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Valores de aminoácidos digestíveis de alimentos para aves

Publicado: 18 de maio de 2022
Por: Paulo Cezar Gomes, Rafaela Antonia Ramos Generoso, Horacio Santiago Rostagno, Luiz Fernando Teixeira Albino, Gladstone Brumano, Heloisa Helena de Carvalho Mello
Introdução
Para melhor utilização dos alimentos pelos animais, é preciso conhecer, além da composição química e energética, o teor em aminoácidos digestíveis, uma vez que os aminoácidos que compõem a proteína dos alimentos não estão totalmente disponíveis para o animal. Entretanto, para isso é necessário determinar os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos nos alimentos, visando melhorar seu aproveitamento pelos animais (Fischer Jr., 1998).
A formulação de rações com base em aminoácidos digestíveis pode trazer maiores benefícios, devido às diferenças na digestibilidade entre ingredientes, dessa forma os animais poderão ingerir quantidades de aminoácidos compatíveis com suas exigências (NRC, 1994; Wang & Parsons, 1998).
De acordo com Dale & Fuller (1984), quando se usam valores totais de aminoácidos em vez de valores disponíveis, existem duas grandes possibilidades de erro. Primeiro, os aminoácidos sintéticos teriam o mesmo valor relativo dos aminoácidos naturais presentes nos ingredientes de rações, o que acaba subestimando o valor das fontes sintéticas com disponibilidade de 100% à medida que as fontes naturais têm valores inferiores. Segundo, embora alguns alimentos tenham a mesma digestibilidade de determinado aminoácido, a disponibilidade desse aminoácido pode ser diferente.
Os termos digestibilidade e disponibilidade de aminoácidos muitas vezes são usados de forma incorreta.
A disponibilidade é a quantidade de aminoácidos presentes nos alimentos que estão disponíveis ao animal para serem utilizados nos processos de anabolismo e catabolismo, ou seja, no crescimento, na mantença e na produção (Cave, 1988); e a digestibilidade é obtida medindo-se a quantidade de aminoácidos nas excretas ou em material coletado do íleo terminal e subtraindo-se esses valores dos níveis de aminoácidos ingeridos (Batterham, 1992). Segundo Rostagno et al. (1999), a disponibilidade dos aminoácidos é considerada uma metodologia mais precisa na elaboração de rações, por representar o que realmente está sendo utilizado pelo animal, todavia, a metodologia da digestibilidade é a mais utilizada.
Portanto, neste trabalho objetivou-se determinar os coeficientes de digestibilidade e os valores de aminoácidos digestíveis verdadeiros de alguns alimentos que podem ser utilizados na formulação de ração para aves.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, utilizando-se o método de alimentação forçada descrito por Sibbald (1979), com galos Leghorne adultos cecectomizados, pesando 2,40 kg ± 50 g. Para retirada dos cecos dos galos, utilizou-se a técnica descrita por Pupa et al. (1998), por meio de laparotomia abdominal e anestesia local.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com dez alimentos-teste (quirera de arroz, farelo de arroz integral, milho, sorgo, farelo de trigo, farelo de soja, farelo de algodão 28%, farelo de algodão 38%, levedura 43% e levedura 40%), seis repetições e um galo por unidade experimental, totalizando 66 galos. Simultaneamente, seis galos foram mantidos nas mesmas condições experimentais, em jejum completo, para determinação das perdas endógenas e metabólicas dos aminoácidos.
Os galos foram alojados individualmente em gaiolas de metabolismo, onde permaneceram por um período de adaptação de cinco dias e receberam alimentação em dois turnos de uma hora, um pela manhã e outro à tarde, com o objetivo de dilatar o papo da ave e evitar regurgitações e escoriações no esôfago. Posteriormente, os galos foram mantidos por 36 horas em jejum para que o trato digestivo fosse totalmente esvaziado e, em seguida, foram forçados a consumir 30 g do alimento por meio de um funil-sonda, introduzido via oral até o papo. O fornecimento dos 30 g de alimento foi dividido em dois períodos (15 g cada), um às 7 h e o outro às 17 h.
