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A competitividade das regiões centro-oeste e sul, na produção de suínos: uma análise técnica e econométrica

Publicado: 12 de março de 2024
Por: 1Laura Galvão Sperotto, 2Daniela Galvão Sperotto, 1Carlos Alexandre Oelke, 3Leandro Tiago Sperotto. 1Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). 2Centro Universitário Cathedral (UNICATHEDRAL). 3Centro Universitário do Vale do Araguaia (UNIVAR).
Sumário

O objetivo deste trabalho é descobrir se há maior competitividade na região Sul ou Centro oeste do Brasil, no que tange a produção de suínos. Para que isso fosse possível a estratégia de pesquisa ocorreu com o seguinte delineamento: Foi uma pesquisa aplicada, com uso de dados secundários, com abordagem quantitativa, utilizando o método descritivo, através do procedimento de levantamento bibliográfico e documental. Já na delimitação, o período de coleta deu-se entre 2010 e 2020, tendo como regiões de análise, a Centro Oeste e a Sul do Brasil. Para o tratamento dos dados, foi utilizado o software IBM SPSS Statistics. Após todos os lançamentos de variáveis estatísticas, chegou-se ao resultado contrário do que se esperava, pois a intenção era comprovar que o custo com a alimentação era o fator principal para a transferência das plantas suinícolas do Sul para o Centro oeste. No entanto, os resultados NEGARAM as expectativas dos pesquisadores. O que a análise dos coeficientes mostra é que NÃO É A ALIMENTAÇÃO o fator preponderante na competitividade do Centro Oeste em relação a região Sul. A região Centro Oeste tem menos custos de produção, pela baixa remuneração da mão de obra, baixa expectativa de ganho dos investidores (custo de capital) e baixa depreciação, pois as plantas são novas e não tem passivo ambiental ainda. No fator técnico (manejo e sanidade), não há diferenças entres as duas regiões, pois enquanto uma região necessita de cuidados com o frio, a outra é com o calor, sendo as duas técnicas semelhantes nos controles e rotinas. Outro fator relevante é a necessidade de se analisar como está organizado todo o Sistema Agroindustrial antes de transferir a cadeia produtiva da suinocultura.

Palavras-chave: Suinocultura, Custo de Produção, mão de Obra, Alimentação.

INTRODUÇÃO

SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS

Para Zylbersztajn e Neves (2005), o sistema agroindustrial ou SAG é visto como “um conjunto de relações contratuais entre empresas e agentes especializados, cujo o objetivo final é disputar o consumidor de determinados produtos”
Batalha (2005), diz que a visão sistêmica implícita na abordagem de sistemas agroindustriais “pressupõe a participação coordenada de produtores agropecuários, agroindústrias, distribuidores, além de organizações responsáveis por financiamento, transporte, na produção industrialização e distribuição de alimentos e insumos”,
Neste sentido, pode-se dizer que o enfoque sistêmico da produção é guiado por cinco conceitos: a) verticalidade, ou seja, as características de um elo, tem influência sobre os demais elos; b) Orientação da demanda onde a demanda gera informações que determina os fluxos dentro de toda a cadeia produtiva de produtos e serviços; c) coordenação dentro da cadeia, relações verticais dentro da cadeia de suprimentos e comercialização; d) competição entre sistemas, onde um sistema pode envolver mais de um canal de comercialização e, e) Alavancagem, onde a analise sistêmica busca identificar na sequência produção-consumo, cujas ações podem melhorar a eficiência dos agentes de uma vez só (BATALHA, 2005). Foi Goldberg, (1968) (apud Araújo 2003), quem viu a “necessidade de entendermos o agronegócio em uma visão de Sistemas Agroindustriais, introduzindo o conceito de Commodity Sistem Approach (CSA)”.
A compreensão do agronegócio, em todos os seus segmentos e interrelações, é uma ferramenta indispensável a todos os tomadores de decisão, sejam autoridades públicas ou agentes econômicos privados, e para isso é necessária uma visão sistêmica que engloba os setores “antes da porteira” e “depois da porteira” (ARAÚJO 2003).
Rufino, (1999) apud Araújo (2003) afirmam, que a visão sistêmica do agronegócio e seu tratamento como conjunto, potencializa benefícios para o desenvolvimento mais intenso e harmônico da sociedade. Para tanto existem problemas e desafios a vencer. Dentre esses destaca-se o conhecimento das inter-relações das cadeias produtivas para que sejam indicados os requisitos para melhoramento de sua competitividade, sustentabilidade e equilíbrio.
Dando continuidade à análise sistêmica, Sperotto (2015), explica que Zylberstajn (2000), “abrasileirou” as teorias e as sintetizou na visão do agronegócio, apresentando para a comunidade acadêmica o SAG’s – Sistema Agroindustrial. Onde discute a necessidade de ser feita uma análise sistêmica do agronegócio, partindo do pressuposto de que há cadeias produtivas inter-relacionadas e que todas juntas fazem parte de um todo e que a soma delas é maior do que o todo.
Figura 1. Sistema Agroindustrial.
Figura 1. Sistema Agroindustrial.
Mário Batalha (2001), publica o livro Gestão Agroindustrial onde defende a ideia da visão sistêmica, sendo que ele apresenta a expressão criada por Goldberg denominada Commodity System Approach ou Enfoque Sistêmico do Produto, que tem como ponto principal a orientação sistêmica, estabelecida pela inter-relação entre as atividades de produção, processamento e distribuição de alimentos.
Cada vez mais se concretiza a linha de pensamento de que, um sistema é compreendido pela união de seus elementos através de uma rede de relações funcionais, que se resumem na interdependência entre as partes, influenciando e sendo influenciado pelo ambiente externo, comportando-se de forma a atingir um objetivo determinado.
Nesse contexto, o enfoque sistêmico de uma organização examina a forma como as atividades de produção e distribuição de uma commodity se organizam numa economia e questiona a maneira de elevar a produtividade de tais atividades através de melhores tecnologias, instituições ou políticas de coordenação.

