Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

Probióticos enterococcus salmonella frangos

Probióticos a base de enterococcus Faecium NCIMB 10415 no controle da Salmonella Minnesota em frangos de corte

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: LN Kuritza *, L Pickler, LB Miglino, P Westphal, MC Lourenço, M Toledo, EC Muniz, E Santin Laboratório de Microbiologia e Ornitopatologia, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná
Sumário

Em produção avícola é necessário controle rigoroso das condições de produção, principalmente no que se refere ao controle de patógenos associados a toxi infecção em seres humanos, como Salmonella spp. Além da biossegurança, o uso de aditivos na dieta também é empregado para controlar esses patógenos como é o caso dos probióticos. Enterococcus faecium tem sido utilizado com o intuito de promover crescimento das bactérias benéficas no trato gastrointestinal e melhorar o desempenho animal. Objetivando avaliar a eficácia do Enterococcus faecium no controle da Salmonella Minnesota (SM), foi desenvolvido o presente experimento. Foram alojados 60 frangos de corte, em salas com ambiente controlado, divididos em três tratamentos, sendo T1 controle negativo, T2 controle positivo e T3 dieta contendo o probiótico a base de Enterococcus faecium. As aves dos T2 e T3 foram inoculadas com 108 UFC/mL de Salmonella Minnesota (SM), e 48 horas após a inoculação foram feitas coletas de suabes cloacais para contagem de Salmonella. Aos 21 e 35 dias, foram feitas análises de cama de todos os tratamentos e aos 35 dias, as aves foram eutanasiadas para coleta de papo e ceco e contagem de SM. A utilização de Enterococcus faecium na dieta foi eficiente no controle da SM em suabes de cloaca, ceco das aves e cama aos 35 dias do experimento demonstrando ser uma ferramenta interessante para auxiliar no controle de SM.
Palavras Chave: Salmonella eliminação, Probióticos, Frangos de corte.

