As técnicas para a determinação da energia metabolizável utilizadas atualmente têm sofrido modificações ao longo do tempo, às vezes sem um estudo criterioso quanto à qualidade dos dados gerados, podendo interferir na repetibilidade dos mesmos.
Conforme Fischer e McNab (1989), em ensaios para determinar a energia metabolizável, pelo método de coleta total de excretas, os ingredientes a serem testados são fornecidos por um determinado período para estabelecer condições de equilíbrio e quaisquer diferenças no trato digestivo, no início e no final do ensaio são assumidos como inexistentes. De acordo com os mesmos autores, qualquer diferença será relativamente pequena em comparação ao balanço total se o período usual de três a cinco dias de coleta for usado.
Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi determinar o período mínimo de coleta total de excretas, para estimar os valores de energia metabolizável aparente e corrigida para nitrogênio com pintos de corte, utilizando-se como referência a metodologia de Hill e Anderson (1958).
Foram utilizados pintos da linhagem Ross, criados em baterias com aquecimento elétrico no período de 1 a 14 dias de idade, quando foram separados por sexo e distribuídos ao acaso em boxes com 10 aves, sendo cinco machos e cinco fêmeas. As aves foram submetidas à temperatura controlada, ou seja, mantida na faixa de conforto dos animais (24°C) e com luz durante todo o período experimental. Após o preparo da ração referência (21% de PB e 3000 kcal de EM/kg), elaborou-se a ração teste através da substituição de 40% da ração referência por milho.
As rações experimentais e água foram fornecidas à vontade durante um período de 9 dias (15 a 23 dias de idade), sendo quatro dias para adaptação e cinco para a coleta das excretas.
O experimento comparou cinco períodos de coleta total de excretas correspondentes a um, dois, três, quatro e cinco dias, com 6 repetições em blocos casualizados, de acordo com o andar da bateria.
Para cada tratamento foram utilizados dois grupos de aves, um que recebeu a ração referência a base de milho e farelo de soja e o outro que recebeu a ração teste.
As rações foram pesadas no início e as sobras no final de cada período de coleta a fim de se determinar o consumo alimentar e a energia bruta. As coletas de excretas foram realizadas diariamente, em intervalos de 24 horas, conforme o período de coleta. As excretas foram coletadas em cada unidade experimental, após eliminação de penas resíduos de dieta e outras fontes de contaminação, pesadas, e armazenadas no congelador até o final do período de coleta. Posteriormente as amostras foram descongeladas, reunidas por repetição, homogeneizadas e retiradas alíquotas de 400 a 500 g. As amostras foram colocadas em estufas ventiladas, com temperatura de 55ºC pelo período de 48 horas, para secagem e posterior análise laboratorial.
Os valores de energia metabolizável dos ingredientes foram calculados utilizando-se a fórmula de Matterson et al. (1965) e ajustadas com base na retenção de nitrogênio. Os valores de matéria seca e de nitrogênio nas excretas e nas dietas, assim como, a matéria seca nos ingredientes, foram determinados de acordo com Association of Official Analytical Chemists (1995). Os valores de energia bruta nas dietas e excretas foram determinados através da bomba calorimétrica pelo método descrito por Parr Instruments Co.(1984).
Na Tabela 1 encontram-se os valores médios de energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio em kcal/kg do milho, com base na matéria natural. Foi constatado efeito significativo nos períodos de coleta total de excretas. Pode-se verificar que o período de um dia de coleta de excretas apresentou diferença significativa em relação aos demais. Porém, não verificou-se diferenças significativa entre os períodos com dois, três, quatro e cinco dias de coleta.
Tabela 1 – Energia metabolizável aparente (EMA) e corrigida para nitrogênio (EMAn) em kcal/kg do milho, com base na matéria natural, para os diferentes períodos de coleta total de excretas, e seus respectivos erros padrões(EP) e coeficientes de variação (CV)
Considerando o coeficiente de variação e o período de coleta, através do ajuste do modelo platô linear para energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio, mostra-se que a variabilidade se estabiliza entre três e quatro dias de coleta de excretas (Figura 1). Portanto, pode-se inferir que quatro dias de coleta total de excretas é suficiente para produzir dados com confiabilidade semelhante aos obtidos com cinco dias de coleta, gerando coeficiente de variação inferior a 1,16%. Caso a opção seja por 3 dias de coleta, haverá um acréscimo de 2,38 e 2,19% no coeficiente de variação, para energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio, respectivamente, evidenciando menor precisão no método.
Figura 1 - Coeficientes de variação (CV) observados e ajustados em função do período de coleta de excretas, para energia metabolizável aparente e energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio, do milho.
Referências Bibliográficas
ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALITICAL CHEMISTS. Official methods of analysis. 16 ed. Washington, D.C.: 19951094p..
FISCHER, C.; McNAB, J.M. Techniques for determining the metabolizable energy content of poultry feeds. In: COLE, D.J.A.; HARESING, W. (Ed.) Recent developments in poultry nutrition. London: Butterworths, 1989. p.54-69.
HILL, F.W.; ANDERSON, D.L. Comparation of metabolizable energy and productive energy determination with growing chicks. Poultry Science, v. 64, p. 587-603, 1958.
MATTERSON, L.D.; POTTER, L.M.; STUTZ, M.W. The metabolizable energy of feed ingredients for chickens. Connecticut: University of Connecticut, Agricultural Experiment Station, 1965. 11p. (Research Report, 7).
PARR INSTRUMENTS CO. Instructions for the 1241 and 1242 adiabatic calorimeters. Moline, 1984. 29p. (Parr. Manual, 153).
O trabalho foi originalmente publicado pela Embrapa Suínos e Aves / Dezembro, 2004.