AMBIENTE INSTITUCIONAL:

O ambiente institucional refere aos conjuntos de leis ambientais, trabalhistas, tributárias e comerciais, bem como, as normas e padrões de comercialização. Portanto, são instrumentos que regulam as transações comerciais e trabalhistas.
Assim, Zylbersztajn (2005), destaca a importância do ambiente institucional e das organizações de suporte ao funcionamento das cadeias. Para ele, o ambiente institucional é caracterizado pelos sistemas legais (leis e normas, importantes na solução de conflitos), tradições, costumes, políticas macroeconômicas, tributárias, tarifárias, comercias e setoriais adotadas pelo governo e por outros países, parceiros comercias e concorrentes. Já para o autor, North (1991), o ambiente institucional é que domina as regras do jogo, sejam formais ou informais, que estruturam a interação social, econômica e política.

AMBIENTE ORGANIZACIONAL:

O ambiente organizacional é estruturado por entidades na área de influência da cadeia produtiva, tais como: agências de Fiscalização ambiental, agências de créditos, universidades, centros de pesquisa e agências credenciadoras.
Zylbersztajn (2005), comenta que o ambiente organizacional tem a função de gerir a provisão de bens públicos e coletivos, cuja oferta está sujeita à ação do Estado ou a de organizações de interesse privado. Desta forma, as organizações são os verdadeiros agentes que fazem os SAGs funcionarem. Essas se caracterizam, de acordo com o autor, por estruturas desenvolvidas para dar suporte ao funcionamento dos SAGs, como empresas, universidades, cooperativas e associações de produtores, institutos de pesquisa, entre outros.
É importante ressaltar, que tanto no ambiente organizacional, quando no institucional, não há a necessidade de acordos formais para que estes ambientes operem e gerenciem o SAG’s.

CADEIA PRODUTIVA

Uma Cadeia Produtiva pode ser determinada como um conjunto de etapas com sucessivas operações interligadas entre si em busca do atendimento de certa demanda. Segundo BATALHA et al. (2001), dentro do Sistema Agroindustrial, há a cadeia de produção agroindustrial que pode ser segmentada de jusante (diz quando a corrente de um rio tem o seu curso oposto à nascente), para a montante (diz quando a corrente de um rio tem o seu curso de acordo à nascente).
Existe na língua Portuguesa, vários usos para a palavra “cadeia”, mas no caso do agronegócio, basicamente, uma cadeia pode ser definida como um conjunto de setores que são interligados entre si e trabalham de forma coordenada. Há de se ressaltar que, ao mesmo tempo que uma cadeia é um conjunto de setores ela também está unida com outras cadeias, formando um sistema.

As Transações entre Cadeias

Segundo Williamson (1985), as transações realizadas pelos agentes econômicos se distinguem por três características: Frequência; Incerteza e Especificidades de ativos.
Para ele, dependendo da FREQUÊNCIA com que se realizam determinadas transações (não importa o número de vezes), o contrato entre as partes, passa a ter mais valor pelos acordos verbais do que os registrados, pois a reputação propicia que as partes adquiram conhecimento uma da outra, reduzindo a incerteza nas transações entre as partes e o comportamento oportunístico (PEREIRA; SOUZA; CÁRIO, 2009).
a) Para ele, a INCERTEZA é associada a eventos onde não há possibilidade de previsão dos possíveis acontecimentos, sendo que a incerteza da realização de um tipo de estratégia, ação é atribuída ao oportunismo, caracterizado como comportamento incerto. Porém, a incerteza, também pode levar ao rompimento contratual não oportunístico, pois pode estar relacionada ao surgimento de custos de transações irremediáveis, motivados por uma das características comportamentais, a racionalidade limitada.
b) O autor ainda explica que a especificidade de ativos, segundo, diz respeito aos investimentos específicos realizados para uma transação ou contratos específicos, não podendo ser reimplantados a outra transação sem que haja sacrifício do valor produtivo caso haja quebras de contrato por uma das partes.

CADEIA DOS INSUMOS

Segundo TOTVS (2020), A cadeia produtiva do agronegócio pode ser definida como todos os processos que ocorrem desde os insumos básicos até a transformação no produto final. Ou seja, envolve todas as etapas que o insumo sofre até se tornar um produto. Essas etapas, ou operações, são interligadas como uma corrente que tem uma finalidade comercial.
Com a globalização e o constante avanço da tecnologia, esse conceito está sempre evoluindo. Cada vez mais, as cadeias têm se transformado em uma grande rede de negócios e cooperações. O objetivo dessa rede é fazer com que os parceiros trabalhem em conjunto.
No caso da produção suinícola, a Cadeia de Insumos atende, desde a produção de insumos básicos para a nutrição animal, como adubo, sementes entre outros, até a geração própria ração que é entregue nas unidades produtoras, seja a granel ou ensacados.

CADEIA DA AGROPECUÁRIA

Na cadeia da Agropecuária, é que se produzem produtos para a agricultura e para a pecuária. Geralmente, este setor é produtor dos commodities, que são produtos com baixa agregação de valor, pois saem da propriedade agropecuária, diretamente para os setores de distribuição e consumo, sem passar pelo setor da indústria.
Nesta cadeia, há uma subdivisão, entre a agricultura e a pecuária, onde há atores nos processos que podemos chamar de agentes produtivos:
  • Agricultores: são os agentes cuja função é proceder ao uso da terra para produção de commodities tipo: madeira, cereais e oleaginosas. Estas produções são realizadas em sistemas produtivos tipo fazendas, sítios ou granjas.
  • Pecuaristas: são os agentes cuja função é fazer o manejo e nutrição dos animais tais como: bubalinos, suínos, aves, etc... E até mesmo das abelhas e outros insetos (bicho da seda, escargot, etc.)
Neste caso em estudo, a Cadeia da Agropecuária, é dirigida pelos pecuaristas que se desdobram para atuar na nutrição, manejo e sanidade dos animais.