Introdução
Atualmente o Brasil ocupa lugar de destaque na produção de frangos de corte, sendo o terceiro maior produtor e o maior exportador mundial de carne de frango. Para atingir esta posição, foram necessários esforços para aumentar produtividade e biossegurança das granjas com o objetivo de atender a qualidade exigida pelos mercados interno e externo. Com isso tornou-se fundamental o controle da contaminação microbiológica da carne de frango com microorganismos envolvidos em toxinfecção alimentar em seres humanos como é o caso de Salmonella. Salmoneloses representam um sério problema de saúde pública tanto em países em desenvolvimento como em países desenvolvidos (Cardoso & Carvalho, 2006). O aumento da biossegurança nas granjas levou a uma intensificação nas análises dos plantéis e dos frigoríficos buscando contaminações. Isso fez com que nos últimos anos tenha ocorrido aumento no número de sorovares isolados. Segundo Shinohara et al. (2008) verifica-se a presença de vários sorotipos de Salmonella nos plantéis de suínos, dos quais a alguns anos atrás não havia sequer descrição. Este fenômeno também foi observado por Back (comunicação pessoal), que descreve aumento no número de sorovares detectados a partir de amostras de aves, dentre os quais Salmonella Minnesota (SM). Além da biossegurança, a utilização de aditivos na dieta também tem sido empregada no controle de Salmonella, como é o caso dos probióticos que são definidos como uma única ou mistura de culturas de microrganismos vivos que, quando aplicado a animais ou em seres humanos, afetam beneficamente o hospedeiro, melhorando as propriedades da microbiota endógena (Havenaar et al., 1992). Enterococcus faecium (EF) é uma bacteria produtora de ácido lático que apresenta feitos inibitórios contra Escherichia coli e Salmonella spp. (Lewenstein et al., 1979). Recentemente, foi apresentado que EF foi capaz de melhorar a o desempenho e conversão alimentar de leitões (Mallo et al., 2010). Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência de um probiótico a base de EF no controle de SM.
Materiais & Métodos
Foram alojados 60 frangos de corte dia 1° ao 35° dia de idade, divididos em três tratamentos, de acordo com a tabela 1. Os animais foram mantidos em salas com pressão negativa e climatizadas em temperatura ideal de conforto para a idade das aves. Os animais foram alojados em cama de maravalha esterilizada em autoclave e receberam água e ração à vontade. Antes do início do experimento a cama e as rações foram analisadas para presença de Salmonella spp. A dieta foi formulada com níveis iguais ou superiores aos recomendados pelo NRC (1994) e foi peletizada para todos os tratamentos. Na chegada dos animais foi realizado eutanásia e necropsia de cinco animais para coleta de fígado e ceco e realização de análise de presença/ausência de Salmonella. Todos os demais animais foram pesados individualmente para distribuição homogênea de acordo com o peso nos diferentes tratamentos. Aos 15 dias de idade as aves do T2 e T3 foram inoculadas com uma solução de SM na concentração 108 UFC/mL via oral. Foram realizado suabes de cloaca 48h após inoculação sendo cinco amostras por tratamento (pool de 3 animais) para análise de contagem de Salmonella. Aos 35 dias de idade 10 animais por tratamento foram eutanasiados e necropsiados para coleta de papo e ceco de forma asséptica e posterior análise de Salmonella. Aos 21 e 35 dias de idade foram coletados cinco alíquotas de 10g de cama das salas onde as aves estavam alojadas (5 amostras/tratamento) para análise de contagem de Salmonella.
Tabela 1. Descrição dos tratamentos
Tratamento 1 (T1)
Ração basal não inoculado com Salmonella Minnesota
Tratamento 2 (T2)
Ração basal inoculado com Salmonella Minnesota
Tratamento 3 (T3)
Ração basal com probiótico a base de Enterococcus faecium 2x1010(Cylactin ME 20 Plus® 50g/T) + inoculação com Salmonella Minnesota
Para realização do procedimento de contagem de Salmonella os suabes de cloaca, os papos, os cecos e as camas foram diluídos em água peptonada 2% e rediluídos em tubos com água peptonada 0,1% até atingir a concentração 10-3. Posteriormente 100 μL de cada diluição foi plaqueada em duplicata em meio agar Xilosa Lisina Desoxicolato (XLD). As placas foram incubadas em estufa regulada a 35°C por 24h e submetidas a posterior contagem das colônias típicas (adaptado de Desmidt et al., 1997). A solução inicial de água peptonada 2% foi mantida à 35°C por 24h, em caso de não ter ocorrido crescimento de colônias típicas de Salmonella no XLD, retirou-se 100 μL da solução inicial em água peptonada 2% e acrescentou-se em um tubo contendo 10 mL de caldo Rappaport-Vassiliadis, incubou-se em estufa regulada a 42°C por 24h para confirmação. Quando uma amostra era negativa nas contagens diretas em agar XLD, mas era positiva após o processo utilizando enriquecimento e meio seletivo, a amostra era considerada positiva para análise estatística. Os resultados das contagens de colônias foram expressos conforme os Procedimentos de Contagem de Colônia de acordo com a Normativa nº6 publicada em 26 de agosto de 2003 (MAPA, 2003). A contagem de colônias de Salmonella foram transformadas em Log 10 para análise estatística, sendo esta submetida a ANOVA, teste de Fischer à 5% de probabilidade. Para porcentagem de redução da contagem de Salmonella SM com relação ao controle, foi utilizado o teste de Qui-quadrado (P<0,05).
Resultados & Discussão
As amostras de cama e ração coletadas antes do alojamento, de fígado e ceco coletadas de aves no primeiro dia, e as amostras coletadas no grupo controle negativo nos diversos períodos foram todas negativas para análise de Salmonella, demonstrando o controle das condições experimentais.
Com base na análise dos suabes coletados 48 horas após a inoculação, foi observado redução de 61,8% da contagem de Salmonella, apresentando contagem inferior ao controle positivo. Na contagem de cama e de ceco aos 35 dias houve redução na contagem de Salmonella, quando comparados ao controle positivo. Esta redução foi de 47,2% e 73,4%, respectivamente. Entretanto a utilização do probiótico não teve efeito sobre a contagem de SM na cama aos 21 dias ou no papo das aves aos 35 dias (Tabela 2) De acordo com Lund et al. (2002) o EF é capaz de sobreviver ao trânsito intestinal, sendo isolado das fezes de pessoas que consumiram o mesmo na dieta. Além disso, uma das características do enterococus é sua capacidade de sobrevivência no meio ambiente, mesmo em superfícies secas (Wendt et al., 1998; Neely & Maley, 2000). Essas duas características, associado a capacidade de produção láctica do EF pode ser a explicação da redução do isolamento de SM no ceco e cama de aves aos 35 dias de vida.
Tabela 2. Contagem de colônias de Salmonella em suabe de cloaca 48 horas após inoculação, da cama aos 21 e 35 dias e do papo e do ceco, aos 35 dias, dos animais nos diferentes tratamentos (Resultados expressos em Log10 UFC/g)
 
