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Carroceria Qualidade Carne Suínos.

Modelo de carroceria e seu impacto sobre a qualidade da carne dos suínos.

Publicado: 17 de setembro de 2012
Por: Dr. Osmar Dalla Costa; Jorge Vitor Ludke; Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa; Luigi Faucitano; José Vicente Peloso; Darlan Dalla Roza; Nelise Juliane Triques.
Durante os procedimentos do manejo pré-abate, os suínos são expostos a diferentes agentes estrassantes que influenciam a qualidade da carne. Portanto, o manejo pré-abate, embora de curta duração, pode ocasionar perdas quantitativas e qualitativas na produção da carne suína. O transporte dos suínos da granja ao frigorifico é considerado a etapa mais estressante, devido à interação homem - suíno (deslocamento dos animais, embarque, desembarque) e devido a utilização indevida do choque elétrico.
Estudos mostraram que os efeitos de condições do transporte, como a densidade do carregamento e o tempo e a distância do transporte, podem ocasionar perdas econômicas relacionando estes fatores à taxa de mortalidade, lesões da carcaça e qualidade da carne suína. Entretanto, poucos estudos focalizaram os efeitos do modelo de carroceria sobre a qualidade da carne dos suínos.
No Brasil, a disponibilidade de informações técnicas sobre a relação entre as condições do transporte dos suínos (distância, sistema de condução, modelo de carroceria) e a qualidade da carne tem sido muito restrita.
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do modelo de carroceria (metálica dupla e simples e madeira simples) e a qualidade da carne dos suínos.
 
Material e Métodos
Foram utilizadas 360 fêmeas, oriundas de cruzamentos industriais, com peso vivo médio de 132,72±11,09 kg e um período de alojamento médio de 144 dias, para as fases de crescimento e terminação. Foram utilizadas quatro granjas em sistema de terminação de suínos, duas no verão (fevereiro de 2002, com temperaturas mínima e máxima absolutas de 13,0oC e 33,5oC e temperaturas médias com mínima e máxima de 19,9oC e 27,2oC, respectivamente) e outras duas no inverno (julho de 2002, com temperaturas mínima e máxima absolutas de 0,0oC e 29,0oC, e temperaturas médias, com mínima e máxima de 12,8oC e 18,8oC, respectivamente). As granjas tinham capacidade média de alojar 500 suínos. Nas granjas avaliadas foram escolhidas aleatoriamente 5 baias/modelo de carroceria (6 animais/baia), totalizando 15 baias/granja e 90 suínos por granja, nos três modelos de carroceria. Os suínos foram submetidos a um tempo de jejum de 12 horas na granja.
O transporte dos suínos foi realizado em três modelos de carrocerias, duas metálicas (simples e dupla), desenvolvidas pela empresa TRIEL–HT, e outra de madeira simples.
A carroceria dupla metálica, com capacidade para transportar 96 animais em 16 boxes, estava sobre um chassi Volkswagen trucado, modelo 24.220 (6x4), ano 2000. Na carroceria simples TRIEL-HT, foram transportados 44 suínos em quatro boxes, sobre chassi Mercedes Benz modelo 1316, (4x2), ano 1981. Na carroceria simples de madeira foram transportados 35 suínos, em três boxes, sobre um chassi Mercedes Benz modelo 1111 (4x2), ano 1978.
No frigorífico, os suínos foram desembarcados com o auxílio de uma plataforma móvel e conduzidos até as baias de descanso coletivas, onde permaneceram por três horas. No desembarque e deslocamento dos animais até as baias de descanso, estes foram misturados aleatoriamente dentro de cada modelo de carroceria.
A insensibilização (ou eletro-narcose) foi aplicada automaticamente, transferindo alta voltagem (700V) e amperagem acima de 1,25 Amps (Valhalla, Stork RMS b.v., Lichtenvoorde, Holanda). Após a insensibilização, os animais foram imediatamente sangrados na posição horizontal e suspensos ao fim da mesa de sangria na nória contínua da linha de abate.
As carcaças dos suínos permaneceram em câmara fria submetidas a temperaturas variando entre 1oC e 4oC, por 24 horas. As medidas do pH foram realizadas na meia carcaça esquerda nos músculos Semispinalis capitis (SC), Longissimus dorsi (LD) e Semimembranosus (SM), 45 minutos (pH1) e 24 horas após o abate (pHU). Na avaliação do pH foi utilizado medidor de pH portátil da marca Mettler Toledo (MP 120 pH Meter, Suíça), com eletrodo DXK-S7/25 protegido para inserção no músculo.
A avaliação da cor dos músculos Longissimus dorsi (CM-LD) e Semimembranosus (CM-SM) foi realizada 24 horas após o abate, através da unidade de dispersão e reflexão de luz com a utilização do aparelho fotômetro específico (Opto StarTM SFK).
A porcentagem de perda de água por gotejamento (%PG) do músculo Semimembranosus foi determinada em 50% dos animais que participaram deste estudo, com a coleta de amostras de aproximadamente 110 g desse músculo, livre de gordura, que após a pesagem, foram suspensas em redes de nylon seladas dentro de sacos plásticos, e assim permaneceram na câmara fria submetidos a temperaturas variando entre 1oC e 4oC, por 48 horas. A porcentagem de perda de água por gotejamento foi calculada como resultado da diferença entre o peso inicial e o peso final da amostra, dividida pelo peso inicial e multiplicado por 100.
As análises de variância foram realizadas utilizando-se o método de quadrados mínimos, aplicando–se o procedimento GLM do programa SAS (2001), onde foram incluídos os efeitos de bloco (estação do ano = inverno e verão), modelo de carroceria (1 - simples Triel-HT, 2 - dupla Triel-HT, 3 - simples de madeira ) e da interação entre blocos e modelos de carroceria.
 