CADEIA DA INDUSTRIA

A Cadeia da Indústria é onde ocorre uma das maiores agregações de valor no Sistema Agroindustrial, pois é onde há a transformação de commodities em produtos para consumo. Isso ocorre nas agroindústrias que são agentes capazes de pré-beneficiar, beneficiar, ou transformar os produtos.

Agentes da Cadeia da Indústria

  • Pré-beneficiamento - são as plantas encarregadas da limpeza, secagem e armazenagem de grãos;
  • Beneficiamento – são as plantas que padronizam e empacotam produtos como: arroz, amendoim, feijão e milho de pipoca;
  • Transformação - são plantas que processam uma determinada matéria prima e a transforma em produto acabado, tipo: óleo de soja, cereal matinal, polvilho, farinhas, álcool e açúcar.
Quando se trata da produção de suínos, as plantas frigoríficas são as que mais se destacam, pois atuam desde o recebimento até o embalo final das peças de carnes e até processados suínos.

CADEIA DA DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

A Cadeia da Distribuição e Comercialização é responsável por otimizar os “caminhos” entre a produção e o consumo de forma que proporcione competitividade à todas as cadeias do SAG’s.
Geralmente, após os produtos estarem transformados pela Cadeia da Indústria, vão para atacadistas/distribuidores e então para os varejistas, onde serão vendidos. Nesta cadeia, a LOGÍSTICA é o fator preponderante para a eficiência, pois os alimentos precisam chegar, com baixo custo e alta qualidade o mais rápido possível. Para isso é preciso muita tecnologia e esforço. A Cadeia da Distribuição e Comercialização tem basicamente os agentes atacadistas e os varejistas, que dependendo da situação, atuam em separado ou conjuntamente.

Agentes da Cadeia da Distribuição/Comercialização

  • Atacadistas: Os atacadistas são os grandes distribuidores que possuem por função abastecer redes de supermercados, postos de vendas e mercados no exterior.
  • Varejistas: Os varejistas constituem os pontos cuja função é comercializar os produtos junto aos consumidores finais.
No Brasil há uma certa resistência ao consumo de carne suína. Por isso, a Cadeia da Distribuição e Comercialização, que atua desde o recebimento da indústria, as peças embaladas, precisa com eficiência e baixo custo, entregar na mesa do consumidor, para ajudar a sustentar as outras cadeias do sistema.

CADEIA DO CONSUMIDOR:

Nesta cadeia, é o ponto final da comercialização constituído por grupos de consumidores. Este mercado pode ser doméstico, se localizado no país, ou externo quando em outras nações. A cadeia do consumidor tem grande importância na determinação do preço dos produtos, bem como da qualidade, apresentação, entre outros atributos. A cadeia do Consumidor é responsável por gerar a dinâmica (e por que não, o equilíbrio), da Oferta e Demanda. 
  • OFERTA: É a quantidade de produtos que vendedores DESEJAM E PODEM produzir para vender a diversos níveis de preço. Existe uma relação direta/ positiva entre preço e quantidade (Lei da Oferta)
  • DEMANDA: Quantidade de produtos que compradores DESEJAM E PODEM adquirir a diversos níveis de preço. Existe uma relação inversa/ negativa entre preço e quantidade (Lei da Demanda)
  • PONTO DE EQUILÍBRIO: É o ponto em que tanto as despesas da empresa (fixas e variáveis) e suas receitas totais fica em total equilíbrio e se cruzam no gráfico de Receitas e Despesas.
De nada adianta todos os atores das cadeias citadas serem excelentes se a Cadeia do Consumo não absorver os produtos e principalmente, devolver para as outras cadeias, as melhorias que desejam, além do capital financeiro.

RESUMINDO, ENTÃO TEMOS:

a) Um SISTEMA AGROINDUSTRIAL, é composto pelas 5 Cadeias do Agronegócio (insumos – agropecuária – indústria – distribuição – consumo);
b) Cada CADEIA DO AGRONEGÓCIO, tem vários Setores que geram produtos e serviços;
c) Cada SETOR de produção e serviços, tem seus Agentes de desenvolvimento;
d) Os AGENTES de desenvolvimento, são os responsáveis por trabalhar e gerar renda para todos os componentes do Sistema Agroindustrial.
Figura 2. As interrelações dentro do Sistema Agroindustrial.
Figura 2. As interrelações dentro do Sistema Agroindustrial.
No sistema agroindustrial, a suinocultura é uma das etapas da cadeia de produção de carne suína. Envolve a seleção de raças adequadas, o manejo nutricional dos animais, o controle sanitário, o alojamento e o cuidado com o bem-estar animal. A reprodução, o nascimento e o crescimento dos suínos são acompanhados de perto para garantir a saúde e o desenvolvimento adequado. Por outro lado, é responsável por milhares de empregos em todo o mundo, que participam de forma direta ou indireta nos elos das cadeias do agronegócio.
A criação de suínos pode ocorrer em diferentes escalas, desde pequenas propriedades familiares até grandes complexos agroindustriais. Independentemente do tamanho da operação, a suinocultura demanda cuidados e investimentos consideráveis, pois o bem-estar dos animais é crucial para a obtenção de uma carne saudável e segura. Em sistemas modernos, são empregadas práticas que visam garantir o conforto dos suínos, como o fornecimento de alimentação balanceada, ambiente limpo e adequado, e controle de doenças.
Além disso, a suinocultura está interligada a outras atividades do setor agroindustrial. A produção de ração animal, por exemplo, é um elo importante nessa cadeia. A utilização de insumos agrícolas, como grãos e cereais, na fabricação de rações, fortalece a relação entre a agricultura e a suinocultura, promovendo a integração entre diferentes segmentos produtivos.
No entanto, a suinocultura e o sistema agroindustrial enfrentam desafios significativos. Um deles é a preocupação com a saúde animal, como a ocorrência de doenças que podem afetar o plantel suíno. A adoção de medidas sanitárias rigorosas e o controle eficiente de doenças são fundamentais para manter a produção em níveis adequados e garantir a qualidade dos produtos.
Mas além de questões ambientais e sociais, há de se ressaltar a viabilidade como fator preponderante para o desenvolvimento da atividade, pois, de nada adianta a atividade ser socialmente justa, ambientalmente correta, se não for economicamente viável. Esses são os 3 pilares do desenvolvimento sustentável, que precisam ser interligados e dependentes entre si.
Diante disso, a problemática de transferir as plantas produtivas de suínos do sul para outras regiões do país, precisam levar em conta estes fatores como condição sine qua non para o desenvolvimento sustentável e é este o problema a ser perseguido por pesquisadores da área. Neste trabalho, não iremos abordar questões sociais e ambientais, apenas econômicas e técnicas. Mas é importante frisar a necessidade de levar em conta os três pilares da sustentabilidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

