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Rastreabilidade indústria avícola

A rastreabilidade na indústria avícola

Publicado: 3 de maio de 2010
Por: Karina Ferreira Duarte , Otto Mack Junqueira (Departamento de Zootecnia, FCAV/UNESP)
Introdução
A produção avícola em escala industrial, tal como existe hoje, iniciou-se praticamente na década de cinqüenta, com o surgimento de várias inovações tecnológicas na área biológica e sanitária. Antes, a criação de aves restringia-se à criação de fundo de quintal, com baixos índices de produtividade, basicamente para o auto-consumo. Os pequenos excedentes eram vendidos abatidos ou vivos nas feiras, mercados centrais dos centros urbanos. Com a superação de alguns impasses de natureza sanitária que impediam a criação em grandes aglomerações é que a atividade começou a despertar o interesse de grandes empresas, que passaram a investir pesadamente em pesquisas.
O mercado internacional de carne de frango mudou significativamente nas últimas décadas, mudanças estas relacionadas com a adoção em grande escala de tecnologia, tanto na área biológica como na econômica. Pode-se dizer que em termos mundiais, dentro do setor primário, o setor avícola foi o que mais se destacou em termos de absorver com rapidez as novas tecnologias e os novos sistemas integrados de produção e de transferi-los com eficiência, na forma de preços baixos e de elevado padrão de qualidade, para os consumidores finais.
A melhoria da qualidade dos produtos animais deve ser uma busca constante e este conceito deve ser encarado por duas frentes diferentes: no mercado interno, para que produtos melhores e mais baratos possam ser oferecidos à população e com isto ter sua demanda aumentada e, no mercado externo, por ser um requisito de segurança dos alimentos oficialmente exigido. As condições intensivas em que os alimentos são produzidos, processados e comercializados facilitam a ocorrência de intoxicações, infecções e mortes decorrentes de contaminações não intencionais. Assim, mecanismos que apresentem garantias de qualidade e segurança, como a rastreabilidade, estão sendo discutidos e implementados em todo o mundo.
Dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (ABEF) destacam que as exportações de carne de frango totalizaram 307 mil toneladas em março de 2009, o que indicou uma recuperação em relação a fevereiro, com crescimento de 16,5%, e estabilidade em relação a março de 2008, com redução de 2%. A receita cambial somou US$ 422 milhões, indicando, da mesma forma, crescimento de 13% em relação a fevereiro. Em relação a março de 2008 o resultado representou uma retração de 24%. 
Os da­dos da Se­cre­ta­ria de Co­mér­cio Ex­te­rior (SE­CEX), do Mi­nis­té­rio do De­sen­vol­vi­men­to, In­dús­tria e Co­mér­cio Ex­te­rior, mos­tram com relação à car­ne de fran­go, que as ex­por­ta­ções do mês de abril de 2009 pro­por­cio­na­ram re­cei­ta cam­bial de US$ 424,4 mi­lhões, um au­men­to de 4,3% so­bre ­abril do ano pas­sa­do, quan­do as ven­das ex­ter­nas ren­de­ram US$ 406,9 mi­lhões. No que se re­fe­re aos vo­lu­mes, o re­sul­ta­do de ­abril mos­tra em­bar­que de 308,2 mil to­ne­la­das, de­sem­pe­nho 28,26% su­pe­rior a ­abril de 2008, quan­do fo­ram ex­por­ta­das 240,3 mil to­ne­la­das.
Ainda segundo a ABEF, os números representam um bom resultado para o setor, que a partir de outubro de 2008 foi afetado pela crise financeira internacional. Contudo, produtores e exportadores ainda devem manter uma postura de cautela diante da conjuntura, evitando um excesso de produção. O resultado acumulado do primeiro trimestre de 2009 apontou para embarques de 845 mil toneladas, com redução de 4% na comparação com o mesmo período de 2008. E a receita chegou a US$ 1,2 bilhão, 22% a menos do que o primeiro trimestre de 2008.