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 estão apresentados os valores de pH1 e pHU dos músculos SC, LD e SM, da cor dos músculos LD e SM e da porcentagem de perda água do músculo SM para cada modelo de carroceria.
O modelo de carroceria não influenciou significativamente o pH1 dos músculos LD (P=0,073) e SM (P=0,065). Todavia, o modelo de carroceria influenciou significativamente o pH1 do músculo SC (P=0,020) e dos pHU dos músculos SC, LD SM (P=0,0001), além da cor dos músculos LD (P=0,003) e do SM (P=0,008).
Suínos transportados no modelo de carroceria metálica simples apresentaram maiores valores de pH1 no músculo SC, diferindo significativamente dos animais que foram transportados em carroceria simples de madeira.
Suínos transportados em carrocerias metálicas modelo Triel-HT simples apresentaram os maiores valores de pHU dos músculos SC, LD e SM. Os animais transportados na carroceria metálica dupla apresentaram os menores valores de pHU, enquanto que os suínos transportados em carrocerias simples de madeira apresentaram valores intermediários.
Apesar do efeito significativo do modelo de carroceria sobre o pH1 do músculo SC e do pHU dos músculos SC, LD e SM, esses valores de pH estão dentro dos padrões de carne "normal ou boa".
Observou-se um efeito significativo do modelo de carroceira sobre a cor dos músculos LD (P=0,002) e SM (P=0,011). Suínos transportados sobre a carroceria metálica simples apresentaram maior valor da cor do músculo LD do que os animais transportados na carroceria metálica dupla e simples de madeira, enquanto que suínos transportados em carroceria dupla apresentaram menores valores da cor do músculo SM em relação ao transportados em carrocerias simples. Contudo, o modelo de carroceria não influenciou significativamente (P= 0,313) na porcentagem de perda de água do músculo SM.
 
Conclusões
Conclui-se que as condições do transporte (modelo de carroceria) têm efeito sobre a qualidade da carne dos suínos, e que o setor produtivo deve investir em equipamentos apropriados para o transporte deste animais para o abate, pois suínos transportados em carrocerias dupla de piso fixo apresentam menores de valores de pHU e cor dos músculos em relação aos demais modelos de carroceria avaliados.
Tabela 1 - Efeito do modelo de carroceria sobre de pH1 e pHU nos músculos semispinalis capitis (SC), longissimus dorsi (LD) e semimembranosus (SM), da cor dos músculos LD e SM e da porcentagem de perda água do músculo SM por modelo de carroceria (médias ajustadas e desvios-padrão).
Modelo de carroceria e seu impacto sobre a qualidade da carne dos suínos. - Image 1
As médias seguidas de letras distintas para cada músculo, diferem significativamente pelo teste T (p<0,05).
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Autores:
Dr. Osmar Dalla Costa
Embrapa Suínos e Aves
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