Ducha de baixa intensidade na fase de terminação melhora o desempenho e a qualidade da carne de suínos?

Em regiões tropicais e subtropicais, bem como nos meses de verão em áreas temperadas, é comum que as temperaturas ultrapassem a zona de termoneutralidade (zona de conforto térmico) para suínos. Suínos em fase de terminação começam a sofrer os impactos negativos do estresse por calor a partir de aproximadamente 20 °C. Caso as temperaturas se mantenham acima de 27 °C por mais de 2 a 4 dias, podem surgir perdas significativas no desempenho, a menos que algum tipo de resfriamento seja implementado (Myer e Bucklin, 2001).

No Brasil, as granjas de criação de suínos terminação enfrenta dificuldades estruturais devido à falta de climatização adequada tornando um desafio constante, especialmente em regiões com altas temperaturas. A ausência de sistemas de resfriamento eficientes prejudica o bem-estar animal e o desempenho produtivo. A implantação de tecnologias de controle térmico ainda é limitada, o que reforça a necessidade de investimentos para melhorar a produção nessa fase e garantir mais eficiência e sustentabilidade.

Nos últimos anos, o aumento das temperaturas globais tem causado sérios impactos na produção de suínos. O aquecimento global e as ondas de calor frequentes são conjuntos de estressores que submetem esses animais a condições desconfortáveis, uma vez que os suínos têm dificuldade de dissipar calor para o ambiente. Como os suínos não suam (não transpiram) eles têm dificuldade em lidar com o calor excessivo o que pode levar à redução da ingestão de ração o que dificulta o ganho de peso. Portanto, o estresse térmico afeta diretamente a eficiência produtiva das granjas de suínos.

O efeito mais notável de altas temperaturas em suínos em crescimento e terminação é a redução na ingestão de ração conforme dados do estudo de Nichols et al. (1980 apud Myer e Bucklin, 2001) (Figura 1).

Figura 1. Efeito da temperatura ambiente no consumo de ração e no ganho de peso dos suínos em fase de terminação.

Como visto na figura 1, o aumento de temperatura reduz o consumo e ganho de peso. Além disso, o estresse térmico prolongado pode comprometer a saúde reprodutiva dos suínos e aumentar a mortalidade. Nesse sentido, considerando o cenário atual de aquecimento global, é necessário adaptar as instalações com maiores investimentos em sistemas de climatização. Assim, adotar medidas de controle térmico são essenciais para mitigar esses impactos negativos e manter a produtividade.

O bem-estar animal na produção de suínos é um fator crucial tanto para a qualidade do produto final quanto para a eficiência produtiva. Garantir o conforto térmico dos animais reduz os níveis de estresse, melhora a saúde e otimiza o ganho de peso, especialmente na fase de terminação, quando os suínos estão em pleno desenvolvimento muscular. O estresse térmico causado por altas temperaturas pode comprometer a produção, tornando essencial a adoção de estratégias para aliviar o calor, como ventilação adequada, duchas de resfriamento e sistemas de climatização. Tais medidas são fundamentais para garantir que os suínos mantenham seu desempenho zootécnico, melhorando a conversão alimentar e proporcionando carne de melhor qualidade, além de atender às exigências de bem-estar animal, que têm ganhado cada vez mais relevância no mercado global.

Um estudo recente de Segura e colaboradores (2024) mostrou que o uso de duchas de baixa intensidade em horários críticos de calor pode melhorar o conforto térmico dos suínos na fase de terminação, aumentando o consumo e melhorando a composição corporal e a qualidade da carne.

O estudo foi conduzido para testar o uso de duchas de baixa intensidade como uma solução prática para combater o calor em uma granja de suínos na Espanha. A pesquisa envolveu 400 suínos (metade fêmeas e metade machos), que foram divididos em grupos sem e com acesso a duchas para avaliar o impacto de temperatura elevada nos horários críticos. Durante o experimento, os suínos receberam banhos de dois minutos a cada meia hora em períodos mais quentes do dia. A temperatura corporal dos animais foi monitorada e, ao final do período de crescimento, foram analisados parâmetros da carcaça e da qualidade da carne.

No estudo foi observado diminuição da temperatura em regiões do corpo dos animais após o banho, tanto em fêmeas quanto em machos, conforme apresentado a figura 2. Os autores demonstraram que um resfriamento pontual, aplicado em momentos estratégicos do dia, pode minimizar problemas causados pelo calor em suínos de terminação. Afirmaram ainda que este sistema tem um gasto mínimo de água, 4 L/dia/animal.

Figura 2. Temperatura da superfície corporal em diversas regiões de machos imunocastrados e fêmeas suínas em terminação, com e sem banho, durante períodos quentes do dia.

Portanto, animais submetidos a banhos curtos em momentos críticos do dia apresentam menor temperatura corporal que auxilia no equilíbrio térmico.

Sim, os principais resultados mostraram que os suínos que receberam as duchas apresentaram melhor desempenho produtivo e melhoria na qualidade da carne. Os animais ficaram mais tempo se alimentando, em média apresentaram um aumento de 4,72 % no ganho de peso (Tabela 1), e a qualidade da carne também melhorou significativamente. A carne desses animais apresentou maior teor de gordura intramuscular, o que aumenta a suculência, e menor perda de líquidos durante o cozimento, resultando em benefício para o consumidor (Figura 3). Além disso, o banho proporcionou melhor conforto térmico, o que propicia uma maior produtividade, além de atender uma das premissas do bem-estar animal (Welfare Quality).

Tabela 1. Efeito de banhos de baixa intensidade sobre o desempenho de suínos em terminação.

Figura3. Efeitos do uso de duchas sobre o desempenho, o bem-estar e a qualidade da carne de suínos terminação.

Portanto, a pesquisa confirmou que suínos em terminação que receberam resfriamento com sistemas simples de duchas apresentam melhor desempenho produtivo e qualidade do produto final, além de garantir melhores condições de bem-estar para os suínos.