A recuperação das exportações de frango em março de 2009 não foi suficiente para mudanças significativas nos preços do mercado interno, que, em março, se mantiveram com média semelhante à de fevereiro. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), desde março, os preços do frango vivo vêm registrando consecutivas quedas. De acordo com dados da Secretária da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), no mês de abril, o preço médio recebido pelos produtores no Paraná, para frango vivo foi de 1,66 R$/kg. Nesse mesmo mês, no atacado, o valor do frango congelado teve média de 2,85 R$/kg e o resfriado 2,83 R$/kg. No varejo, a média foi de 3,73 R$/kg e 3,88 R$/kg, respectivamente, não sofrendo grande variação em relação ao mês anterior.
Os dados finais do IBGE relativos à produção de carne de frango em 2008, apontam que foram abatidas mais de 4,8 bilhões de cabeças, totalizando mais de 10 milhões de toneladas. O estado do Paraná é o maior produtor nacional participando com 24% da produção, seguido pelos estados de Santa Catarina e São Paulo. Os dados do Ministério da Agricultura (MAPA) referentes aos primeiros meses de 2009, demonstram que no primeiro trimestre foram abatidas cerca de 1 milhão de aves, um resultado 9,5% menor que o mesmo período de 2008.
A abertura do mercado chinês para a importação de carne de frango brasileira deve causar um aumento considerável nas exportações do setor. A abertura desse mercado deve aumentar, este ano, mais ou menos em 5% as exportações e, possivelmente, em 10% no próximo ano, o que é um dado muito positivo. O país asiático divulgou nesta semana uma lista de mais de 20 frigoríficos brasileiros já autorizados a vender para o país. A China é um mercado de quase US$ 1 bilhão por ano, gerando grande potencial de comércio entre os dois países. Em 2008, o Brasil exportou cerca de 3,4 milhões de toneladas de carne de frango. A venda gerou uma receita de US$ 6,3 bilhões ao agronegócio brasileiro. Este ano, até o início de maio, foram exportadas 1,1 milhão de toneladas de carne de frango ao valor de US$ 1,5 milhão.
Diante deste contexto, as organizações que objetivam ter sucesso nos mercados globais necessitam alinhar seus programas de qualidade, focando os clientes e melhorando o relacionamento. O produto deve ter qualidade, desde o projeto até os serviços e a necessidade de inovações se evidencia em todos os processos, ferramentas, políticas e métodos de gestão das empresas. Assim, a nova realidade do mercado exige que as empresas dispensem o máximo de atenção quanto ao controle de qualidade de seus produtos.
Algumas políticas de subsídios praticadas pelos países desenvolvidos aos seus produtos agropecuários sinalizam como única possibilidade de competição, ou mesmo de inserção efetiva do Brasil no mercado internacional, a oferta de produtos com diferencial de qualidade. Esta qualidade deverá, além dos fatores intrínsecos do produto, associar fatores ambientais e de redução de risco para a saúde humana. E é neste cenário que a cadeia produtiva de carne de aves deve se estruturar.
Entendendo o significado da palavra rastreabilidade
A rastreabilidade é um mecanismo que permite identificar a origem do produto desde o campo até o consumidor, podendo ter sido, ou não, transformado ou processado. É um conjunto de medidas que possibilitam controlar e monitorar todas as movimentações nas unidades de entrada e de saída, objetivando a produção de qualidade e com origem garantida. Ela possibilita ter um histórico do produto, sendo que a complexidade do conteúdo deste histórico depende do objetivo a que se pretende alcançar.
Esse sistema funciona como um complemento no gerenciamento da qualidade e quando aplicado isoladamente não traduz segurança ao produto, nem ao processo. Deve estar agregado a outros sistemas de controle de qualidade, como o HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point) e códigos de boas práticas agrícolas como o EurepGAP (European Retailers Produce Working Group/Good agricultural practices) no caso de frutas. O HACCP é um processo científico que enfatiza e previne os riscos de contaminação alimentar através de medidas de controle e corretivas na indústria de alimentos. Esse sistema é parte integrante da norma "Código Internacional de Práticas Recomendadas para Princípios Gerais de Higiene Alimentar", do Codex Alimentarius, como forma de garantir a inocuidade alimentar, citado em Fermam (2003).
