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Parvovirus Suino PPV

Ocorrência de parvovírus suíno no soro de leitões refugos através de Nested-PCR

Publicado: 13 de fevereiro de 2009
Por: Streck, A.F. - Gava, D. - Souza, C.K. - Gonçalves, K.R. - Canal, C.W.
INTRODUÇÃO
O parvovírus suíno (PPV) é reconhecido como agente causador de problemas reprodutivos em fêmeas suínas (3, 7, 8). Trabalhos recentes realizados no Brasil comprovam que este vírus ainda é uma das principais causas infecciosas de abortamento e mumificação fetal em granjas tecnificadas (10, 14). A forma mais comum de transmissão do vírus é pelo contato oronasal, através de fezes ou restos fetais (9). Os problemas reprodutivos ocorrem quando fêmeas com ausência ou baixos títulos de anticorpos, principalmente leitoas, infectam-se durante a gestação. Como o PPV apresenta tropismo por células em replicação, o feto e os envoltórios fetais são freqüentemente atingidos. Conforme a literatura, a infecção é geralmente restrita a fêmea primípara e a carga viral concentra-se nas baias de reprodução (9, 11), havendo poucos relatos do vírus em outras fases de produção. Ao comparar a presença de PPV e de circovírus suíno tipo 2 (PCV2) em órgãos linfóides de leitões refugos, a incidência de PPV foi maior do que a de PCV2, observando positividade inclusive em amostras negativas para PCV2 (5). A importância da circulação viral nesta categoria decorre de ser uma possível fonte de infecção para a classe mais suscetível do plantel, a leitoa. O presente trabalho teve como objetivo detectar a presença de PPV em leitões refugos de diferentes empresas, a fim de avaliar a ocorrência do vírus nesta categoria.

MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de sangue foram coletadas de leitões refugos, por diversas causas, entre 30 e 60 dias de idade, pertencentes a três empresas (A, B, C), situadas na Região Sul do Brasil. No total, foram coletadas 132 amostras em onze municípios distribuídos: Empresa A- 43 amostras em um município (a); Empresa B- 43 amostras em seis municípios (b, c, d, e, f, g); e Empresa C- 46 amostras em quatro municípios (h, i, j, k). Após a coleta por punção na veia jugular, o sangue foi dessorado e o soro enviado ao Laboratório de Virologia (UFRGS) para análise. A extração do DNA total foi realizada através um protocolo a base de sílica (2). A detecção de parvovírus suíno do material extraído foi realizada conforme Nested-PCR previamente descrita, utilizando iniciadores específicos para o gene da proteína não estrutural – NS1 (12). A seguir, foi realizada a eletroforese em gel de agarose 2% com 0,1 μg/mL de Blue Green I (LGC) em tampão de TAE uma vez concentrado (0,04 M Tris-Acetato, 0,001 M EDTA pH 8,0). A visualização foi feita sob lâmpada ultravioleta, com padrões de peso molecular com escala de 100 pb (Fermentas, EUA). Foram utilizados controles positivo (cepa de PPV gentilmente cedida pela Embrapa Suínos e Aves - CNPSA) e negativo (água destilada) em todas as reações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados estão descritos na Tabela 1. O DNA de PPV foi detectado em 23 amostras, que geraram um produto de 137 pb (pares de bases). Não foi evidenciada presença de falso-positivos nos controles negativos. A ocorrência de PPV foi de 6 (13,95%), 7 (16,28%) e 10 (21,74%) para as empresas A, B e C, respectivamente. A média de leitões refugos positivos para PPV das três empresas foi 17,32%. São raros os trabalhos que relatam a detecção direta de PPV em leitões de creche ou terminação. A sugestão de neonatos com infecção persistente (PI) poderia ser uma explicação para a manutenção do vírus no plantel (11), porém a presença de animais PI é um evento extremamente raro. Outra possibilidade seria a presença do PPV facilitada por agentes imunodepressores, como o PCV2. Em trabalhos experimentais, foi observado que a Síndrome da Refugagem Multissistêmica do Suíno (SRMS) realmente pode facilitar a infecção do PPV em leitões (1, 6). Entretanto, em estudo realizado com leitões com e sem sintomatologia da SRMS, foi observado que a detecção do PPV possui baixa relação com a presença do PCV2 (4). Quando a patogenia da infecção pelo PPV foi descrita, na década de 70, a presença do vírus em outras categorias não foi evidenciada, possivelmente devido à baixa sensibilidade das técnicas até então utilizadas. A PCR consegue obter boa sensibilidade e especificidade, resultando em um diagnóstico até 178 vezes mais sensível do que a técnica de isolamento viral e 3200 vezes mais sensível que a técnica de hemaglutinação, que é a prova padrão de detecção do PPV (13). A detecção do PPV através de Nested-PCR é, tradicionalmente, realizada em fetos ou tecidos linfáticos de animais doentes. Assim, a utilização do soro como material para a detecção do agente viral, além de prático, pode ser uma ferramenta importante para compreender a circulação viral em diferentes categorias na criação de suínos, que até então eram desconsideradas.
CONCLUSÃO
O presente trabalho observou elevada ocorrência de PPV em animais refugos na fase de creche. A utilização do soro para diagnóstico do agente viral mostrou-se adequada para novos estudos sobre a disseminação viral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.
ALLAN, G.M.; KENNEDY, S.; McNEILLY, F.; FOSTER, J.C.; ELLIS, J.A.; KRAKOWKA, S.J.; MEEHAN, B.M.; ADAIR, B.M. Experimental reproduction of severe wasting disease by co-infection of pigs with porcine circovirus and porcine parvovirus. Journal of Comparative Pathology, v.121, p.1-11, 1999.

