Introdução
Atualmente os produtores de suínos são pressionados pelos consumidores e órgãos ambientais pela redução do potencial poluidor da atividade suinícola, todavia sem perder produtividade e qualidade do produto. Os nutrientes N e P são os principais elementos poluidores eliminados nos dejetos suínos (LOVATTO et al., 2005). Para mitigar sua excreção, medidas como a inclusão de enzimas que melhoram a utilização do fósforo fítico e o conceito de proteína ideal têm sido adotadas. Entretanto, a redução drástica do nível de PB na ração para suínos em crescimento eterminação pode reduzir o desempenho, devido ao menor aporte de aminoácidos não essenciais (FRAGA et al., 2008).
No Brasil a maior parte das dietas para suínos são baseadas no binômio milho/farelo de soja e formuladas para atender as exigências de lisina dos animais. Mesmo com a inclusão dos aminoácidos industriais nas dietas, o nível total de PB se mantém elevado para assegurar a suplementação dos demais aminoácidos, pois se sabe que a síntese proteica pode ser limitada pelo aminoácido esencial deficiente, mesmo quando os níveis de lisina estão adequados (VAN LUNEN & COLE, 1996). Na literatura há muitos trabalhos testando diferentes níveis de PB para suínos em crescimento e terminação e seus resultados são diversos. Neste contexto a meta-análise é uma ferramenta capaz de integrar diferentes variáveis dos artigos anteriormente publicados e gerar resultados sistêmicos e ajustados às diversidades experimentais. Este trabalho foi realizado, portanto, com o objetivo de estudar, por meio da meta-análise, o efeito dos diferentes níveis de PB da dieta de suínos em terminação sobre as características quantitativas da carcaça.
Material e Métodos
Foram selecionadas publicações indexadas contendo dados referentes à utilização de diferentes níveis de PB na dieta de suínos. Foram compiladas informações relativas à identificação do artigo; a composição nutricional das dietas e as características de carcaça dos animais. Os dados foram selecionados nas seções de material e métodos e de resultados de cada artigo e tabuladas em uma base de dados. Foram incluídos na base 14 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais entre os anos de 2002 e 2013. Os trabalhos foram realizados no Brasil, utilizando apenas suínos machos castrados de alto potencial para deposição de carne magra.
A base avaliou um total de 278 suínos pesando entre 60 e 120 kg de peso vivo médio. Estes animais receberam dietas a base de milho e farelo de soja com uma densidade energética média de 3.216 kcal/kg de EM e nível médio de lisina digestível de 0,75±0,05%. Os níveis de PB testados nas dietas variaram de 11,69 a 18,11% o que correspondeu a uma inclusão média de PB de 14,75% na dieta. Os animais foram agrupados em consumo "maior" e "menor" em relação ao consumo médio de PB estimado segundo a base de dados (média=5,32g/kg PVm0,75). Uma segunda classificação agrupou os animais em consumo "maior" ou "menor" que a exigência de PB (g/kg da dieta) média calculada para a faixa de peso avaliada (60 a 120 kg). Conforme as Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos (ROSTAGNO et al., 2011) o consumo médio diário para esta faixa de peso é de 138,83 gramas de PB/dia. As variáveis avaliadas foram referentes ao ganho de peso médio diário (GPD, g/dia); ao rendimento de carcaça (%); ao % de carne magra na carcaça; a espessura de toucinho (ET, mm) medida entre a terceira e quarta últimas costelas a 6 cm da linha dorso-lombar e a deposição de carne magra (g/dia). O nível de lisina das dietas foi incluído como covariável no modelo, de forma a eliminar seu efeito sobre as variáveis respostas. A análise de variância-covariância foi realizada pelo procedimento GLM do programa estatístico Minitab 15 (2007).
Resultados e Discussão
Os animais que consumiram os menores teores de PB apresentaram o GPD 7,5% inferior (P<0,05) aos animais do grupo que consumiram mais PB (Tabela 1). Estes animais apresentaram também rendimento de carcaça (3%) e % de carne magra (3,3%) inferiores (P<0,05) aos animais do grupo com maior consumo de PB. Por outro lado, o menor consumo de PB resultou em um aumento de 30% na ET (P<0,05). Estes resultados demonstram que as dietas com menor inclusão de PB levam a um quadro de deficiência de alguns aminoácidos essenciais prejudicando o desempenho dos suínos (FERREIRA et al., 2005). Da mesma forma, a síntese proteica, representada pela deposição de carne magra na carcaça é limitada pelo aminoácido essencial presente em menor nível na dieta (VAN LUNEN & COLE, 1996). Por outro lado, dietas com elevados teores de PB contém excesso de alguns aminoácidos que são catabolizados, representando uma fonte onerosa de energia (AROUCA et al., 2007) além de, elevarem os volumes de urina e dejetos produzidos (MOREIRA et al., 2010).
Tabela 1 - Características de carcaça, obtidas por meta-análise, em suínos alimentados com dietas contendo maior ou menor oferta de PB em relação ao consumo médio ou a exigência estimada.
a Consumo médio de PB (g/kg PVm0,75), calculada a partir do banco de dados.
b Exigência média em PB, calculado com base em Rostagno et al., (2011) para animais de 60 e 120 kg. *P<0,05 e ns P>0,05.
GPD: ganho de peso médio diário (g/dia); R carcaça: rendimento de carcaça (%); %Carne: % de carne magra na carcaça; ET: espessura de toucinho (mm); Dep Carne: deposição diária de carne magra (g/dia).
Quando se observam as respostas agrupadas em relação às exigências propostas por Rostagno et al., (2011) observou-se que os animais que receberam na dieta PB menor que a exigencia preconizada apresentaram menor GPD (P<0,05), menor deposição diária de carne magra (P<0,05) e maior espessura de toucinho (P<0,05) que os animais que receberam PB acima da exigencia determinada. Os padrões das respostas observadas em relação ao consumo médio de PB e em relação às exigências de PB foram os mesmos, no entanto, a intensidade das respostas diferiu. Essa diferença na intensidade das respostas pode estar atrelada a maneira como as exigências são determinadas.
Tradicionalmente as exigências dos nutrientes são estabelecidas via experimentos dose-resposta, determinadas muito próximas ao ganho máximo de proteína pelo suíno, situação em que a eficiencia de uso dos aminoácidos ingeridos é baixa, resultando em superestimação das exigências de PB (HAUSCHILD, 2010). Portanto, os animais do grupo que receberam os menores teores de PB em relação à exigência, podem ter tido boa parte de suas necessidades aminoacídicas atendidas.
Considerando os resultados apresentados e a necessidade de buscar uma produção de suínos com impacto ambiental cada vez menor, fica clara a necessidade do uso de dietas com menor nível de PB, porém com adequado ajuste nos aminoácidos fornecidos. A simples redução no teor de PB da dieta sem preocupação com o balanço aminoacídico conduz a piores características de carcaça e menor ganho diário de peso.
Conclusões
A redução no teor de PB da dieta sem ajuste no fornecimento dos aminoácidos essenciais leva a um menor desempenho e pior características de carcaça dos suínos.
Referências Bibliográficas
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.