INTRODUÇÃO
No ano de 2013, o Brasil produziu cerca de 6,147 bilhões de frangos de corte, tendo uma produção média por mês de cerca de 500 milhões de pintos de corte (AVISITE, 2014). Apesar desta grande produção, existem alguns fatores que acarretam perdas no rendimento da incubação implicando em nascimentos desuniformes e aumento na amplitude da janela de nascimento de até 36 horas desde os primeiros ovos eclodidos até a retirada de todos os pintinhos. Se somarmos a isso o tempo gasto nos processos de sexagem e vacinação, ocorridos no incubatório, e o tempo do transporte, os pintos de corte podem chegar com mais de 48 horas de nascidos à granja, quando só então terão acesso ao alimento (CAREGHI et al., 2005; DALMAGRO, 2012). Para melhorar o desempenho inicial dos pintos e, consequentemente, do lote final, muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar as vantagens do fornecimento de uma ração durante o transporte entre o incubatório e a granja onde ocorrerá o alojamento, chamada ração préalojamento (CAREGHI et al., 2005; AGOSTINHO et al., 2012). O desenvolvimento morfológico do intestino delgado acelera em pintinhos arraçoados imediatamente após a eclosão (NOY & SKLAN, 2000), enquanto que a demora no acesso à ração pode provocar efeito contrário (GEYRA et al., 2001). Nesta fase, a velocidade de aumento do peso do intestino é maior que a do peso corporal como um todo e este processo atinge um pico máximo por volta de seis a oito dias para os intestinos, entretanto, outros órgãos do sistema digestivo, como o pâncreas e a moela, não apresentam o mesmo ritmo de crescimento (TAVERNARI & MENDES, 2009). Outro evento muito importante que ocorre logo após a eclosão é a colonização do trato gastrointestinal por microorganismos benéficos, portanto, nesse momento, a inclusão de aditivos melhoradores de desempenho e equilibradores da microflora (antibióticos e prebióticos, respectivamente), que são incorporados à ração, podem auxiliar essa colonização da flora intestinal, permitindo dessa forma uma melhor absorção de nutrientes. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da inclusão de aditivos (prebióticos e antibióticos) à ração nas fases préalojamento e pré-inicial sobre a perda de peso corporal durante o trajeto incubatório-granja e o peso dos órgãos do trato gastrointestinal de pintinhos de corte.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento teve início em novembro de 2012, no incubatório Rio Minas da empresa Reginaves Indústria e Comércio de Aves Ltda, localizado na cidade de São José da Lapa, no estado de Minas Gerais. Os dados de desempenho foram avaliados no Cento de Pesquisas Avícolas (CPA) do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), localizado no município de Pinheiral, estado do Rio de Janeiro, no período de 9 de novembro à 21 de dezembro de 2012.
No incubatório, pintos de corte recémeclodidos, da linhagem comercial Cobb 500, provenientes de matrizes de 31 semanas de idade, foram classificados, sexados e vacinados. Para o experimento, foram utilizados 720 pintos machos com peso médio de 40 gramas, que foram distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso com quatro tratamentos de 180 aves cada, divididos em: 1 consumo de ração pré-alojamento sem aditivo; 2 consumo de ração préalojamento com prebiótico; 3 consumo de ração pré-alojamento com antibiótico; e 4 Jejum no pré-alojamento. Os pintos foram acondicionados em caixas de transporte forradas com papel corrugado e marcadas de acordo com o tratamento. A ração foi previamente distribuída nas caixas na quantidade de 2g por ave (tratamentos 1, 2 e 3). As dietas experimentais fornecidas nas caixas de transporte foram as mesmas fornecidas na fase pré-inicial (de 1 a 7 dias), e foram formuladas à base de milho e farelo de soja, atendendo às necessidades nutricionais estabelecidas por Rostagno et al. (2011). O tempo total compreendido entre o nascimento no incubatório, o transporte e o alojamento das aves no galpão experimental foi de 24 horas.
Tabela 1. Composição das rações experimentais fornecidas nas fases de pré-alojamento (na caixa de transporte do incubatório à granja) e pré-inicial (de 1 a 7 dias)
1Composição – Kg: Mn 150.000,000 ppm; Zn 140.000,000 ppm; Fe 90.000,000 ppm; Cu 16.000,000 ppm; I 1.500,000 ppm; Se 87,500 ppm. 2Composição – Kg: Vit A 16.000,000; Vit D3 4.000,000 KUI/KG; Vit E 30.000,000 UI/Kg; Vit K3 3.600,000 Mg/Kg; Vit B1 3.600,000 Mg/Kg; Vit B2 12.000,000 Mg/Kg; Vit B12 24.000,000 µg /Kg; Ác. Pantotênico 29.999,998 Mg/Kg; Niacina 80.000,000 Mg/Kg; Ácido Fólico 2.000,000 MG/Kg; Biotina 120.000,000 µg /Kg; Se 600,000 ppm; BHT 100,000 Mg/Kg. 3Nicarbazina 25%: 110 ppm. 4Tratamentos que receberam prebiótico: 1000 ppm de prebiótico (β-glucanos 30% + MOS 17%) + 500 ppm de caulim; tratamentos que receberam antibiótico: 55 ppm de Avilamicina 20% + 1445 ppm de caulim e Tratamentos sem aditivo: 1500 ppm de caulim.
