INTRODUÇÃO
O parvovírus suíno (PPV) é reconhecido como agente causador de problemas reprodutivos em fêmeas suínas (3, 7, 8). Trabalhos recentes realizados no Brasil comprovam que este vírus ainda é uma das principais causas infecciosas de abortamento e mumificação fetal em granjas tecnificadas (10, 14). A forma mais comum de transmissão do vírus é pelo contato oronasal, através de fezes ou restos fetais (9). Os problemas reprodutivos ocorrem quando fêmeas com ausência ou baixos títulos de anticorpos, principalmente leitoas, infectam-se durante a gestação. Como o PPV apresenta tropismo por células em replicação, o feto e os envoltórios fetais são freqüentemente atingidos. Conforme a literatura, a infecção é geralmente restrita a fêmea primípara e a carga viral concentra-se nas baias de reprodução (9, 11), havendo poucos relatos do vírus em outras fases de produção. Ao comparar a presença de PPV e de circovírus suíno tipo 2 (PCV2) em órgãos linfóides de leitões refugos, a incidência de PPV foi maior do que a de PCV2, observando positividade inclusive em amostras negativas para PCV2 (5). A importância da circulação viral nesta categoria decorre de ser uma possível fonte de infecção para a classe mais suscetível do plantel, a leitoa. O presente trabalho teve como objetivo detectar a presença de PPV em leitões refugos de diferentes empresas, a fim de avaliar a ocorrência do vírus nesta categoria.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de sangue foram coletadas de leitões refugos, por diversas causas, entre 30 e 60 dias de idade, pertencentes a três empresas (A, B, C), situadas na Região Sul do Brasil. No total, foram coletadas 132 amostras em onze municípios distribuídos: Empresa A- 43 amostras em um município (a); Empresa B- 43 amostras em seis municípios (b, c, d, e, f, g); e Empresa C- 46 amostras em quatro municípios (h, i, j, k). Após a coleta por punção na veia jugular, o sangue foi dessorado e o soro enviado ao Laboratório de Virologia (UFRGS) para análise. A extração do DNA total foi realizada através um protocolo a base de sílica (2). A detecção de parvovírus suíno do material extraído foi realizada conforme Nested-PCR previamente descrita, utilizando iniciadores específicos para o gene da proteína não estrutural – NS1 (12). A seguir, foi realizada a eletroforese em gel de agarose 2% com 0,1 μg/mL de Blue Green I (LGC) em tampão de TAE uma vez concentrado (0,04 M Tris-Acetato, 0,001 M EDTA pH 8,0). A visualização foi feita sob lâmpada ultravioleta, com padrões de peso molecular com escala de 100 pb (Fermentas, EUA). Foram utilizados controles positivo (cepa de PPV gentilmente cedida pela Embrapa Suínos e Aves - CNPSA) e negativo (água destilada) em todas as reações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados estão descritos na Tabela 1. O DNA de PPV foi detectado em 23 amostras, que geraram um produto de 137 pb (pares de bases). Não foi evidenciada presença de falso-positivos nos controles negativos. A ocorrência de PPV foi de 6 (13,95%), 7 (16,28%) e 10 (21,74%) para as empresas A, B e C, respectivamente. A média de leitões refugos positivos para PPV das três empresas foi 17,32%. São raros os trabalhos que relatam a detecção direta de PPV em leitões de creche ou terminação. A sugestão de neonatos com infecção persistente (PI) poderia ser uma explicação para a manutenção do vírus no plantel (11), porém a presença de animais PI é um evento extremamente raro. Outra possibilidade seria a presença do PPV facilitada por agentes imunodepressores, como o PCV2. Em trabalhos experimentais, foi observado que a Síndrome da Refugagem Multissistêmica do Suíno (SRMS) realmente pode facilitar a infecção do PPV em leitões (1, 6). Entretanto, em estudo realizado com leitões com e sem sintomatologia da SRMS, foi observado que a detecção do PPV possui baixa relação com a presença do PCV2 (4). Quando a patogenia da infecção pelo PPV foi descrita, na década de 70, a presença do vírus em outras categorias não foi evidenciada, possivelmente devido à baixa sensibilidade das técnicas até então utilizadas. A PCR consegue obter boa sensibilidade e especificidade, resultando em um diagnóstico até 178 vezes mais sensível do que a técnica de isolamento viral e 3200 vezes mais sensível que a técnica de hemaglutinação, que é a prova padrão de detecção do PPV (13). A detecção do PPV através de Nested-PCR é, tradicionalmente, realizada em fetos ou tecidos linfáticos de animais doentes. Assim, a utilização do soro como material para a detecção do agente viral, além de prático, pode ser uma ferramenta importante para compreender a circulação viral em diferentes categorias na criação de suínos, que até então eram desconsideradas.
CONCLUSÃO
O presente trabalho observou elevada ocorrência de PPV em animais refugos na fase de creche. A utilização do soro para diagnóstico do agente viral mostrou-se adequada para novos estudos sobre a disseminação viral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tabela 1. Amostras positivas através de Nested-PCR, de acordo com a Empresa e a sua localização (município). Entre parêntesis está o número de amostras coletadas em cada município.
Empresa Município
a b c d e f g h i j k
A (n=43) 6 (43)
B (n=43) 0 (8) 2 (7) 1 (8) 1 (6) 1 (6) 2 (8)
C (n=46) 3 (16) 1 (10) 6 (10) 0 (10)
Trabalho apresentado no Pork Expo 2008 - IV Fórum INternacional de Suinocultura, Curituba, Brasil