Introdução
Na fase pós-desmame de leitões, os antibióticos promotores de crescimento (APC) têm sido utilizados nas rações em função da susceptibilidade às doenças entéricas dos animais nessa fase. Entrentanto, mudanças importantes no sistema de produção da carne, como a restrição ou banimento total do uso destes aditivos na produção, têm estimulado a busca por substâncias alternativas, tendo em vista o modo de ação e níveis de inclusão destes aditivos (OETTING et al., 2006). Considerando as diversas substâncias consideradas como alternativas aos APC, destacam-se os ácidos orgânicos, cuja suplementação com esses ácidos ou seus sais tem sido utilizada para reduzir a frequência de diarreia pós-desmame e melhorar o desempenho em leitões (KNARREBORG et al., 2002). Dentre os diversos ácidos orgânicos, destaca-se o ácido anacárdico, composto fenólico encontrado nas diversas partes do cajueiro (Anacardium occidentale L.) e que apresenta atividade inibidora seletiva contra bacterias gram positivas (KUBO et al., 2003). O ácido anacárdico pode ser utilizado na forma de anacardato de cálcio (AC), produto da precipitação do líquido da castanha de caju com hidróxido de cálcio, formando sais de cálcio, com uma melhor utilização em rações devido a sua apresentação em pó. Diante do exposto, objetivou-se avaliar os efeitos da utilização do anacardato de cálcio como promotor de crescimento alternativo na ração, quanto à morfologia intestinal e parâmetros sanguíneos de leitões na fase de creche.
Material e Métodos
Foram utilizados 60 leitões desmamados aos 21 dias de idade, com peso médio de 6,154±1,071 kg, distribuídos entre cinco tratamentos: ração sem adição de promotor de crescimento (Controle negativo - CN); ração com adição de bacitracina de zinco como antibiótico promotor de crescimento (Controle positivo - CP); ração com de 0,4% de ácido anacárdico (AC 0,4%); ração com 0,8% de AC (AC 0,8%) e ração com 1,2% de AC (AC 1,2%). Utilizou-se um delineamento em blocos ao acaso, com seis repetições por tratamento, considerando a unidade experimental de dois animais por gaiola. O experimento foi dividido em período I (21 a 32 dias) e período II (21 a 42 dias). Para obtenção do AC utilizou-se 550mL de líquido da castanha de caju, 150mL de água destilada, 2850mL de etanol e 250g de hidróxido de cálcio sob agitação por 4h e aquecimento (50ºC), ao final formando um sal de cálcio (AC), de acordo com TREVISAN et al. (2006). As rações experimentais foram isonutritivas e isoenergéticas, atendendo as exigências nutricionais mínimas dos leitões em cada fase de acordo com ROSTAGNO et al. (2011). Os promotores de crescimento (bacitracina de zinco e anacardato de cálcio) utilizados em cada tratamento foram incluídos em substituição ao inerte. Aos 32 dias de idade, foram colhidas amostras de sangue de um animal por gaiola para realização do hemograma, leucograma e proteínas séricas. Aos 42 dias de idade, um animal por repetição foi eutanasiado, para avaliação da morfologia intestinal do duodeno e jejuno (altura de vilosidades - AV, profundidade de criptas - PC e relação altura de vilosidade/profundidade de cripta - AV/PC). Para as análises estatísticas, utilizou-se o programa estatístico SAS, sendo as médias comparadas pelo teste Tukey a 5%.
Resultados e Discussão
Observaram-se menores AV e AV/PC nos segmentos duodenais dos animais do tratamento sem adição de promotor de crescimento (P<0,05) em relação aos animais do tratamento com APC e aqueles que receberam AC (Tabela 1). Os animais que não receberam promotor de crescimento e aqueles que receberam 0,4% de AC na ração apresentaram maior profundidade de cripta em relação aos que receberam APC. No entanto, os animais que receberam 0,8 e 1,2% de AC na ração apresentaram valores semelhantes aos que receberam APC.
Tabela 1 - Altura de vilosidade, profundidade de cripta e relação altura de vilosidade/profundidade de cripta de leitões alimentados com ou sem APC e diferentes níveis de AC.
¹ (AV) Altura de vilosidade, (PC) Profundidade de cripta, (AV/PC) Relação altura de vilosodade/profundidade de cripta. ² CN (controle negativo), CP (controle positivo), AC 0,4% (0,4% de anacardato de cálcio), AC 0,8% (0,8% de anacardato de cálcio), AC 1,2% ( 1,2% de anacardato de cálcio). ³ Coeficiente de variação. Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes na linha diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Para os valores de globulina (g/dL), indicativo de imunidade adquirida, observou-se maiores valores para animais que receberam APC, e menores para os do tratamento controle negativo, 0,4% e 1,2% de AC (Tabela 2). No entanto, a adição de 0,8% de AC na ração resultou em valores semelhantes aos do controle positivo para esta variável sérica (P<0,05). Foi observado aumento no número de hemácias (μl) (P<0,05) no tratamento com APC, com 0,8% e 1,2% de AC na ração, atribuído à situação de estresse do momento da coleta sanguínea.
Tabela 2 - Hemograma, leucograma e proteínas séricas de leitões alimentados com ou sem APC e diferentes níveis de AC.
¹ (He) Hemácias; (Hb) Hemoglobina; (Ht) Hematócrito; (VCM) Volume Corpuscular Médio; (CHCM) Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. ² CN (controle negativo), CP (controle positivo), AC 0,4% (0,4% de anacardato de cálcio), AC 0,8% (0,8% de anacardato de cálcio), AC 1,2% ( 1,2% de anacardato de cálcio). ³ Coeficiente de variação. Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes na linha diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Conclusão
O anacardato de cálcio pode atuar como um substituto aos APC em rações para leitões na fase de creche, considerando que a partir da inclusão de 0,8% houve benefícios na morfología intestinal e nos parâmetros sanguíneos dos animais.
Referências Bibliográficas
1. KNARREBORG, A.; MIQUEL, N.; GRANLI, T.; JENSEN, B.B. Establishment and application of an in vitro methodology to study the effects of organic acids on coliform and lactic acid bacteria in the proximal part of the gastrointestinal tract of piglets. Animal Feed Science and Technology, v.99, p.131–140, 2002.
2. KUBO, I; NIHEI, K.I.; TSUJIMOTO, K. Antibacterial action of anacardic acids against methicillin resistant Staphylococcus aureus (MRSA). Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.51, p.7624- 7628, 2003.
3. ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R. F.; LOPES, D. C.; FERREIRA, A. S.; BARRETO, S. L. T.; EUCLIDES, R. F. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais de aves e suínos. 3ªedição, Viçosa, MG: UFV, 252 p., 2011.
4. OETTING, L.L.; UTIYAMA, C.E.; GIANI, P.A.; RUIZ, U.S.; MIYADA, V.S. Efeitos de extratos vegetais e antimicrobianos sobre a digestibilidade aparente, o desempenho, a morfometria dos órgãos e a histología intestinal de leitões recém-desmamados. Revista Brasileira de Zootecnia. v.35, n.4, p.1389-1397, 2006.
5. TREVISAN, M.T.S.; PFUDENSTEIN, M.; HAUBNER, R. WURTELE, G.; SPIEGELHALDER, B.; BARTSCH, H.; OWEN, R.W. Characterization of alkyl phenols in cashew (Anacardium occidentale) products and assay of their antioxidant capacity. Food and Chemical Toxicology. v.44, p.188–197. 2006.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.