O prebiótico (Immunowall®- ICC) utilizado continha na sua composição βglucanos (1-3, 1-6) 30% e mananoligossacarídeos (MOS) 17%, derivados da levedura Saccharomyces cerevisiae. O antibiótico (Surmax® 200- Elanco) utilizado foi Avilamicina 20%. A quantidade do prebiótico e do antibiótico utilizada foi a mesma recomendada pelo fabricante conforme rótulo do produto. Foi adicionado em substituição ao equivalente em peso, o material inerte (caulim), permitindo a manutenção dos mesmos níveis nutricionais em todas as rações.
No galpão experimental, os pintos foram pesados individualmente e foram formadas seis parcelas de 30 aves por tratamento. As aves decada parcela foram alojadas em um de box de 3m2 com comedouro tubular, bebedouros tipo nipple, aquecedores a gás e cama de maravalha de aproximadamente 10cm de altura. O programa de luz utilizado foi de 24 horas de luz. Os pintos foram criados até os sete dias de idade.
Foram avaliadas as variáveis: perda de peso (g) durante o transporte do incubatório ao galpão e percentagem de perda de peso (%) relativo ao peso corporal imediatamente após a eclosão; peso dos órgãos do trato gastrointestinal – após 24 horas e após sete dias do alojamento. Uma ave por parcela foi sacrificada em cada uma das datas por deslocamento cervical para aferição do peso (g) do proventrículo + moela e intestinos + pâncreas. Os dados foram submetidos à análise de variância e às médias comparadas pelo teste de Tukey com 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o trajeto incubatório – granja não houve diferença significativa (p< 0,05) de perda de peso entre pintinhos que se alimentaram da ração pré-alojamento e os que permaneceram em jejum, independente do aditivo fornecido nessa ração (Tabela 2). Esses resultados corroboram com Pedroso et al. (2005) que, pesquisando o uso de suplementos comerciais fornecidos durante intervalos de tempo de 24 horas ou 48 horas entre o nascimento e o alojamento, não verificaram diferença significativa entre aves que receberam ou não o suplemento. Entretanto, Almeida et al. (2006), pesquisando o fornecimento de ração logo após o nascimento, observaram maiores perdas de peso em aves que não receberam suplementação em períodos de 24 horas ou 48 horas de intervalo de alojamento em comparação com aves alojadas imediatamente. Esses autores observaram que a perda de peso foi maior à medida que aumentou o intervalo entre a eclosão e o alojamento (ALMEIDA, 2006; PEDROSO et al., 2006). No presente estudo, esse tempo foi de aproximadamente 24 horas e o uso da ração pré-alojamento com prebiótico, antibiótico ou sem aditivo não promoveu menor redução da perda de peso dos pintos durante o transporte. O tempo de jejum no trajeto do incubatório à granja parece ter sido incapaz de promover uma perda de peso grande o suficiente, gerando um pior desempenho das aves em jejum, em comparação com as aves que receberam ração durante esse período.
A utilização da ração pré-alojamento com a inclusão dos aditivos não influenciou (p< 0,05) o peso dos órgãos digestivos avaliados em pintos de corte com um e sete dias de idade (Tabela 3). Esses resultados contradizem os encontrados por Pedroso et al. (2006), que trabalhando com pintos de corte observou que pintos alimentados logo após a eclosão obtiveram maior peso absoluto de proventrículo + moela e intestino delgado comparado com aves que permaneceram durante 24 horas em jejum alimentar.
O mesmo foi observado por Cançado & Baião (2002), que verificaram maior crescimento de intestinos de frangos de corte na fase inicial alimentados logo após a eclosão, em comparação com aves que sofreram jejum de 24 horas e 48 horas. A utilização da ração préalojamento com a inclusão dos aditivos não influenciou (p< 0,05) o peso dos órgãos digestivos avaliados em pintos de corte com um e sete dias de idade (Tabela 3). Noy & Sklan (2000) verificaram que pintinhos em jejum por 48 horas após a eclosão sofrem diminuição no peso, mas ainda assim durante estas 48 horas o peso do intestino delgado aumenta 60% em pintinhos desprovidos de alimento e 200% em pintinhos providos de alimentos, diferença esta de crescimento intestinal não observada neste estudo.
Agostinho et al. (2012) também não observaram influência do fornecimento de ração pré-alojamento no peso de órgãos digestivos de frangos de corte na fase inicial. Durante esta fase pós-eclosão, a gema é utilizada preferencialmente para o desenvolvimento do intestino delgado (TAVERNARI & MENDES, 2009), característica que ocorre na presença ou não de alimento, sendo que a presença de alimento acelera este processo (NOY & SKLAN, 1998). Portanto, aves submetidas a jejum consomem uma maior quantidade da gema do saco vitelino para aumentar o crescimento intestinal, podendo apresentar desenvolvimento dos órgãos semelhante ao de aves que consumiram ração.
Este estudo permitiu concluir que a utilização de aditivos prebiótico ou antibiótico nas rações pré-alojamento e pré-inicial não reduz a perda de peso corporal durante o trajeto do incubatório até a granja, nem promovem maior peso dos órgãos do trato gastrointestinal em pintos de corte, não sendo indicada a utilização da ração pré-alojamento no tempo de jejum estudado (24 horas), o que poderia em granjas que adotem essas práticas, ser uma fonte de economia.
Esse artigo foi originalmente publicado em Rev. Bras. Saúde Prod. Anim., Salvador, v.16, n.4, p.811-817 out../dez.., 2015 http://www.rbspa.ufba.br ISSN 1519 9940 http://dx.doi.org/10.1590/S1519-99402015000400005 | https://www.scielo.br/j/rbspa/a/JJgrQdsJpMqTFrZhdQ9gDGN/?format=pdf&lang=pt. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.