Arginina Lisina Carcaça Frangos

RESUMO - Foi realizado um experimento com 720 frangos de corte machos Ross, mantidos em alta temperatura ambiente (26,2 a 30,5oC), na fase de crescimento (22 a 42 dias de idade), com o objetivo de estudar o efeito da relação arginina:lisina digestível (Arg:Lis) sobre o desempenho e a qualidade de carcaça de frangos de corte. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos (95,0; 102,5; 110,0; 117,5; 125,0; e 132,5% da relação Arg:Lis na ração), seis repetições por tratamento e 20 aves por unidade experimental. Não houve efeito significativo dos tratamentos no desempenho de frangos de corte, entretanto, à medida que aumentou a relação Arg:Lis, houve efeito linear crescente para o rendimento de perna e decrescente para a gordura abdominal.

Palavras-chave: arginina, alta temperatura, frangos de corte, lisina

 

ABSTRACT - An experiment was run using 720 male Ross chicks, grown from 22 to 42 days of age under high environmental temperature condition (26.2 to 30.5oC), to evaluate the effect of the digestible arginine:lysine (Arg:Lys) ratio on performance and carcass quality of broiler chickens. A complete randomized design with six treatments (95.0, 102.5, 110.0, 117.5, 125.0 and 132.5% Arg:Lys ratio), six replicates and 20 birds per experimental unit was used. There was no significant effect on broiler performance, however Arg:Lys ratio linearly improved leg quarter yield and linearly decreased abdominal fat.

Key Words: arginine, broilers, high temperature, lysine

 

Os efeitos da temperatura ambiental sobre o crescimento, consumo de ração e qualidade de carcaça de frangos de corte são bem conhecidos (LEESON, 1986).

Há evidências de que ocorra considerável grau de antagonismo entre a arginina e lisina. Segundo AUSTIC (1981), antagonismo é uma interação que envolve aminoácidos estruturalmente semelhantes, sendo que o excesso de cada um deles eleva a exigência do outro. A arginina é um aminoácido essencial considerado um dos mais limitantes em dietas à base milho e farelo de soja para aves (EDMONDS et al., 1985). As aves por não apresentarem o ciclo da uréia funcional, apresentam a exigência de arginina bem maior que os mamíferos (BAKER, 1991). ALLEN e BAKER (1972) mostraram que a exigência de arginina é aumentada pelo excesso de lisina na dieta. Balnave e Oliva (1991), citados por BRAKE et al. (1998), verificaram que a digestibilidade da arginina diminuiu significativamente com o aumento da temperatura ambiente enquanto que não afetou a digestibilidade da lisina. MENDES et al. (1997) verificaram que o aumento da relação Arg:Lis melhorou a conversão alimentar e o rendimento de carcaça e reduziu a gordura abdominal em frangos de corte, criados sob diferentes condições ambientais (quente, neutro e frio).

Em condições de temperatura normal, a relação arginina:lisina recomendada é de 110% (NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC, 1994) na base de aminoácido total e de 112% (MACK et al., 1999) e 108% (ROSTAGNO et al., 2000), quando apresentada na base de aminoácidos digestíveis verdadeiros.

Este trabalho foi realizado com o objetivo de estudar o efeito da relação arginina:lisina digestível sobre o desempenho e a qualidade de carcaça de frangos de corte criados em ambiente de alta temperatura durante o período de 22 a 42 dias de idade.

 

Foram utilizados 720 frangos de corte machos, da linhagem Ross, de 22 dias de idade, em delineamento inteiramente casualizado com seis relações diferentes de arginina:lisina digestível (95,0; 102,5; 110,0; 117,5; 125,0; e 132,5%) e 3200 kcal/kg de EM, com seis repetições de 20 aves por unidade experimental, totalizando 36 boxes.

Para a obtenção das crescentes relações Arg:Lis, foi adicionado L-Arginina à ração basal em substituição ao amido (Tabelas 1 e 2). Os valores analisados de lisina e de arginina foram semelhantes aos calculados utilizando dados de Tabelas de Composição (NRC, 1994 e ROSTAGNO et al, 2000).

