaram correlação negativa significativa (P<0,05) baixa com ETUL (Tabela 2) evidenciando que animais com menores concentrações séricas de T3 final apresentam menor ETUL. As demais correlações com as características de carne não foram significativas (P>0,05). Em trabalho conduzido por MARPLE et al. (1975), uma significante perda nas espessuras de toucinho foi observada em suínos suplementados com T4. Entretanto, WALLACE et al. (1959) e WENDLING et al. (2010) não encontraram diferenças significativas nas espessuras de toucinho de suínos suplementados com T3 e com T4, respectivamente.
O peso final apresentou correlação positiva de moderada a alta (P<0,05) para ETPC, ETUC, ETUL, comprimento do ID, CC, porém negativa e moderada para %CM (Tabela 3) (P<0,05). Resultados semelhantes foram encontrados por CAMPOS (2008) ao verificar correlação significativa entre comprimento do ID e PF. A relação positiva entre comprimento de ID e peso final talvez possa ser explicada pelo seguinte fato: o maior comprimento de ID leva a maior área de exposição dos nutrientes às células absortivas, consequentemente, maior absorção para desenvolvimento de músculo e deposição de gordura (GOMES et al., 2007). Com relação às espessuras de toucinho e a %CM, VASCONCELLOS et al. (2007) citam que, no final da terminação, a maioria dos animais estão na fase de declínio para deposição de carne magra, ao passo que a taxa de deposição de gordura está ascendente.
 
CONCLUSÃO
Suínos de linhagem comercial no início da fase de crescimento-terminação apresentam concentrações séricas de T3 e de T4 superiores às obtidas na fase de terminação. Triiodotironina está associada com peso final, ganho de peso médio diário e espessura de toucinho na última lombar de suínos em crescimento-terminação e tiroxina com peso inicial, pH45min e pH24h.
Tabela 3 - Coeficientes da correlação de Pearson entre PF e as variáveis ETPC, ETUC, ETUL, ID, CC, %CM de 48 carcaças suínas de linhagem comercial. UberlândiaMG, 2010.
Níveis de hormônios tireoideanos circulantes, desempenho e qualidade de carcaça e carne de suínos em crescimento e terminação - Image 3
 
REFERÊNCIAS
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