Introdução
No Brasil as fontes lipídicas mais utilizadas nas rações de suínos, em ordem decrescente de participação, são o óleo degomado de soja, óleo de aves, banha suína, sebo bovino e, como coproduto derivado da indústria de alimentação humana, o óleo residual de fritura, cuja oferta tem sido maior em decorrência do aumento da população e dos novos hábitos alimentares do consumidor (GIANNETTI & ALMEIDA, 2006). Quanto aos óleos reciclados de fritura, há pouca informação científica sobre seu uso nas rações para suínos. Na Comunidade Européia seu emprego como ingrediente nas rações animais não é permitido pelo risco de conter compostos tóxicos originários da degradação/aquecimento como os bifenilpoliclorados (PCBs) e dioxinas (BLAS et al., 2010). Assim, o produto muitas vezes é considerado um resíduo, sendo submetido a tratamentos para redução de danos ambientais ou utilizado como matéria-prima para produção de biocombustíveis (RECICLAR..., 2008). Neste sentido, objetivou-se com este trabalho avaliar as principais fontes lipídicas disponíveis no Brasil como ingredientes nas rações de suínos em fase de terminação, sobre os parâmetros de desempenho zootécnico, características de carcaça e qualidade da carne e viabilidade econômica.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no setor de suinocultura da Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina. Foram utilizados 80 suínos da genética Agroceres-PIC x Danbreed, sendo 40 machos e 40 fêmeas, com idade média inicial de 110 dias e peso médio inicial de 59,01 + 5,09kg. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso (cinco blocos de acordo com o peso inicial dos animais) com quatro tratamentos e 10 repetições/tratamento, estando alojados dois animais do mesmo sexo por baia durante um período de 40 dias. Os tratamentos consistiram no fornecimento de rações experimentais isoenergéticas e isonutrientes (ROSTAGNO et al., 2011), com inclusão em torno de 3% das seguintes fontes lipídicas - óleo refinado de soja (controle), óleo degomado de soja, banha suína e óleo residual de fritura. O abate ocorreu quando os animais atingiram 90,5kg + 5,65 de peso vivo, sendo avaliados o peso de carcaça quente (PCQ), peso de carcaça resfriada, comprimento de carcaça, espessura de toucinho, profundidade de músculo Longissimus dorsi, pH incial e final do lombo, cores (a* e b*), luminosidade (L*), capacidade de retenção de água e marmoreio (BRIDI e SILVA, 2009). A viabilidade econômica foi verificada segundo Bellaver et al. (1985) e o índice de eficiência econômica e o índice de custo médio foram desenvolvidos de acordó com a metodologia proposta por Barbosa et al. (1992). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey.
Resultados e Discussão
Os resultados de desempenho, características de carcaça e de qualidade de carne estão demonstrados nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1 - Médias de consumo diário de ração (CDR), peso médio final (PMF), ganho de peso diario (GPD) e conversão alimentar (CA) de suínos alimentados com diferentes fontes lipídicas.
¹OR= Óleo refinado de soja; ²OD= Óleo degomado de soja; ³BS= Banha suína; 4OF= Óleo residual de fritura.
Tabela 2 - Médias e desvio-padrão para o peso de carcaça quente (PCQ), peso de carcaça resfriada (PCR), pH inicial (pHi) e final do lombo (pHf), comprimento de carcaça (CC), profundidade de músculo (PM), espessura de toucinho (ET), valores de L*, a* e b*, marmoreio (MAR) e capacidade de retenção de água (CRA) de suínos alimentados com diferentes fontes lipídicas.
Letras diferentes, na mesma coluna, valores significativamente diferentes no teste de nível de significância. ¹OR= Óleo refinado de soja; ²OD= Óleo degomado de soja; ³BS= Banha suína; 4OF= Óleo residual de fritura.