As temperaturas médias, máxima e mínima, foram de 27 e 18oC, respectivamente, registradas diariamente utilizando-se dois termômetros de máximas e mínimas, distribuídos aleatoriamente dentro da instalação, posicionados à altura das aves.
As coletas das excretas foram feitas em intervalos de 12 horas, para evitar fermentação do material coletado. A coleta foi realizada em bandejas revestidas com plástico, sob o piso de cada unidade experimental, por um período de 56 horas após o fornecimento da primeira porção de alimento. As excretas coletadas foram colocadas em sacos plásticos devidamente identificados, pesadas e armazenadas em freezer até o final do período de coleta. Posteriormente as amostras foram secas em estufa ventilada a 50oC e as amostras retiradas, para as devidas análises laboratoriais (matéria seca, nitrogênio e energia bruta). As análises laboratoriais foram realizadas segundo metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002) e as análises dos aminoácidos dos alimentos e das excretas foram realizadas pela empresa Degussa, na Alemanha.
Conhecendo-se as quantidades de aminoácidos ingeridos e excretados, e a fração endógena obtida com galos em jejum, determinaram-se os coeficientes de digestibilidade verdadeira de cada aminoácido nos alimentos, por meio da fórmula proposta por Rostagno & Featherston (1977).
Resultados e Discussão
Os valores de aminoácidos essenciais e não-essenciais da quirera de arroz foram semelhantes aos citados por Rostagno et al. (2005), contudo, foram inferiores aos publicados pelo NRC (1998), que, por sua vez, possui o teor de proteína bruta 38,7% inferior ao da quirera estudada (Tabela 1).
Para o farelo de arroz integral, os valores de aminoácidos foram semelhantes aos citados por Rostagno et al. (2005) e Nery (2005). Valores semelhantes também foram descritos por Pupa (1995), com exceção dos aminoácidos e dos ácidos aspártico e glutâmico, que foram inferiores. Entretanto, os resultados, obtidos no presente trabalho, foram superiores aos publicados pela tabela da EMBRAPA (1991).
A composição aminoacídica do milho foi superior àquela encontrada por D’Agostini et al. (2004), exceto os valores de metionina e lisina, que foram similares. Os maiores valores dos demais aminoácidos podem ser explicados pelo fato de o valor de proteína bruta do milho encontrado pelos autores ter sido inferior em aproximadamente 10% ao do milho testado. Todavia, os resultados encontrados foram semelhantes aos observados por Rostagno et al. (2005), Nery (2005), FEDNA (2003), NRC (1998), Fischer et al. (1998) e Pupa (1995). De acordo com Carvalho et al. (2009), a temperatura de secagem e o tempo de armazenamento dos grãos de milho reduzem a digestibilidade da maioria dos aminoácidos. Desta forma, diferenças no processamento dos alimentos podem contribuir para diferenças observadas nos coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos.
No sorgo, os valores de aminoácidos foram similares aos citados por Rostagno et al. (2005), FEDNA (2003), NRC (1998) e Pupa (1995). Todavia, foram superiores aos publicados pela EMBRAPA (1991), possivelmente devido à menor porcentagem de proteína bruta, em comparação à obtida neste trabalho.
Os valores de aminoácidos essenciais e não-essenciais observados no farelo de trigo foram análogos aos citados por Rostagno et al. (2005) e Nunes et al. (2001). Também foram similares aos apresentados pela EMBRAPA (1991), com exceção dos aminoácidos ácido aspártico e ácido glutâmico que foram inferiores.
No farelo de algodão com 38% de proteína bruta, os valores de aminoácidos foram superiores aos publicados por FEDNA (2003) e inferiores àqueles citados por Rostagno et al. (2005). Isso se deve à diferença no teor de proteína bruta entre os farelos avaliados. O farelo de algodão 28% apresentou valores de aminoácidos essenciais e nãoessenciais semelhantes aos citados por Rostagno et al. (2005), exceto lisina, que foi superior em aproximadamente 7%, e para arginina, que foi inferior em 16%.
