Introdução
A relação ideal de energia:proteína e a utilização de proteína ideal e de aminoácidos digestíveis têm grande influência no desempenho de frangos de corte. São crescentes as exigências do mercado de produtos avícolas, que busca maior rendimento de carcaças, de cortes e de produtos processados em relação ao desempenho do frango vivo. Para a indústria este avanço representa o aumento do valor agregado ao produto que será comercializado (Moran, 1992; Luchesi, 2000).
Em pesquisa com frangos de corte alimentados com rações contendo níveis de lisina digestível de 0,91 a 1,44% e relações da lisina:metionina + cistina, treonina, triptofano, arginina, isoleucina e valina de 100:73, 65, 16, 105, 66 e 80%, respectivamente, Lemme (2003) observou efeito linear dos níveis de aminoácidos sobre o ganho de peso e a conversão alimentar. Com o aumento dos níveis de aminoácidos, também houve efeito linear sobre o rendimento de peito.
Wijtten et al. (2004) observaram que níveis mais altos de proteína ideal na ração nas fases inicial e de crescimento determinaram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar. O rendimento de peito não foi afetado, mas a porcentagem de gordura abdominal decresceu de forma linear e inversa ao nível de proteína ideal na dieta inicial.
O nível energético de rações para frangos de corte afeta tanto o desempenho biológico quanto o econômico. Quando se aumenta o nível energético da dieta sem o adequado ajuste de nutrientes como proteína, aminoácidos, vitaminas e minerais, ocorre desequilíbrio dos nutrientes, que provoca deposição excessiva de gordura na carcaça e diminuição da taxa de crescimento (Lesson & Summers, 2001).
Avaliando níveis crescentes de energia com relação constante do perfil de aminoácidos em dietas para frangos de corte, Langhout & Wijtten (2005) observaram que as respostas ao aumento de aminoácidos essenciais sobre o desempenho dependem do nível de energia. De acordo com Kidd et al. (2005), o maior ganho de peso, a melhor conversão alimentar e os maiores rendimentos (carcaça, peito e porcentagem de gordura abdominal) são obtidos quando os frangos são alimentados com rações de alta densidade de aminoácidos.
As exigências de aminoácidos diferem entre machos e fêmeas (Smith et al., 1998; Albino et al., 1999). Além disso, autores relatam que aves machos e fêmeas respondem de modo semelhante às mudanças nos níveis de metionina das rações (Whitaker et al., 2002). De acordo com Café et al. (2002), o aumento dos níveis de metionina para 115 e 120% e dos níveis de lisina para 110, 120 e 130% das recomendações do NRC (1994) promoveu aumento linear no desempenho dos frangos, mas não afetou o rendimento de carcaça. Entretanto, para rendimento de peito, o melhor nível de metionina foi o equivalente a 120%.
Objetivou-se com este trabalho avaliar o desempenho, o rendimento de carcaça e suas partes e a quantidade de gordura abdominal de frangos de corte, machos e fêmeas, alimentados com rações contendo diversos níveis de energia, lisina e metionina + cistina.
Material e Métodos
Foram utilizados 1.440 pintos de corte machos e fêmeas, linhagem Ross 308, de 1 dia de idade, alojados em boxes com densidade de 10 aves/m² (30 aves por boxe) no período de 1 a 45 dias de idade. Como características de desempenho avaliaram-se o ganho de peso, o consumo de ração e a conversão alimentar.
As rações para as fases inicial, de crescimento e de terminação foram fornecidas nos períodos de 1 a 21, 22 a 40 e 41 a 45 dias de idade, respectivamente. Os níveis de metionina, metionina + cistina, arginina, triptofano e treonina das rações foram calculados considerando os resultados das análises dos alimentos (Tabela 1) e os demais níveis nutricionais e as relações percentuais de lisina e aminoácidos foram definidos de acordo com tabela de Rostagno et al. (2000). As exigências de aminoácidos foram calculadas com base no conceito de proteína ideal, segundo Rostagno et al. (2000).
Os níveis nutricionais das dietas para atender às necessidades das aves foram estabelecidos considerando relatos de Lara et al. (2005).
As dietas (tratamentos) foram formuladas com níveis de energia baixos, médios ou altos combinados com níveis de aminoácidos (lisina e metionina + cistina) idênticos ou 10% superiores aos descritos por Lara et al. (2005): dieta A - baixo nível de energia e nível de aminoácidos padrão; dieta B - baixo nível de energia e nível de aminoácidos 10% superior ao padrão; dieta C - nível médio de energia e nível de aminoácidos padrão; dieta D - nível médio de energia e nível de aminoácidos 10% superior ao padrão; dieta E - alto nível de energia e nível de aminoácidos padrão; dieta F - alto nível de energia e nível de aminoácidos 10% superior ao padrão (Tabelas 2, 3 e 4).