PROBLEMA DE PESQUISA

Ao elaborar o estudo, teve-se como PROBLEMA DE PESQUISA a seguinte dúvida: A Região Centro Oeste (especificamente Goiás), é mais competitiva que a Região Sul (especificamente Rio Grande do Sul), para a produção de suínos?
Segundo PORTER (1986), o Conceito de Competitividade pode ser determinado quando: a qualidade é ALTA e o custo é BAIXO. Neste sentido, o objeto de estudo é verificar se a qualidade e os custos das duas regiões têm diferenciais competitivos.

MÉTODO DE PESQUISA

Para ser definido o MÉTODO DE PESQUISA, usou-se a forma ortodoxa, separando o método em fase, como ensina GIL (2002). Para tanto definiu-se os seguintes passos:

Delineamento:

Este estudo, foi baseado no seguinte delineamento de pesquisa: Pesquisa APLICADA, com uso de dados SECUNDÁRIOS, com abordagem QUANTITATIVA, utilizando o método DESCRITIVO, através do procedimento de levantamento BIBLIOGRÁFICO E DOCUMENTAL.
Segundo Gil (1991) pesquisa aplicada visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofundando o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porquê das coisas. Para Vergara (2007), os dados secundários, são aqueles que já foram coletados, tabulados, ordenados e até mesmo analisados, com outros objetivos que não os da pesquisa em questão. E no que tange a abordagem quantitativa, vimos em Michel (2005), que ela utiliza a quantificação nas modalidades de coleta de informações e no seu tratamento, mediante técnicas estatísticas, tais como percentual, média, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, entre outros.
De acordo com Gil (1996), o método descritivo tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis. Segundo o autor, o estudo descritivo representa um nível de analise que permite identificar as características dos fenômenos, possibilitando, também, a ordenação e a classificação destes. O autor ainda fala que o levantamento bibliográfico e documental são investigações elaboradas a partir de documentos, os quais são interpretados na maioria das vezes de maneira quantitativa. Segundo o autor os objetivos da pesquisa documental são mais específicos visando a obtenção de dados em resposta a determinados problemas e não raro envolve o teste de hipóteses
Basicamente a fonte de dados, foi coletada diretamente na EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, mais especificamente no CIAS – Central de Inteligência de Aves e Suínos, disposto no site: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/custos/suino-uf. Obviamente, foram utilizados outros estudos para corroborar ou refutar os resultados.

Delimitação

O período de análise dos dados para este estudo, foi delimitado entre 2010 e 2020, por ser um tempo relativamente longo, porém não ter muitos óbices para parametrização. No tocante a área de análise, optou-se pelas regiões produtoras do Centro Oeste (com foco para o estado de Goiás) e Sul (foco para o Rio Grande do Sul), pois a intenção deste estudo é justamente analisar a competitividade entre as duas regiões do Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A ANÁLISE ESTATÍSTICA SOBRE OS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Para se fazer este estudo, optou-se por utilizar análise semelhante já feita, justamente para corroborar o estudo. Assim, utilizou o método de análise estatística já feito por Moreira, Fehr, Duarte (2017).

