INTRODUÇÃO
O farelo de soja é o principal produto da soja e representa dois terços dos farelos protéicos de origem vegetal consumidos na alimentação animal. Na industrialização da soja o farelo é gerado com um rendimento de 76,5%. As principais características do farelo de soja são a alta concentração de proteína bruta, o perfil e o nível de aminoácidos, especialmente lisina, e o alto valor energético (Lima, 1999). A soja in natura contêm algumas substâncias que inibem o melhor aproveitamento das proteínas e demais nutrientes das dietas pelos monogástricos. Dentre estes fatores antinutricionais destacam-se os inibidores de tripsina, hemaglutininas, os bociogênicos, saponinas, lectinas, e fatores inibidores da tripsina como os fatores Kunitz e Bowman-Birk. A presença destes componentes antinutricionais na soja crua demanda algum tipo de processamento térmico, uma vez que eles são destruídos por altas temperaturas (Jorge Neto, 1992). O processamento térmico da soja pode ser realizado através de tostagem por tambor rotativo, desativação por calor úmido, desativação por calor seco, jet splorer, micronização, extrusão úmida ou seca e cozimento. Os mais utilizados são a extrusão, seca ou úmida e a desativação. A soja integral processada, por apresentar as vantagens do farelo associadas ao elevado valor energético do óleo presente no grão, representa um potencial econômico a ser explorado na produção de aves. Segundo Said (1999) os processos industriais que utilizam temperaturas entre 110 e 120 °C são considerados ideais em termos de manutenção da qualidade protéica da soja. Os dois principais parâmetros para avaliação da qualidade da soja são o nível de atividade da urease, que deve ser mantido entre 0,05 e 0,20 unidades de pH e o índice de solubilidade protéica, que deve ficar entre 80 e 85%, cujas variações dependem das temperaturas utilizadas no processamento (Rhee, 2000). O objetivo deste experimento foi avaliar o efeito de quatro formas de processamento de soja em dietas de frangos de corte, em comparação ao farelo de soja, sobre o desempenho dos animais, características de carcaças e a avaliação econômica.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado na Embrapa Suínos e Aves em Concórdia, SC, com uma única partida de soja em grão, com 35,93% de proteína bruta, que foi homogeneizada e submetida a diferentes processamentos, inclusive a produção do farelo de soja. Pintos de corte de um dia de vida, num total de 1920, da linhagem comercial Ross, machos e fêmeas, foram distribuídos ao acaso em um delineamento de tratamentos em blocos. Foram estudados cinco tipos de processamento de soja em combinação com os 2 sexos. Desta forma, cada tratamento teve 6 repetições de 32 aves. A composição nutricional e o valor energético dos diferentes tipos de soja foram determinados em ensaio metabólicos Os tratamentos e respectivos teores de proteína bruta (PB) e energia metabolizável aparente (EMA), corrigida para retenção de nitrogênio, de cada soja estudada foram:
T1 - Dieta testemunha, à base de milho, farelo de soja (PB = 45,60%; EMA = 2414 kcal/kg) e suplementada com minerais e vitaminas;
T2 – Similar a T1 mas suplementada com soja em grão desativada em reator por aquecimento a vapor e sobre pressão (PB = 36,18%; EMA = 3196 kcal/kg);
T3 - Similar a T1 mas suplementada com soja desativada com aquecimento por perdas dielétricas, após a umidificação dos grãos e passagem por uma câmara com microondas (PB = 36,26%; EMA = 3264 kcal/kg);
T4 - Similar a T2 mas suplementada com soja produzida em equipamento de fabricante distinto (PB = 35,69%; EMA = 3252 kcal/kg);
T5 - Similar a T1 mas suplementada com soja extrusada à seco, de maneira que os grãos foram direcionados para um canhão com helicóides e cones dispostos de tal forma a provocar aquecimento por atrito e pressão (PB = 33,90%; EMA = 3707 kcal/kg).