A rastreabilidade tem diversas finalidades como: assegurar que apenas materiais e componentes de qualidade participem do produto final; identificar clara e explicitamente produtos que são diferentes, mas que se parecem a ponto de serem confundidos entre si; permitir o retorno de produtos suspeitos numa base precisa e localizar falhas tomando medidas corretivas a preço mínimo. Os produtos rastreados possuem um diferencial no mercado, tornando-se mais competitivos e menos sujeitos às instabilidades do mundo globalizado. Com a rastreabilidade fica mais fácil detectar problemas ocorridos durante o processo de produção, bem como adotar medidas preventivas e de ação imediata no foco localizado.
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As entidades governamentais estão preocupadas em implementar a rastreabilidade em seus países para garantir a biossegurança, a segurança alimentar e o bem estar dos animais de produção. Entretanto, o interesse das empresas privadas está mais voltado em agregar valor aos seus produtos através desse sistema.
Um produto rastreado deve passar por um processo de certificação do sistema. A certificação representa um conjunto de procedimentos pelo qual uma entidade certificadora -imparcial ou independente - reconhece e atesta que o produto atende a requisitos pré-estabelecidos. Deve ser feito por um organismo independente que atesta através de um sistema de rastreabilidade, onde atua como uma ferramenta de qualidade e fornece as diretrizes básicas de controle. As informações requeridas são fornecidas através de um sistema de rotulagem demonstrando os registros feitos da cadeia produtiva e assegurando a qualidade ao consumidor. A rotulagem prevê uma associação entre os elos da cadeia, permitindo a transferência das informações de um segmento a outro. Para isso, é necessário identificar o produto. O princípio básico de qualquer sistema de identificação deve ser único e inequívoco, permanente, insubstituível e positivo, ou seja, sem gerar dúvidas. A identificação por si só não possui nenhum significado, por isso deve estar interligada a um sistema central de armazenamento de dados, que permite o acesso a todos os elos da cadeia produtiva, inclusive para o consumidor.
Quanto à influência do processo de rastreabilidade no custo de produção do frango, parece não haver grandes ônus adicionais por parte das empresas exportadoras, uma vez que elas já atendem à maioria dessas exigências. Para o restante do setor surgirão novos custos, mas não tão elevados quanto se possa imaginar, dado que a atividade já opera dentro do princípio da rastreabilidade, restando somente aperfeiçoar alguns princípios e métodos. Independente dos eventuais acréscimos no custo, a rastreabilidade é um processo irreversível, a ser inexoravelmente incorporado ao desenvolvimento da cadeia alimentar humana e a avicultura é o segmento da produção animal melhor capacitado para fazê-lo.
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O surgimento da rastreabilidade na avicultura
As condições intensivas em que os alimentos são produzidos, processados e comercializados facilitam a ocorrência de intoxicações, infecções e mortes decorrentes de contaminações não intencionais. Com isso, mecanismos que apresentem garantias de qualidade e segurança, como a rastreabilidade, estão sendo discutidos e implementados em todo o mundo.
Para a avicultura brasileira a rastreabilidade não representa uma novidade para o setor, já que ela é uma condição para a existência da própria produção avícola, que só se desenvolve graças ao contínuo registro das várias fases produtivas da ave, garantido alimentos finais seguros. O único senão da existência do processo no setor independente, que ainda requer muitos aperfeiçoamentos, é que ele se mantém praticamente estanque dentro de cada elo da cadeia, o que não ocorre nas empresas integradas, onde o uso da rastreabilidade é bem mais amplo e interligado.
Atualmente, a identificação mínima que um produto cárneo deve conter para ser exportado inclui: país de origem do produto; estabelecimento de abate; marca do produto; nome e código do produto; data de produção e/ou vencimento da validade, além de outras informações adicionais como código de lote e selo, etc. Esse mínimo, no entanto, tende a ser rapidamente ampliado e deve envolver o que se poderia chamar de "toda a vida pregressa do alimento" - o que, no caso da carne de frango, acaba incluindo as reprodutoras que deram origem ao frango, além dos alimentos e medicamentos (com respectivas origens) que recebeu.
