INTRODUÇÃO
O fósforo é, provavelmente, o mineral mais encontrado na célula animal e está envolvido em todas as reações metabólicas do organismo e na manutenção do equilíbrio ácido-base e da pressão osmótica, juntamente com o sódio e cloro.
A alimentação de frangos de corte baseada numa dieta de milho e soja é muito deficiente em fósforo disponível, sendo assim necessário o fornecimento de um ingrediente rico em fósforo inorgânico. Dessa forma, a suplementação de fósforo para aves é feita utilizando-se o fosfato bicálcico. De acordo com Lima et al. (1995), o fosfato bicálcico é uma fonte de fósforo inorgânico resultante da acidificação da rocha fosfórica, normalmente com ácido sulfúrico, resultando em ácido fosfórico, que é neutralizado após sua purificação com carbonato de cálcio. Em diferentes estudos de biodisponibilidade do fósforo em diferentes ingredientes, o fósforo oriundo do fosfato bicálcico é considerado 100% disponível, sendo assim largamente utilizado na alimentação animal em todo o mundo (Lima et al., 1997).
Huyghebaert et al. (1980) relatam que a biodisponibilidade do fósforo nas diferentes fontes de fosfatos inorgânicos pode sofrer algumas variações, pois a qualidade dos produtos comerciais existentes dependem da origem do material e do procedimento empregado na sua produção industrial. Outro fator importante que pode interferir na biodisponibilidade do fósforo é o tamanho da partícula do fosfato, uma vez que quanto maior o tamanho da partícula, maior será a biodisponibilidade do elemento (Griffith & Schexnailder, 1970; Potter, 1988). A escolha de uma fonte suplementar de fósforo deve levar em consideração o custo por unidade do elemento, a forma química em que o elemento está presente, a granulometria, a solubilidade e o teor de impurezas (Viana, 1985). Produtos pulverulentos ou demasiadamente grossos têm menor probabilidade de se dispersar homogeneamente e de se manter em misturas a base de grãos.
O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos do tamanho da partícula de fosfato bicálcico e dos níveis de fósforo sobre o desempenho de frangos de corte e sobre os teores de cálcio, fósforo e magnésio nos ossos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 300 pintos de corte de um dia de idade, machos da linhagem Cobb, alojados em baterias metálicas, distribuídos em 6 tratamentos, em um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2x3 (2 granulometrias de fosfato bicálcico - fino e granulado, e 3 níveis de fósforo total - 0,5; 0,6; 0,7%), com 5 repetições de 10 aves cada, totalizando 30 gaiolas dispostas em 6 baterias de 5 andares, cada. Na análise de granulometria dos fosfatos, ocorreu uma retenção de 40,20% e 1,70% na malha de 0,15 mm, para os fosfatos granulado e fino, respectivamente. Durante o período experimental, de 1 a 21 dias, as aves receberam água e ração à vontade. Nesse período, foram avaliados o ganho de peso, o consumo de ração e a conversão alimentar.
Na Tabela 1, encontram-se as dietas experimentais fornecidas às aves. A dieta 1 constituiu a dieta basal. As dietas 2 e 3 constituíram da dieta basal mais a suplementação de fosfato bicálcico (fino ou granulado) em substituição ao inerte e reduzindo o fornecimento de calcário, de forma a não alterar o nível de cálcio, para atingirem os níveis de 0,60% e 0,70% de fósforo total, respectivamente.
Ao final do experimento, 21 dias, foram abatidas duas aves por repetição, cujas tíbias esquerdas foram retiradas para determinação de cinzas ósseas, cálcio, fósforo total e magnésio. Para essas determinações, os ossos foram limpos, secos em estufa de ventilação forçada a 65º C por 72 horas, desengordurados com éter de petróleo em extrator de Soxhlet por oito horas, fervidos com detergente neutro por 15 minutos e secos novamente em estufa à 65º C por 72 horas. Os resultados foram expressos com base na matéria seca desengordurada.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes ao peso médio das aves aos 7, 14 e 21 dias e o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar nos períodos de 1 a 7, 8 a 14, 15 a 21 dias e período total são apresentados nas Tabelas 2, 3, 4 e 5 respectivamente.