O farelo de soja apresentou composição aminoacídica superior a descrita pela EMBRAPA (1991) para os aminoácidos lisina, metionina, fenilalanina, leucina, isoleucina, valina alanina, prolina e ácidos glutâmico e aspártico, sendo semelhante para arginina e cistina e inferior para histidina e serina. No entanto, foi semelhante àqueles apresentados por Rostagno et al. (2005), exceto para a lisina que foi superior. Os resultado foram similares, também, aos observados por Pupa (1995), exceto para lisina, ácido aspártico e ácido glutâmico.
A composição aminoacídica das leveduras 43 e 40% de proteína bruta foram superiores àquela descrita por Rostagno et al. (2005) e pela EMBRAPA (1991).
As diferenças entre os coeficientes de digestibilidade ocorrem em muitos produtos devido a ausência de padronização no processamento. Segundo Nascimento et al. (2002), o processamento tem grande influência sobre a digestibilidade dos nutrientes, caso os produtos sejam processados excessivamente, podem apresentar deficiência de aminoácidos sulfurados, principalmente a cistina, que é convertida a lantionina, que possui baixo valor nutricional.
O farelo de soja e o milho foram, entre os alimentos estudados, os que apresentaram maiores coeficientes de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos, por isso, justifica-se a preocupação com a substitução desses alimentos por alimentos alternativos (Tabelas 2 e 3).
As leveduras 43% e 40% de proteína bruta foram, entre os alimentos estudados, os que apresentaram menores coeficientes de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos,
que foram semelhantes e inferiores, respectivamente, aos valores encontrados por Rostagno et al. (2005).
Para o farelo de arroz apresentou, o valor médio dos coeficientes de digestibilidade verdadeira dos seus aminoácidos foi inferior ao do milho e ao do sorgo. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados por Albino et al. (1991), Degussa (1993), NRC (1994) e Pupa (1995) mas foram inferiores aos citados por Rostagno et al. (2005) e similares àqueles citados por Pupa (1995), com exceção da fenilalanina que foi superior em 19,4%.
Os coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais e não-essenciais da quirera de arroz foram similares àqueles descritos por Rostagno et al. (2005).
Para o farelo de soja, os valores médios dos coeficientes de digestibilidade obtidos foram semelhantes aos citados por Rostagno et al. (2005). Quando comparados aos resultados descritos por Pupa (1995) foram superiores para arginina e inferiores para cistina, enquanto os demais valores foram semelhantes aos citados por esse autor.
Os coeficientes de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos do milho foram inferiores aqueles citados por Rostagno et al. (2005). Quando comparados aos resultados encontrados por Pupa (1995), verifica-se que os coeficientes de aminoácidos leucina, lisina, metionina e treonina foram similares, porém os de arginina, isoleucina e valina foram superiores.
estibilidade verdadeira dos aminoácidos próxima aos do milho. Entretanto, os valores determinados são ligeiramente inferiores aos encontrados por Rostagno et al. (2005). Em comparação aos relatados por Pupa (1995), os resultados obtidos por esse autor foram superiores para metionina, cistina, metionina+cistina, fenilalanina, ácido aspártico e acido glutâmico e inferiores para os demais aminoácidos.
Os coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais e não essenciais do farelo de trigo foram inferiores aos encontrados por Rostagno et al. (2005), sendo que a lisina foi o aminoácido que mais distanciou dos resultados constatados por esta literatura, que foi 19% inferior.
Os farelos de algodão 38 e 28% de proteína bruta apresentaram coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos semelhantes aos mencionados por Rostagno et al. (2005), porém superiores aos descritos por FEDNA (2003).
Os coeficientes de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais e dos não- essenciais apresentaram variações entre os alimentos testados, o que está relacionado às diferenças na composição química, e nos tipos de processamento dos alimentos.
