A pendura, uma das tarefas mais importantes do abatedouro, é desenvolvida com base em um tripé operacional. A missão de dar início ao abate e manter seu desempenho à plena capacidade ao longo dos turnos está nas mãos de uma equipe pequena que trabalha em um ambiente agressivo, a um ritmo intenso e submetida a um alto grau de exigência física. As perfeitas condições operacionais do maquinário, que complementa de forma sinérgica e indissociável o trabalho humano, é um requisito-chave para que se assegure o funcionamento correto e produtivo do setor.
Finalmente, o manuseio adequado da matéria-prima, que determinará, de forma direta e indireta, a consistência dos processos subsequentes, a apresentação das carcaças e a qualidade e rendimento dos produtos, é de suma importância para que o setor cumpra a sua missão. Dessa forma, para otimizar o desempenho diário da pendura, a empresa precisa cuidar, ao mesmo tempo, da equipe de penduradores, das máquinas e dos frangos.
A Equipe
O ser humano é o recurso mais importante de qualquer empresa avícola, pois sem ele não há abate e não há empresa. Por conseguinte, deve-se tratar os funcionários responsáveis pela pendura com respeito e dignidade, garantir seu bem-estar e proteger sua integridade física e saúde, pré-requisitos cruciais para obter sua assiduidade, comprometimento e dedicação.
A pendura exige o contato direto e permanente com as aves vivas. Essa estreita interação, somada à inalação de poeira e o contato com o excremento destas, origina um ambiente de trabalho agressivo, afetando o bem-estar e a motivação dos responsáveis por esse processo, podendo, até mesmo, provocar doenças. Para melhorar as condições do ambiente de trabalho e proteger a saúde dos penduradores, a empresa deve instalar sistemas de ventilação que diminuam a exposição da equipe à poeira por meio da simultânea troca do ar contaminado por ar fresco e limpo. Para que sejam de fato eficientes e confiáveis, esses sistemas devem ser calculados e projetados não por leigos, com base em “achismos”, algo que comumente acontece nas empresas, mas sim por profissionais especializados, que detenham o conhecimento necessário e que sejam capazes de fornecer soluções na medida exata das necessidades de cada frigorifico. Como proteção adicional ao bem-estar e à saúde dos funcionários, a empresa deve:
• fornecer uniformes e equipamentos de proteção pessoal;
• oferecer os recursos para que os funcionários façam sua higienização antes das refeições;
• capacitar os funcionários quanto às boas práticas de higiene pessoal; e
• implantar práticas de organização e higienização da área de operação.
A iluminação da área de pendura é outro aspecto a ser levado em conta com muito cuidado pelas empresas devido à sua relação com a tranquilidade e qualidade da matéria-prima, com o trabalho e também com a saúde dos penduradores. A literatura especializada mostra que o nível de estresse e agitação das aves imediatamente antes do abate e durante a pendura acarretam efeitos negativos para a qualidade da carcaça, de forma geral. As aves que chegam ao frigorifico nestas condições reagem à pendura batendo as asas de forma mais intensa e por mais tempo do que o habitual. Essa agitação não apenas dificulta o trabalho dos penduradores, como pode provocar lesões de asas. As asas lesionadas trazem consequências econômicas indesejáveis, pois elevam o percentual de perdas e, consequentemente, o custo operacional. Adicionalmente, o intenso debater das asas pode fazer com que a carne do peito adquira características PSE - pálida, mole e exsudativa.
Um equipamento adequadamente uniformizado e uma área de trabalho limpa, organizada e corretamente iluminada contribuem muito para a qualidade do trabalhoA literatura especializada, e também a experiência prática, igualmente ratifica que a iluminação de baixa intensidade, a escuridão total e o uso de luz azul, vermelha ou verde na área de pendura tranquiliza as aves, reduzindo a agitação e o bater de asas durante a pendura. Com essas referências em mãos, as empresas adotam soluções diferentes para iluminar a área de pendura com o intuito de acalmar as aves e evitar as perdas anteriormente mencionadas sem, no entanto, sequer considerar, ou até mesmo buscar conhecer, as possíveis consequências de sua decisão para a equipe de penduradores. Se optarem pelo uso de penumbra ou escuridão, as empresas devem se atentar ao fato de que ambas as opções, por dificultarem a visão dos funcionários, contribuem para que escorreguem, caiam e se machuquem durante o trabalho, bem como transformam os ventiladores e extratores de ar impropriamente protegidos em uma grande ameaça. Se, por outro lado, a opção for pela iluminação da área com luz azul, vermelha ou verde, as empresas não podem negligenciar que a exposição à luz colorida de determinadas intensidades e comprimentos de onda afetam o metabolismo, fisiologia e até mesmo o ritmo de batimentos cardíacos dos seres humanos, segundo a literatura científica. Diante disso, a decisão de como iluminar a área de pendura não pode ser orientada unicamente por seu efeito sobre as aves, mas também, e principalmente, pelos seus efeitos na saúde e bem-estar dos funcionários.
As doenças ocupacionais conhecidas como Distúrbios Musculoesqueléticos – DMEs – são muito comuns entre os trabalhadores da indústria avícola no mundo todo. Nos EUA, por exemplo, sua ocorrência é muito superior ao que é registrado em outros setores da indústria – em 2011 e 2012, sua incidência foi cinco vezes maior que a média do setor industrial do país. Esse número pode ser ainda maior, já que muitas das tarefas no abatedouro não apenas exigem muito fisicamente do trabalhador, senão que vêm acompanhadas de outros fatores - repetição, força, postura estática ou irregular e vibrações - que aumentam a probabilidade de provocar DMEs nos funcionários. As DMEs podem causar uma série de problemas, incluindo dores, tremores, rigidez das articulações, dificuldade de movimentos e, em alguns casos, inclusive paralisia. Consequentemente, os trabalhadores precisam se ausentar do trabalho para tratamento médico e recuperação; alguns nunca recuperam sua condição física normal, no entanto.
O que acontece na pendura se encaixa perfeitamente no que foi anteriormente informado - os penduradores trabalham em pé, quase parados, e realizam um amplo ciclo de movimentos incomuns de tronco, pescoço, costas e braços a cada frango que têm que retirar da gaiola e pendurar na linha. A esse ciclo de movimentos que se repete milhares de vezes a um ritmo acelerado e constante, durante semanas, meses e anos, somam-se os frangos a cada dia mais pesados que os penduradores tem que manusear. O seu conjunto resulta numa atividade de grande impacto físico sobre o organismo dos penduradores.
Para que o trabalho diário seja cômodo e produtivo, não provocando, assim, danos à saúde dos penduradores a longo prazo, a empresa deve estar atenta e auditar o setor e os métodos de trabalho a fim de detectar se há riscos presentes. Se os há, deve atuar, prontamente, para eliminá-los ou, pelo menos, atenuá-los.