Há um consenso universal que o agronegócio recebeu um grande impacto com as várias crises de alimentos observadas nos últimos anos. A exemplo dos problemas causados pelos surtos de febre aftosa e pela encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou doença da vaca louca, seguido pela polêmica discussão e incertezas sobre os efeitos dos alimentos geneticamente modificados, além de contaminações microbiológicas, resíduos químicos: em destaque os nitrofuranos, pesticidas, hormônios etc. Estes casos têm introduzido algumas complicações nos aspectos de controle da produção de alimentos seguros. Os consumidores estão cada vez mais exigentes quanto à aparência dos produtos, qualidade nutricional e fitosanitária, palatabilidade e resíduos de defensivos, entre outros parâmetros. Daí há a necessidade de atender ao controle de qualidade e origem dos produtos nas condições de sua produção e comercialização.
Ligado a isto existe uma tendência na humanidade pela volta ao natural, onde se observa uma mudança nos hábitos e na cultura dos consumidores. Desde os anos de 1970, as necessidades dos consumidores têm mudado no mundo inteiro e as comunicações tornaram realidade a interação entre as culturas. Isto levou a uma certa padronização nas demandas e o consumidor, está hoje ciente de suas necessidades, exigindo alimentos de melhor qualidade. Estas mudanças sofreram forte influência dos episódios de intoxicações alimentares, a exemplo do que aconteceu na década de 90 na Inglaterra, onde ovos provocaram intoxicações humanas por Salmonella, e a possibilidade de hambúrguer ser veículo da doença BSE com uma versão para o ser humano. Depois disto na Bélgica houve a crise da dioxina causada pelo uso de óleo de origem animal e vários outros casos de BSE na Europa. Assim é que a partir do conhecimento científico, em 1996, de que a BSE havia mais uma vez cruzado a barreira das espécies e chegado ao ser humano, diversos países aprovaram leis com o propósito de criar padrões para carnes e seus derivados, através de um sistema de registro, inspeção e rastreamento desde a fazenda até o consumo. Mais recentemente, o que tem impulsionado estas mudanças são as incertezas em relação ao uso de drogas formadoras de metabólitos, como os nitrofuranos e o uso de grãos geneticamente modificados. Não o bastante, os consumidores têm uma certa consciência dos problemas de saúde que a ingestão de comida estragada pode gerar para eles e suas famílias, e associam esta questão com o alojamento e manejo dos animais, com a ingestão de medicamentos e, em última instância, com o processo de conservação dos produtos em toda a cadeia de comercialização.
Situação da rastreabilidade no Brasil
A avicultura brasileira ainda não dispõe de um Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem, como a pecuária de corte, que já tem o SISBOV, porém já opera com uma série de normas esparsas - oficiais ou emprestadas de organismos internacionais, como a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP); as Boas Práticas de Fabricação (BPF), a Organização Internacional de Padronização (Sistemas ISO), o Bem Estar Animal (BEA), o Manejo Integrado de Pragas (MIP), além de vir atuando no sentido de definir normas para outros pontos da cadeia produtiva (exemplo: Instrução normativa nº 70, de 06 de outubro de 2003 sobre Programa de Redução de Patógenos). A adoção destes programas por si só não é suficiente no mundo globalizado. A rastreabilidade é base para estes programas e ao mesmo tempo é dependente deste para garantir a inocuidade dos alimentos, porém a sinergia entre eles permite trabalhar preventivamente gerenciando os perigos antes de expor os produtos ao mercado, desta forma preservando vidas humanas.
O sistema brasileiro de identificação e certificação avícola é uma das metas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a exemplo do que aconteceu com a bovinocultura de corte através do SISBOV, que ciente de suas responsabilidades e entendendo que a rastreabilidade está profundamente ligada ao contexto da defesa sanitária animal. A pauta desta proposta, entre outros assuntos, os controles oficiais sobre as carnes, auditorias de procedimentos baseados nos princípios relativos à análise dos perigos e pontos críticos de controle, auditorias de Boas Práticas de Fabricação, informações relativas à cadeia alimentar, decisões sobre o bem-estar animal e especificações sobre as aves processadas.
