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Sintomatologias Descarte Fêmeas Suínas

Caracterização técnica das principais sintomatologias relacionadas ao descarte de fêmeas suínas reprodutoras

Publicado: 18 de março de 2013
Por: Prof. Roberto de Andrade Bordin, Prof. Dr. da Universidade Anhembi Morumbi -UAM-, SP; Amanda Yuri Gomes, Graduanda, Veterinária, UAM, SP, e Rafael Bueno, Prof. M. Sc. da UAM, SP.
Sumário

O presente trabalho tem como objetivo caracterizar as principais sintomatologias relacionadas ao descarte de porcas, baseado no levantamento de dados obtidos em granja suinícola localizada na região centro-oeste do Brasil. Através deste estudo é possível observar que a maior causa de descarte no plantel se dá por falhas reprodutivas, tendo a descarga vulvar (26,06%) como sintomatologia mais evidente e estando diretamente relacionada às infecções urinárias. Entre os problemas em membros locomotores o aprumo defeituoso é a causa mais recorrente de descarte de matrizes suínas. Em sua conclusão, o estudo aponta as falhas reprodutivas como principais causas de descarte de fêmeas suínas em reprodução e que grande parte desse elevado número de descartes se deve à falha humana tanto na detecção do problema, quanto na estruturação da granja e do manejo aplicado ao sistema de criação.

Palavras-chave: Suínos, descarte, reposição, granja.

INTRODUÇÃO
A carne suína é importante do ponto de vista mundial por dois fatores: por ser uma excelente fonte de proteína animal e em relação ao seu alto consumo per capita. Além disso, chama a atenção por dois motivos primários: pela facilidade e alta capacidade de reprodução dos suínos, como também pela possibilidade de poderem ser produzidos em pequenas propriedades.
O Brasil está entre os quatro maiores produtores mundiais de carne suína, atrás da China, União Europeia e Estados Unidos. Possui atualmente um rebanho com mais de 39 milhões de cabeças, com um número de matrizes que se aproxima de 2,4 milhões, sendo aproximadamente 67% criadas em sistemas de confinamento altamente tecnificados (ABCS, 2011). Devido a essa intensa demanda por carne suína, o fluxo de produção teve que aumentar, bem como a capacidade técnica de produção, sanidade e reprodução e, consequentemente, as técnicas de manejo, como por exemplo, descarte e reposição de matrizes. A meta recomendada atualmente de descarte é de 40%, sendo 35-36% de descarte voluntário e 3-5% de descarte involuntário (VARGAS, et al., 2011). Muito disso se deve ao fato de grande parte do plantel ser composto por fêmeas jovens, que têm maior predisposição a falhas reprodutivas (LUCIA et al., 2007). A remoção da matriz em um plantel só se dá por duas formas: a involuntária, que ocorre quando o animal morre, ou voluntária nas demais situações, nas quais a decisão da remoção da fêmea é tomada em virtude da condição física do animal, de seu estado sanitário ou de seu desempenho reprodutivo. Entre as principais causas de descarte destacam-se as falhas reprodutivas, seguidas de problemas locomotores, idade, nível de produção e mortalidade destas fêmeas (SABALLO et al., 2007).
Portanto, o objetivo deste trabalho é caracterizar as principais sintomatologias relacionadas ao descarte de fêmeas suínas em reprodução.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em uma granja suinícola localizada no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), divisa de Goiás e Distrito Federal, no período de Outubro de 2010 a Março de 2012. Essa propriedade tem como característica ser umas das maiores produtoras de suínos do DF e a primeira no Brasil a adquirir maquinário de alimentação individual por meio de controle eletrônico. A granja possui atualmente 1250 matrizes que são manejadas no Princípio de Três Sítios, ou seja, as porcas em anestro e cio são separadas em baias individuais, após 20 dias da inseminação artificial são encaminhadas para a instalação de gestação coletiva com alimentação individual, e só próximo ao terço final da gestação são encaminhadas à maternidade, finalizando as três fases de produção. A detecção do cio é feita duas vezes ao dia, através de reflexo de tolerância ao homem e pela presença do cachaço. Todos os dados da granja contidos nesse trabalho foram coletados por funcionários treinados, supervisionados por um Médico Veterinário. O software utilizado para as máquinas de arraçoamento de fêmeas suínas em gestação é o Pig Manager, e o gerenciamento de todas as demais atividades da propriedade é feito pelo software Agriness Multiplicadora S2. As variáveis – que foram analisadas de forma percentual, caracterizando, assim, o levantamento proposto por esse estudo por este software – foram: Descarga Vulvar, Repetição de Cio, Baixa Produtividade, Fraqueza, Aprumo Defeituoso, Anestro, Manqueira, Aborto, Falsa Gestação, Machucados, Problemas de Casco, Mastite,Artrite, Descoberta Vazia e Outras Causas.
 