Tabela 1 - Valores dos aminoácidos totais e digestíveis dos alimentos
Tabela 2 - Composição das rações fornecidas na fase inicial (1 a 21 dias de idade)
Aos 45 dias de idade, após jejum de ração de 12 horas, foram abatidas 192 aves (96 de cada sexo) para as avaliações dos rendimentos de carcaça limpa e eviscerada (com pés, cabeça e pescoço) e de vísceras (coração, intestino, fígado e moela), considerando o peso vivo em jejum obtido antes do abate. Na avaliação dos rendimentos de cortes (coxa+sobrecoxa, peito, dorso, asa, pés/cabeça/pescoço) e gordura abdominal, o rendimento foi considerado em relação ao peso da carcaça eviscerada.
O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 3 × 2, composto de três níveis de energia (baixo, médio ou alto) e dois níveis de aminoácidos (padrão ou 10% superior ao padrão), com seis tratamentos e oito repetições (quatro para machos e quatro para fêmeas), cada uma com 30 aves. Para as avaliações dos rendimentos de carcaça e vísceras e da porcentagem de gordura abdominal, o delineamento foi constituído de seis tratamentos, cada um com 16 repetições. Os dados referentes aos machos e às fêmeas foram analisados, comparados e interpretados separadamente. As diferenças entre as médias foram avaliadas pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK) a 5% de probabilidade (Sampaio, 2002).
Resultados e Discussão
Houve interação níveis de energia × níveis de aminoácidos das dietas, tanto para machos quanto para fêmeas aos 40 dias de idade (Tabela 5). Quando alimentados com rações contendo níveis energéticos baixos e médios e níveis de aminoácidos 10% acima da exigência da ave, os machos aumentaram (P< 0,05) o ganho de peso aos 40 dias de idade. Essa diferença não foi observada com a dieta de alta energia. As fêmeas apresentaram maiores ganhos de peso aos 40 dias de idade quando alimentadas com rações com altos níveis de energia e níveis normais de aminoácidos.
Tabela 3 - Composição das rações fornecidas na fase de crescimento (22 a 40 dias de idade)
Quando o nível de aminoácidos aumentou em 10%, os níveis médios e altos de energia promoveram melhores resultados, o que confirma os resultados obtidos por Longo et al. (2006), que determinaram maiores necessidades energéticas para fêmeas, além de melhora no ganho de peso de aves alimentadas com rações com maiores níveis de energia. Esses resultados foram semelhantes aos observados por Langhout & Wijtten (2005), Wijtten et al. (2004) e Kidd et al. (2005), que observaram que, com o aumento da densidade dos aminoácidos, aumenta o ganho de peso corporal, no entanto, nos estudos realizados por Wijtten et al. (2004) e Kidd et al. (2005), os níveis de energia foram fixos e apenas a densidade de aminoácidos variou entre as dietas. Os resultados sugerem que as respostas ao aumento de aminoácidos essenciais dependem do nível dietético de energia.
O ganho de peso dos machos de 1 a 45 dias de idade não diferiu (P> 0,05) entre os níveis de aminoácidos, independentemente do nível de energia, utilizados na ração. O menor ganho de peso foi observado nos frangos alimentados com rações com baixo nível de energia, independentemente das concentrações de aminoácidos. Esses achados corroboram os descritos por Vasconcelos & Santos (1997) e Whitaker et al. (2002). Entretanto, Mendes et al. (2004) e Silva Filha et al. (2004) verificaram que a utilização de níveis crescentes de energia não aumentou o ganho de peso de frangos de corte.
As fêmeas tiveram (P< 0,05) maior ganho de peso quando alimentadas com o nível mais alto de aminoácidos. Naquelas alimentadas com rações com níveis altos de energia, o ganho de peso foi estatisticamente superior ao daquelas alimentadas com as rações com os níveis médio e baixo de energia, resultados que confirmam os encontrados por Moran & Bilgili (1989) e Albino et al. (1999) de que maiores níveis de aminoácidos afetam o desempenho e promovem maior deposição de carne, além de aumento no ganho de peso da ave.
Tabela 4 - Composição das rações fornecidas na fase de terminação (41 a 45 dias de idade)
Tabela 5 - Ganho de peso de frangos de corte machos e fêmeas nas fases de 1 a 40 e de 1 a 45 dias de idade
Nos dois períodos avaliados, o consumo de ração (Tabela 6) pelas fêmeas não foi influenciado (P> 0,05) pelos níveis energéticos e aminoacídicos das dietas, portanto, não houve também interação. Nos machos, não houve interação níveis de aminoácidos × níveis de energia para o consumo de ração. Entretanto, o menor consumo de ração dos machos, em ambos os períodos, foi obtido com o menor nível de energia (P< 0,05). O maior consumo pode estar relacionado ao maior nível de óleo nas rações de média e alta energia, o que aumenta a palatabilidade, favorece a ingestão de ração e promove aumento do consumo. Os resultados obtidos para os machos foram semelhantes aos observados por Moura (2003). Além disso, no período de 1 a 40 dias de idade, os machos responderam significativamente ao aumento dos níveis dos aminoácidos, independentemente do nível de energia. No período de 1 a 45 dias de idade, no entanto, os níveis de aminoácidos não influenciaram o consumo. Esses achados diferem dos encontrados por Langhout & Wijtten (2005), que, ao fornecerem dietas com níveis mais altos de aminoácidos, observaram redução no consumo, concomitantemente ao aumento do nível energético.