Tratamento dos Dados

Para a parametrização dos dados, utilizou-se o método da Regressão por meio da Simulação de Monte Carlo, com reamostragem Bootstrap. Os testes foram rodados por meio do software, IBM SPSS Statistics Base for windows versão 19.0.0.1.
Pode-se dizer que parametrização é o processo de definição dos parâmetros necessários para uma especificação completa ou relevante de um modelo estatístico. Algumas vezes, pode somente envolver a identificação de certos parâmetros ou variáveis.
Conforme aprendemos com IBM (2023), as Simulações de Monte Carlo avaliam o impacto do risco em muitos cenários da vida real, como inteligência artificial, preços de ações, previsão de vendas, gerenciamento de projetos e precificação. Elas também proporcionam uma série de vantagens sobre os modelos preditivos com informações fixas, como a capacidade de realizar análise de sensibilidade ou calcular a correlação de entradas. A análise de sensibilidade permite que os tomadores de decisão vejam o impacto de determinadas informações em um resultado específico e a correlação permite que eles entendam a relação entre quaisquer variáveis das informações.
Diferente de um modelo de previsão normal, a Simulação de Monte Carlo prevê um conjunto de resultados com base em um intervalo de valores estimados em relação a um conjunto de valores de entrada fixos. Em outras palavras, uma Simulação de Monte Carlo cria um modelo de resultados possíveis, usando uma distribuição de probabilidade, como uma distribuição uniforme ou normal, para qualquer variável que tenha incerteza inerente. Ela, então, recalculará os resultados sucessivamente, cada vez usando um conjunto diferente de números aleatórios entre os valores mínimo e máximo. Em um teste típico de Monte Carlo, este exercício pode ser repetido milhares de vezes para produzir um grande número de resultados prováveis.
Para Filho J.F. (2002), a reamostragem Bootstrap é uma técnica estatística que utiliza amostras aleatórias com reposição para estimar a distribuição de probabilidade de uma estatística de interesse a partir de um conjunto de dados observados. Essa técnica é particularmente útil quando não se sabe a distribuição subjacente dos dados, quando os dados são limitados ou quando os modelos estatísticos tradicionais são inadequados. O processo de reamostragem Bootstrap é bastante simples. Primeiro, é feita uma amostra aleatória com reposição dos dados originais. Em seguida, a estatística de interesse é calculada com base na amostra reamostrada. Esse processo é repetido várias vezes, produzindo várias estimativas da estatística de interesse. A distribuição das estimativas é então utilizada para construir um intervalo de confiança para a estatística de interesse.
Uma das principais vantagens da reamostragem Bootstrap é que ela permite que sejam feitas inferências sobre a distribuição de uma estatística de interesse sem assumir qualquer modelo paramétrico para os dados. Além disso, a técnica é relativamente fácil de implementar e pode ser aplicada a uma ampla variedade de problemas em várias áreas do conhecimento.

Análise de Regressão Estatística

A análise de Regressão enfatiza uma variável dependente, neste caso o custo total, através das variáveis independentes:
X1 = alimentação;
X2 = mão de obra;
X3 = custos de capital;
X4 = depreciação e
X5 = outros.
Dessa forma, foi criado um modelo a partir das variáveis estudadas, conforme segue:
𝑌𝑌i = 𝛽𝛽0 + 𝛽𝛽1 X1 + 𝛽𝛽2 X2 + ... + 𝛽𝛽𝑛𝑛𝑋𝑋𝑛𝑛 + 𝜖𝜖 (1)
Onde o 𝑌i é a variável dependente, 𝑋1 , …, 𝑋𝑛 são as variáveis independentes, 𝛽0 é a constante, 𝛽1 , ... , 𝛽𝑛 são os coeficientes e 𝜖, o erro, sendo que este possui média zero e variância 𝜎2.
𝐶𝐶𝑢𝑢𝑠𝑠𝑡𝑡𝑜𝑜 𝑡𝑡𝑜𝑜𝑡𝑡𝑎𝑎𝑙𝑙 = 𝐶𝐶𝑜𝑜𝑛𝑛𝑠𝑠𝑡𝑡𝑎𝑎𝑛𝑛𝑡𝑡𝑒𝑒 (𝛽𝛽0) + Alimentação (𝛽𝛽1) + Mão de Obra (𝛽𝛽2) + Custo de Capital (𝛽𝛽3) + Depreciação (𝛽𝛽4) + Outros (𝛽𝛽5) + Erro (𝜖𝜖).
Quando se faz análises estatísticas, geralmente há a possibilidade de distorção de resultados, por causa das formas de registro. Por isso, usou-se a técnica de simulação de Monte Carlo, realizando várias amostragens aleatórias em busca de aproximar os resultados reais, minimizando ao máximo os riscos de erros no modelo.
Em relação à reamostragem de Bootstrap, segundo Silva Filho (2017), esta é uma ferramenta utilizada para dados não paramétricos, ou seja, dispõe de variáveis que não concordam com a distribuição normal, em que se aplica a prática do intervalo de confiança para os coeficientes da reta de regressão. Nesse contexto, a reamostragem rejeita o ordenamento amostral exposta pela estatística e também pressupõe uma distribuição empírica, no qual ocorre a real distribuição da estatística no decorrer de centenas de amostras.