Log UFC Salmonella de acordo com a amostra e a idade das aves
Tratamento
Suabe
48h PI
Cama
21 dias
Cama
35 dias
Papo
35 dias
Ceco
35 dias
Controle
0,00±0,00a
0,00±0,00a
0,00±0,00a
0,00±0,00a
0,00±0,00a
Salmonella
3,95±2,24b
4,30±0,07b
3,60±0,22c
0,87±0,50b
4,30±4,28c
Salmonella + Probiótico
1,51±1,14a
4,03±0,35b
1,90±0,66b
0,67±0,80b
1,12±1,20b
Média ± desvio padrão. a,b,c Letras diferentes na mesma coluna são significativamente diferentes para P ≤ 0,05.
Conclusões
O uso de Probiótico a base de Enterococcus faecium foi eficaz na redução da contagem de Salmonella Minnesota no ceco e cama de aves que consumiram o probiótico por 35 dias, demonstrando-se ser uma importante ferramenta para o controle de SM, associado a práticas de biossegurança.
Bibliografia
MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). 2003. Instrução Normativa nº62 publicada em 26 de agosto. Métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água. Publicado no Diário Oficial da União de 18/09/2003. Seção 1, p.14. Brasil.
Cardoso TG & Carvalho VM. 2006. Toxinfecção por Salmonella spp. Rev. Inst. Ciênc. Saude 24(2):95-101.
Desmidt M, Ducatelle R, Haesebrouck F. 1997. Pathogenesis of Salmonella enteritidis phage type four after experimental infection of young chickens. Vet. Microbiol. 56(1-2):99-109.
Havenaar R, Ten Brink B, Huis in 't Veld JHJ. 1992. pp. 209-224. In Probiotics, The Scientific Basis. Fuller R (ed). Chapmann & Hall, London.
Lewenstein A, Frigerio G, Moroni M. 1979. Biological properties of sf68, a new approach for the treatment of diarrhoeal diseases. Current Therap. Res. 26:967-981.
Lund B, Admasson I, Edlund C. 2002. Gastrointestinal transit survival of an Enterococcus faecium probiotic strain administered with or without vancomycin. International J. Food Microbiol. 77:109-115.
Mallo JJ, Rioperez J, Honrubia P. 2010. The addition of Enterococcus faecium to diet improves piglet's intestinal microbiota and performance. Livestock Sci. 133:176-178.
Neely AN & Maley MP. 2000. Survival of enterococci and staphylococci on hospital fabrics and plastic. J. Clin. Microbiol. 38:724-726.
NRC (National Research Council). 1994. Nutrient requirements of poultry. National Academy Press, Washington, USA.
Shinohara NKS, de Barros VB, Jimenes SMC, Machado ECL, Dutra RAF. 2008. Salmonella spp., importante agente patogênico veiculado em alimentos. Ciênc. Saúde Coletiva 13(5):1675-1681.
Wendt C, Wiesenthal B, Dietz E, Rüden H. 1998. Survival of vancomycin-resistant and vancomycin-susceptible enterococci on dry surfaces. J. Clin. Microbiol. 36:3734-37 
 
Conteúdo do evento:
Tópicos relacionados:
Autores:
LN Kuritza
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Recomendar
Comentário
Compartilhar
Profile picture
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.