Introdução
O cálculo do custo de produção de frango de corte desenvolvido pela Embrapa Suínos e Aves tem por finalidade ser uma fonte de informação de referência para os agentes da cadeia produtiva, órgãos públicos, sistema financeiro e instituições de pesquisa e ensino. A metodologia empregada calcula os custos a partir do levantamento de preços de mercado e da caracterização dos sistemas de produção e seus coeficientes técnicos, conforme apresentado por Miele et al. (2010), no Documento Embrapa Suínos e Aves n.º 140, intitulado "Metodologia para o cálculo do custo de produção de frango de corte – Versão 2", o qual é uma atualização das metodologias publicadas anteriormente (CANEVER et al, 1996; SANTOS FILHO et al, 1998; GIROTTO e SOUZA, 2005). O objetivo do presente Comunicado Técnico é apresentar os coeficientes técnicos utilizados a partir de 2010 para o cálculo do custo de produção de frango de corte nos dez principais Estados produtores (CE, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RS, SC e SP). No final do texto é apresentado um exemplo do uso das informações sobre coeficientes técnicos no cálculo do custo de produção de frangos de corte.
Definição dos sistemas de produção
Para a definição dos sistemas de produção deve-se considerar que os agentes da cadeia produtiva utilizam diferentes denominações para um mesmo sistema, dependendo da sua região ou nível tecnológico. Nesse sentido, é necessário detalhar as características das instalações e os equipamentos utilizados a fim de caracterizar os sistemas de produção de frango de corte (ABREU, ABREU, 2010). Apresenta-se a seguir e no Quadro I um check list para caracterizar os sistemas de produção para os quais são apresentados os coeficientes técnicos.
O sistema dito convencional é o de menor nível tecnológico e sua caracterização pode variar muito entre as diferentes regiões produtoras. Um aviário convencional possui comedouro tubular e bebedouro pendular. Não possui forro e sistema de controle artificial da temperatura, sendo o condicionamento térmico natural. Utiliza cortina de ráfia amarela, azul ou branca. Este sistema praticamente não existe mais em muitas regiões produtoras, tendo sido substituído ou transformado em sistema semiclimatizado, o qual adota melhores níveis tecnológicos em relação ao sistema dito convencional, tais como: uso de bebedouro nipple, ventiladores em pressão positiva e forro. Para fins desta publicação e para o cálculo do custo de produção de frango de corte pela Embrapa Suínos e Aves, optou-se por agrupar estes sistemas em uma mesma categoria denominada de convencional. Estes sistemas também são chamados pelos atores da cadeia produtiva de sistema manual.
O controle das condições térmicas ambientais é maior nos sistemas climatizados do que nos sistemas ditos convencional e semiclimatizado. Os aviários climatizados possuem comedouro automático, bebedouro nipple e ventiladores em pressão positiva, ou exaustores em pressão negativa. O resfriamento pode ser por nebulização ou pad cooling. A instalação de forro, defletores e gerador de energia depende da densidade populacional das aves. Utiliza cortina de ráfia amarela, azul, branca ou reflexiva.
Quadro 1. Caracterização dos sistemas de produção abordados
Coeficientes técnicos de produção
Nesta seção são apresentados os coeficientes técnicos de produção adotados pela Embrapa Suínos e Aves para o cálculo do custo de produção de frango de corte. Os valores apresentados são baseados nas boas práticas de produção (ÁVILA et. al, 2007) e em consulta aos atores da cadeia produtiva nos Estados por meio de reuniões em formato de painéis com especialistas.
Tabela 1. Peso de abate, duração do lote e número de lotes por ano
Na Tabela 1 apresenta-se o peso de abate, a duração do lote e o consequente número de lotes por ano. O alojamento de frangos de corte nas granjas é feito separando machos de fêmeas. Entretanto, levou-se em consideração o desempenho de lotes mistos, tendo em vista que a média de uma determinada região ou empresa integradora engloba aviários com ambos os sexos. Tanto o intervalo entre os lotes quanto o intervalo para troca de cama foram utilizados os valores preconizados pelas boas práticas de produção (BPP), de 14 e 28 dias, respectivamente. Deve-se considerar que as condições conjunturais de mercado determinam mudanças nesses intervalos.
Na Tabela 2 apresenta-se a escala de produção característica dos Estados produtores. Esta depende do sistema de produção adotado, das dimensões do aviário e do número de galpões existentes em uma granja (módulo de produção).
Tabela 2. Dimensões dos aviários (escala de produção)
Na Tabela 3 apresenta-se o alojamento inicial de pintos de um dia, a mortalidade e a densidade resultante. A mortalidade aceitável situa-se entre 3 e 4%, podendo chegar ao máximo de 5%. A densidade de frangos depende da tecnologia empregada, situando-se entre 31 e 36 kg final/m² nos aviários climatizados e entre 28 e 31 kg final/m² nos aviários ditos convencionais.
Tabela 3. Alojamento inicial, mortalidade e densidade
Na Tabela 4 apresenta-se o consumo de gás, lenha e energia elétrica. Na maioria dos Estados e sistemas, utiliza-se o sistema de aquecimento por meio de fornalha a lenha. Gás em botijão de 13 kg é utilizado apenas para a desinfecção do aviário por meio de vassoura de fogo. Os sistemas climatizados em GO e MT são exceção, onde o aquecimento é a gás distribuído a granel.
