Dr Alberto Gimeno,
Tem acontecido reações como rejeição ao alimento, salivação intensa, agitação e posterior diarréia em vacas recebendo polpa cítrica, logo após o início da ingestão; o processo todo ocorre em aproximadamente 2 a 3 horas; a produção de leite cai drasticamente, voltando ao normal em 2 a 3 dias. Lendo seu artigo suspeitei de micotoxinas, talvez DON. O sr. concorda que possa ser isso? Que exame devo proceder? Obrigado.
Sr. Antonio
No caso das vacas leiteiras, a vomitoxina ou deoxinivalenol não é relevante no que respeita a uma rejeição do alimento, as vacas são bastante resistentes à este indesejável efeito. Os porcos são muito mais sensíveis ao problema de rejeição do alimento provocado pela vomitoxina.
As micotoxinas que podem provocar problemas de rejeição do alimento nas vacas leiteiras são a toxina T-2 e o diacetoxiscirpenol em concentrações de contaminação na ração de 300 ppb (microgramas/kg) ou mais. Estas duas micotoxinas também podem ser responsáveis pela salivação e diarreia.
Aconselho pois que analise na ração final estas duas micotoxinas. Pode também analisar a vomitoxina ou deoxinivalenol, visto que existe um sinergismo entre toxina T-2 e vomitoxina
Cumprimentos.
Gimeno
Dr. Alberto Gimeno. Seu atigo é de grande valia para nossa área de produção leiteira. Qual sua opinião sobre a utilização de sequestrantes de toxinas para vaca leiteira. É viável economicamente? Muito obrigado desde já.
Apreciado Sr. Jonas,
Muito obrigado pela sua opinião respeitante ao artigo.
Dos problemas mais importantes que as micotoxinas podem provocar nas vacas leiteiras, temos nomeadamente, os problemas reprodutivos e os problemas da diminuição na produção do leite provocados pelas micotoxinas aflatoxina B1, zearalenona e a vomitoxina ou deoxinivalenol. Pode calcular as grandes percas económicas que isto representa. É por isso que é perfeitamente viável economicamente a utilização dum sequestrante de micotoxinas que seja altamente efetivo contra as micotoxinas, especialmente contra a aflatoxina B1, zearalenona e a vomitoxina ou deoxinivalenol no caso das vacas leiteiras.
Cumprimentos.
Gimeno
Dr. Gimeno,
Seu artigo relata que essas micotoxinas são resistentes às temperaturas de esterilização. Se as micotoxinas passarem para o leite, elas poderão se manter inalteradas após o processo UHT ?
Caso positivo, quais micotoxinas poderiam causar vômito e diarréia ao ser humano que consumisse esse leite UHT?
Antonio Santos
Universidade Gama Filho
Rio de Janeiro
Caro Sr. António Santos,
Efetivamente, as micotoxinas são significativamente resistentes a elevadas temperaturas, mas, o meu artigo não relata que essas micotoxinas são resistentes às temperaturas de esterilização. O Sr. deve ter feito alguma confusão com outros artigos meus.
No meu artigo intitulado: “Micotoxinas en pollos y gallinas: ¿Habrá más riesgos de micotoxicosis con el uso de nuevas materias primas?”, e outros artigos meus publicados (https://www.engormix.com/MA-avicultura/sanidad/articulos/micotoxinas-pollos-gallinas-habra-t1973/165-p0.htm) falo de que, as aflatoxinas, ocratoxina A, zearalenona, fumonisinas, toxina T-2 e diacetoxiscirpenol resistem temperaturas até 120, 100, 110, 150, 120 e 120ºC, respetivamente. A vomitoxina ou deoxinivalenol é resistente a temperaturas de 150ºC e mais.