A União Européia, por meio da resolução CE 820/97, que, foi posteriormente substituído pelo nº 1760/2000, exige que todo o processo possibilite o levantamento de todas as informações sobre os animais, desde o seu nascimento até o consumo do produto final. Para que a rastreabilidade avícola brasileira seja bem sucedida, o setor não deve esperar novamente os importadores forçarem as iniciativas ou, muito menos embargarem a produção local. Atualmente, os problemas enfrentados no Brasil, tanto de ordem sanitária como os de barreiras técnicas, são exemplos de como um programa de rastreabilidade pode validar a qualidade do produto nacional e até mesmo proteger os exportadores brasileiros de eventuais questionamentos.
Visão da rastreabilidade na avicultura
A rastreabilidade é um processo crescente, irreversível e necessário, como fator de segurança ao produto; identificação de causas de reclamações e/ou desvios; gerenciamento de crise; controle estatístico de processo; competitividade e internacionalização; medidas preventivas no controle de perigos; marketing e melhoria contínua na cadeia de produção, maior confiabilidade e segurança ao consumidor. Em outras palavras, pode ser definida como uma ferramenta de gestão responsável do processo.
A segurança dos alimentos implicou no desenvolvimento desse novo conceito de rastreabilidade, que é muito mais amplo do que se imaginava a princípio, pois deixou de ser aplicado a partir da indústria (como já era comum), passando a estender-se da "fazenda à mesa", desde os processos iniciais de produção da matéria-prima do futuro alimento. Desta maneira, integrou-se o produtor primário (agricultor ou criador) à cadeia produtiva, passando a co-responsabilizá-lo pela qualidade do alimento final. Neste programa os animais não serão aceitos para abate se não estiverem acompanhados de informações pertinentes sobre a segurança dos alimentos, provenientes da exploração.
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O produtor precisa dela como uma nova e poderosa ferramenta de gestão, de captação de dados zootécnicos e de manejo. Os governantes, por sua vez, necessitam de mecanismos que permitam reconstruir a vida de um indivíduo e seus deslocamentos para assegurar à população a inocuidade dos produtos alimentares e para, em um dado momento, efetivar medidas de apoio ao mercado, controle de doenças e prevenção de fraudes. Empresas comerciais, principalmente as do mercado varejista, desejam a identificação para que possam oferecer aos clientes produtos de qualidade e de origem conhecida. Finalmente, a dona de casa exige saber a origem da carne que consome, o ambiente onde o animal foi criado, o respeito que o produtor teve com o meio ambiente, o bem-estar do animal nas fazendas, o modo como o animal foi abatido, a maneira como a carne adquirida foi manipulada e como os pacotes foram elaborados. A rastreabilidade é uma resposta as novas exigências dos consumidores, onde sua implantação é de ordem emergencial para o mercado, produtor e consumidor. A combinação do desenvolvimento de pesquisas inéditas com a facilidade de acesso aos seus resultados permitiu concluir que, diante das atuais condições de vida do homem, é essencial controlar o que está sendo consumido como alimento, o que inclui segurança para o consumidor.
O ciclo de vida das aves é muito curto e é economicamente inviável rastrear cada indivíduo. Ela defende que a identificação das aves seja feita por lotes, e não por indivíduo, como é feito para bovinos, apesar de existir tecnologia para isso. Para tanto, é necessário que os animais de um mesmo lote tenham a mesma idade, origem e sejam alojados sob condições idênticas, em uma mesma unidade de produção ou aviário.
No contexto da sanidade, a prevenção se estabelece por um sistema de alimentação e manejo adequados e programas de vacinação para determinadas doenças. Outras ações consistem de análise laboratorial, para o diagnóstico de doenças clínicas, e, ainda, a análise periódica de indicadores que permitem o controle de estado sanitário do rebanho e sua certificação, em termos de padrões e referenciais estabelecidos para este objetivo. Portanto, a sanidade do rebanho é monitorada por meio de registros de desempenho e laboratoriais, medicamentos e vacinações aplicadas aos animais e visitas regulares de inspeção veterinária.
As mudanças na estrutura da indústria estão estreitando os elos comerciais, criando uma estrutura integrada, com padrão de integração vertical, que é o padrão de uma organização na qual os diversos estágios do processo de produção, genética, ração, criação, processamento e distribuição estão sob o controle de uma única empresa. Isto tem ajudado nos controles necessários a cadeia de produção.
