1. INTRODUÇÃO
Inúmeros estudos sobre o controle de ambiente para melhora de índices zootécnicos são realizados em busca de melhores produtividades. O consumo alimentar residual (CAR) é uma medida segura de eficiência alimentar baseada na diferença entre consumo observado e consumo esperado (estimado em função de peso metabólico e ganho médio diário). Animais de alto CAR (menos eficientes) consomem mais que o esperado para um determinado ganho, enquanto animais de baixo CAR consomem menos que o esperado (mais eficientes) (BAKER et al., 2006).
A determinação da composição da carcaça é de grande importância em estudos que avaliam crescimento e rendimentos frigoríficos. A avaliação do crescimento por meio apenas de ganho de peso limita as conclusões, pois não envolve composição química, que refere-se, basicamente, às percentagens de gordura, proteína, água e cinzas presentes no corpo do animal. De acordo com GOMES (2009) existe possível tendência de animais menos eficientes possuírem maior percentagem de gordura corporal. Objetivou-se com este trabalho determinar a composição química da carcaça de machos Nelore pertencentes a classes divergentes de consumo alimentar residual.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Centro APTA Bovinos de Corte, do Instituto de Zootecnia, Sertãozinho/SP. Foram utilizados 33 machos Nelore não castrados, nascidos em 2006 e abatidos em 2008, previamente avaliados quanto ao CAR e classificados nas categorias: baixo CAR (<média + 0,5 DP; n=17) e alto CAR (>média + 0,5 DP; n=16). Esses animais tiveram o CAR avaliado durante a Prova de Ganho de Peso e foram terminados em baias individuais, recebendo dieta contendo 14,8% de proteína bruta e 82% de nutrientes digestíveis totais, composta de feno de braquiária (20%) e ração concentrada (80%), contendo: milho moído, farelo de algodão, caroço de algodão, polpa cítrica, uréia e mistura mineral.
O abate obedeceu aos procedimentos normais de frigoríficos sob inspeção federal, sendo os animais abatidos quando atingiram o mínimo de 4 mm de espessura de gordura subcutânea, avaliada por ultrassom, entre as 12a e 13a costelas. As carcaças foram pesadas, resfriadas a 2° C por 24 horas, pesadas novamente, reduzidas a pedaços menores, embaladas e congeladas para posterior processamento. O material congelado (tecidos moles e ossos) foi serrado, moído seguidas vezes até ser totalmente homogeneizado e reduzido ao estado pastoso e amostrado. A umidade foi determinada pela liofilização de aproximadamente 200 gramas de amostra até atingir peso constante. O extrato etéreo (EE) foi determinado pela extração com éter dietílico por 15 horas. As cinzas foram determinadas pela queima, de 2 gramas de amostras, em mufla a 600ºC por 4 horas. A proteína foi determinada pela diferença entre o peso total da amostra e as quantidades de água, EE e cinzas.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, sendo os dados analisados pelo procedimento GLM do SAS (1999). As médias foram comparadas pelo teste SNK (Student de Newman-Keuls), a 5% de probabilidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foram encontradas diferenças significativas (P=0,7849) em peso de carcaça resfriada, mostrando que animais de CAR baixo e alto apresentaram tamanhos corporais semelhantes. Em relação aos componentes químicos da carcaça, água (P=0,1063), extrato etéreo (P=0,7382), cinzas (P=0,7302) e proteína (P=0,2395), também não foram encontradas diferenças significativas (Tabela 1), mostrando que animais de classes divergentes de CAR apresentaram carcaças com composição química semelhante.
Tabela 1. Médias de pesos de carcaça resfriada, porcentagens de água, extrato etéreo, proteína e cinzas na carcaça de animais Nelore pertencentes a classes divergentes de consumo alimentar residual
A relação proteína/cinzas na matéria seca desengordurada do corpo vazio e da carcaça de animais é relativamente constante. BONILHA et al. (2007), analisando a composição química do corpo vazio de machos Nelore, reportaram resultados semelhantes aos encontrados neste trabalho para os teores de proteína e cinzas. RICHARDSON et al. (2001) e BAKER et al. (2006) também não encontraram diferenças significativas nos teores de gordura na carcaça de animais Angus classificados em alto e baixo CAR.
4. CONCLUSÕES
As carcaças de animais Nelore de classes divergentes de consumo alimentar residual apresentam composição química semelhante, mostrando que o mesmo tem potencial para ser incluído, com viabilidade econômica, em programas de melhoramento genético.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKER, S. D.; SZASZ, J. I.; KLEIN, T. A. et al. Residual feed intake of purebred Angus steers: Effects on meat quality and palatability. Journal of Animal Science. v.84, p.938-945, 2006.
BONILHA, S.F.M.; Packer, I.U.; FIGUEIREDO, L.A. et al. Efeito da seleção para peso pós-desmame sobre a composição corporal de bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1282-1287, 2007.
GOMES, R. C.; SAINZ, R. D.; LEME, P.R. Composição química corporal de novilhos Nelore com alto e baixo consumo alimentar residual. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 46, 2009, Maringá, PR. Anais... 46ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2009.
RICHARDSON, E. C.; HERD, R. M.; ODDY, V. H. et al. Body composition and implications for heat production of Angus steer progeny of parents selected for and against residual feed intake. Australian Journal of Experimental Agriculture, v. 41, p.1065–1072, 2001.
***O trabalho foi originalmente publicado durante o I Encontro Científico de Produção Animal Sustentável - 01 de setembro de 2010 - Instituto de Zootecnia (IZ), Nova Odessa, SP.