2. BOOM, R.; SOL, C.J.A.; SALIMANS, M.M.M.; JANSEN, C.L.; WERTHEIM-VAN DILLEN, P.M.E.; VAN DER NOORDAA, J. Rapid and simple method for purification of nucleic acids. Journal of Clinical Microbiology, v.28, n.3, p.495-503, 1990.

3. CARTWRIGHT, S.F.; HUCK, R.A. Viruses isolated in association with herd infertility, abortions and still-births in pigs. Veterinary Record, v.81, p.196-197, 1967.

4. GAVA, D.; STRECK, A.F.; SOUZA, C.K.; GONÇALVES, K.R.; RODRIGUES, E.E.G.; BARCELLOS, D.E.S.N.; BORTOLOZZO, F.P.; WENTZ, I.; CANAL, C.W. Detection of PPV and PCV2 in serum samples from piglets with different levels of PCV2 challenge. In: 20th INTERNATIONAL PIG VETERINARY SOCIETY CONGRESS. Proceedings… Durban, África do Sul, 2008, p.60.

5. GONÇALVES, K.R.; SOUZA, C.K.; STRECK, A.F.; ALMEIDA, L.L.; RODENBUSCH, C.; MACAGNAN, M.; RAVAZZOLO, A.P.; CANAL, C.W. Estudo da ocorrência de parvovírus suíno e correlação com circovírus suíno tipo 2 em leitões refugos. In: XIX SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRGS. Livro de Resumos. Porto Alegre, 2007, p.214.

6. KENNEDY, S.; MOFFETT, D.; McNEILLY, F.; MEEHAN, B.; ELLIS, J.; KRAKOWKA, S.; ALLAN, G.M. Reproduction of lesions of postweaning multisystemic wasting syndrome by infection of conventional pigs with porcine circovirus type 2 alone or in combination with porcine parvovirus. Journal of Comparative Pathology, v.122, p.9-24, 2000.

7. MENGELING, W.L.; CUTLIP, R.C.; WILSON, R.A.; PARKS, J.B.; MARSHALL, R.F. Fetal mummification associated with porcine parvovirus infection. Journal of American Veterinary Medical Association, v.166, p.993-995, 1975.

8. MENGELING, W.L.; LAGER, K.M.; VORWALD, A.C. The effect of porcine parvovirus and porcine respiratory and reproductive syndrome virus on porcine reproductive performance. Animal Reproduction Science, v 60, p.199-210, 2000.

9. MORAES, M.P.; COSTA, P.R.S. Parvoviridae. In: FLORES, E. (ORG.). Virologia Veterinária. Santa Maria: UFSM. 2007. p.275-296.

10. MORENO, A.M.; PAIXÃO, R.; OLIVEIRA Jr, F.T.T.; GOBI, D.D.; NOVITA, S.M.; COUTINHO, T.A.; BACCARO, M.R. Agentes causadores de mumificação fetal, natimortalidade e abortamento em suínos no Brasil. In: 13º CONGRESSO DA ABRAVES. Anais... Florianópolis, 2007, p.249-252.

11. ROEHE, P.; SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. Parvovirose. In: SOBESTIANSKY, J. & BARCELLOS, D. (ORG.). Doença dos Suínos. Goiânia: Cânone editorial. 2007. p.286-293.

12. SOARES, R.M.; DURIGON, E.L.; BERSANO, J.G.; RICHTZENHAIN, L.J. Detection of porcine parvovirus DNA by the polymerase chain reaction assay using primers to the highly conserved nonstructural protein gene, NS-1. Journal of Virological Methods, v.78, p.191-198, 1999.

13. 43 SOUZA, C.K.; GONÇALVES, K.R.; STRECK, A.F.; ALMEIDA, L.L.; CANAL. C.W. Determinação da especificidade e sensibilidade de uma nested-PCR para a detecção do parvovírus suíno. In: XIX SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRGS. Livro de Resumos. Porto Alegre, 2007, p.213.