RESULTADO E DISCUSSÃO
Os dados observados no presente estudo podem ser analisados e interpretados na tabela 01.
Tab. 01 – Avaliação da distribuição das causas de descarte de fêmeas suínas em reprodução.
Caracterização técnica das principais sintomatologias relacionadas ao descarte de fêmeas suínas reprodutoras - Image 1
Através dos dados fornecidos pela tabela 01, verificamos que a taxa de descarte e reposição de matrizes da granja no período estudado (17 meses) é de 66% (825), totalizando uma reposição média mensal de 48,5 fêmeas, que, em um ano, totaliza um valor médio de 582,3 fêmeas, representando, resumidamente, uma taxa anual de descarte de 46%, o que está próximo aos dados obtidos por Moreira (2006), que variam de 35 a 50%. Taxas de reposição elevadas dentro de uma granja representam diminuição da eficiência reprodutiva, já que uma grande parte do plantel de matrizes será composto por fêmeas jovens com reduzido número de partos (TARRÉS et al., 2006). Na tabela 01 é possível observar a taxa de descarga vulvar de 26,06% como a principal causa de descarte de fêmeas suínas do plantel, estando entre os sinais mais evidentes de perturbações uterinas em porcas. Em estudo similar realizado pela EMBRAPA, Alberton et al. (1997), detectou 22,2% de prevalência de infecção urinária em porcas gestantes em confinamento, intimamente ligado à presença de corrimentos. Do total de fêmeas que apresentam essa sintomatologia, mais de dois terços poderão apresentar problemas de fertilização ou de falsa gestação pós-cobertura, levando a perdas de mais de 20% da taxa de fertilidade (MUIRHEAD et al., 1986). Em segundo lugar, no presente estudo, dos principais sinais clínicos que levam ao descarte de matrizes está a repetição de cio em 13,70%. Em condições normais, 10 a 20% das porcas cobertas durante o primeiro cio pós-desmame costumam retornar ao cio até 28 dias pós-cobrição. Por outro lado, ao redor de 12% dos descartes de porcas abatidas após o desmame são devido às repetições de cio (VARGAS et al., 2007).
Dos problemas locomotores observados neste levantamento, o aprumo defeituoso (7,27%) ocupa a primeira posição, sendo, assim, a principal causa de descarte por afecções do aparelho locomotor. Estudos realizados por Patterson et al. (1996) e Trujillo (2003) apresentaram percentagens próximas a 18% e atribuem esse elevado valor ao tipo de piso das granjas, às condições e à maneira em que as instalações foram projetadas. Todas essas perdas observadas implicam no aumento do custo por leitão desmamado. Desses descartes, 55% eram fêmeas primíparas ou com dois partos realizados.
 
CONCLUSÃO
Através dos dados obtidos neste estudo, podemos concluir que:
As falhas reprodutivas continuam sendo as principais causas de descarte de fêmeas suínas em reprodução;
O elevado número de descartes por esse motivo se deve, em parte, a falha humana, tanto na identificação do problema quanto por erros de manejo e na estruturação da granja;
Entre as principais causas de descarte relacionadas às falhas reprodutivas, observa-se a descarga vulvar (26,06%) como sintomatologia mais evidente, estando diretamente relacionada às infecções urinárias;
Entre os problemas em membros locomotores, o aprumo defeituoso é a causa mais recorrente de descarte de matrizes suínas.
Novos trabalhos devem ser realizados no intuito de melhorar as informações sobre o desempenho reprodutivo das fêmeas no contexto do descarte e das taxas de reposição destas unidades produtoras suinícolas.
 