ANÁLISE DE RESULTADOS

Ao se analisar as regiões Centro Oeste e Sul, no tocante as variáveis que compõem o custo total da produção de suínos, percebe-se os seguintes coeficientes:
Tabela 1. Coeficientes gerados sobre os Custos de Produção de Suínos.
Tabela 1. Coeficientes gerados sobre os Custos de Produção de Suínos.
Ao analisar o estudo, utilizou-se modelos diversificados com o objetivo de identificar as principais determinantes nas relações entre as variáveis envolvidas que mais produzem impacto no valor do custo total da produção de suínos.
Observou-se, que as variáveis dependentes e independentes possuem uma correlação forte entre si, indicada pelo coeficiente de correlação (R) aproximadamente igual a 1. Além disso, constatou-se que tanto o coeficiente de determinação (R2) quanto o coeficiente de determinação ajustado confirmam que aproximadamente 100% da variação do custo total é explicada pelo modelo sugerido.
Tabela 2. Análise de variância nas regiões analisadas sobre os custos de produção.
Tabela 2. Análise de variância nas regiões analisadas sobre os custos de produção.
Lembrando as aulas de estatística, a soma dos quadrados representa uma medida de variação ou desvio da média. Para se calcular, é feito a soma dos quadrados das diferenças da média. O cálculo da soma total dos quadrados considera a soma dos quadrados proveniente dos fatores e da aleatoriedade ou do erro.
Sendo assim, pode-se constatar que a análise de variância pode ser validada por este estudo pois apresenta soma dos quadrados sem erros. A análise de Coeficientes é feita para parametrizar dados. Lembrando as aulas de matemática, o coeficiente é o número que multiplica uma variável em uma equação ou em um polinômio, sendo então um elemento constante. Desta forma, cada parte de um polinômio é multiplicada por um coeficiente, que pode ou não ser repetido. Assim, devemos lembrar que um polinômio, é uma expressão composta de números e letras. Estes são somados e/ou subtraídos e podem ser elevados a uma potência maior que um.
Tabela 3. Coeficientes das variáveis independentes nos custos de produção, nas regiões analisadas.
Tabela 3. Coeficientes das variáveis independentes nos custos de produção, nas regiões analisadas.
Em relação aos coeficientes da região Centro-oeste, exibidos na Tabela 3, percebeu-se que, com base nos resultados encontrados para essa região, a equação fundamental para a região CO seria:
Região Centro Oeste:
𝐶𝐶𝑢𝑢𝑠𝑠𝑡𝑡𝑜𝑜 𝑇𝑇𝑜𝑜𝑡𝑡𝑎𝑎𝑙𝑙 = 0,016 + 0,997 (X1) + 1,061 (X2) + 0,991 (X3) + 0,719 (X4) +1,019 (X5) (3)
Em relação aos coeficientes da região Sul, exibidos na Tabela 3, percebeu-se que, com base nos resultados encontrados para essa região, a equação fundamental para a região SUL seria:
Região Sul:
𝐶𝐶𝑢𝑢𝑠𝑠𝑡𝑡𝑜𝑜 𝑇𝑇𝑜𝑜𝑡𝑡𝑎𝑎𝑙𝑙 = 0,398 + 1,008 (X1) + 1,089 (X2) + 1,060 (X3) + 0,862 (X4) + 0,867 (X5) (4)
Na Região Centro Oeste, verifica-se que a variável que provoca maior impacto sobre o custo total é a variável MÃO DE OBRA, seguida da variável OUTROS, que engloba gastos veterinários, transporte e manutenção (que também engloba mão de obra, só que indiretamente), além de energia e combustíveis, aquisição de leitões, Funrural e sinistros, ficando a ALIMENTAÇÃO em terceira ordem de importância nos custos.
Na Região Sul, a variável de custos com maior impacto sobre os custos totais de produção de suínos foi também a MÃO DE OBRA, seguida da variável ALIMENTAÇÃO, muito próxima da variável CUSTOS DE CAPITAL, a qual engloba os juros sobre capital médio das instalações e equipamentos sobre reprodutores e sobre capital de giro.
Gráfico 1. Ranking dos Custos de Produção de suínos nas regiões selecionadas em análise de coeficientes independentes.
Gráfico 1. Ranking dos Custos de Produção de suínos nas regiões selecionadas em análise de coeficientes independentes.
Este estudo científico, contraria as falácias de que no Centro Oeste é melhor de produzir suínos, por causa do custo da alimentação, tendo em vista que as grandes fazendas produtoras de milho e substratos da ração vem desta região. O que a análise dos coeficientes mostra é que NÃO É A ALIMENTAÇÃO o fator preponderante na competitividade do Centro Oeste em relação a região Sul. O ganho de competitividade está no custo da mão de obra, nos custos de capital e na depreciação.
Diante disso, entra-se em uma quebra de paradigmas que geram outras de forma sistêmica, pois, a qualidade técnica na produção de suínos pelo oligopólio da suinocultura está no mesmo patamar nas duas regiões. Desta forma temos que observar os seguintes pontos de discussão:
a) O Custo da Mão de Obra da região Centro Oeste é mais barata, porque o nível de escolaridade e a qualificação profissional é - em média – mais baixa que no Sul. Porém, há de se ressaltar que os custos denominados OUTROS, tem variáveis como: veterinário, transporte e manutenção, que são custos de mão de obra, porém, indiretos.
b) O Custo de Depreciação da região Centro Oeste é mais baixa, porque AINDA não há passivo ambiental para resolver, como já foi e é o caso do Sul, onde alguns proprietários estão com dificuldades de expansão, devido aos critérios técnicos (legislação ambiental), e pelas características das propriedades (pequenas propriedades). E também a própria descapitalização dos estabelecimentos agropecuários, o que não se vê com a mesma intensidade na região Centro-Oeste. Há de se ressaltar, que o Sul, também tem maiores custos de manutenção, o que gera um aceleramento da depreciação.
c) O custo de Capital da região Centro Oeste é mais baixo, porque esta região ainda está em um ciclo de expansão da atividade, enquanto no Sul, muitas famílias estão encerrando o ciclo geracional. Desta forma, a questão retorno do investimento, tem maior importância para os criadores do Sul do que para os do Centro Oeste que ainda vivem um entusiasmo econômico.
De posse das informações econômicas, embasadas por estudo científico e parametrizado, incrementado com as análises empíricas feitas in loco, pode-se afirmar que, a tendência para as próximas décadas, é um certo aumento da migração da atividade suinícola da região Sul para a Centro Oeste, por causa da competitividade, mas que não se dá por causa dos custos de alimentação, como algumas falácias determinam. Desta forma, outro fator a ser estudado é o conforto ambiental, que é uma questão técnica, a ser vista a seguir.