O experimento foi realizado em três fases: de 1 a 21 dias (fase inicial), de 22 a 35 (fase de crescimento) e de 35 a 42 dias de idade (fase final), sendo que todas as dietas eram fareladas e fornecidas à vontade, assim como a água. Os animais foram pesados ao início do experimento, aos 21, 35 e 42 dias de idade, quando o experimento foi encerrado e uma ave de cada box, com peso o mais próximo da média do grupo foi abatida. Essa ave foi utilizada para determinar o rendimento de carcaça, peso do peito, coxa, sobrecoxa e quantidade de gordura abdominal. Os dados foram analisados tendo no modelo principal os efeitos de bloco, sexo e tratamentos, sendo empregada análise multivariada e univariada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme pode ser observado na Tabela 1, apenas o peso final dos frangos, aos 42 dias de idade, foi afetado significativamente (P<0,05) pelo tipo de dieta, sendo que a dieta à base de farelo de soja (T1) proporcionou maior peso dos frangos do que a dieta com soja em grão desativada por aquecimento por perdas dielétricas (T3), não sendo detectadas diferenças (P>0,05) entre os demais tipos de soja estudados. As outras variáveis de desempenho (ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar), no período total, não diferiram entre os tratamentos (P>0,05). Este resultado era previsível, uma vez que as dietas foram formuladas com base na composição química dos ingredientes e, principalmente, com base nos valores de energia metabolizável dos diferentes tipos de soja, os quais foram determinados previamente. Sakamura et al. (1998) observaram resultados similares no desempenho de frangos de corte entre diferentes processamentos de soja integral quando a soja encontrava-se dentro do padrão de qualidade e considerando-se as diferenças entre os valores nutricionais da soja integral tostada a vapor e soja integral extrusada. Com exceção do peso ao abate, que apresentou o mesmo tipo de resposta do peso final, todas as variáveis de carcaça apresentaram respostas similares (P>0,05) aos tratamentos estudados (Tabela 2). O custo de processamento da soja, em abril de 2005, para os tratamentos T1, T2, T3, T4 e T5 foi de R$0,590; R$0,600; R$0,642; R$0,600; R$0,680, respectivamente. Estes custos corresponderam a preços do kg de ração de R$0,620; R$0,616; R$0,623; R$0,614 e R$0,614, respectivamente. Assim os melhores tratamentos foram os que empregaram soja em grão desativada em reator por aquecimento a vapor e sobre pressão produzida em equipamento de fabricante distinto (T4) e soja extrusada à seco, de maneira que os grãos foram direcionados para um canhão com helicóides e cones dispostos de tal forma a provocar aquecimento por atrito e pressão (T5).
CONCLUSÕES
O processamento de soja por um mesmo sistema foi diferente em função do fabricante do equipamento.
A determinação do valor nutricional da soja submetida a diferentes processamentos e a utilização destes valores na formulação das dietas resultaram em desempenho e qualidade de carcaça similares entre os processamentos. Assim, os processamentos da soja em grão desativada em reator por aquecimento a vapor e sobre pressão e a extrusão a seco foram os melhores processos por serem economicamente mais eficientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 JORGE NETO, G. Soja integral na alimentação de aves e suínos. Avicultura Industrial., São Paulo, n.988, p.4-15, 1992..
2 LIMA, G. J. M. M. Importância e qualidade nutricional da soja e de seus subprodutos no mercado de rações: Situação atual e perspectivas futuras. In: Fórum Uso da soja na alimentação animal e qualidade do grão para a indústria. Congresso Brasileiro de Soja. Embrapa Soja, Londrina, 1999, p. 165 – 175, 1999..
3 RHEE, K. C. Processing Technology to improve Soy Utilization. In: Soy in Animal Nutrition, Ed.: Drackley, J. K. Federation of Animal Science Societies, Savoy, p. 46–55, 2000..
4 SAID, N. Introduction to dry extrusion, full fat soybean processing. In: Practical Short Course Manual on Feeds and Pet Food Extrusion, p. 1-44. Texas A&M University, College Station, 1999.
5 SAKOMURA, N. K.; SILVA, R.; LAURENTZ, A. C.; MALHEIROS E. B.; NAKAJI, L. S. O. Avaliação da Soja Integral Tostada ou Extrusada sobre o Desempenho de Frangos de Corte. R. Bras. Zootec., v.27, n.3, p.584-594, 1998.
Tabela 1. Médias ± desvios padrão do peso das aves nas várias fases, ganho de peso diário (GPD), consumo de ração diário (CRD) e conversão alimentar nas várias fases do período experimental.
Tabela 2. Médias ± desvios padrão das variáveis de carcaça das aves.