A avicultura brasileira encontra-se entre as três maiores do mundo, por possuir alto grau tecnológico e produtividade, resultantes dos avanços nas áreas de manejo, melhoramento genético, nutrição e sanidade. Tais avanços contribuíram de forma significativa para melhorias na eficiência alimentar, aumento do peso ao abate e diminuição do tempo de crescimento e da idade para o abate. No entanto, a seleção para produção não foi acompanhada de eficiência ou melhoria no processo de termorregulação, o que tornou as aves altamente sensíveis às temperaturas acima da termoneutra. Essa alta sensibilidade à temperatura quente na criação, também é acompanhada de alta sensibilidade durante o período de incubação, de modo que altas temperaturas podem causar prejuízos em ambos os períodos.
Na fase pós-eclosão, a temperatura ambiente é considerada o fator físico de maior efeito sobre o desempenho de frangos de corte, influenciando o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar. Aves sob estresse térmico apresentam modificações metabólicas expressas por alterações bioquímicas e hematológicas. Além disso, as aves submetidas ao estresse ambiental geralmente têm sua função imune reduzida.
Os organismos respondem ao estresse ores aumentando corticosterona, proteína total, glicose e hematócrito no sangue, reduzindo linfócitos circulantes, glicogênio hepático e índíce hematosomático. A exposição ao calor acarreta maior teor de gordura e menor rendimento de peito, enquanto os rendimentos de carcaça e de coxa mais sobrecoxa são maiores. Além disso, ocorre redução na área absortiva intestinal de frangos de corte expostos à temperatura elevada como efeito da diminuição (19%) da altura de vilosidades intestinais, que têm papel fundamental na degradação final de proteínas e carboidratos. A redução da altura das vilosidades intestinais de aves submetidas ao estresse térmico por causa do calor é consequência direta da redução de consumo de ração.
Atualmente, a ação de anti-estressores, como a vitamina C (ácido ascórbico), tem sido avaliada quanto a minimizar e/ou evitar os efeitos do estresse térmico. A vitamina C participa de vários processos biológicos, por exemplo, atua como co-fator para a formação e manutenção do colágeno - essencial para a formação e manutenção do tecido conjuntivo, ossos e cartilagens, e tem ação imuno estimulante, e sua suplementação na dieta melhora a resistência do animal às doenças, e melhora as condições dos ossos da perna, em aves estressadas.
A vitamina C por seu potente efeito antioxidante e pelo fato de sua síntese ser reduzida durante o estresse por calor, pode ser usada como importante estratégia nutricional para diminuir os efeitos negativos de altas temperaturas. Além disso, temperaturas elevadas impedem a absorção de vitamina C e, assim, aumentam sua exigência, e estimula o crescimento quando é adicionado á dietas. Características de desempenho e função imune de aves que sofreram estresse por calor são significativamente melhoradas com o aumento nas concentrações de vitamina C, vitamina E e piridoxina.
Considerando-se, que já existem procedimentos que permitem a inoculação massiva in ovo de vacinas sem causar prejuízo ao desenvolvimento embrionário, é plausível supor-se que a suplementação exógena de embriões de frangos de corte possa ser realizada utilizando-se a mesma técnica. Se a vitamina C atua como um agente anti-estresse, um imunoativador e um co-fator para formação e manutenção do colágeno e, consequentemente, dos ossos, é possível que a injeção da mesma in ovo resulte na formação de pintainhos de maior qualidade e mais resistentes ao estresse térmico durante a criação, segundo hipótese de estudo do grupo de pesquisa da FCAV/Unesp-Jaboticabal.
Além da nutrição in ovo, pesquisas estão direcionadas para a manipulação da temperatura durante a incubação. Ao avaliarem o efeito de diferentes temperaturas do embrião sobre o ganho de peso de frangos de corte, foi relatado que embriões que foram manipulados termicamente (com estresse por calor durante a incubação) apresentaram maior ganho de peso quando comparados ao grupo que apresentava temperatura do embrião padrão. Isso pode ser explicado, pois, os frangos de corte criados em temperaturas de estresse térmico por calor, podem ter se aclimatado desde a fase embrionária para realizarem seus processos metabólicos sob condições de temperaturas mais elevadas.
Collin et al. (2007) em estudo com embriões de galinha, verificaram o efeito de manipulação térmica embrionária (39,5ºC) durante 3 horas nos dias 8, 9 e 10 (precoce), e em 16,17 e 18 (tardio) ou em ambas as fases (precoce e tardio) sobre parâmetros zootécnicos ao nascimento, peso vivo no abate e rendimento de peito de frangos de corte (42 dias). Os autores encontraram que a taxa de eclosão pode ser influenciada pela condição de hipertermia na fase precoce de desenvolvimento e que a temperatura retal do neonato foi menor no tratamento controle. Para os resultados de peso do neonato e das aves durante a fase pós-eclosão (28 e 42 dias), não ocorreu influência da manipulação térmica. Entretanto, o rendimento de peito das aves submetidas à hipertermia na fase precoce, tardio e precoce e tardio foi superior ao rendimento de peito das aves submetidas à temperatura de incubação padrão (37,8ºC).
Mediante a estes resultados o grupo de pesquisa do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da FCAV/UNESP-Jaboticabal, levantou a questão se pintos oriundos de ovos injetados com vitamina C e submetidos a estresse por calor durante a incubação, apresentariam maior imunidade e desempenho que os pintos oriundos de incubação a termoneutralidade sem injeção de vitamina C, e se eles seriam mais resistentes ao estresse por calor durante a criação.
O estudo revelou efeito estimulador da vitamina C e da hipertermia durante a incubação sobre o sistema imunológico celular dos frangos, na incubação e na criação. No entanto, a alta temperatura de incubação associada ou não a vitamina C não evitou a queda no desempenho das aves criadas sob alta temperatura, mas manteve o rendimento de carcaça e partes.
Embora existam dados na literatura sobre os efeitos de altas temperaturas de incubação e da injeção de vitamina C sobre o desenvolvimento in ovo, pouco se conhece sobre o potencial uso de aditivos nutricionais anti-estressores, como facilitadores ou desencadeadores de adaptação epigenética à elevação da temperatura ambiente na criação. Diante disso, estudos relacionados com manipulação da temperatura de incubação e nutrição in ovo, terão que ser desenvolvidos com o objetivo de minimizar os prejuízos no desempenho das aves, decorrente das alterações fisiológicas devido ao estresse térmico durante a criação, com a finalidade de desenvolver possíveis alternativas que minimizem o impacto do calor na criação de frangos de corte, que por sua vez tem como consequência queda da produtividade dos frangos de corte e nos lucros da avicultura brasileira.
A literatura utilizada encontra-se à disposição dos leitores.