Atualmente, existe um crescente interesse no uso de produtos à base de selênio como antioxidantes para matrizes e animais comerciais. Há uma grande variedade de produtos disponíveis: dos inorgânicos, selenito de sódio ou selenato revestido ou não; e das formas orgânicas, leveduras selenizadas, quelatos de SeMet, formas puras de SeMet ou hidroxi-selenometionina, e ainda, algumas fontes de Se complexado baseadas em misturas de Se mineral com glicinatos e proteinatos.”
Pesquisas revelaram que o selênio incorporado como SeCys é o aminoácido chave para as propriedades antioxidantes da maioria das 25 selenoproteínas identificadas nas espécies animais ou nos humanos, como a glutationa peroxidase, tioredoxina redutase e metionina sulfoxido redutase. Entretanto, a SeCys precisa ser sintetizada “de novo” pelas células e não pode ser fornecida pela alimentação. A SeCys dietética transforma-se completamente em seleneto (H2Se) para a síntese “de novo” da SeCys.
Foi confirmado que, comparando-se ao selênio mineral, a forma orgânica é melhor absorvida, fornecendo selênio ao animal mais eficientemente. A questão é: como escolher a fonte mais eficiente? Análises químicas não parecem ser suficientes para estimar a biodisponibilidade da grande variedade de fontes dietéticas de selênio para a alimentação animal.
Um teste rápido de biodisponibilidade para avaliar a eficácia das fontes de selênio
Em condições normais, o conteúdo de Se no músculo peitoral de pintinhos de um dia depende do fornecimento de Se dietético para as matrizes. Caso não sejam suplementados com Se, ou sejam suplementados apenas com selenito de sódio, os pintinhos apresentarão diminuição no conteúdo de Se muscular ao 7º dia de vida, se comparado ao dia da eclosão. Baseando-se numa suplementação dietética de 7 dias para pintos jovens, pesquisadores desenvolveram um teste rápido de avaliação do valor biológico de diferentes fontes de Se orgânico, usando a concentração do Se muscular (Briens et al., 2015).
Selênio-levedura: Altamente variável e de difícil caracterização
Vários estudos mostraram que as Se-leveduras podem variar muito em relação ao conteúdo de SeMet entre os produtos do mercado e também entre os lotes de produção (AllAboutFeed 2012, 2013, Figura 1). De fato, o processo de produção da Se-levedura é baseado no crescimento de uma levedura em Se mineral, permitindo que as leveduras integrem parte deste Se em SeMet. Manejar o processo fermentativo para um ótimo crescimento das leveduras, enquanto alimentar as leveduras com o Se que é tóxico, é bastante complicado e sempre abre margem para uma grande variação no processo, gerando variações no conteúdo de SeMet que é a única parte ativa do produto final. Mensurar o conteúdo total de Se nas leveduras é fácil, mas determinar o conteúdo de SeMet não é uma rotina de laboratório. Dependendo da deposição de SeMet, é ainda mais difícil conseguir uma mensuração precisa.
Figura 1: Conteúdo de selenometionina de diferentes produtos do tipo Se-leveduras e diferentes lotes de produção do mesmo produto.
A Figura 2 mostra que a eficiência na deposição de Se no músculo peitoral de pintos com 7 dias de vida é amplamente influenciada pelo conteúdo de SeMet nas leveduras. O conteúdo de SeMet de várias Se-leveduras variou entre 21 e 70% em produtos diferentes ou lotes distintos do mesmo produto.
Figura 2: Deposição comparativa de Se muscular aos 7 dias de idade em frangos de corte alimentados com selenito de Na (SS), Se-glicinato (GLY), Se-proteinato (PRO), Se-levedura (SY1 e SY2), quelatos de selenometionina e Zn (CHEL), selenometionina pura (SM) ou OH-SeMet pura (Selisseo®, SO) no mesmo nível de incorporação dietético (0.2 ppm de Se total). A deposição da Se-levedura depende do conteúdo de SeMet nas leveduras (45 vs. 65% para SY1 e SY2, respectivamente)
Recentemente, uma nova fonte de Se-levedura baseada na levedura Torula foi descoberta. Sua especificidade se dá pelo fato desta não conter a SeMet em grandes quantidades, mas sim a seleno-homolantionina (SeHLan). Entretanto, esta levedura é de difícil análise entre lotes, já que a amaioria dos laboratórios não possui amostras de calibração para ela. Assim, a garantia será baseada apenas no Se total. Além disso, cientistas compararam SeMet pura e SeHLan em ratos e concluíram que a SeHLan apresenta apenas 60% da eficiência da SeMet. Outros trabalhos atuais compararam a Se-levedura Torula com outras fontes de Se-leveduras, sem mensurar o conteúdo de SeMet, sugerindo uma eficácia semelhante entre elas. O trabalho também relata a importância de uma completa caracterização das Se-leveduras ao compararmos as eficácias.
