No ano de 2019 foram analisados 3.069 espectros de amostras de milho brasileiro empregando NIR conectado a plataforma Olimpo da Pegasus Science. As amostras originadas de 10 estados brasileiros, resultaram em 3.069 predições de aflatoxina (B1), 6.134 predições de fumonisinas (B1 e B2), 3.029 predições de deoxinivalenol e 2.971 predições de zearalenona, totalizando 15.203 predições no período estudado.
Os limites de quantificação para os espectros de milho nas diferentes micotoxinas estão indicados na Tabela 1:
Tabela 1: limite de quantificação do NIR – Near Infrared spectroscopy para as diferentes micotoxinas.
Aflatoxina B1 (AFLA)
A média de concentração de AFLA e a sua prevalência por semana estão indicados na Figura 1. A média anual foi de 1,8 ppb e a média das amostras positivas foi de 8,9 ppb, prevalecendo em 20,3% das amostras analisadas. Observou-se que no período de inverno a prevalência foi um pouco menor, no entanto, a média de concentração não teve redução significativa.
A maior prevalência de AFLA foi detectada no estado do Mato Grosso, em que 263 amostras tiveram 61,4% de positividade com média e média das positivas de 5,1 e 8,3 ppb, respectivamente (Figura 2).
Historicamente, essa micotoxina tem apresentado baixa prevalência. A aflatoxina B1 é produzida por fungos do gênero Aspergillus que tem característica de produzir a toxina nos grãos na fase de maturação fisiológica, colheita, transporte, pré-limpeza, secagem e armazenamento, quando as condições de umidade, temperatura e concentração de oxigênio são favoráveis. A infraestrutura e o cuidado durante a etapa de armazenamento do milho no Brasil têm melhorado significativamente nos últimos anos, o que fez com que os níveis de aflatoxinas reduzissem drasticamente nas duas últimas décadas.
A prevalência de AFLA foi inconstante no ano de 2019, com aparecimento pontual em alguns clientes por algumas semanas. Em virtude do surgimento frequente de casos isolados de altas concentrações no milho, aliados a alta toxicidade da AFLA, é essencial o monitoramento de risco.
Assim, é possível implementar medidas protetivas adequadas quando o risco para essa toxina aumenta, como ocorrido durante períodos em algumas situações particulares.
Fumonisinas B1+B2 (FUM)
A média anual de FUM (B1+B2) foi de 2092 ppb e a média das amostras positivas foi de 2130 ppb, prevalecendo em 98,2% das amostras analisadas. Em maio e dezembro os níveis foram um pouco menores (em torno de 1.700 ppb) em comparação a junho e julho (em torno de 3.000 ppb) (Figura 3).
Nos estados de Goiás e Rio Grande do Sul foram identificadas as maiores médias de concentração nas amostras positivas, com 2.950 ppb e 2.898 ppb em 69 e 691 amostras, respectivamente (Figura 4).
O clima no Brasil é especialmente favorável para o desenvolvimento dos fungos do gênero Fusarium, os quais crescem e produzem as FUM ainda no campo, durante o cultivo do milho na lavoura, sendo a sua alta prevalência conhecida de anos anteriores. As FUM têm recebido atenção constante de pesquisadores e do agronegócio brasileiro, pois mesmo não sendo tão tóxicas quanto a AFLA, possuem maior prevalência no milho. Dados deste estudo evidenciam que mais
de 90% do milho brasileiro, em 2019, estava contaminado por FUM, porém é possível observar que houve variações nos níveis de concentração ao longo do ano.
É praticamente impossível uma indústria utilizar milho livre de FUM, porém, pode-se monitorá-lo e segregá-lo por espécie animal e/ou fase de produção visando minimizar os efeitos tóxicos. O uso de aditivos antimicotoxinas que sejam eficazes também é uma alternativa viável e muito utilizada na nutrição animal.