As variáveis consideradas foram analisadas de acordo com o seguinte modelo estatístico:

Y_ik = µ + T_i + e_ik

em que: Y_ijk = observação referente ao animal _k, que recebeu o tratamento _i; µ = média geral; T_i = efeito do tratamento; e_ik = erro aleatório associado a cada observação.

As aves foram alojadas em galpão de alvenaria dividido em boxes de 1,5 m x 1,5 m, com cama de maravalha e o fornecimento de ração e água ad libitum. O programa de luz adotado foi o contínuo com 24 horas de luz (natural + artificial), durante todo o período experimental.

As aves foram pesadas no início e no final do período experimental para determinação do ganho de peso. Da mesma forma, o consumo de ração foi calculado considerando-se a ração fornecida e as sobras das rações dos comedouros. Posteriormente, calculou-se a conversão alimentar pela razão entre o consumo de ração e o ganho de peso das aves. A temperatura e umidade relativa foram determinadas através de medições diárias em termômetros de bulbo seco e bulbo úmido, respectivamente.

No 42^o dia de idade das aves, foram avaliados o ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar. Em seguida, após jejum de 6 horas, foram abatidas quatro aves de cada unidade experimental (peso médio do boxe) para avaliação do rendimento de carcaça, rendimento de perna (coxa + sobrecoxa), rendimento de peito com osso e pele, rendimento de filé de peito e gordura abdominal. A gordura abdominal foi considerada com o tecido adiposo contido ao redor da cloaca, da Bursa de Fabricius e dos músculos abdominais adjacentes, conforme descrito por SMITH (1993). O rendimento dos cortes foi calculado em relação ao peso da carcaça eviscerada.

Tabela 1 - Composição da ração basal
Table 1 - Composition of basal diet

As análises estatísticas das características estudadas foram realizadas utilizando-se o programa SAEG (Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas), desenvolvido pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV (1983).

Tabela 2 - Composição das rações experimentais
Table 2 - Composition of the experimental diets

 

As médias da temperatura e da umidade relativa do ar registradas durante o período experimental são apresentadas na Tabela 3.

Não houve efeito significativo (P> 0,05) do aumento da relação Arg:Lis sobre o desempenho das aves criadas em condições de alta temperatura ambiente (Tabela 4). MENDES et al. (1997) e BRAKE et al. (1998), conduzindo pesquisas semelhantes, não detectaram melhora no ganho de peso das aves, entretanto, observaram melhor conversão alimentar à medida que se aumentou a relação Arg:Lis em condições de alta temperatura ambiente. Vale ressaltar, no entanto, que numericamente os melhores valores de desempenho foram obtidos com a relação Arg:Lis. digestível de 110%, valores estes próximos à relação preconizada por MACK et al. (1999) e ROSTAGNO et al. (2000).

O rendimento de carcaça, peito com pele e osso e filé de peito não foram influenciados (P>0,05) pelo aumento da relação Arg:Lis. O rendimento de perna (coxa + sobrecoxa) foi significativamente influenciado (P<0,05), melhorando linearmente com o aumento da relação Arg:Lis. A gordura abdominal foi significativamente afetada (P<0,05), reduzindo linearmente com o aumento da relação Arg:Lis (Tabela 5).

Tabela 3 - Condições ambientais durante o período experimental
Table 3 - Environmental conditions during the experimental period

 

Tabela 4 - Efeito da relação arginina:lisina digestível sobre o desempenho de frangos de corte
Table 4 - Effect of digestible arginine:lysine ratio on performance of broilers

 

Tabela 5 -Efeito da relação arginina:lisina digestível sobre a qualidade da carcaça de frangos de corte
Table 5 - Effect of digestible arginine:lysine ratio on carcass quality of broilers

MENDES et al. (1997) também observaram redução linear (P<0,05) da gordura abdominal das aves, com o aumento da relação Arg:Lis em condições de alta temperatura ambiente.

 

A relação Arg:Lis não influenciou o desempenho de frangos de corte em altas temperaturas.

Entretanto, o aumento dessa relação melhorou linearmente o rendimento de perna e diminuiu a deposição de gordura abdominal.

 

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