Introdução.
A seleção para hiperprolificidade na produção de suínos trouxe como consequência a variabilidade no peso ao nascer e maior mortalidade pré-desmame. O baixo peso ao nascimento é uma das causas mais frequentes de mortalidade no período neonatal (FURTADO et al., 2012). O colostro e leite são as principais fontes de nutrição e imunidade passiva para o leitão (SVENDSEN et al., 2005). Estudos que estimam a quantidade de colostro consumida (DEVILLERS et al., 2004; THEIL et al., 2014), recomendam a ingestão mínima de 200g de colostro por leitão para garantir imunidade passive e sobrevivência (DEVILLERS et al., 2005; QUESNEL et al., 2012). Visando aumentar a viabilidade dos leitões de baixo peso ao nascer, é possível assegurar a ingestão de colostro e absorção de IgG, pelo uso de sonda orogástrica (SVENDSEN et al., 2005; CABREIRA et al., 2013), assegurando uma oferta precoce, contínua e suficiente de colostro a estes leitões. Da mesma forma, há a necessidade de avaliar se o fornecimento de um suplemento proteico-energético poderia incrementar o consumo de colostro ou atuar em sinergia com o colostro oferecido. O objetivo desse trabalho foi avaliar a absorção de IgG, o desempenho e a sobrevivência de leitões de baixo peso ao nascimento submetidos à alimentação por sonda orogástrica ou amamentação natural, recebendo ou não SPE, nas primeiras 24 h de vida.
Material e Métodos.
O experimento foi realizado em uma granja suinícola com plantel de 4300 matrizes, localizada no estado de Santa Catarina, entre Janeiro e Abril de 2014. Foram utilizados 180 leitões de fêmeas Camborough 25® (Large White x Duroc x Landrace; Agroceres PIC®). Leitões com peso ao nascimento entre 800 e 1200g foram distribuídos entre os tratamentos. Ao nascimento, os leitões foram pesados e ficaram impedidos de mamar até serem distribuídos aleatoriamente nos tratamentos, em média aos 100,3 ± 3,6 minutos após o nascimento. Em dois tratamentos, os leitões foram amamentados naturalmente pelas respectivas mães biológicas e competiam com seus irmãos de leitegada (em média 12 leitões), ao longo das primeiras 24h de vida: leitões controle com a mãe biológica (CM; n=30) e leitões com a mãe biológica mais o SPE (CMS; n=30). Nos outros quarto tratamentos, os leitões permaneceram em um Deck (D) de alimentação nas primeiras 24h de vida e não consumiram colostro de suas mães. Esses leitões receberam colostro por sonda orogástrica, em diferentes quantidades, com ou sem SPE: 120 mL de colostro (D120; n=30); 120 mL de colostro e SPE (D120S; n=30); 200 mL de colostro (D200; n=29) e 200 mL de colostro e SPE (D200S; n=27). O suplemento proteico-energético (Mig Dose Evolution, Mig Plus, Casca, Brasil) fornecido aos leitões dos grupos CMS, D120Se D200S foi administrado por via oral em três aplicações de 1,33 mL, de 6 em 6 h, totalizando quatro mL nas primeiras 24h de vida. O colostro foi armazenado a -20ºC, sendo descongelado por 40 minutos a 38ºC e fornecido aos leitões de acordo com os tratamentos. A composição do colostro fornecido foi a seguinte: sólidos totais (25,4%); proteína bruta (14,3%); lipídios (5,4%) e concentração de IgG (50,5 mg/mL). Foram formadas 15 leitegadas com 12 leitões (2 leitões de cada tratamento), os quais mamaram em mães adotivas, de ordem de parto média igual a 3, durante um período médio de lactação de 20,4 dias. Nas 24 h após o início dos tratamentos, os leitões foram pesados e amostras de sangue foram coletadas para determinar a concentração de IgG no soro. Foram também realizadas pesagens no 7º e 20º dia de vida dos leitões. Os leitões foram acompanhados diariamente e as causas das mortes foram registradas de acordo com o resultado da necropsia. As análises estatísticas foram efetuadas com o uso do software SAS® (Statistical Analysis System; versão 9.1; 2005).
