Introdução
Com aproximadamente 32,3 milhões de cabeças de suínos abatidas no ano de 2010, o Brasil é o quarto maior produtor e exportador, e o quinto maior consumidor mundial de carne suína. O Estado de Santa Catarina é o principal produtor nacional, com 22% da produção total (ABIPECS, 2010; IBGE, 2011; USDA, 2010), com destaque para o oeste catarinense, que concentra a produção e apresenta avançado padrão tecnológico empregado na atividade suinícola (BRASIL, 2002).
A suinocultura cumpre um importante papel de fixação do homem no campo, pois é uma alternativa de renda para pequenas propriedades rurais no Brasil. Esta atividade tem sido desenvolvida basicamente em pequenas propriedades rurais familiares e sua expansão está fundamentada na ampliação dos sistemas confinados de produção, com aumento de escala. Historicamente os dejetos produzidos na suinocultura são utilizados como fertilizantes das lavouras e das pastagens, entretanto, o aumento da escala de produção intensiva, elevou o volume de dejetos produzidos e, por conseguinte, há uma maior demanda de terras para a alocação ou disposição sustentável da carga orgânica produzida e oriunda da atividade. A título de exemplo, nos últimos dez anos, ocorreu um aumento na relação entre rebanho suíno na região e a área plantada com lavouras temporárias (IBGE, 2010a; 2010b). A aplicação de dejetos nop solo em Santa Catarina é regulamentada pela Instrução Normativa n.º 11 da FATMA (IN-11, 2000/FATMA), que prevê um limite anual de aplicação de dejetos no solo de 50m³/ha, tempo de retenção de dejetos nas esterqueiras de 120 dias e respeitando-se as recomendações agronômicas.
Por ser uma região de pequenas propriedades a produção excedente de dejetos deve ser tratada ou distribuída em propriedades vizinhas. O problema da distribuição dos dejetos nas propriedades vizinhas decorre do custo de seu transporte. A distribuição de dejetos ocorre por meio de tratores e caminhões tanques, os quais podem ser próprios ou locados pelas associações de agricultores, através de contratos de concessão de uso ou contratos de comodato com as prefeituras locais. O contrato de comodato para o fornecimento de máquinas e equipamentos agrícolas pelas prefeituras municipais para as associações de agricultores constitui-se numa política pública de subsídio à atividade suinícola. Este instrumento legal permite amparar os agricultores através do repasse de tratores e equipamentos distribuidores de dejetos líquidos, bem como de um auxílio anual que varia entre três a seis mil reais para aquisição de insumos em geral. As despesas com manutenção, salários dos tratoristas e compra de insumos são arcadas pelos próprios suinocultores, através de pagamento pelo serviço de transporte e distribuição de dejetos, prestado pelas associações.
O valor a ser cobrado por este serviço (medido em R$/hora máquina) é calculado pelo departamento técnico da AMAUC e repassado às associações de agricultores, cabendo a estas averiguar se o valor estipulado é suficiente para arcar com as suas despesas, sendo facultado alterar o valor previamente calculado. Desta forma, o sistema é subsidiado pelo poder público porque reduz os custos fixos e de depreciação, bem como os custos variáveis. A sustentabilidade da produção de suínos no Oeste de Santa Catarina pode estar comprometida caso os custos de transporte de dejetos sejam elevados. O objetivo deste trabalho é apresentar os custos com o transporte e distribuição de dejetos suínos na região da Associação dos Municípios do Alto Uruguai Catarinense (AMAUC).
Material e Métodos
Foram realizadas entrevistas de campo com dez associações de agricultores, distribuídos em cinco municípios da AMAUC. O instrumento de coleta utilizado foi um questionário semi-estruturado, com 12 perguntas. O custo de distribuição com subsídios foi informado pelas associações (preço cobrado pelo serviço), enquanto que o custo de distribuição sem subsídio foi estimado com base em programa desenvolvido pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (CATI), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (CATI, 2010). O programa desenvolvido em aplicativo Excel, permite calcular o custo efetivo da hora máquina, possibilitando ajustar os valores dos equipamentos e tratores bem como determinar os custos fixos e variáveis destes.