Tabela 4. Consumo de gás, lenha e energia elétrica
Em relação ao substrato para cama, considerou-se para a maioria dos sistemas e Estados o padrão de 10 cm de altura, independente do tipo de material e do uso de lona para fermentação e reutilização da cama. Com a adoção do tratamento da cama com lona entre lotes não há necessidade de reposição da cama a cada lote. Na Tabela 5 apresenta-se a quantidade de substrato para cama de aviário, sendo que os materiais utilizados são a maravalha, a casca de arroz e o bagaço de cana.
Tabela 5. Consumo de cama de aviário e tipo de substrato
Na Tabela 6 apresenta-se o consumo de ração e conversão alimentar para frangos de corte. Estes valores basearam-se nos pesos de abate e no desempenho das principais linhagens comerciais disponíveis no mercado.
Tabela 6. Consumo de ração e conversão alimentar
Na Tabela 7 apresenta-se a formulação das rações por fase de crescimento dos frangos de corte. Optou-se por utilizar a mesma formulação para todos os Estados tendo em vista a grande variabilidade de formulações entre as regiões produtoras e ao longo do tempo, bem como em função da dificuldade em obter estas informações junto aos principais atores da cadeia produtiva. Os dois principais ingredientes são o milho moído e o farelo de soja, com um consumo médio de 2,677 e 1,474 kg/ave, respectivamente.
Tabela 7. Composição das rações (%) em função do período da criação
Apresenta-se na Tabela 8 os principais itens a serem considerados em um plano de higienização e cloração da água. Entretanto, deve-se considerar que estas ações requerem não apenas produtos químicos, como também mão de obra, gás e energia elétrica. O consumo de água foi estipulado em 2,5 L/kg de ração para dessedentação, 2,0 L/cabeça para resfriamento e 3,5 L/m² para lavagem e desinfecção do aviário na troca de cama. Em relação às vacinas, foi considerada apenas a vacina de Marek realizada no incubatório, sendo que as vacinas decorrentes de desafios regionais não foram consideradas.
Tabela 8. Uso de produtos para higienização e cloração da água
Além do uso de produtos para higienização do aviário e cloração da água, deve-se considerar um plano de controle de pragas que inclui raticidas e inseticidas.
Na Tabela 9 apresenta-se o uso de mão de obra. Utilizou-se o número de pessoas ocupadas em tempo integral por módulo de produção (ver dimensões dos módulos na Tabela 2). Quando o número de pessoas for inferior à unidade, há o emprego de mão de obra no aviário em tempo parcial. Não está sendo considerado o tempo gasto com apanha das aves, tendo em vista que este é um serviço terceirizado. O custo da mão de obra também deve considerar os encargos sociais e provisionamentos que incidem sobre o salário, no valor de 12,70% e 44,59%, respectivamente, totalizando 57,29%.
Tabela 9. Uso de mão de obra
Para a vida útil e valor residual das instalações e dos equipamentos utilizou-se os valores apresentados na Tabela 10, a seguir. Além disso, utiliza-se a taxa de 1% ao ano sobre o valor novo do bem para gastos com manutenção (CONAB, 2010, p. 38).
Tabela 10. Vida útil e valor residual das instalações e dos equipamentos
Exemplo do uso das informações sobre coeficientes técnicos no cálculo do custo de produção de frangos de corte
Para exemplificar o uso das informações sobre coeficientes técnicos no cálculo do custo de produção de frangos de corte, apresenta-se a seguir os resultados para um aviário convencional em Santa Catarina, no mês de outubro de 2010 (Tabelas 11, 12 e 13), conforme disponível na web site da Embrapa Suínos e Aves.
Tabela 11. Custo de produção de frango de corte em um aviário convencional com 1.200m², Santa Catarina, Outubro de 2010, R$/Lote
A partir do número de animais entregues, de 13.920 cabeças (equivalente ao alojamento de 14.500 pintos com mortalidade de 4,0%) e do peso de abate de 2,652 kg/cabeça, pode-se calcular o custo por cabeça e por quilograma de frango vivo (Tabela 12).
Tabela 12. Custo de produção de frango de corte em um aviário convencional com 1.200m², Santa Catarina, Outubro de 2010, R$/cabeça e R$/kg
Para finalizar, apresenta-se na Tabela 13 a divisão de responsabilidades entre produtor e agroindústria. Esta é uma referência a partir das práticas verificadas em Santa Catarina. Pondera-se que a divisão de responsabilidades estabelecida via relação contratual nas integrações varia significativamente entre as empresas e cooperativas que abatem frangos de corte e seus integrados parceiros. Além disso, assim como os demais coeficientes técnicos, há mudança ao longo do tempo nas relações contratuais.
Tabela 13. Divisão de responsabilidades entre produtor e agroindústria e respectivos custos de produção de frango de corte em um aviário convencional com 1.200m², Santa Catarina, Outubro de 2010, R$/Lote
Considerações finais
Os custos de produção calculados pela Embrapa Suínos e Aves são uma referência. Deve-se ressaltar que cada produtor tem o seu próprio custo, que depende do sistema de produção, do seu nível tecnológico, da sua eficiência produtiva e dos preços praticados em sua região. Nesse sentido, está disponível no website da Embrapa Suínos e Aves (http://www.cnpsa.embrapa.br) uma planilha para o cálculo do custo de produção do frango de corte, por meio da qual cada produtor pode facilmente calcular seus próprios custos, com possibilidade de alterar os coeficientes técnicos e preços de acordo com a sua realidade. O resultado obtido com esta planilha pode ser comparado com os custos calculados pela Embrapa, com o custo de outros produtores e com os da assistência técnica das agroindústrias.
Referências
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