Introdução
O Programa de Alimentos Seguros - Setor Campo (PAS-Campo) foi concebido com o objetivo de prover segurança aos produtos para garantir a saúde dos consumidores, criando, assim, as bases para o fortalecimento da produção, a agregação de valor e o atendimento às exigências do mercado internacional e à legislação brasileira.
Neste contexto, o PAS constitui-se uma medida preventiva para promover a segurança dos alimentos, uma vez que mapeia processos de produção, identifica pontos de perigo de contaminação e estabelece o responsável pela melhoria e controle do processo. A concepção e a adoção do PAS-Campo estão baseadas no desenvolvimento de Boas Práticas Agrícolas/Agropecuárias (BPA), envolvendo os princípios do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
A melhoria dos atributos relacionados com a segurança do leite cru para a saúde humana tem refletido diretamente na valorização tanto da matéria-prima quanto dos produtos nos elos subsequentes da cadeia. A capacidade de geração de renda no estabelecimento aumentou com o desenvolvimento de procedimentos e normas de gestão cuidadosa. Além de benefícios diretos na credibilidade do produtor rural junto à sociedade, o relacionamento entre este e a indústria tem amadurecido e estimulado a adoção do sistema.
Em relação ao meio ambiente, os cuidados com o tratamento de resíduos e a aplicação eficiente de produtos químicos se constituem em aspectos altamente positivos para sua conservação.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar os impactos sociais e ambientais do programa de alimentos seguros – setor campo – aplicado à produção leiteira, utilizando o sistema AMBITEC. (RODRIGUES et al., 2002)
Material e métodos
O trabalho foi desenvolvido nos municípios de Valentin Gentil, em São Paulo, e Carmo da Paranaíba e Prata, em Minas Gerais, pertencentes ao bioma Mata Atlântica, onde predomina a atividade leiteira. Em cada município foram selecionadas e visitadas três propriedades rurais leiteiras adotantes do Programa PAS-Campo, sendo uma do tipo familiar/pequena (P) (até 50 l/dia), uma média (M) (de 50 a 200 l/dia) e uma grande (G) (acima de 200 l/dia), totalizando 9 propriedades.
O trabalho foi realizado utilizando os sistemas AMBITEC Social e AMBITEC Ambiental, desenvolvidos por RODRIGUES et al (2000), em três etapas: levantamento e coleta de dados; aplicação dos questionários e processamento dos dados para geração dos coeficientes de impactos e o índice agregado de impacto ambiental e social; análise e interpretação desses índices (RODRIGUES et al., 2005).
Os indicadores são considerados em seu conjunto, para composição do Índice de Impacto Social ou Ambiental da Inovação Tecnológica Agropecuária. A composição deste índice envolve ponderação da importância do indicador e os pesos relativos aos indicadores podem ser alterados pelo usuário do Sistema. Com esse conjunto de fatores de ponderação, a escala padronizada no Sistema Ambitec varia entre -15 e +15, normalizada para todos os indicadores individualmente e para o Índice Geral de Impacto Social da Tecnologia. Vale ressaltar que a amplitude dos resultados (ou seja, o valor do índice) é de menor significado que sua direção (se positivo ou negativo).
Resultados e discussão
Os índices de impacto sociais e ambientais de cada indicador, por tamanho de propriedade encontram-se no Quadro 1.
Em relação aos indicadores sociais, ao analisar qualitativamente os indicadores do aspecto emprego, percebe-se que o item capacitação é o mais significativo, seguido do item oportunidade de emprego. No aspecto renda, observa-se que houve significativo incremento deste indicador nas grandes e pequenas propriedades. Entretanto, não foi percebido impacto na renda em relação à sua diversidade.
Outro aspecto importante é que houve melhoria na credibilidade do produtor rural e conseqüente valorização de seus produtos, o que proporcionou aumento de renda. No campo da saúde os maiores impactos positivos foram a redução dos focos de doenças endêmicas com o manejo sanitário do rebanho e a diminuição da emissão de poluentes hídricos e de contaminantes do solo. Com relação à saúde ocupacional observou-se que a adoção da tecnologia proporcionou redução do uso de agentes químicos e biológicos contaminantes, bem como a redução da umidade nos recintos de ordenha. Constatou-se melhoria também na periculosidade e no aspecto ruídos.
No aspecto segurança alimentar as variáveis que mais influenciaram positivamente foram a garantia da produção, por meio do controle de doenças, e a qualidade nutricional. Além disso, verificou-se também um estímulo ao aumento da quantidade produzida.
A capacitação dirigida à atividade, proporcionou um maior engajamento do produtor, e seus familiares, na atividade. Já a condição de comercialização aumentou com a venda direta dos derivados, o processamento e o armazenamento adequado do leite sob refrigeração.
Verificou-se uma boa perspectiva para divulgação dos produtos com as marcas dos produtores e além disto, foi constatado uma maior cooperação com outros produtores e uma melhoria do relacionamento destes com a indústria, tendo em vista a adoção de práticas de disposição sanitária mais adequadas.
Constatou-se também, em geral, uma melhoria no tratamento dos resíduos domésticos em conseqüência do processo de aprendizado e higiene.
Em relação aos impactos ambientais, no campo da eficiência tecnológica, percebeu-se que houve uma melhoria na eficiência do uso da água e racionalização do uso de produtos veterinários.
Tendo sem vista a redução do nível de contaminantes, a capacidade do solo foi fortemente impactada com a adoção da tecnologia. A par disso, houve impacto positivo também no indicador água, devido à redução de coliformes fecais e materiais flutuantes.
Com relação à qualidade do produto, foi percebida melhoria em função da redução de a aditivos, resíduos químicos e contaminantes biológicos.
Finalmente, pode-se observar que independentemente da magnitude dos índices alcançados, a média geral dos impactos foi positiva, indicando que o Programa PASCampo proporcionou melhorias tanto nos indicadores sociais quanto ambientais.
Quadro 1 – Índices de Impacto Sócio-ambiental, por indicador e tamanho de propriedade.
Referências Bibliográficas
RODRIGUES, G. S.; BUSCHINELLI, C. C. de A.; IRIAS, L. J. M.; LIGO, M. A. V. Avaliação de impactos ambientais em projetos de pesquisa II: avaliação da formulação de projetos: versão I. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2000. 28 p. (Embrapa Meio Ambiente. Boletim de Pesquisa, 10).
RODRIGUES, G. S.; CAMPANHOLA, C.; KITAMURA, P. C. Avaliação de impacto ambiental da inovação tecnológica agropecuária: um sistema de avaliação para o contexto institucional de P&D. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 19, n. 3, p. 349-375, set./dez. 2002.
RODRIGUES, G. S.; CAMPANHOLA, C.; KITAMURA, P. C., IRIAS, L.J.M; RODRIGUES, I. Sistema de Avaliação de Impacto Social da Inovação Tecnológica Agropecuária (Ambietc-Social) / Geraldo Stachetti Rodrigues ... [et al.]. – Jaguariúna : Embrapa Meio Ambiente, 2005. 31 p. -- (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 35).
*** Resumos do V CBA - Desenvolvimento Rural / O trabalho foi originalmente publicado por Embrapa Gado de Leite / Organizado pelo Centro de Inteligência do Leite CILeite.