Resultados e Discussão
A prática tradicional no Brasil e no mundo é utilizar o poder fertilizante dos efluentes líquido dos suínos na adubação de pastagens, lavouras, plantas frutíferas, reflorestamento etc. A demanda deste subproduto dependerá do valor relativo do adubo químico em relação ao custo de transporte da área de produção até a lavoura. Nesse sentido, a distribuição dos dejetos foi uma pratica pouco efetiva nos anos de valorização cambial da década de 1990, tendo em vista que o baixo valor do Dólar frente ao Real tornava o custo da adubação química muito baixo e inviabilizava o uso dos dejetos (Chiochieta & Santos Filho, 2000). As mudanças cambiais a partir de 1999 levaram a uma elevação do preço dos fertilizantes químicos, viabilizando o uso dos dejetos. Além da questão cambial, que retrocedeu a partir da valorização do Real na segunda metade dos anos 2000, há uma pressão sobre o preço dos fertilizantes químicos pelo aumento na demanda de alimentos e, sobretudo de carnes nos países emergentes.
Conforme exposto, o transporte e alocação de dejetos líquidos de suínos na região da AMAUC é realizado através da utilização de caminhões tanques com capacidade de 8 m³ e tratores acoplados a tanques de distribuição com capacidade entre 3 e 6 m³.
A Tabela 1 a seguir apresenta o custo para o transporte e distribuição de dejetos suínos em lavouras, pastagens e reflorestamentos, em cinco municípios da região da AMAUC. O custo médio de distribuição do dejeto suíno pelas associações entrevistadas foi de R$/m3 4,05. Caso sejam retirados os subsídios pelas prefeituras municipais, estimou-se que o custo médio passaria a R$/m3 7,50, ou um aumento médio de 85%. Cabe ressaltar que as condições topográficas das localidades e a potência permanente dos tratores (CV) são os principais responsáveis pela variabilidade no custo (Tabela 1).
Tabela 1 – Custo efetivo com subsídios e estimado sem subsídios para transporte e distribuição de dejetos líquidos da suinocultura em cinco municípios da AMAUC.
Conclusões
A distribuição de dejetos de suínos nas propriedades rurais do oeste de Santa Catarina não ocorre sem custos. Entretanto, estes são variáveis, e dependem principalmente da topografia dos terrenos, da distância percorrida pelo conjunto trator-tanque e ou caminhão-tanque entre a fonte geradora dos dejetos e o local da distribuição, da incidência de subsídios e da escala dos equipamentos.
O custo de transporte e distribuição dos dejetos líquidos nas propriedades suinícolas, se situa entre R$/m³ 3,16 e 5,83 naquelas situações em que há a ocorrência de subsídio e R$/m³ 4,62 e 12,08 para situações em que não há a ocorrência de subsídios. A diferença média é de 85%.
Deste modo, é necessário internalizar o levantamento de custos de distribuição na rotina de levantamento de preços para cálculo do custo de produção da suinocultura. Além disso, é necessário realizar um levantamento do valor fertilizante dos dejetos distribuídos e do seu impacto na produtividade agrícola.
Literatura citada
ABIPECS. Estatísticas. Disponível em: < http://www.abipecs.org.br >. Acesso em 12 dez. 2010.
Brasil, D. M. (2002). Apontamentos sobre o valor do prejuízo ecológico. Alguns parâmetros da suinocultura em Braço do Norte. Dissertação (Mestrado em geografia). Florianópolis: UFSC.
CATI. Disponível em: < http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_principal/index.php >. Acesso em fev. 2011.
CHIOCHETTA, O.; SANTOS FILHO, J. I.. A taxa de câmbio e sua influência na utilização agronômica dos dejetos suínos. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos. Anais ... B H: ABRAVES, out. 99. P.497-498.
IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 09 set. 2010.
IBGE. Pesquisa Trimestral do Abate de Animais. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 20 jan. 2011.