Da produção das avós até o pinto de corte, as empresas utilizam sistemas de registros, que permitem a identificação da origem do lote de frangos ou perus, do granjeiro que criou aquele lote, da ração e demais insumos utilizados. Por esse motivo, quando o lote chega ao abatedouro, a indústria já dispõe de todas as informações sobre o mesmo. Os criatórios têm que ser gerenciados como verdadeiras indústrias de transformação de proteína vegetal em proteína animal, cujo ambiente, manejo e sanidade precisam ser seguramente planejados, executados e controlados de forma a garantir a qualidade do produto em todas as suas fases de criação e de forma a preservar o potencial brasileiro de produção avícola nacional e de exportações.
As empresas precisam adotar o sistema de rastreabilidade não apenas por uma exigência do mercado e sim porque querem conhecer exatamente o que fazem, porque querem conhecer profundamente o seu produto, seja no seu conteúdo ou na sua forma. A rastreabilidade de carnes requer um método para identificar os animais, carcaças e cortes em suas embalagens e configurações de transporte/estocagem, em todos os estágios da cadeia de suprimentos. Os números de identificação devem ser precisamente aplicados e registrados de modo a assegurar uma ligação entre as diversas etapas, sendo responsabilidade de cada empresa gerenciar as ligações entre o que ela está recebendo dos fornecedores e o que está entregando aos clientes. Alguns dados de rastreabilidade devem ser sistematicamente transmitidos entre os elos da cadeia, enquanto outros devem apenas ficar registrados.
Os programas de rastreabilidade permitem aos criadores e técnicos informações organizadas em listas automáticas, tabelas e gráficos que com uma rápida análise permite reconhecer animais improdutivos para descarte e indicadores diversos de ganho de peso entre outros, que demandam atenção e providências dos produtores. Conforme o regulamento nº 1825/2000 CE, a rotulagem dos produtos resultantes do abate deve ter um número de referência que permita relacionar um produto em particular, do seu ponto de venda, ao animal individual ou grupo de animais, do qual ele se originou.
A União Européia através do artigo 18 do CE 178/2002, coloca que a rastreabilidade, será assegurada em todas as fases da produção, transformação e distribuição dos alimentos para consumo humano, para animais, dos animais produtores de gêneros alimentícios e de qualquer outra substância destinada a ser incorporada num alimento. A partir deste documento torna oficialmente obrigatória a sua implementação para os estabelecimentos que exportam para a comunidade européia. Entretanto, existe uma necessidade de procedimentos adequados da indústria brasileira, dentro de sua estrutura de produção, onde envolve tecnologia disponível, sanidade dos animais, condições climáticas e culturais dos granjeiros. Se não se considerar as particularidades da avicultura brasileira, as normas emprestadas de outros países certamente não darão certo.
Rastreabilidade na agropecuária
Os avanços científicos da última década permitiram identificar que a mola mestra propulsora da qualidade é a agropecuária. Neste contexto, entra a importância do estabelecimento de procedimentos rígidos de bem estar animal, de higiene, de biosseguranca, de valores nutricionais ajustados à demanda da genética, do uso de produtos somente sob prescrição veterinária, do controle de enfermidades através de programas preventivos e de vacinação, da necessidade de rastreabilidade dos insumos agropecuárias, dos controles de produção com uso crescente de produtos mais naturais como os oligossacarídeos e ácidos orgânicos e o amplo e adequado sistema de monitoramento dos parâmetros sanitários dos lotes em criação.
O produtor é o primeiro envolvido na rastreabilidade e isto depende de uma boa identificação do lote. A identificação do lote se dá pelo nome do produtor, cadastro e ou endereço de granja. Assim, toda a cadeia deve manter documentos que evidenciem a rastreabilidade, mostrando seu comprometimento:
A rastreabilidade na indústria avícola - Image 4
 
  • Prioridade na demanda dos clientes e consumidores
  • Granja com cadastro/ contrato de fornecedor de serviços de criação de aves
  • Linhagem
  • Criação sob Bem Estar Animal
  • Preferencialmente criado em instalações com piso
  • Lavagem e desinfecção das instalações a cada entrega de lote
  • Uso de cama nova a cada lote
  • Animais dentro dos padrões sanitários exigidos pela legislação
  • Controle integrado de Pragas
  • Controle de visitantes
  • Seguir Procedimentos Operacional Padrão de criação das aves (POP's)
  • Dispor de ações de manutenção preventiva e corretiva
  • Registro com dados de:
  • Incubatório de origem do ovo, data de postura, data de incubação, desempenho de incubação, vacinas utilizadas, local e horário de nascimento, horário de entrega e condições sanitárias de incubação, nascimento, armazenagem e entrega.