Os valores de aminoácidos digestíveis para a quirera de arroz foram similares aos descritos por Rostagno et al. (2005) (Tabela 4). Para o farelo de arroz integral, os valores de aminoácidos digestíveis encontrados foram semelhantes aos citados por Nery (2005) e Rostagno et al. (2005), exceto para treonina, arginina e fenilalanina que foram inferiores.
No milho, os valores de aminoácidos digestíveis foram análogos aos descritos por Rostagno et al. (2005), exceto
para a arginina, que foi 18% superior. Foram semelhantes também àqueles encontrados por Nery (2005) e FEDNA (2003) e superiores aos citados por D’Agostini et al. (2004).
Para o sorgo, os valores de aminoácidos digestíveis foram similares aos citados por Rostagno et al. (2005), com exceção de leucina e fenilalanina, que foram inferiores, e de lisina, que foi superior em 32%.
No farelo de trigo os valores de aminoácidos digestíveis estiveram em conformidade com os descritos por Nunes et al. (2001) e Rostagno et al. (2005), exceto para lisina, que foram 23,4% inferiores aos descritos por esse autor.
Para o farelo de algodão 38%, os valores de aminoácidos digestíveis encontrados foram inferiores aos descritos por Rostagno et al. (2005) e superiores aos relatados FEDNA (2003). No entanto, os do farelo de algodão 28%, foram semelhantesaos descritos por Rostagno et al. (2005), exceto lisina e leucina, que foram superiores, e arginina e valina, que foram inferiores.
Os resultados obtidos para o farelo de soja foram superiores aos publicados pela tabela da EMBRAPA (1991) e similares aos citados por Rostagno et al. (2005) com exceção da lisina, que foi superior em 13,6%.
A levedura 43% de proteína bruta apresentou valores de aminoácidos digestíveis superiores aos citados por Rostagno et al. (2005) enquanto, na levedura 40%, os valores encontrados foram semelhantes aos reportados por esses autores para valina e fenilalanina, inferiores para leucina em 7,5% e superiores para os demais aminoácidos.
Conclusões
Os coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais da quirera de arroz são de 77,53%; do farelo de arroz integral, 73,33%; do milho, 84,65%; do sorgo, 84,48%; do farelo de trigo, 70,75%; do farelo de algodão 38%, 77,50%; do farelo de algodão 28%, 74,85%; do farelo de soja, 89,37%; da levedura 43%, 49,16%; e da levedura 40%, 46,03%. Para os aminoácidos não-essenciais, os coeficientes de digestibilidade verdadeira são de 67,21; 52,54; 74,42; 67,21; 48,55; 72,46; 74,13; 85,22; 48,63; e 38,88%, respectivamente. As diferenças nos coeficientes de digestibilidade entre trabalhos encontrados para alguns alimentos estão relacionadas principalmente à ausência de padronização no processamento. Assim, ao utilizar um produto que apresente historicamente grande variação em sua composição, é importante obter seus coeficientes de digestibilidade para maior confiabilidade do valor nutricional.
Esse artigo foi originalmente publicado em R. Bras. Zootec., v.39, n.6, p.1259-1265, 2010.
Esse artigo foi originalmente publicado em R. Bras. Zootec., v.39, n.6, p.1259-1265, 2010 | https://www.scielo.br/j/rbz/a/jdLZQbFbSPjw43TQQbYXZMP/?format=pdf&lang=pt. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

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Autores:
Gladstone Brumano
MCassab
Prof. Horacio Santiago Rostagno
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Luiz Fernando Teixeira Albino
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Heloisa Helena De Carvalho Mello
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Universidade Federal de Viçosa - UFV
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Gildevane Souza Rios
16 de julio de 2022
Gostaria de saber qual ração é rica em aminoácidos
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Lic. en Ciencias Animales, Doctor en Filosofía - PhD, Ciencia Animal (Ciencia Avícola) / Gestión de micotoxinas en las Américas
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