Introdução
Nos últimos anos, tem aumentado o interesse pela utilização de novas fontes alimentares no balanceamento de rações, mas que atendam às exigências para maximização do desempenho das frangos. Esse interesse surgiu na última década com a introdução do conceito "alimento funcional", definido como o alimento que contém substâncias com atividades biológicas envolvidas na prevenção e tratamento de doenças. Nesse contexto, pesquisas têm analisado, entre outras coisas, a utilização de fibras solúveis na alimentação animal, que podem trazer benefícios para o metabolismo gastrintestinal (Flickinger et al., 2003). Para maximização da expressão do potencial de crescimento do animal, é desejável que os benefícios promovidos pela ingestão de fibras solúveis na dieta venham acompanhados da manutenção e/ou melhora do desempenho das linhagens utilizadas. Poucos dados são encontrados na literatura sobre a influência da fibra solúvel sobre o desenvolvimento de frangos de corte. Assim, o objetivo desse trabalho foi estudar os efeitos da ingestão de fibra solúvel (pectina cítrica) sobre o desenvolvimento de órgãos do sistema digestório de frangos de corte machos e fêmeas.
Material e Métodos
Aos 28 dias de idade,160 frangos de corte (Cobb® ), 80 machos e 80 fêmeas, foram pesados e distribuídos de acordo com o peso corporal médio em baterias metálicas com piso vazado, comedouro metálico tipo calha e bebedouro nipple. Foi adotado delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial constituído por quatro rações e dois sexos, com 5 repetições de 4 aves por tratamento. Os tratamentos foram: ração controle; ração com 5% de pectina; restrição quantitativa (pair-feeding) e restrição energética (menor nível de Energia Metabolizável) e quantitativa (pair-feeding). A restrição quantitativa foi baseada no fornecimento de ração que correspondeu ao consumo das aves que receberam 5% de pectina (pair-feeding). Já a restrição qualitativa foi baseada nos dados obtidos em experimento anterior de digestibilidade de ração com 5% de pectina (Silva et al. 2010) e a quantidade de ração fornecida também correspondeu ao consumo das aves que receberam 5% de pectina. Dessa forma, esse tratamento teve por objetivo simular as condições de consumo de ração e aproveitamento energético das aves que receberam ração com pectina. As rações foram à base de milho e farelo de soja (19% de PB e 3175 Kcal Kg-1 EM), exceto a ração para restrição qualitativa, que possuiu redução na energia metabolizável (19% PB e 2950 Kcal Kg-1 EM), sendo fornecidas durante todo o período experimental (28 a 42 dias de idade).
Aos 42 dias de idade, uma ave por repetição foi pesada, atordoada e abatida para realização da biometria dos órgãos. Imediatamente após o abate, foi realizada a evisceração manual dos órgãos, os quais foram acondicionados em pratos plásticos para a mensuração do comprimento dos segmentos intestinais (duodeno jejuno e íleo) e dos pesos do papo, proventrículo, moela e fígado. Os pesos relativos dos órgãos foram calculados em relação ao peso vivo da ave.
Os dados foram submetidos à análise de variância e posterior teste de Tukey, a 5 % de probabilidade, por meio do software SAS®(SAS Institute, 2002).
Resultados e Discussão
De acordo com a Tabela 1, não houve interação significativa entre as rações e o sexo para os parâmetros avaliados (p >0,05).
Tabela 1 – Pesos corporal médio e pesos absoluto e relativo do papo, proventrículo, moela e fígado de frangos de corte machos e fêmeas que receberam pectina ou restrição alimentar, aos 42 dias de idade.
Observou-se que o peso vivo das aves e os pesos absoluto e relativo do proventrículo, moela e fígado foram influenciados pelas rações utilizadas (p 0,05), sendo que a pectina e a restrição energética + quantitativa (REQ) reduziram o peso vivo em relação à ração controle e a restrição quantitativa (RQ). O tratamento com pectina e as restrições alimentares proporcionaram menores pesos absolutos de proventrículo, moela e fígado e menores pesos relativos de proventrículo e fígado em relação às aves da ração controle. Os dados mostraram que a ingestão de pectina alterou o crescimento das aves, e influenciou negativamente seu peso e o peso dos órgãos. Em relação ao sexo, os machos apresentaram maior peso vivo, maior peso absoluto da moela e do fígado e menor peso relativo do papo que as fêmeas (Tabela 1). Os demais parâmetros não foram influenciados pelo sexo das aves.
De acordo com a Tabela 2, o duodeno não foi influenciado pelas rações experimentais e não houve interação significativa entre ração e sexo para os parâmetros avaliados (p >0,05). Observou-se que a pectina proporcionou aumento no comprimento do jejuno, íleo e no comprimento total do intestino delgado em comparação às aves que receberam ração controle e restrição quantitativa. O menor comprimento do jejuno e total foi observado nas aves que receberam restrição energética + quantitativa. Esses dados concordam com os de Jiménez-Moreno et al. (2010), que registraram aumento no comprimento total do intestino de frangos e de ratos alimentados com dieta contendo diferentes fontes fibrosas. O sexo não influenciou os parâmetros avaliados (p >0,05). O menor comprimento proporcionado pela restrição energética e quantitativa provavelmente está relacionado à menor disponibilidade energética da ração.
Tabela 2 – Comprimento dos segmentos intestinais (duodeno, jejuno e íleo) de frangos de corte machos e fêmeas que receberam pectina ou restrição alimentar, aos 42 dias de idade.
De uma maneira em geral, as aves que ingeriram pectina e as que foram submetidas a restrição energética e qualitativa apresentaram menor desenvolvimento dos órgãos quando comparadas às aves da tratamento controle e da restrição quantitativa. A pectina é conhecida por formar gel em contato com água, adsorvendo as partículas de alimento no interior da malha gelatinosa, o que tem sido associado com redução de digestão e absorção intestinal de lipídio e carboidratos (Ramos e Lopes, 2006); o que sugere um efeito de restrição alimentar quantitativa e/ou energética da pectina sobre os frangos. Possivelmente, o menor aproveitamento energético da ração foi o fator responsável pelo menor desenvolvimento dos órgãos e menor comprimento intestinal das aves.
Conclusão
Conclui-se que o menor desenvolvimento dos órgãos do sistema digestório proporcionado pela pectina está relacionado ao menor aproveitamento energético da ração.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq pela bolsa de estudos concedida a VKS (proc. nº 157135/2010-1) e à FAPESP pelo auxílio financeiro (proc. nº 2011/06812-1).
Literatura citada
FLICKINGER, E.; VAN LOO, J.; FAHEY, G. Nutritional responses to the presence ofinulin and oligofructose in the diets of domesticated animals: a review. Critical Reviewsin Food Science and Nutrition, v. 43, p.19–60, 2003.
JIMENEZ-MORENO, J. M. GONZALEZ-ALVARADO, D. GONZALEZ-SANCHEZ, et al. Effects of type and particle size of dietary fiber on growth performance and digestive traits of broilers from 1 to 21 days f age, Poultry.Science, v.89, n.10, p. 2197 – 2212, 2010.
RAMOS N. S. L.; LOPES, B. J.; Et. al. Polpa de caju em rações para frangos de corte na fasefinal: desempenho e características de carcaça. Revista Brasileira de Zootecnia, vol. 35, n.3, pp.804-810, 2006.
SILVA, V.K. Pectina na ração de frangos de corte: digestibilidade, parâmetros zootécnicos e metabolismo lipídico. Tese (Doutorado em Zootecnia), FCAV – UNESP, Jaboticabal-SP, 2010.