Globalmente, os consumidores estão aumentando o peso das bandeiras de sustentabilidade em suas decisões de compra alimentar. E transformam essa demanda em pressão sobre a indústria de alimentos ou as redes de abastecimento, que daí passam essa bola quadrada adiante. Exemplo recente foi o British Retail Consortium -- BRC, entidade que reúne 96% do varejo britânico e acenou com boicote a produtos brasileiros, alegando o desmatamento da Amazônia e o risco que pode trazer às metas do acordo climático de Paris.
Sob um prisma pragmático, estão reagindo a pressões de parcela do mercado inglês por alimentos produzidos “com responsabilidade”. Ou seja, pressão do consumidor por um compromisso do setor varejista em ter fornecedores que garantam produção responsável em todos os níveis das cadeias produtivas. Por ora são escaramuças comerciais. Talvez possam ganhar corpo, como a moção aprovada agora em junho pelo parlamento holandês, contra a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia, também em nome da questão ambiental.
A posição protagonista e o amplo potencial de oferta do agro brasileiro representam clara oportunidade para avanço do país no mercado mundial. Mas também nos coloca diante da questão da sustentabilidade, do risco de questionamentos e da necessidade de mudar. Ao nível do produtor isso não é novidade, pois pesquisa da McKinsey & Company (maio 2020), aqui no Brasil, aponta que 45% das grandes propriedades já adotam certificações para atender a exigências dos compradores, ou seja, cumprem padrões que vão além da legislação.
A agenda da sustentabilidade também já está nas decisões dos grandes fundos internacionais de investimento que, além do sagrado retorno financeiro, buscam agora retornos na área social, de saúde, ambiente e governança de cadeias produtivas. Tendência que vem crescendo no exterior, em particular na Europa, mas aqui no Brasil também. Em 2018, foram aplicados no mundo US$ 31 trilhões em ativos que adotam políticas de sustentabilidade, número 30% maior do que 2017, segundo o relatório bienal Global Sustainable Investment Alliance.
No curto prazo, o grande desafio brasileiro será a superação da pandemia e a retomada da economia. E o agronegócio – mais uma vez em um ano muito bom -- buscará sustentar a competitividade tecnológica e de negócios que o tem colocado em protagonismo no cenário nacional. No médio e longo prazos, contudo, todos estaremos ligados a um mundo que tenderá a se identificar cada vez mais com as agendas de administração adequada dos impactos ambientais e de retorno social estratégico.
Este parece que vai ser um “novo normal” entre os desafios que temos pela frente, pois o esforço para reestruturar a economia dependerá fortemente de capital estrangeiro, dado o tamanho de nossa crise fiscal. E isso vale em alguma medida também para o agro: basta lembrar as demandas de infraestrutura do setor e também a Lei 13.986/20, que criou pontes com o exterior para financiamento da produção rural. E o capital internacional tende, cada vez mais, a beneficiar projetos com salvo conduto de sustentabilidade.
Ao mesmo tempo, isso é um estímulo para todos que olham o futuro com responsabilidade e sonhos. Será uma vantagem comparativa para o agro brasileiro (se fizermos algumas lições de casa), pois sabemos fazer agropecuária sustentável e já temos ótimos números e histórias para contar em um mundo onde a sustentabilidade será importante para manter parceiros comerciais e abrir novos mercados. Mas precisamos contar nossas histórias, coisa que até hoje o país não conseguiu fazer de modo articulado, contínuo e consistente, no exterior.