Nas últimas décadas observou-se um crescimento na interação das pessoas com cães e gatos, principalmente pela proximidade da relação do humano com seu pet. Essa relação envolve passeios, banho e tosa, visitas ao veterinário e até uma alimentação especial, pois os pets são tratados como parte integrante da família. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o Brasil possui 53 milhões de cães e 22 milhões de gatos, posicionando o País em quarto lugar no ranking de população de animais de estimação e em terceiro lugar com maior faturamento no setor; a alimentação, que inclui rações, biscoitos e petiscos em geral, é responsável por quase 70% desse total.
Como parte da composição da ração desses animais, estão incluídos milho, soja, arroz, trigo e carnes de aves, bovinos e peixes. Muitas dessas matérias-primas, principalmente as de origem vegetal, são passíveis de contaminação por fungos que podem ocasionar a produção de micotoxinas. As micotoxinas são um grupo de metabólitos secundários produzidos por vários fungos filamentosos e que podem causar danos se ingeridas.
Os principais fungos produtores de micotoxinas envolvidos na produção e armazenamento de grãos pertencem a três principais gêneros: Aspergillus, Penicillium e Fusarium. Os efeitos dessas micotoxinas são variáveis e muitas vezes de difícil diagnóstico. Os sinais clínicos incluem imunossupressão e efeitos estrogênicos e neurotóxicos, podendo levar o animal a óbito. Os fatores que determinam a sensibilidade das espécies também variam de acordo com a micotoxina (tipo, taxa e período de ingestão), o indivíduo (sexo, idade, raça, imunidade e estado nutricional) e o ambiente (manejo animal, higiene e temperatura). Por serem animais carnívoros e por não haver quantidade significativa de micotoxinas em carnes, o processo evolutivo fez com que cães e gatos sejam altamente sensíveis às micotoxinas. As micotoxicoses mais comuns nessas duas espécies são as causadas por aflatoxinas, deoxinivalenol e zearalenona.
As aflatoxinas são metabólitos altamente tóxicos e carcinogênicos produzidos principalmente por Aspergillus flavus e A. parasiticus, os quais crescem em diversos cultivos de grãos, sobretudo no milho. Os cães são extremamente vulneráveis aos efeitos dessas toxinas. Diversos estudos concluem que dietas com concentrações acima de 60 µg/kg de aflatoxina B1 já causam sinais clínicos de aflatoxicose. Porém, a sensibilidade depende da susceptibilidade individual, que, por sua vez, depende de fatores como idade e estados hormonal (gestação) e nutricional. Animais gestantes e jovens são mais sensíveis à toxicidade da aflatoxina B1 do que adultos ou não gestantes. Muitas vezes, os sinais clínicos são de difícil percepção e o animal pode morrer repentinamente.
O deoxinivalenol, ou vomitoxina, é um membro dos tricotecenos, grupo de micotoxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium spp, geralmente encontrados no milho e no trigo. Estudos realizados em cães relatam que doses acima de 4.500 µg/kg causam recusa na alimentação. Esse efeito também pode ocorrer em gatos e ser acompanhado de vômito em concentrações acima de 8.000 µg/kg.
A zearalenona é um metabólito fúngico de espécies do gênero Fusarium, produzida principalmente por F. graminearum. Trata-se de uma micotoxina que provoca atividade estrogênica, a qual frequentemente é a causa de vulvovaginite e de outras respostas estrogênicas em matrizes suínas. Os efeitos observados em cães são redução na fertilidade, aumento de absorção de embriões, diminuição no número de ninhadas, alterações dos níveis séricos de progesterona e estradiol e alterações no peso da adrenal, tireoide e hipófise. Estudos sugerem que concentrações acima de 1.000 µg/kg já causam alterações negativas na fertilidade desses animais.
As fumonisinas são micotoxinas produzidas por Fusarium verticillioides e parecem ter um efeito um pouco mais brando em cães e gatos. Contudo, seu monitoramento é importante, já que são micotoxinas de alta prevalência no milho, que frequentemente é o ingrediente base de dietas para pets.
Assim, a qualidade das matérias-primas que fazem parte da composição das dietas de animais pet é de suma importância. Para auxiliar no monitoramento desses ingredientes, atualmente pode-se contar com a tecnologia por infravermelho próximo. O Near Infrared spectroscopy (NIR) é uma ferramenta altamente precisa que emite radiação eletromagnética. A absorção de energia é resultante dos compostos orgânicos presentes na amostra e pode ser empregada para obter uma estimativa direta ou indireta da concentração de uma determinada substância. Esse método tem como vantagens a rapidez no resultado, o fácil preparo das amostras, a não utilização de produtos químicos e a simples operacionalidade. É uma tecnologia limpa e que traz benefícios, pois facilita a tomada de decisão e possibilita o gerenciamento das principais micotoxinas.
Dado o valor que os animais de companhia possuem, os seus tutores preocupam-se em disponibilizar alimentos de qualidade, aumentando, assim, sua longevidade, saúde e bem-estar. Dessa forma, a exigência na qualidade das rações, rastreabilidade dos ingredientes e controle de substâncias tóxicas é imprescindível por parte da indústria de rações. O uso do NIR tem se tornado frequente no setor de Controle de Qualidade das indústrias de rações pet por empregar uma metodologia fácil que fornece diagnóstico ultrarrápido para subsidiar a tomada de decisão. Com o NIR, o diagnóstico das micotoxinas pode ser efetuado carga a carga no recebimento das matérias-primas, bem como no processo interno da fábrica, durante a produção das rações, permitindo um gerenciamento contínuo do risco micotoxinas.