Resultados e Discussão.
Os leitões D200 e D200S apresentaram concentração sérica de IgG maior do que a dos leitões CM, D120 e D120S (P<0,05; Tabela 1). Os leitões CMS apresentaram concentração de IgG menor (P<0,05) do que a dos leitões D200S, mas semelhante (P>0,05) à dos leitões D200.O maior ganho de peso nas 24h (GPD) iniciais de vida foi observado nos leitões CMS,os quais permaneceram com a mãe biológica e receberam o SPE (P<0,05; Tabela 1). Os leitões D120e D120S perderam peso nas primeiras 24h de vida (P<0,05). Os leitões D200 e D200Stiveram GPD 24h semelhante (P>0,05) aos leitões CM. Não houve diferença entre os tratamentos (P>0,05) no GPD entre o primeiro dia e o desmame ou no peso aos sete e 20 dias de vida (Tabela 1). Apesar das diferenças no GPD 24h, o crescimento dos leitões até o desmame não foi afetado pela quantidade de colostro ingerida, corroborando os resultados de Svendsen et al. (2005). Isto confirma que o desempenho no primeiro dia de vida pode não afetar diretamente o peso ao desmame, pois múltiplos fatores influenciam no desempenho no período lactacional, tais como a produção de leite, aspectos sanitários, nutricionais e de manejo (QUESNEL et al., 2012).
Tabela 1. Efeito dos tratamentos sobre a concentração de IgG plasmática, ganho de peso diário (GPD) e peso dos leitões (Médias ± Erro padrão da média).
a,b,c indicam diferença significativa na coluna (P<0,05). Os tratamentos foram aplicados nas primeiras 24h de vida.
Os leitões D120 apresentaram menor sobrevivência (P<0,05) do que os leitões CMS, D120S, D200 e D200S, ao longo da lactação (Figura 1). A causa de mortalidade não diferiu entre os tratamentos (P>0,05). A menor sobrevivência dos leitões D120 está de acordo com a maior mortalidade em leitões com ingestão de colostro <150-160g (DECALUWÉ et al., 2014; FERRARI et al., 2014). É provável que a deficiência energética, pelo menor consumo de colostro e ausência de suplementação, tenha sido o principal fator contribuindo para a maior mortalidade desses leitões. No geral, a causa de mortalidade mais frequente foi desnutrição (51,9%; 14/27), em que os animais apresentavam-se magros, desidratados e com extremidades ósseas proeminentes. As outras causas observadas foram esmagamento (40,7%; 11/27), anemia (3,7%; 1/27) e meningite (3,7%; 1/27).
Figura 1. Curva de sobrevivência dos leitões ao longo da lactação.a,b indicam diferença significativa (P<0,05).
Conclusões.
Garantir a ingestão de 200mL de colostro ou fornecer um suplemento proteico-energético, nas primeiras 24 h devida, aumenta a chance de sobrevivência dos leitões de baixo peso ao nascimento.
Referências Bibliográficas.
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2. DECALUWÉ, R.; MAES, D.; WUYTS, B.; et al., 2014. Piglets' colostrum intake associates with daily weight gain and survival until weaning. Livestock Science, v. 162, p. 185–192, 2014.
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4. FERRARI, C.V.; SBARDELLA, P.E.; BERNARDI, M.L.; et al., 2014. Effect of birth weight and colostrum intake on mortality and performance of piglets after cross-fostering in sows of different parities. Preventive Veterinary Medicine, v. 114, p. 259-266.
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7. SVENDSEN, J.; WESTRÖM, B.R.; OLSSON,A.C.H.; 2005. Intestinal macromolecular transmission in newborn pigs: implications for management of neonatal pig survival and health. Livestock Production Science, v. 97, p.183–191.
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.