A qualidade dos produtos utilizados para arraçoamento na aquicultura é vital para o sucesso da produção em cativeiro. Há uma variedade de rações disponíveis comercialmente, sendo estas ajustadas às demandas nutricionais de cada espécie e fase de criação. Matérias-primas variadas, como farinhas e farelos de origem vegetal, são utilizadas nas formulações. Tais materiais e consequentemente seus produtos acabados estão sujeitos à contaminação por fungos e bolores, os quais podem produzir metabólitos secundários tóxicos sob condições ideais (substrato adequado, atividade de água, temperatura e oxigênio).
Diversos estudos em aves e suínos apontam os impactos negativos da presença de micotoxinas no alimento. No entanto, esse tema não tem sido extensamente investigado na aquicultura, mas a crescente expansão da produção aquícola em cativeiro justifica o monitoramento mais efetivo dos efeitos dessas toxinas. As micotoxicoses podem não ser facilmente diagnosticadas, pois os sinais clínicos se assemelham aos de outras patologias, o que dificulta o tratamento e ocasiona prejuízos econômicos.
As micotoxinas de maior importância na aquicultura são: aflatoxinas (AFs), fumonisinas (FBs), zearalenona (ZEA), deoxinivalenol (DON) e ocratoxina A (OTA). A intoxicação determina sinais clínicos que variam de acordo com a espécie animal, com quais e quantas micotoxinas estão presentes, além de suas possíveis interações, e com a forma de intoxicação: crônica ou aguda. Os alevinos são menos resistentes do que juvenis e adultos.
As AFs são produzidas por fungos do gênero Aspergillus, sobretudo por A. flavus e A. parasiticus. O principal órgão-alvo é o fígado, sendo também observadas a diminuição no crescimento e a piora na conversão alimentar, causadas pela redução na síntese proteica e alteração no metabolismo lipídico. Além disso, as AFs debilitam o sistema imunológico. Os principais sinais da aflatoxicose aguda em peixes jovens são anemia, palidez nas brânquias, coagulação sanguínea insuficiente e redução no ganho de peso e no crescimento.
As FBs são produzidas por fungos do gênero Fusarium, em especial por vertilloides. A composição química dessas toxinas é similar à esfingosina e à esfinganina, substâncias que são tóxicas às células e podem deflagrar lesão hepática e renal. O dano à mucosa intestinal e o acúmulo de intermediários esfingóides podem originar aumento dos ácidos graxos saturados e redução dos ácidos graxos insaturados na carcaça. Redução no consumo de alimento e no ganho de peso foram observados em peixes intoxicados por FBs, além de lesões no fígado.
A ZEA também é produzida pelo gênero Fusarium, principalmente F. graminearum. Essa toxina causa efeitos estrogênicos que podem afetar a reprodução. Em peixes, há relatos da interferência de ZEA na produção e viabilidade dos ovos e na taxa de fertilização e de diferenciação sexual. A coocorrência de ZEA e DON pode exacerbar seus efeitos negativos. DON pertence ao grupo dos tricotecenos e é igualmente produzida por F. graminearum. Dieta contendo altas concentrações de DON não foram aceitas por algumas espécies de peixe, enquanto outras demonstraram uma sensível redução no ganho de peso e piora na conversão alimentar ao ingerirem essa dieta.
A OTA também é produzida por Aspergillus e Penicillium, especialmente A. ochraceus. Em peixes causa principalmente redução no crescimento e lesões no rim, além de imunossupressão. Na Figura 1 estão resumidas as principais micotoxinas e impactos na aquicultura.
Figura 1 – Principais micotoxinas e impactos causados na aquicultura.
O monitoramento dessas micotoxinas nos constituintes das rações para peixes é imprescindível. Atualmente, a tecnologia por infravermelho próximo pode ser utilizada para auxiliar neste tipo de controle. O Near Infrared spectroscopy, ou NIR, apresenta benefícios como o fácil preparo das amostras, a não utilização de reagentes, a simples operacionalidade e a grande rapidez no resultado.
O NIR é uma ferramenta para o monitoramento. Através dessa técnica, as micotoxinas são gerenciadas e diversos fatores são incorporados no sistema para compor o risco micotoxinas (RM). O RM auxilia na obtenção de uma visão holística do gerenciamento da Empresa e na tomada de decisão quanto a usar ou não um aditivo antimicotoxinas (AAM) (Figura 2).
Figura 2 – Exemplo do gerenciamento do risco micotoxinas.
A Figura 2 indica a realidade de uma Empresa; o RM foi calculado com base no algoritmo que considera a contaminação e a prevalência micotoxicológica medida a partir de um histórico de análises nos ingredientes que compõem a ração, espécie animal e idade. Cada uma dessas variáveis, bem como suas associações, pode afetar os parâmetros zootécnicos e sanitários de maneira distinta. O objetivo final é a tomada de decisão a partir de um gráfico de fácil compreensão, que indica a necessidade e o momento de incluir um AAM, bem como estimar sua dose de acordo com o nível de risco.