Não foi verificada interação entre os tratamentos em nenhuma das variáveis estudadas. Quando se observa o peso médio das aves (Tabela 2), é possível notar que as aves que receberam fosfato granulado na dieta apresentaram maior peso quando comparadas com as aves que receberam fosfato fino, sendo essa diferença significativamente estatística aos 7 e aos 21 dias (p<0,05). Os níveis de fósforo também influenciaram esse parâmetro, no qual o nível de 0,5% proporcionou o menor peso médio, e o nível de 0,6% o maior peso. Como se pode observar, o ganho de peso das aves (Tabela 3) alimentadas com fosfato bicálcico granulado foi superior estatisticamente apenas na primeira semana e inferior na terceira semana, quando as aves receberam a dieta com 0,5% de fósforo total. Com relação ao consumo de ração (Tabela 4), as aves alimentadas com 0,6% e 0,7% de fósforo total apresentaram maior consumo de ração na terceira semana experimental (p<0,05), não ocorrendo efeito da granulometria sobre esse parâmetro. Apesar de terem maior consumo de ração, as aves que foram alimentadas com dietas contendo 0,6% e 0,7% de fósforo total na terceira semana apresentaram melhor conversão alimentar por terem alcançado maior ganho de peso. Por outro lado, as aves que foram alimentadas com dietas contendo fosfato granulado apresentaram, na primeira semana, melhor conversão alimentar por terem o mesmo consumo e melhor ganho de peso que as aves alimentadas com fosfato fino, havendo a mesma tendência na segunda e terceira semanas (Tabela 5).
Analisando o desempenho das aves no período de 1 a 21 dias (Tabela 6), observa-se um efeito estatisticamente significativo para as características peso médio e ganho de peso obtido pelas aves que receberam a ração contendo fosfato bicálcico granulado, sendo o ganho de peso 3,81% superior. Contudo, o consumo de ração e a conversão alimentar não foram influenciados pelas granulometrias estudadas. Quando são avaliados os níveis de fósforo estudados, observa-se que as aves que receberam a dieta contendo 0,5% de fósforo total alcançaram menor peso médio, menor ganho de peso e, apesar de apresentarem menor consumo, obtiveram pior conversão alimentar (p<0,05).
Vários trabalhos demonstram que a biodisponibilidade do cálcio e do fósforo para poedeiras comerciais aumenta à medida que ocorre o fornecimento de fosfatos com maior granulometria (Scott et al., 1971; Roland et al., 1974; Roland, 1986). Da mesma forma, vários autores (Gillis et al., 1951; Griffith & Schexnailder, 1970; Burnell et al., 1990; Lima et al., 1997) afirmam que o tamanho da partícula dos fosfatos podem interferir também na biodisponibilidade do fósforo para frangos de corte. Dessa forma, fosfatos com maior granulometria apresentam maior biodisponibilidade para frangos de corte por ocorrer uma maior retenção do alimento na parte superior do trato digestivo das aves, permanecendo o suplemento de fósforo mais tempo em ambiente ácido, o que tornaria o elemento mais disponível para ser aproveitado pelo animal.
Com relação aos níveis de fósforo da dieta, as diferenças entre médias só foram verificadas a partir do 150 dia de idade das aves, com o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar sendo superiores para as aves que se alimentaram com as rações contendo 0,6 e 0,7 % de fósforo total.
Observa-se que o consumo de ração e o ganho de peso foram diminuídos quando as aves receberam a ração com menor nível de fósforo. As aves que receberam 0,6% de fósforo na dieta apresentaram melhor conversão alimentar, muito embora não fosse estatisticamente significativa quando comparada com aquela obtida pelas aves que se alimentaram da ração com maior nível do elemento mineral em estudo.
Os resultados confirmaram os achados de Lima et al. (1995), que trabalharam com níveis de 0,40% a 0,70% de fósforo total e também verificaram uma melhora no desempenho à medida que o nível de fósforo foi aumentado na dieta.
Na Tabela 7, encontram-se os resultados relativos à matéria mineral, cálcio, fósforo e magnésio dos ossos das aves abatidas com 21 dias de idade. Quando se avalia os efeitos das diferentes granulometrias estudadas, nenhuma diferença significativa foi encontrada para cinzas e os minerais ósseos. Esses resultados discordam dos achados por Gillis et al., (1951) e Griffith & Schexnailder (1970), que encontraram um maior conteúdo de matéria mineral a partir do momento em que aumentava a granulometria. Esses autores afirmam também que ao se trabalhar com fosfatos que tenham uma granulometria muito fina, poderá ocorrer sua perda antes ou após sua adição à mistura da dieta.
Com relação ao nível de fósforo da dieta, observou-se que o conteúdo em matéria mineral total e cálcio não foi afetado pelos níveis estudados, ocorrendo, porém, um aumento no conteúdo de fósforo à medida que se aumentou o nível de fósforo da ração (p<0,05). Embora na literatura não ocorra nenhuma referência a respeito da relação entre os níveis de fósforo e magnésio da dieta, pode-se observar um aumento nos níveis de magnésio ósseo à medida que ocorreu o aumento dos níveis de fósforo total da dieta. Os resultados referentes ao conteúdo em matéria mineral dos ossos são discordantes daqueles encontrados por Lima et al. (1995), que verificaram um aumento desse elemento à medida que se elevou o fósforo dietético.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos no presente experimento, concluiu-se que:
- A inclusão de fosfato bicálcico granulado resulta em melhor desempenho das aves, porém as diferentes granulometrias não influenciam na percentagem de matéria mineral, cálcio, fósforo e magnésio nos ossos;
- Nível de 0,6% de fósforo total da dieta proporciona melhor desempenho das aves.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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