  • Origem do(s) lote(s) de matrizes que originou o ovo, local de postura, idade, linhagem, status sanitário da matriz, drogas utilizadas, mortalidade/idade, desempenho zootécnico (postura).
  • Data de alojamento dos pintos
  • Mortalidade na vida do lote e suas causas
  • Eliminação de aves nas respectivas idades e suas causas
  • Visitas técnicas efetuadas no lote e parecer técnico
  • Partidas e lotes de vacina
  • Medicações terapêuticas, nome do produto, partida, idade, período de carência, responsável técnico e motivo.
  • Taxa de crescimento das aves como peso x idade
  • Controles das partidas de rações recebidas e consumidas
  • Controle da qualidade de água e volumes de consumo diário
  • Controle de temperaturas mínimas e máximas diárias
  • Controles de gases tipo amônia e CO2
  • Condições de apanha, período de dieta hídrica, mortalidade de apanha
A extensão dos itens acima aplicam-se também a granja de matrizes e incubatórios, quando cabíveis, as quais são periodicamente auditadas. As alianças mercadológicas vêm crescendo e contemplam níveis de garantias desde o fornecedor de grãos para alimentação animal, premixes, rações, produtor de aves, abate, indústria processadora e pontos de vendas.
A dimensão da necessidade de planejamento, controle e gerenciamento das operações relativas à rastreabilidade, demonstram a complexidade dos avanços da pecuária tecnificada ou "contemporânea" sobre a tradicional, com utilização de sistemas mistos de produção, transformando necessariamente as fazendas em empresas rurais, com utilização de técnicas de gestão voltadas a atender as necessidades do consumidor final, adequando-se a um sistema inteligente de marketing, que condensa informações provenientes de relatórios, revistas especializadas, dados estatísticos, pesquisas e análises de mercado entre outras ferramentas, criando assim, um mecanismo estratégico e racional de decisão.
Pontos de alerta na implantação do programa de rastreabilidade para a indústria avícola
  • Tendência à burocratização a nível europeu e na empresa.
  • Definir por uma sistemática simples, objetiva e informatizada
  • Zelar pela informação
  • Aumento dos custos para as empresas
  • Ética com o valor da informação do cliente e da empresa
  • Distinguir as intenções do cliente e do oportunista
  • Período de guarda dos registros superior ao de validade do produto
Considerações finais
A rastreabilidade é um processo crescente, irreversível, impulsionado pelas economias de escala decorrentes dos avanços tecnológicos e da demanda do mercado importador que exige ética e transparência nos processos de produção e distribuição dos produtos. A fiscalização e a vigilância são mais enérgicas e os sistemas de alertas mais eficientes, permitindo maior visibilidade das situações de perigo. É de responsabilidade do produtor a entrega de um produto validado e de, através da disciplina, vencer as barreiras político sanitárias, técnicas e dos sistemas de alertas cada vez mais eficientes na visibilidade das situações de perigo.
O desafio mais importante na aplicação da rastreabilidade é o estabelecimento de diretrizes rígidas de produção, que ajude a assegurar que os produtos primários atenderão as demandas mais rigorosas das empresas processadoras e de seus consumidores. Cada segmento da cadeia é controlado de maneira a alcançar a otimização do desempenho global da organização, com eficiência interna dos processos e confiança de novos mercados.
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Autores:
Karina Ferreira Duarte
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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Luzi Léa Stürmer Patussi
Revista Agromais
10 de mayo de 2010
SOBRE ARTIGO:A rastreabilidade na indústria avícola oi karina, tudo bem? gostaria de saber se vocês tem interesse em publicar o artigo na REVISTA AGROMAIS. Por favor, entre em contato comigo. luzilea arroba revistaagromais ponto com ponto br abraços aguardo retorno. Luzi
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