1. Conceitos gerais
A determinação exata da concentração de micotoxinas dentro de um lote é bastante difícil de ser realizada em função da distribuição heterogênea das mesmas na massa de grãos. A amostragem é uma etapa muito importante, pois necessita-se de uma amostra representativa que ofereça um resultado de análises confiável. Infelizmente não é possível coletar uma amostra com 100% de confiabilidade. Além disso, existem erros inerentes a todo o processo de quantificação de micotoxinas, que se divide basicamente em três etapas: amostragem, preparo da amostra e análise (Figura 1).
Figura 1 – Erros envolvidos no processo de quantificação de micotoxinas.
A etapa de amostragem é a que contribui com o maior erro. Dessa forma, alguns cuidados devem ser tomados para minimizar os erros nessa fase. A amostragem consiste em retirar várias amostras elementares do lote de grãos, subprodutos ou alimento. A soma das amostras elementares é denominada amostra composta. Se as amostras elementares são grãos inteiros, recomenda-se moer toda a amostra composta com um moedor equipado com peneira de 2 ou 3 mm para aumentar o número de partículas e, por conseguinte, dispersar as micotoxinas de uma forma mais homogênea. Em seguida, a amostra composta é homogeneizada e reduzida para formar a amostra de laboratório para ser analisada (Figura 2).
Figura 2 – Amostragem para análise de micotoxinas.
Basicamente, a amostragem pode ser estática ou dinâmica:
Amostragem estática: Realizada quando o lote está "parado". Em cargas a granel, pode ser efetuada com caladores graneleiros manuais ou pneumáticos, seguindo as recomendações do regulamento EC 401/2006 (Figura 3).
Figura 3 – Amostragem estática.
Amostragem dinâmica: Realizada quando o lote está sendo transportado de um local para outro. As coletas de amostras são realizadas com um sistema automático ou manual. A amostragem automática é muito prática e eficiente, por isso seu emprego está amplamente difundido nas empresas. O uso de amostradores automáticos e outros sistemas muito mais simples, como a coleta de amostras elementares já trituradas por meio de perfurações efetuadas nas tubulações, especialmente os transportadores de rosca sem fim, facilitam significativamente o procedimento e resultam em amostras altamente representativas. Entretanto, não havendo a possibilidade de coletar grãos moídos, no caso de moagem conjunta com outros ingredientes (farelo de soja, farelo de trigo, etc), pode-se coletar durante o movimento dos grãos inteiros previamente à moagem.
Figura 4 – Amostragem automática em fluxo contínuo aplicada no transporte interno da matéria-prima na fábrica de rações.
- Se a amostragem é realizada em grãos moídos, somente é necessário reduzir o tamanho da amostra composta para 500 a 1000 g para enviar para análise no NIR (e moer a 1 mm para ler no NIR).
- Se a amostragem é realizada em grãos inteiros, é necessário moer toda a amostra composta com moedor equipado com peneira de 2 ou 3 mm antes de reduzir o tamanho para 500 a 1000 g para enviar para análise no NIR (e moer a 1 mm para ler no NIR).
Na amostragem dinâmica (Figura 5) durante o transporte da matéria-prima, a quantidade de amostra composta deve ser calculada seguindo a fórmula:
2. Como funciona a amostragem na prática
- Para monitorar a matéria-prima na recepção:
Pode-se qualificar fornecedores:
Coletar amostras pelo método de amostragem estática (calador graneleiro manual ou sonda pneumática). Coletar 2 amostras compostas de aproximadamente 5 kg cada por caminhão. A concentração de micotoxinas na carga é dada pela média das 2 amostras (Figura 6).
Figura 6 – Amostragem estática em caminhão.
A possibilidade de analisar carga a carga todas as matérias-primas que chegam à fábrica de rações ou indústria de alimentos permite a segregação por silo e/ou destino adequado conforme a classificação quanto ao risco micotoxicológico. Por ser uma metodologia ultrarrápida, também se aplica na carga/descarga de navios, trens e silos. O número de amostras analisadas é substancialmente maior do que em outras metodologias convencionais, o que aumenta a segurança dos resultados e minimiza a dificuldade em determinar corretamente a concentração das micotoxinas que se distribuem de forma heterogênea na massa de grãos (Figura 7).
Figura 7 – Estatística de contaminação de micotoxinas por silo.
? Para monitorar a matéria-prima utilizada para produzir rações:
Monitoramento do Risco Micotoxinas.
O Risco Micotoxinas é indicado de acordo com o histórico de monitoramento de cada micotoxina e com fatores como a susceptibilidade de cada espécie animal, idade e sexo. Indica, em tempo real, o nível de pressão micotoxicológica ao qual os animais foram e estão submetidos. Essa informação é primordial para a tomada de decisões, já que auxilia a determinar o destino adequado do produto final, assim como o uso ou não de um aditivo antimicotoxinas específico para uma ou mais micotoxinas.
Um método muito simples e representativo é a amostragem automática em fluxo contínuo aplicada no momento do transporte interno da matéria-prima na fábrica de rações (Figura 8). Para tanto, deve-se seguir algumas recomendações:
- Coletar pelo menos 2 amostras compostas/dia (uma pela manhã e outra pela tarde, por exemplo);
- Coletar uma amostra composta a cada 250 toneladas de milho utilizado;
- O volume (kg) da soma das amostras compostas de cada dia deve ser igual a
*Moagem: não é necessária se a amostragem é feita em grãos moídos.
Figura 8 – Amostragem automática em fluxo contínuo.
Exemplo 1:
Empresa que produz 280 toneladas de ração por dia, com 60% de inclusão de milho.
Consumo de 168 toneladas de milho por dia.
168 t ÷ 250 t = menos de 1, mas para fazer o gerenciamento do risco são necessárias pelo menos 2 amostras compostas por dia.
Coletar no mínimo 2 amostras por dia. Peso das 2 amostras (kg) =
Exemplo 2:
Empresa que produz 1200 toneladas de ração por dia, com 60% de inclusão de milho.
Consumo de 720 toneladas de milho por dia.
720 t ÷ 250 t = 3 amostras compostas por dia. Peso das 3 amostras compostas (kg) =
Resumo: Coletar 3 amostras compostas de milho por dia com 40 kg cada uma.
Esse procedimento pode ser adotado para todas as matérias-primas que tenham risco de contaminação por micotoxinas e que são utilizadas na fábrica de rações.
O Risco Micotoxinas é calculado na plataforma Olimpo, que é a plataforma online da Pegasus Science. Deve-se selecionar a espécie animal, sexo e fase de produção e informar a porcentagem de inclusão de cada ingrediente na respectiva ração para visualizar os gráficos de risco para cada micotoxina.
Conclusão
A primeira etapa para o gerenciamento de micotoxinas é a amostragem. A distribuição das micotoxinas em um lote de grãos é heterogênea e, por isso, a amostragem para análise em cereais é mais complexa que uma amostragem para análise de proteína, por exemplo. Essa característica dificulta a obtenção de uma amostra representativa, determinando equívocos na interpretação dos resultados e no diagnóstico. A correta amostragem permite verificar a verdadeira presença de micotoxinas nas matérias-primas. A adoção de um programa contínuo de monitoramento das matérias-primas é imprescindível, pois irá detectar qual é o risco baseado em todos os lotes de grãos amostrados, fornecendo subsídios para tomadas de decisões mais seguras em relação às micotoxinas.