Quelato de Selenometionina
Assim como para os quelatos minerais (Zn, Cu, Mn), que mostram melhor biodisponibilidade, produtores tentaram desenvolver os quelatos de selênio. O problema é que o Se é um metaloide e não pode ser quelatado. O único quelato verdadeiro que existe atualmente é um quelato de selenometionina com Zn. Porém, metionina ou selenometionina são absorvidas através dos mesmos transportadores, e quelar a metionina ou SeMet com o zinco, apesar de aumentar a absorção de Zn, reduz a absorção de SeMet. Além disso, a quelação tem sido associada com uma maior estabilidade molecular, mas, nesse caso, a fraca ligação não promove melhora nessa estabilidade. De qualquer maneira, mensurar a estabilidade destes quelatos no processamento das dietas por meio das análises convencionais é impossível, sendo esse rápido teste in vivo a única forma de determinar a biodisponibilidade da molécula.
Selenoglicinatos and selenoproteinatos: Uma mistura de Se inorgânico e materiais orgânicos
Outros tipos de fontes orgânicas de Se são os glicinatos, proteinatos ou complexos. Estas fontes são obtidas através da mistura de Se mineral (selenito de Na) e aminoácidos ou proteína de soja hidrolisada. Assim como nos quelatos, o Se, sendo um metaloide, não sofre complexação. Utilizar o teste rápido em frangos de corte com 7 dias de idade permite a mensuração dos benefícios destas fontes na deposição de Se no tecido muscular. A figura 2 mostra que nenhum valor adicional foi obtido após a adição das fontes orgânicas de Se sobre o Se mineral.
Estabilidade das fontes de Se orgânico: importante na optimização da eficácia
Como mencionado anteriormente, mensurar o conteúdo de Se total em várias fontes de Se é relativamente fácil, a parte mais difícil fica em determinar a sua forma química. Já que o selênio não se esgota, muitas soluções orgânicas têm sido testadas em várias condições de processamento ou de desafio, mas somente os conteúdos totais de Se foram mensurados. O problema é que esta abordagem não revela a verdadeira dinâmica das fontes de Se orgânico.
A extrusão, muito usada em alimentos para aquacultura e petfood, representa o processo mais rigoroso e desafiador no processamento de alimentos. Nessas condições, a estabilidade da hidroxi-SeMet (HMSeBA, Selisseo®) foi determinada usando a concentração padronizada de 0.2 ppm ou de 2 ppm através da mensuração de HMSeBA, e não do Se total. Nas duas condições, a HMSeBA foi mais estável, com taxas de recuperação maiores do que 95% (Figura 3).
Figura 3: Estabilidade da hidroxi-selenometionina (HMSeBA, Selisseo®) incluída a 0.2 ou 2 ppm de Se total no processo de extrusão (115-130°C, 115 bar) (recuperação antes ou após a extrusão)
Porém, nem todas as moléculas de Se puro possuem o mesmo comportamento. A L-SeMet pura pareceu ser instável quando misturada com um premix padrão contendo minerais e vitaminas, e ainda mais instável quando adicionou-se cloreto de colina à mistura.
A Figura 4 mostra que, em condições de desafio (40°C e 75% de umidade relativa, por um mês) até 85% da SeMet deixou de ser detectável na amostragem, comparada a menos de 20% na HMSeBA.
Figura 4: Estabilidade da SeMet pura ou hidroxi-SeMet em condições de desafio (pacote aberto, 40°C, 75% UR, 1 mês), mensurado pelas recuperações de SeMet ou HMSeBA.
Conclusões
Apesar da grande variedade de fontes de selênio no mercado, a maioria dos fornecedores informa apenas o conteúdo de Se total e a indicação de sua forma química. É de grande importância ter uma metodologia para determinar as suas respectivas biodisponibilidades. Ao avaliar as fontes de Se, é necessário ter uma estabilidade garantida no processamento da dieta. A HMSeBA representa uma fonte de selênio orgânico pura, confiável e estável.
A deposição de Se tecidual é um critério confiável para avaliar a bioeficácia das várias fontes de Se, tanto orgânicas como minerais. O objetivo da suplementação com Se na dieta é melhorar a deposição de Se tecidual não só na forma reserva (SeMet), mas também na funcional (SeCys). A selenocisteína deve ser o melhor indicador da eficácia da fonte de selênio. A HMSeBA mostrou ser a forma mais biodisponível de Se orgânico no aumento da SeCys tecidual, até mesmo quando comparada às outras fontes de SeMet.