REFERÊNCIAS
ABCS. Associação Brasileira dos Criadores de Suínos. Produção brasileira de carne suína. Brasília. cap.1 p.7, 2011
ALBERTON, G.C.; WENER, P.R.; SOBESTIANSKY, J.; DALLA COSTA, O.A.; BARION JUNIOR, W., Prevalência e correlação entre infecção urinária e a presença de Actinomyces suis na urina de porcas gestantes da Região Sul do Brasil. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIAL EM SUÍNOS, 8, 1997, Foz do Iguaçu. Anais... Concórdia: EMBRAPA Suínos e Aves, 1997. P65-266.
LUCIA, Thomaz; Políticas e novos conceitos de reposição e descarte de fêmeas suínas. Acta Scientiae, Porto Alegre, v.35, p. S1- S8, 2006
MOREIRA, F. Macroscopic aspects of sow ovaries, natural from swine granges of Rio Verde-GO and culling for several causes. Archives of Veterinary Science, v. 11, n. 3, p. 47-52, 2006.
MUIRHEAD, M. R.; ALEXANDER, T. J. L. Managing pig health and the treatment of disease. A reference for the farm. United Kingdom: Enterprises, 1997, 608p.
PATTERSON, RA; CARGILL, CF; POINTON, AM Investigating sow deaths and excessive culling in Australian pig herds. Proc. 14th INTERNACIONAL PIG VETERINARY SOCIETY CONGRESS, Bologna, Itália, p. 493, 1996.
SABALLO, AJ; LÓPEZ-ORTEGA, A.; MÁRQUEZ, AA Causas de descarte de cerdas en granjas de la región centro occidental de Venezuela durante el período 1996-2002. Zootecnia Tropical, v. 25, n. 3, p. 179-187, 2007.
TÀRRES, J.; BIDANEL, J. P.; HOFER, A.; DUCROCQ, V. Analysis of longevity and exterior traits on Large White sows in Switzerland, Journal of Animal Science, v. 84, p. 2914-2924, 2006
TRUJILLO, O.M. Factores de manejo que afectan la longevidad de la cerda reproductora. XI Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas e Suínos. Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária de Goiânia, Brasil. 2003, pp. 28-32.
VARGAS, A.J.; HEIM, Gisele, Política de descartes de matrizes suínas: Novos rumos e desafios às inovações incorporadas na produção. Porkworld, 2011. Disponível em: <htpp.://www.porkworld.com.br/artigos/>. Acesso:14/05/2012.
VARGAS, AJ; BERNARDI, ML; WENTZ, I.; BORTOLOZZO, FP Falhas reprodutivas após a cobertura. Revista Suinocultura em ação, a fêmea suína gestante. Porto Alegre, cap. 6, p. 97-115, 2007.
Tópicos relacionados:
Autores:
Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Amanda Yuri Gomes
Rafael Bueno
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
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Eduardo Von Atzingen
S.O.S. Suínos
24 de marzo de 2013

Vejamos, temos mais de 50% de reposição, como falhas reprodutivas, situação muito grave, me parece problema de manejo & instalações. E o que é pior ter 16% de "outras causas". Como suinocultor, não vejo esta situação muito confortável. É só preocupação.

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Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
20 de marzo de 2013

Sim, evidente... porém um outro ponto a ser discutido é que na abordagem das causas reprodutivas, muitos fatores de risco que serão abordados para diminuir esta ocorrência são comuns às outras causas, ajudando assim nesta reflexão citada por você, Vitor.

Obrigado.

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Vitor Santos
20 de marzo de 2013

Olá, está tudo bem, obrigado.
Obrigado pela sua explicação.
De qualquer forma as outras causas continuam sendo como a segunda maior causa de descartes.
Cumprimentos.

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Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
19 de marzo de 2013

Olá amigo, tudo bem? Espero que sim. Então os tópicos relacionados às outras causas individualmente - cada causa das outras causas somam 16 tópicos; evidentemente importantes, porém são muitos. O foco inical em uma abordagem corretiva seria nos fatores de risco ligados a descarga vulvar.

Abs e obrigado.

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Vitor Santos
19 de marzo de 2013

A segunda maior causa de descartes segundo o trabalho apresentado são outras causas (16,125%). Esta juntamente com a descarga vulvar representam 42,18 % do total das causas de descarte.
Pergunto se não seria importante reflectir sobre as outras causas e tentar identificá-las?
Cumprimentos,
Vítor Santos

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