Deoxinivalenol (DON)
A média anual de DON foi de 39 ppb e a média das amostras positivas alcançou os 411 ppb, prevalecendo em 9,6% das amostras analisadas. Observou-se que em algumas semanas, nos meses de setembro e dezembro, a concentração foi superior a 100 ppb e 20% de prevalência (Figura 5).
No Distrito Federal e Santa Catarina foram identificadas as maiores prevalências, com 75 e 61% em 4 e 20 amostras, respectivamente. A média de concentração nesses dois locais foi de 310 e 238 ppb, respectivamente (Figura 6).
A baixa prevalência, variando na faixa de 0 a 20% em mais de 90% das semanas do ano de 2019 é historicamente normal no milho brasileiro, já que diversas pesquisas indicam que essa toxina não costuma afetar o milho em altas concentrações acima de 1000 ppb. Maiores prevalências foram identificadas pontualmente em algumas semanas e em alguns clientes. Alguns estudos, com limites de quantificação menores que 350 ppb, têm mostrado maior prevalência de DON, diferente de outras instituições que utilizam metodologias oficiais em que historicamente a prevalência de DON em milho brasileiro está na faixa de 10% (Mallmann et al., 2015).
Os seus efeitos tóxicos em animais estão relacionados a desordens digestivas e até mesmo imunossupressão, o que justifica o seu monitoramento e controle. Todavia, o maior risco de ocorrência é nos cereais de inverno como trigo, cevada e seus derivados (Mallmann et al, 2017).
Zearalenona (ZEA)
A média anual de ZEA foi de 6 ppb e a média das amostras positivas foi de 58 ppb, prevalecendo em 5,9 % das amostras. Observou-se que em algumas semanas de janeiro e agosto a prevalência foi maior que 20%. A maior média de concentração foi na semana entre os meses de junho e julho (Figura 7).
Nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Santa Catarina foram analisadas 28, 263 e 20 amostras, respectivamente e não foram identificadas concentrações acima de 30 ppb de ZEA. O estado de MG teve maior prevalência (33%), porém com análise de apenas 6 amostras (Figura 8).
A prevalência de ZEA pode estar associada às condições de clima mais frio, pois fungos produtores de ZEA crescem e desenvolvem-se bem em temperaturas mais altas, mas precisam de oscilações com temperaturas amenas, para ativarem o seu metabolismo secundário e a produção de ZEA.
Historicamente, essa micotoxina apresenta uma prevalência mais alta no milho brasileiro, em torno de 20 a 30%, no entanto, durante o ano de 2019, foi observada uma prevalência inferior.
A ZEA tem importância toxicológica principalmente em suínos e bovinos, pois sua ocorrência está frequentemente associada a transtornos reprodutivos, justificando o seu monitoramento para essas espécies.
Conclusões
O monitoramento das micotoxinas no milho deve ser constante, pois a heterogeneidade da concentração pode ser alta entre um lote de grãos e outro. A utilização da metodologia NIR para predição de micotoxinas possibilita uma resposta mais rápida, com a possibilidade de efetuar uma quantidade maior e mais frequente de análises, conferindo maior segurança na utilização do milho na nutrição animal e humana;
As micotoxinas de maior importância e prevalência no milho brasileiro apresentaram perfis de ocorrência distintos no ano de 2019. O principal destaque foi a alta prevalência de FUM, a prevalência oscilante de AFLA, a prevalência pontual de DON, e a baixa prevalência de ZEA.;
O risco que cada micotoxina oferece ao sistema produtivo pode ser mensurado a partir de um monitoramento contínuo nas matérias primas utilizadas na dieta, com base na média de concentração e prevalência de cada micotoxina, e depende da sensibilidade de cada espécie animal, idade, sexo e fatores ambientais, sanitários, genéticos e nutricionais. Esses riscos são calculados automaticamente pela Plataforma Olimpo, facilitando o gerenciamento do Risco Micotoxinas e a tomada de decisões.