ANÁLISE TÉCNICA DO CONFORTO AMBIENTAL PARA A PRODUÇÃO

Temperatura no ambiente interno

No que tange a técnica de produção, manejo e nutrição, na prática em visitas as propriedades no Sul e Centro oeste, não se vê mudanças significativas que precisem ser destacadas neste estudo. Porém, observa-se que a temperatura é um dos grandes diferenciais, pois, enquanto em Goiás, os produtores necessitam trabalhar com ventilação, no Rio Grande do Sul, é preciso trabalhar com o aquecimento. Mas as duas regiões entram em um paradoxo entre temperatura X umidade relativa do ar e qualidade do ar.
Neste sentido, percebe-se que o conforto térmico desempenha um papel crucial no manejo de suínos, pois a temperatura e a umidade adequadas têm um impacto significativo no bem-estar, saúde e desempenho dos animais. Manter os suínos em um ambiente termicamente confortável é essencial para garantir o crescimento saudável, a produção eficiente e reduzir o estresse térmico.
Os suínos são animais sensíveis às variações de temperatura e têm dificuldade em regular a própria temperatura corporal. Quando expostos a temperaturas extremas, tanto altas quanto baixas, os suínos podem sofrer de estresse térmico, que resulta em redução/ aumento do consumo de alimentos, compromete o crescimento e a suscetibilidade a doenças. Portanto, proporcionar um ambiente adequado é fundamental para promover o conforto térmico dos suínos.
No manejo de suínos, é importante considerar diversos fatores relacionados ao conforto térmico. Um desses fatores é a temperatura ambiente. É necessário monitorar e controlar a temperatura dentro das instalações onde os suínos estão alojados, especialmente durante os períodos de temperaturas extremas. Recomenda-se manter a temperatura entre 18°C e 22°C para suínos em crescimento, enquanto para leitões recém-nascidos a faixa ideal é de 28°C a 32°C. A utilização de sistemas de aquecimento e refrigeração, como aquecedores, ventiladores e nebulizadores, pode ser necessária para manter a temperatura adequada (MOSTAÇO, 2014).

Umidade relativa do ar no ambiente interno

Outro fator importante é a umidade relativa do ar. Altos níveis de umidade podem aumentar a sensação de calor nos suínos, enquanto baixos níveis de umidade podem resultar em desconforto respiratório. A umidade relativa ideal para a criação de suínos varia de acordo com a idade dos animais. Para leitões recém-nascidos, a umidade relativa deve ser mantida em torno de 70% a 80%. Isso é importante porque os leitões têm uma superfície corporal relativamente grande em comparação ao seu tamanho, o que os torna mais suscetíveis ao estresse térmico. Além disso, níveis de umidade mais altos ajudam a prevenir o ressecamento das vias respiratórias e a reduzir a propagação de doenças respiratórias (CAMPOS, 2009).
Conforme os suínos crescem e se desenvolvem, a umidade relativa pode ser reduzida gradualmente para cerca de 50% a 70%. Essa faixa ajuda a evitar o acúmulo excessivo de umidade, o que poderia levar ao crescimento de fungos e bactérias nocivas. Também é importante manter uma boa ventilação no ambiente, pois isso ajuda a controlar a umidade e a remover gases prejudiciais, como amônia, provenientes dos dejetos dos animais (CAMPOS, 2009).
Segundo Campos (2009), a falta de umidade relativa adequada pode levar a problemas de saúde nos suínos. Em condições de baixa umidade, os animais podem experimentar ressecamento das vias respiratórias, o que pode resultar em problemas respiratórios, tosse e maior susceptibilidade a infecções. Além disso, a pele dos suínos pode ficar seca e rachada, o que aumenta o risco de lesões e infecções cutâneas.
Por outro lado, altos níveis de umidade podem criar um ambiente propício para o crescimento de microrganismos patogênicos e aumentar o risco de doenças infecciosas. O acúmulo de umidade também pode levar à proliferação de ácaros e moscas, que podem afetar negativamente a saúde dos suínos (CAMPOS, 2009).

A qualidade do ar no ambiente interno

Além disso, a qualidade do ar é um aspecto fundamental para garantir o conforto térmico dos suínos. A boa circulação de ar é essencial para remover a umidade excessiva, gases tóxicos e partículas suspensas, como poeira e amônia, que podem afetar negativamente a saúde dos animais. A ventilação adequada das instalações, combinada com sistemas de filtragem do ar, ajuda a manter uma atmosfera saudável e confortável para os suínos.
Campos (2009), ainda ressaltar que um dos principais problemas associados à má qualidade do ar na criação de suínos é a presença de gases tóxicos, como amônia e sulfeto de hidrogênio. Esses gases são produzidos principalmente a partir do esterco e da urina dos suínos. Quando a ventilação é insuficiente, esses gases podem se acumular nos ambientes de criação, atingindo níveis prejudiciais à saúde dos animais. A exposição contínua a altos níveis de amônia e sulfeto de hidrogênio pode causar problemas respiratórios, irritações nos olhos e nas vias aéreas dos suínos. Além disso, esses gases podem comprometer o sistema imunológico dos animais, tornando-os mais suscetíveis a doenças respiratórias e infecções.
Colabora de forma significativa para as alterações climáticas os gases emitidos pelos sistemas de criação de suínos, como o CO2 o CH4 e os gases de N (NH4, N2O e N2). Estudos de qualidade do ar indicam que as emissões dos sistemas de tratamento de dejetos de suínos têm alto potencial de afetar negativamente a qualidade do ar local, regional (DAI PRA et al., 2008). Para manter uma boa qualidade do ar na criação de suínos, são necessárias medidas adequadas de manejo ambiental. A ventilação adequada é fundamental para garantir a circulação de ar fresco e a remoção dos gases tóxicos. Isso pode ser feito com ventilação positiva, onde além de ligar ventiladores, pode-se abrir cortinas e, controlar os níveis gases expelidos no ambiente. No caso de ventilação negativa, além dos mesmos princípios adotados, os diferenciais estão no tipo de ventilação, que podem ser por exaustores, placas evaporativas ou inlets (abertura de paredes laterais).
Além disso, o manejo correto dos resíduos, como a limpeza regular das instalações e a remoção adequada do esterco, é fundamental para controlar a produção de gases tóxicos. O uso de tecnologias de tratamento de resíduos, como biodigestores, também pode ajudar a reduzir a emissão de gases prejudiciais (CAMPOS, 2009).

