Introdução
O sistema digestivo do leitão recém-nascido está naturalmente adaptado ao leite da porca, e a troca desse alimento por outro tipo de dieta, no caso do desmame precoce, pode associar-se a distúrbios gastrointestinais e redução no crescimento. O desmame de leitões nas primeiras semanas de vida é uma prática de manejo rotineira realizada na suinocultura industrial (FERREIRA et al., 1988). O sistema digestivo do leitão não se encontra apto para modificar o pH, a secreção enzimática, a motilidade e a absorção intestinal, provocadas pelo novo regime alimentar. Dietas especiais e diferentes sistemas de alimentação têm sido desenvolvidos a fim de contornar problemas, como a fisiologia digestiva dos leitões, com o intuito de se obter ótimo desempenho. A levedura hidrolisada tem sido utilizada como uma importante fonte de nucleotídeos e mananoligossacarídeos na alimentação de suínos em crescimento (WHITE et al., 2014). Os nucleotídeos são components intracelulares de baixo peso molecular, integrados a numerosos processos metabólicos e essenciais para todas as células (MATEO et al., 2004). Os nucleotídeos dietéticos são importantes para tornar disponíveis bases e nucleosídeos que podem ser utilizados imediatamente na síntese de nucleotídeos pela via salvamento. Essa via é extremamente importante para os tecidos e órgãos cuja síntese de nucleotídeos pela via de novo é limitada, mas que apresentam uma rápida divisão mitótica, como cérebro, eritrócitos, medula óssea, mucosa intestinal e linfócitos. A melhora em morfologia intestinal tem sido proposto como o potencial mecanismo de ação da levedura hidrolisada. O objetivo do presente trabalho foi estudar os efeitos de diferentes níveis de substituição do plasma bovino por levedura hidrolisada nas dietas de suínos de 21º ao 63° dia de idade, sobre o consumo, ganho de peso, conversão alimentar e mortalidade.
Material e Métodos
O experimento foi desenvolvido em uma granja comercial na cidade de Itu/SP, entre os meses de março e abril de 2015. Foram utilizados 1600 leitões da genética PIC, desmamados aos 21 dias de idade. O experimento foi dividido em quatro fases, que corresponderam ao tempo de fornecimento de cada dieta: pré-inicial I (23 a 28 dias), pré-inicial II (29 a 35 dias), inicial I (36 a 47 dias) e inicial II (48 a 63 dias). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro tratamentos. A relação Plasma:Levedura, nas dietas foi a seguinte; T1 (6:0; 4:0; 2:0 e 0:0); T2 (3: 4; 2: 3; 1: 2 e 0: 0); T3 (1,5: 6; 1: 4,5; 0,5: 3 e 0: 0) e T4 (0: 8; 0: 6; 0: 4 e 0: 0). As dietas dos tratamentos foram isoproteicas e isoenergéticas entre si, em cada fase. Cada tratamento teve 10 repetições (cinco de machos e cinco de fêmeas) totalizando 40 unidades experimentais com 40 animais cada. Para avaliação do desempenho, foram utilizadas as variáveis: consumo médio diário de ração (CMD), ganho de peso médio diário (GPMD) e conversão alimentar (CA). Para mensuração desses parâmetros foram realizadas pesagens dos animais, do alimento oferecido e das sobras de ração no início e no final de cada fase (21º, 28º, 35º, 47º e 63º dias). O controle do consumo e do desperdício das rações foi realizado diariamente. A conversão alimentar foi calculada pela relação do consume com o ganho de peso. A temperatura interna e externa das salas foi anotada todos os dias. Os dados obtidos foram analisados utilizando-se o teste Tukey de comparação de médias ao nível de significância de 5% através do pacote estatístico SAS.
Resultados e Discussão
Nas primeira semana, as dietas com maior conteúdo de plasma bovino apresentaram maior consumo (P<0,05). No entanto, considerando-se todo o período experimental, o tratamento com a segunda maior inclusão de levedura hidrolisada apresentou um maior consume (P<0,05) (Tabela 1).
Tabela 1 – Consumo de ração (gramas/animal/dia).
Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
A Tabela 2 mostra o ganho diário de peso por animal. Na primeira fase a dieta com maior inclusão de plasma resultou em um maior ganho de peso (P<0,05), porém na terceira fase, os tratamentos 3 e 4 tiveram o melhor ganho de peso (P<0,05). Considerando-se o experimental completo, não houve diferença estatística (P>0,05) entre os tratamentos.
Tabela 2 – Ganho de peso (gramas/animal/dia).
Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
Os resultados encontrados para a variável conversão alimentar estão apresentados na Tabela 3. Houve diferença significativa (P<0,05) na segunda e terceira fases. O tratamento com 100% de plasma apresentou melhor conversão alimentar na segunda fase, no entanto na terceira fase os tratamento 3 e 4 apresentaram a melhor conversão alimentar. Para o período total de creche, o tratamento 3 apresentou a melhor conversão alimentar.
Tabela 3 – Conversão alimentar.
Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
Na primeira semana do experimento o tratamento com maior inclusão de plasma bovino resultou em um maior consumo e ganho de peso. Porém, a partir dos 14 dias pós-desmame os tratamentos 3 e 4 (com os maiores níveis de substituição de plasma) resultaram em melhores índices de desempenho. Considerando-se o período total (22 a 63 dias de idade) a levedura hidrolisada mostrou benefícios em consumo, ganho e conversão alimentar.
Conclusões
Os resultados encontrados neste estudo permitem concluir que, nas condições da granja comercial onde foi desenvolvido o trabalho, os níveis (1,5: 6; 1: 4,5; 0,5: 3 e 0: 0) de relação plasma:levedura hidrolisada para as dietas pré-inicial I, pré-inicial II, inicial I e inicial II respectivamente, resultaram no melhor desempenho dos animais.
Agradecimentos
À empresa ICC pelo apoio e financiamento para a realização do estudo.
Referências Bibliográficas
1. FERREIRA, A S.; et.al., 1988. Desaparecimento da ingesta, pH estomacal e duodenal e formação de coágulos de leite de porca e de vaca e de extrato de soja no estômago e intestino delgado de leitões.
2. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, (17): 308-316.
3. MATEO, C.D.; et all., 2004. Nucleotides in sow colostrum and milk at different stages of lactation. Journal of Animal Science, v.82, p.1339-1342.
4. WHITE, L. A.; et al. Brewers dried yeast as a source of mannan oligosaccharides for weanling pigs. journal of animal science 2002, 80:2619-2628., p. 2619–2628, 2014.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.