14. WOLF, V.H.G.; MENOSSI, M.; MOURÃO, G.B.; GATTI, M.S.V. Molecular basis for porcine parvovirus detection in dead fetuses. Genetics and Molecular Research, v.7, p.509-517, 2008.

Tabela 1. Amostras positivas através de Nested-PCR, de acordo com a Empresa e a sua localização (município). Entre parêntesis está o número de amostras coletadas em cada município.

Empresa Município
a b c d e f g h i j k
A (n=43) 6 (43)
B (n=43) 0 (8) 2 (7) 1 (8) 1 (6) 1 (6) 2 (8)
C (n=46) 3 (16) 1 (10) 6 (10) 0 (10)
Trabalho apresentado no Pork Expo 2008 - IV Fórum INternacional de Suinocultura, Curituba, Brasil
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Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
7 de julio de 2009
Olá Pedro tudo bem? O que vc acha da observação realizada onde as matrizes que geraram estes leitões apresentaram protocolos vacinais para parvovírus. Será que teria alguma influência sobre suas observações? abs... vamos valorizar este fórum que está muito legal
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Fernando Tamames
Agrifirm do Brasil
2 de junio de 2009
Disculpen que solo se espanhol. Son muy interesantes los comentários que hacen pero hay un factor oculto detrás del Circovirus y del PPRS y quizas tambien del Parvovirus y es la Fumonisina. Hoy en dia ya se ha establecido la relacion DIRECTA entre Circovirus, PRRS y Fumonisina. Tanto en la seccion Noticias de espanhol y de inglês en Engormix hay un vídeo que habla de esta relacion. Tambien en el vídeo habla de como la Fumonisina afecta DIRECTAMENTE al Corazon la proventiculo izquierdo y su agrandamiento creando edema pulmonar tamnien afecta al hígado, al sistema intestinal incrementadndo problemas de E.coli y lo mas importante al sistema inmune. En Brasil en los últimos 5 anos ha exitido un incremento muy grande de Fumonisina en TODOS LOS GRANOS , es interesantemente que en esos mismos anos hay un incremento drastico de PRRS y de Circovirus. Por cieto hay un trabajo efectuado entre EMBRAPA y LAMIC donde se demustra la relacion entre Circovirus y Fumonisina. Si estan interesados tenemos muchisimas trabajos cientificos que hablan sobre la Fumonisina que segun la Organizacion Mundial de la Salud el 59[percent] de todo el maiz del mundo esta contaminado con Fumonisina.
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ANDRÉ FELIPE STRECK
ANDRÉ FELIPE STRECK
2 de junio de 2009
Olá pessoal!! Respondendo a pergunta do Prof. Roberto. Sim, apesar de realizarmos as coletas em distintas empresas, todas possuiam protocolos de vacinação para as matrizes. abraços!
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Prof. Roberto de Andrade Bordin
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
Universidade Anhembi Morumbi - Brasil
2 de junio de 2009
Olá pessoal, tudo bem? Os animais utilizados neste teste eram oriundos matrizes vacinadas? abs
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Abelardo Silva Jr
2 de junio de 2009
Olá, gostaria de fazer um comentário. Já sabido na literatura que o Parvovírus potencializa a replicação do PCV2 e exarceba da clínica da PMWS. Essa associação do PCV2 com outros agentes infecciosos é um dos fatores desencadeantes das doenças associadas ao PCV2. Fora do Brasil, nos EUA e Europa o principal agente associado é o PRRSV (vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína), que até o presente momento o Brasil é oficialmente livre. Acho que pesquisas de associação do PCV2 com outros patógenos, principalmente parvo e o TTV são realmente válidas. Parabéns pelos resultados. Atenciosamente, Abelardo Jr. Universidade Federal de Viçosa.
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ANDRÉ FELIPE STRECK
ANDRÉ FELIPE STRECK
21 de mayo de 2009
Olá Pedro Sou um dos autores deste trabalho. Ao que conhecemos o parvovírus não causa sintomatologia em leitões. Há um caso registrado de problemas cardiacos, mas apenas este. Acreditava-se que o parvo juntamente do circovírus (PCV2) poderiam levar a leitões refugos. Atualmente, o torque teno vírus (TTV) assumiu este lugar de associação com o PCV2. Estamos ainda realizando trabalhos para definir qual a importância da presença do vírus nesta categoria.
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Pedro Dias
Pedro Dias
19 de mayo de 2009
Olá O parvovirus então pode causar alguma sintomatologia nos leitões? abraços Pedro
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Sem Limite
Sem Limite
18 de mayo de 2009
Realmente fiquei impressionado com a qualidade do resumo... De fundamental relavancia para suinocultura mundial, abordando novos aspectos sobre a virologia veterinária. Os autores do resumo fizeram realmente um trabalho brilhante..
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