A conversão alimentar (Tabela 7), tanto dos machos quanto das fêmeas, nos períodos de 1 a 40 e de 1 a 45 dias de idade não foi influenciada (P> 0,05) pelos níveis energéticos e aminoacídicos. Os resultados obtidos nos níveis energéticos diferem dos verificados por Braga & Baião (2001) e Mendes et al. (2004), que observaram melhor conversão alimentar ao fornecerem ração com níveis energéticos mais altos. Os resultados observados considerando os níveis de aminoácidos estão de acordo com os descritos por Reginatto et al. (2000), que também não notaram diferenças entre níveis de aminoácidos sulfurados e treonina utilizados na alimentação de frangos de corte. Entretanto, esses resultados diferem dos encontrados por Kidd et al. (2005), que observaram melhor conversão alimentar quando forneceram níveis de aminoácidos mais altos.
Tabela 6 - Consumo de ração (g) em frangos de corte machos e fêmeas nas fases de 1 a 40 e de 1 a 45 dias de idade
Tabela 7 - Conversão alimentar (kg/kg) de machos e fêmeas de 1 a 40 dias de idade
O rendimento de carcaça dos machos não apresentou interações (P> 0,05) entre os níveis energéticos e níveis de aminoácidos. Os melhores rendimentos foram obtidos com nível baixo e médio de energia; entre os níveis médio e alto, não foram observadas diferenças. Além disso, os níveis de aminoácidos não influenciaram (P> 0,05) o rendimento de carcaça dos machos. Os dados de rendimento de carcaça das fêmeas revelaram interação significativa níveis de aminoácidos × níveis de energia. As aves alimentadas com o nível médio de energia responderam positivamente ao aumento dos aminoácidos, enquanto naquelas alimentadas com o nível mais alto de energia o rendimento de carcaça piorou com o aumento dos níveis de aminoácidos. Estes resultados podem ser explicados pela relação ideal entre níveis mais altos de aminoácidos e o nível médio de energia, que favorece o rendimento de carcaça. Estes resultados foram semelhantes aos achados de Wijtten et al. (2001) e Whitaker et al. (2002), mas diferem dos obtidos por Kidd et al. (2005).
O rendimento de peito dos machos não foi afetado (P> 0,05) pelos níveis de energia das dietas. Contudo, independentemente dos níveis energéticos, o maior rendimento de peito (P< 0,05) foi observado quando os frangos receberam o nível mais alto de aminoácidos, o que está de acordo com relatos de Café et al. (2002) e Wijtten et al. (2004) de que níveis mais altos de treonina e lisina aumentam o rendimento de peito. Os dados de rendimento de peito das fêmeas revelaram interação significativa (P< 0,05) níveis de energia × níveis de aminoácidos, uma vez que o melhor rendimento foi observado com o maior nível de energia e aminoácidos. Entretanto, Stringhini et al. (1998), Langhout & Wittjen (2005) e Kidd et al. (2005) não observaram influência dos níveis de aminoácidos sobre o rendimento de peito, tanto nos machos quanto nas fêmeas.
Tabela 8 - Rendimentos de carcaça (%) e peito (%) de frangos de corte machos e fêmeas aos 45 dias de idade
Tabela 9 - Rendimento de coxa+sobrecoxa de frangos de corte machos e fêmeas aos 45 dias de idade (%)
Tabela 10 - Porcentagem de gordura abdominal de frangos machos e fêmeas aos 45 dias de idade
Os rendimentos de coxa+sobrecoxa dos machos e das fêmeas não foram influenciados (P> 0,05) pelos níveis de energia e aminoácidos. Os achados deste trabalho diferem dos relatados por Mendes et al. (2004), que observaram pior rendimento de coxa+sobrecoxa quando fornecidos níveis mais baixos de aminoácidos.
A porcentagem de gordura abdominal, tanto nos machos como nas fêmeas, não foi afetada (P> 0,05) pelos níveis de energia e aminoácidos das rações. Estes dados estão de acordo com os achados de Langhout & Wijtten (2005), mas diferem dos observados por Leeson et al. (1996) e Kidd et al. (2005).
Conclusões
Em frangos de corte machos, os níveis energéticos mais indicados para maior peso aos 45 dias de idade são 3.000, 3.100 e 3.200 kcal/kg de ração nas fases inicial, de crescimento e de terminação, respectivamente, com nível de aminoácido normal. Maior rendimento de peito foi obtido com níveis médios de energia associados a níveis 10% mais altos de aminoácidos. Em fêmeas, os melhores níveis para ganho de peso até 40 dias de idade são 3.000, 3.100 e 3.200 kcal/kg de ração nas fases inicial, de crescimento e de terminação, respectivamente, associados a valores mais altos de aminoácidos (10% acima do recomendado) e, para maior ganho de peso até os 45 dias de idade, devem ser associados níveis altos de energia e níveis mais altos de aminoácidos nas rações.