Não houve diferença entre os tratamentos para qualquer parâmetro de desempenho (Tabela 1), demonstrando que todas as fontes avaliadas atenderam as demandas nutricionais e não comprometeram o consumo, concordando com os resultados obtidos por Mitchaothai et al. (2008), Duran Montgé et al.(2010) e Realini et al. (2010). Para os parâmetros de carcaça e qualidade de carne (Tabela 2), somente houve uma tendência (P<0,07) de piora da profundidade de músculo e do marmoreio nos animais tratados com rações formuladas com óleo residual de fritura. Os resultados identificam-se com os achados de Bee et al. (2002) e Realini et al. (2010), que não observaram vantagens entre animais que receberam rações formuladas com distintas fontes lipídicas, e com os resultados de Mitchaothai et al. (2007), que trabalharam com a inclusão de 5% fontes lipídicas de origem animal e vegetal nas rações de suínos em fase de crescimento e terminação. Considerando o aspecto econômico, o melhor resultado de viabilidade foi observado para o grupo alimentado com ração contendo óleo residual de fritura, sendo o índice de eficiência econômica de 98,4; 97,8; 98,1 e 100% para os tratamentos com óleo refinado de soja, óleo degomado, banha suína e óleo residual de fritura, respectivamente.
Conclusões
As fontes lipídicas avaliadas podem ser utilizadas como ingredientes nas rações para suínos em terminação sem consequências negativas no desempenho zootécnico, nas características de carcaça e de qualidade de carne. O uso do óleo residual de fritura apresentou o melhor custo de produção, devendo seu valor de compra ser considerado na decisão de sua incorporação nas rações de suínos em fase de terminação.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo apoio financeiro ao Projeto.
Referências Bibliográficas
1. BARBOSA, H. P.; FIALHO, E. T.; FERREIRA, A. S. Triguilho para suínos nas fases de crescimento, crescimento e terminação. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 21, n. 5, p. 827-837, 1992.
2. BEE, G.; GEBERT, S.; MESSIKOMMER, R. Efeect of dietary energy supply and fatty source on the fatty acid pattern of adipose and lean tissues and lipogenesis in pigs. Journal of Animal Science, Champaign, v. 80, p. 1564-1574, 2002.
3. BELLAVER, C.; TADEU FIALHO, E.; PROTAS, J. F. S.; GOMES, P. C. Radícula de malte na alimentação de suínos em crescimento e terminação. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 20, n.8, p. 969-974, 1985.
4. BLAS, E.; CERVERA, C.; RODENAS, L.; MARTÍNEZ, E.; PASCUAL, J.J. The use of recycled oils from the food industry in growing rabbit feeds in substitution of fresh oil does not affect performance. Animal Feed Science and Technology, v. 161, p. 67–74, 2010.
5. BRIDI, A.M.; SILVA,C.A. Avaliação da carne suína. 2ed. Londrina: Midiograf, 2009.
6. MITCHAOTHAI, J.; EVERTS, H.; YUANGKLANG, C.; WITTAYAKUN, S.; VASUPEN, K.; WONGSUTHAVAS, S.; SRENANUL, P.; HOVENIER, R.; BEYNEN, A.C. Meat Quality, Digestibility and deposition of fatty acids in growing-finishing pigs fed restricted, iso-energetic amounts of diets containing either beef tallow or sunflower oil. Asian-Aust. Journal Animal Science 21(7):1015-1026, 2008.
7. DURAN-MONTGÉ, P.; REALINI, C.E.; BARROETA, A.C.; LIZARDO, R.; ESTEVE-GARCIA, E.Tissue fatty acid composition of pigs fed different fat sources. Animal, v.2, n.12, p. 1753–1762, 2008.
8. GIANNETTI, B. F.; ALMEIDA, C. M. V. B. Ecologia industrial: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2006.
9. REALINI, C.E.; DURAN-MONTGÉ, P.; LIZARDO, R.; GISPERT, M.; OLIVER, M.A.; ESTEVEGARCIA, E. Effect of source of dietary fat on pig performance, carcass characteristics and carcass fat content, distribution and fatty acid composition. Meat Science , v. 85, p. 606–612, 2010.
10. RECICLAR óleo de cozinha pode contribuir para diminuir aquecimento global. 2008. Disponível em: <www.ambienteemfoco.com.br>. Acesso em: 1 nov. 2013.
11. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3.ed. Viçosa, MG: UFV, 2011. 252p.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.