No meu artigo intitulado: “Aflatoxina M1 no Leite; Riscos para a Saúde Pública, Prevenção e Controle” (https://pt.engormix.com/MA-pecuaria-leite/saude/artigos/aflatoxina-m1-no-leite-t3/165-p0.htm), falo de que a aflatoxina M1 (derivado metabólico hidroxilado da aflatoxina B1) revela-se geralmente estável em alguns queijos, iogurtes, leite pasteurizado, leite magro ou gordo e gelados. Em processos de pasteurização a 63ºC durante 30 minutos, pasteurização a 77ºC durante 16 segundos, processamento térmico a 64-100ºC durante 15-20 minutos, processamentos térmicos directos durante 3-4 horas e durante alguns processos de pasteurização e esterilização, a concentração de contaminação original do leite cru permanece praticamente inalterada (YOUSEF & MARTH, 1989). Pelo contrário, através de tratamento térmico a 71-120ºC durante 30 min., obtiveram-se reduções da contaminação da ordem de 12 a 35% e, nalguns processos de pasteurização, esterilização, evaporação, secagem Roller e Spray, foi possível conseguir diminuições da contaminação com AFM1 no leite entre 32 e 86%. Nalguns queijos, durante o respectivo processo de elaboração e através de aquecimento a 82-100ºC entre 5 a 30 min., não foi possível reduzir as taxas de contaminação. Nalguns casos houve uma redução de 9% quando aquecidos a 90ºC durante 30 minutos. (YOUSEF & MARTH, 1989).
Para o tratamento do leite efectuado pelas centrais leiteiras é possível estudar a aplicação de alguns dos sistemas anteriormente referidos para reduzir a contaminação. No entanto, a melhor prevenção contra a contaminação com AFM1 consiste em não administrar aos animais rações contaminadas com AFB1.
YOUSEF, A.E.; MARTH, E.H. (1989). Stability and Degradation of Aflatoxin M1 in Mycotoxins in Dairy Products. Hans P.Van Egmond (Ed.) Elsevier Applied Science, London and New York. Chapter 5, pp.127-161.
Visto que no processo de UHT, o leite é tratado a 135-150ºC entre 2 a 5 segundos, o tempo de tratamento é significativamente muito curto como para não ter efeito importante na redução da contaminação do leite com aflatoxina M1 e as outras micotoxinas anteriormente mencionadas.
Respeitante ao perigo de micotoxicoses em humanos, consulte os meus artigos de resíduos de micotoxinas em alimentos de origem animal e outros respeitantes as micotoxicoses em humanos, que publiquei em Engormix.
https://www.engormix.com/MA-micotoxinas/articulos/residuos-aflatoxinas-ocratoxina-alimentos-t1582/p0.htm
https://www.engormix.com/MA-micotoxinas/articulos/residuos-zearalenona-toxina-t2-t1629/p0.htm
https://www.engormix.com/MA-micotoxinas/articulos/riesgos-micotoxicosis-algunas-micotoxinas-t366/p0.htm
https://pt.engormix.com/MA-pecuaria-leite/saude/artigos/aflatoxina-m1-no-leite-t3/165-p0.htm
Respeitante ao risco de micotoxicoses em humanos como consequência da contaminação do leite, a União Europeia só considera importante, por enquanto, a aflatoxina M1.
Cumprimentos.
Gimeno
Em uma pesquisa científica feita pelo prof. Dr. Patrick Schmidt da UFPR em todo o Brasil sobre a presença de micotoxinas em silagens, foi identificado e quantificado que a maioria destes microorganismos estão no límite ou abaixo do aceitável pela legislação. Porquanto, entende-se que a preocupação ainda persiste, porém o resultado do estudo é um tanto alentador em se tratando de intoxicação alimentar de ruminantes e por consequência, nesta rota, ao leite e derivados. Creio que é um assunto polêmico que precisa de melhor esclarecimento e discussão. Parabéns aos professores.
Dr. Edison Pin,
No caso concreto da pesquisa científica do Dr. Patrick Schmidt, pode acontecer que muitas vezes os problemas não são derivados das silagens, mas sim de outros alimentos utilizados conjuntamente com as silagens como é o caso da semente de algodão, caroço de algodão, torta e farelo de algodão, que frequentemente aparecem contaminados com micotoxinas, nomeadamente com aflatoxina B1, em concentrações significativamente superiores aos valores máximos permitidos pela Legislação. Estas contaminações elevadas destes outros alimentos, fazem com que o animal ingira umas quantidades diárias de aflatoxina B1 suficientes para lhe provocar problemas e contaminar o leite com resíduos importantes de aflatoxina M1.
Cumprimentos.
Gimeno