INTRODUÇÃO
A uniformidade, o tamanho e o peso ao primeiro dia de vida das aves são considerados os principais fatores da cadeia produtiva. Além disso, as lesões na carcaça de frangos de corte despertam interesses por causa dos prejuízos que acarretam aos produtores, decorrentes da condenação parcial ou total das carcaças, da redução no valor do produto final e da redução na velocidade de processamento industrial (Oliveira et al., 2002).
O material a ser utilizado como cama para as aves também é um dos fatores determinantes do estado da pele das mesmas, o qual tende a provocar maior incidência de lesões e consequentemente acarretando em um ambiente inadequado para a criação, pois alguns materiais podem aumentar a incidência dessas lesões, principalmente no peito e coxim plantar, e também apresentar alto teor de umidade.
Desta forma, este estudo objetivou avaliar a influência de dois tipos de cama sobre a incidência de lesões (calo de peito e coxim plantar) em frangos de corte e no teor de umidade da cama, utilizando a metodologia gait score.
METODOLOGIA
O experimento foi conduzido no setor de avicultura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos, entre os meses de setembro a novembro de 2008. Foram utilizados 240 pintos de corte (fêmeas) da linhagem comercial Cobb® e provenientes de mesmo lote de matrizes, fornecidos por um incubatório local. As aves foram distribuídas em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 2, composto de dois tipos de cama (serragem e maravalha) e dois pesos iniciais de alojamento: peso leve (34,40 a 35,22 g) e pesado (39,29 a 41,30 g), totalizando quatro tratamentos, cada um com três repetições de 20 aves.
As aves foram criadas durante 42 dias com água e alimentação à vontade. O fornecimento da ração foi realizado diariamente em três horários: às 7h00, às 13h00 e às 18h00.
Os 12 boxes (2 m² cada) instalados em um galpão de alvenaria (104 m²), foram equipados durante as fases iniciais com campânulas a gás, para aquecimento dos pintos e comedouros e bebedouros do tipo tubular infantil. O controle do aquecimento, bem como o manejo das cortinas foi realizado de acordo com a necessidade das aves, com a aferição das condições ambientais realizadas por meio de um termômetro digital alocado na altura das aves. Gradativamente, os equipamentos para a fase inicial foram substituídos por comedouros tubulares e bebedouros pendulares, e o aquecimento deixou de ser utilizado. O programa de luz adotado compreendeu 19 horas de iluminação por dia, em todas as fases de criação.
Foram avaliados a umidade presente na cama semanalmente durante todo o período experimental e as lesões no coxim plantar e no peito semanalmente, após as aves completarem 14 dias de idade.
Para as análises das lesões no coxim plantar adotou-se os seguintes escores (Oliveira, 2002): 0 – normal (sem queimaduras, crostas ou lesões); 1 – coxim queimado (apenas a derme); 2 – coxim com crostas (lesão cicatrizada) em um ou ambos os pés; e 3 – coxim com lesão (ferida aberta) em um ou ambos os pés. Para as lesões no peito, adotaram-se os escores relatados por Angelo et al. (1997): 0 – sem lesão; 1 – com lesão e sem inflamação; e 2 – com lesão e inflamado.
Quanto às análises do teor de umidade, utilizou-se o Método de Determinação do Grau de Umidade recomendado pelo Ministério da Agricultura (Brasil, 1992). As amostras de cama foram coletadas semanalmente em dois distintos pontos para cada box, evitando-se as áreas próximas e embaixo do comedouro e do bebedouro.
Os dados obtidos foram analisados pela ANOVA (SAS, 2003) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS
Quanto às lesões no peito e no coxim plantar, houve diferença significativa do tipo de cama apenas sobre as lesões no coxim plantar (P < 0,05), não constatando-se efeito do peso inicial de alojamento para ambas as lesões, conforme observa-se na Tabela 1.
Tabela 1. Avaliação de lesões no peito e coxim plantar, dos frangos de corte criados com distintos pesos ao alojamento e tipos de cama.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Não foram observadas diferenças significativas para a umidade presente na cama das aves frente aos distintos substratos utilizados (P > 0,05). Esse resultado está de acordo com os resultados de Lien et al. (1998), que avaliando a umidade de camas de frango não verificaram diferenças entre os teores de cada uma delas (26%) na sétima semana de uso.
Através da Tabela 1 percebe-se que as lesões no peito se mantiveram no menor nível, ou seja, no grau de menor severidade. Esse resultado concorda com Oliveira et al. (2002) que igualmente não encontraram diferenças significativas para lesões no peito em frangos de corte, criados em distintas camas e densidades. Já Angelo et al. (1997), encontraram resultados que não diferiram entre si, cujo valor médio foi de 0,54 para lesões no peito.
Quanto às lesões de coxim plantar, observa-se pela Tabela 1, que a cama de maravalha apresentou as maiores incidências de lesões, indicando a cama de serragem como a menos nociva ao sistema locomotor das aves. Para Oliveira et al. (2002), houve diferença estatística de lesões no coxim plantar em função do tipo de cama, da densidade populacional e da interação tipo de cama x densidade. Porém os autores constataram que as lesões de coxim plantar foram mais severas nas aves alojadas sobre a serragem (1,05 e 1,20, respectivamente) em comparação com a maravalha, discordando dos resultados obtidos neste estudo.
Através da Figura 1, pode-se observar o comportamento da umidade da cama e das lesões no coxim plantar nas aves, ao longo do período experimental. Observa-se que a umidade presente na cama, independente do tipo de material, aumentava ao logo dos dias, resultado esperado devido ao acréscimo de umidade liberado pelas aves nos excrementos. A cama de maravalha, mesmo sem comprovação estatística, apresentou menor umidade, concordando com Pearson et al. (2000), que verificaram que quanto menor o tamanho da partícula do substrato, maior foi a retenção de água.
Para as lesões no coxim plantar, houve um aumento ao longo dos dias para as aves criadas sobre a maravalha, porém esse efeito não foi observado para as aves criadas sobre a serragem.
Figura 1. Comportamento da umidade da cama e das lesões no coxim plantar das aves, durante o período experimental.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise da qualidade e produtividade. Brasília, 1992. 180p.
[2] LIEN, R.J.; HESS, J.B.; CONNER, D.E. et al. Peanut hulls as a litter source for broiler breeder replacement pullets. Poultry Science, v.77, p.41-46, 1998.
[3] ANGELO, J.C.; GONZALES, E.; KONDO, N. et al. Material de cama: qualidade, quantidade e efeito sobre o desempenho de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p. 121-130, 1997.
[4] OLIVEIRA, M.C.; GOURLART, R.B.; SILVA, J.C.N. Efeito de duas Densidades e dois Tipos de Cama sobre a Umidade da Cama e a Incidência de Lesões na Carcaça de Frango de Corte. Ciência Animal Brasileira, v. 3, n. 2, p.7-12, 2002.
[5] PEARSON, E.G.; LEAVENGOOD, S.; REEB, J.E. Comparison of the absorptive capacity of shavings of western juniper, western redcedar, and douglas-fir for animal bedding. Forest Products Journal, v.50, p.57-61, 2000.
**O Trabalho foi originalmente pelo XIV SICITE - UTFPR -*- Volume II -*- Seção Zootecnia