Introdução
A seleção genética para prolificidade resultou no incremento da quantidade de leitões nascidos por fêmea/parto (1); o aumento do número de leitões nascidos, por sua vez, está associado a alguns efeitos indesejáveis, incluindo menor peso ao nascimento, maior heterogeneidade de peso da leitegada e aumento da duração do parto (2). Partos excessivamente prolongados (> 300 min) são deletérios para a saúde da matriz, podendo resultar em prejuízos nos parâmetros produtivos e reprodutivos (3). Adicionalmente, há prejuízos na vitalidade, sobrevivência e desempenho dos leitões (4). Nesse contexto, o entendimento dos fatores que influenciam a duração do parto é de suma importância para diminuir as perdas produtivas relacionadas ao parto. O objetivo desse trabalho foi determinar se a glicemia venosa possui relação direta com a duração do parto.
Materiais e Métodos
Foram utilizadas 80 fêmeas suínas parturientes híbridas comerciais com ordem de parto entre 0 e 8. Todas as fêmeas foram submetidas ao mesmo manejo alimentar e sanitário. Todas as fêmeas foram alimentadas duas vezes ao dia (9h e 14h), inclusive na data prevista do parto. Todos os partos foram acompanhados integralmente. A duração do parto foi definida como o intervalo entre o nascimento do primeiro e o último leitão da leitegada. A mensuração da glicemia plasmática foi realizada em dois momentos a saber: glicemia inicial (nascimento do primeiro leitão), e glicemia final (início de expulsão da placenta). A glicemia média foi calculada como sendo a média aritmética da glicemia inicial e glicemia final. A concentração plasmática de glicose foi avaliada por meio de um glicosímetro portátil (Accu-Chek Guide Meter™, Roche Diabetes Care, Inc). A amostra de sangue venoso foi coletada por meio de punção da veia auricular com agulha 25 x 8 gauges. As análises estatísticas foram realizadas através do software SAS, versão 9.4, todas as variáveis foram testadas quanto a normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk, utilizou-se o procedimento CORR do SAS, para se determinar as correlações entre glicemia inicial, média e final com a duração do parto por meio do teste de correlação de Pearson. Sendo considerado efeito significativo quando P < 0,05.
Resultados e Discussão
O valor médio das concentrações glicêmicas analisados foram de 4,43 ± 0,78 mMol, 4,56 ± 0,68 mMol e 4,70 ± 0,83 mMol, para glicemia inicial, média e final, respectivamente. A duração do parto das fêmeas analisadas foi em média 265,65 ± 80,70 minutos, sendo que os valores variaram entre 110 e 500 minutos. Houve correlação positiva entre as concentrações glicêmicas inicial, média e final com a duração do parto (P = 0,01, P < 0,01, P = 0,01, respectivamente), sendo que a glicemia média foi a variável que apresentou maior correlação com a duração do parto (r = 0,39), conforme ilustrado na figura 1. Ainda, ao se analisar apenas o primeiro quartil dos valores de glicemia média (≥ 4,91 mMol), a duração do parto de parto média foi de 222,04 ± 14,58 minutos, em contraste a uma duração do parto média de 308,15 ± 17,11 minutos para as fêmeas do terceiro quartil (≤ 4,07 mMol). Portanto, estratégias que reduzam a ocorrência de baixos níveis glicêmicos no momento do parto são essenciais para diminuir a duração do parto. Partos excessivamente prolongados prejudicam a saúde uterina da fêmea parturiente (5), aumentam a taxa de retenção de placenta (6), aumentam o estresse oxidativo sistêmico (7), aumentam a taxa de assistência ao parto (8), atrasam a involução uterina (5) e prejudicam a fertilidade da fêmea no ciclo subsequente (5). Os resultados encontrados nesse estudo corroboram com resultados de Feyera et al. (2018), em que os autores também descreveram uma correlação positiva entre a concentração de glicose plasmática na artéria uterina durante o parto e a sua duração. Feyera et al. (2018), atribuem esses resultados a um melhor “status” energético para as fêmeas com maior glicemia, pois partos mais curtos demandam uma maior disponibilidade de energia para as vigorosas contrações uterinas e abdominais em um curto espaço de tempo.
Conclusão
A glicemia venosa da fêmea parturiente é um fator diretamente relacionado com a duração parto. Estudos são necessários para entender como modular a glicemia no início e transcorrer do parto, e dessa forma evitar os efeitos deletérios de partos prolongados.
Figura 1: Correlação entre a glicemia venosa média de fêmeas parturientes e a duração do parto. Valor de P < 0,001 e r = 0,39
Esse artigo foi originalmente publicado em SINSUI 2021 13º Simpósio Internacional de Suinocultura | https://static.conferenceplay.com.br/conteudo/arquivo/anais-trabalhos-cientaficos-sinsui2021-1635776553.pdf.