INTRODUÇÃO O conhecimento do valor nutricional dos alimentos é essencial para a formulação de rações de mínimo custo para aves. O valor nutricional de um alimento está correlacionado positivamente com o conteúdo de amido, proteína e lipídeo, e negativamente influenciado pelo conteúdo de parede celular ou...
Prezados, Carlos e Dalton, parabenizo pela abrangência do artigo.
O uso de enzimas é ainda bastante inovador e merece ampla visão de suas potencialidades.
Pergunto:
1) o uso de Lipases em dietas iniciais parece ser um das possibilidades, se usarmos surfactantes como a Lecitina haveria uma melhora da efetividade dessa Lipase?
2) os níveis de carbohidrases e fitases utilizados atualmente estão relacionados ao custo benefício, clivando menos da metade dos substratos, o uso conjunto podem trazer benefícios importantes em sinergia, o que poderíamos inferir se usarmos doses maiores e em conjunto?
3) observar os substratos como fatores antinutricionais ajudariam a entender a potencialidade máxima das enzimas?
Agradeço a boa leitura,
Luis Fernando Luna
Luis Fernando,
Respondendo ao questionamento que fez com relação a alguns usos de enzimas, seguem meus comentários:
1) Não é recomendado o uso de lipases em dietas animais, mesmo as iniciais. A estratégia de quebra dos lipídeos das lipases endógenas é diferente da estratégia das lipases bacterianas.
A lipase endógena animal quebra normalmente um lipídeo em 2 ácidos graxos, e um monoglicerídeo. As lipases microbianas (sejam bacterianas ou fúngicas) quebram o lipídeo em 3 ácidos graxos e um glicerol livre. Se fizermos a conta de contribuição energética de cada conjunto de produtos, veremos que o aporte gerado pelo conjunto 2 ác. graxos + monoglicerídeo é maior do que o gerado pelo conjunto 3 ácidos graxos + glicerol. Assim, ao adicionar uma lipase exógena estamos na verdade minando a capacidade de aproveitamento energético do animal. Como a probabilidade maior é de que a lipase exógena atue antes da lipase endógena, perderemos eficiência. Isso se observa em vários estudos de campo onde os animais tratados com lipase normalmente apresentam perda de performance.
2) Hoje já há a tendência de utilização de doses maiores de enzimas, especialmente de fitases. Doses entre 1250 e 1500 FTU/kg de ração (3x a dose "padrão") têm se mostrado, em estudos, importantes potencializadores da performance animal. Como a resposta à dose das fitases não é linear, normalmente utilizando-se 1000 FTU/Kg as matrizes devem ser cerca de 30% mais valorizadas. Todavia, a economicidade se mantém nesse patamar. Já no uso de doses acima de 1000 FTU/kg, deve-se utilizar uma matriz correspondente a no máximo 1000 FUT/kg, e deixar o restante do benefício pela performance, que é significativamente melhor já que se elimina com isto de 75-80% do fitato da dieta, não apenas liberando fosforo, mas principalmente diminuindo os efeitos anti-nutricionais do fitato. Já as carboidrases necessitam mais cuidados no seu uso, dado que doses muito altas, especialmente de xilanases, podem tender à quebra excessiva e formação de monômeros, como xilose, e provocar aumento significativo de viscosidade e perda de eficiência produtiva. O melhor uso de uma carboidrase ainda é sobre uma dose ótima que indique o produtor da mesma. Todavia, em conjunto com a fitase, os ganhos sim são potencializados, apenas lembrando de diminuir entre 20 e 30% os valores energéticos de ambas matrizes, já que ao mesmo tempo que há um sinergismo, também há um efeito de sobreposição nos valores de energia, devido a alguns efeitos que são similares para as duas.
3) Sem a menor dúvida. Hoje já muitos absorveram o conceito de que o fitato é um antinutriente per se. As interações diversas com a proteína, a inibição da conversão de pepsinogênio em pepsina e consequente estímulo para secreção de HCl exacerbado, com perda posterior de sódio como bicarbonato para tamponamento (Liu et al. 2011), a irritação intestinal com conseqüente perda excessiva de aminoácidos via fluxo endógeno (Cowieson&Ravindran 2003) e outros efeitos correlacionados, o tornam um patente interferente da digestão. A melhor ótica de uso de uma fitase sem ´dúvidas é encarar o fitato deste modo, e trabalhar dosagens que visem a máxima quebra do mesmo. Especula-se que a quebra total do fitato reativo seria possível com doses acima de 10.000 FTU/kg, o que foge bastante da viabilidade econômica. Assim, quantificar os substratos e explorar a máxima quebra econômica dos mesmos é a grande chave para a máxima eficiência.
Espero ter contribuído!
Abraços,
Guilherme Wadt
Gerente Técnico
AB Vista Feed Ingredients