Análise empírica das duas regiões

No caso de Goiás, onde a temperatura é um pouco mais quente, para o sistema de ventilação natural, observa-se as técnicas de exaustão ou pressurização (ventilação negativa ou positiva). Lembrando que o correto dimensionamento do equipamento de ventilação, deve atender à demanda máxima de renovação de ar nos períodos mais quentes, principalmente observando a qualidade do ar e a sua umidade relativa. Pode-se também adotar o sistema de resfriamento evaporativo por nebulização em alta pressão (> 200psi) para evitar estresse térmico em dias quentes (EMBRAPA, 2003).
No caso do Rio Grande do Sul, com a queda na temperatura no inverno, é comum que os galpões sejam mantidos fechados. Porém, após as 12 hs do dia, muitas vezes há um aquecimento gerado pelo sol, o que gera, gases CO2 o CH4 e os gases de N (NH4, N2O e N2), segundo DAI PRA et al., (2008). Caso não haja controle rigoroso da temperatura de ventilação durante o dia, abrindo e fechando os inlets (ou cortinas), há a possibilidade de problemas pulmonares nos suínos. Além disso, o Sul tem muita variação de temperatura, o que pode gerar estresse e também baixar a imunidade dos animais.
Sendo assim, as duas regiões merecem muito cuidado na questão ambiental, principalmente observando as variáveis, temperatura; umidade do ar e qualidade do ar nas instalações, para garantir um bom manejo animal e consequente melhoria na produção.
Há de se ressaltar que tecnicamente, não se vê grande diferença no que tange as questões técnicas para o manejo e produção de suínos, pois enquanto em uma região o calor precisa ser amenizado no outro é o frio. Sendo assim, tecnicamente não se pode afirmar qual das duas regiões é a melhor para a produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há poucos estudos sobre a gestão da suinocultura, tendo como enfoque os Sistemas Agroindustriais e seus encadeamentos. Além disso, o uso da econometria, que é a estatística econômica aplicada ao agronegócio, também é pouco difundido nos cursos de veterinária e zootecnia, talvez por parecer ser difícil. Então, quando aliamos os conhecimentos técnicos veterinários com conhecimentos da matemática e economia, conseguimos galgar respostas para a suinocultura que pode ajudar na tomada de decisões, desde pequenos criadores até os oligopólios da área.
Diante disso, este estudo teve como objeto, descobrir se há maior competitividade na região Sul ou Centro oeste do Brasil, no que tange a produção de suínos.
Após rodar analisar as variáveis coletadas na EMBRAPA, no software IBM SPSS Statistics Base for windows versão 19.0.0.1 e utilizar a reamostragem de Boostrap, chegou-se ao resultado contrário do que se esperava, pois, a intenção era comprovar que a alimentação era o fator principal para apoiar a transferência das plantas suinícolas do Sul para o Centro oeste. No entanto, os resultados NEGARAM as expectativas dos pesquisadores. Então, decidiu-se refazer todos os lançamentos em busca de dirimir erros, mas, ao analisar os cálculos, novamente deu o mesmo resultado. Assim, constatou-se que o estudo quebra um paradigma de que as plantas suinícolas são transferidas por causa do custo com alimentação.
O que a análise dos coeficientes mostra é que NÃO É A ALIMENTAÇÃO o fator preponderante na competitividade do Centro Oeste em relação a região Sul. O ganho de competitividade está no CUSTO DA MÃO DE OBRA, NOS CUSTOS DE CAPITAL E NA DEPRECIAÇÃO.
Então, de posse dos resultados econômicos, partiu-se para analisar o manejo técnico sobre a produção de suínos nas regiões em estudo. No caso de Goiás, onde a temperatura é um pouco mais quente, para o sistema de ventilação natural, observa-se as técnicas de exaustão ou pressurização (ventilação negativa ou positiva). Lembrando, que o correto dimensionamento do equipamento de ventilação, deve atender à demanda máxima de renovação de ar nos períodos mais quentes, principalmente observando a qualidade do ar e a sua umidade relativa. Pode-se também adotar o sistema de resfriamento evaporativo por nebulização em alta pressão para evitar estresse térmico em dias quentes.
No caso do Rio Grande do Sul, com a queda na temperatura do inverno, é comum que os galpões sejam mantidos fechados. Porém, após o meio dia, muitas vezes há um aquecimento gerado pelo sol, o que geram gases tóxicos para os animais. Caso não haja controle rigoroso da temperatura de ventilação durante o dia (abrindo e fechando as cortinas), há a possibilidade de problemas pulmonares nos suínos. Além disso, o Sul tem muita variação de temperatura, o que pode gerar estresse e também baixar a imunidade dos animais.
Assim, conclui-se que, no fator econômico (viabilidade financeira), a região Centro Oeste tem menos custos de produção, não pela alimentação, mas pela baixa remuneração da mão de obra, pela baixa expectativa de ganhos dos goianos e pela baixa depreciação, pois as plantas são novas e não tem passivo ambiental AINDA.
E no fator técnico (manejo e sanidade), não há diferenças entre as duas regiões, pois enquanto uma região necessita de cuidados com o frio, a outra é com o calor a preocupação.
Porém, além da visão microeconômica e técnica, há de se ressaltar a necessidade de análise macroeconômica, ou seja, como está estruturado o Sistema Agroindustrial, que comportará as cadeias do agronegócio e se estas cadeias estão organizadas e preparadas para absorver os setores produtivos da suinocultura. Isso demanda de um uma logística incrível em um país gigante como o Brasil. É preciso que haja mais estudos com este enfoque, observando se a forma como está estruturada a cadeia da suinocultura garantirá competitividade nas próximas décadas, frente à concorrência internacional e se a simples migração de plantas suinícolas é o suficiente

CAMPOS, Josiane A. QUALIDADE DO AR, AMBIENTE TÉRMICO E DESEMPENHO DE SUÍNOS CRIADOS EM CRECHES COM DIMENSÕES DIFERENTES. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eagri/a/Y5ymtmGvJKbMff6YSdLBnJg/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Para%20su%C3%ADnos%2C%20a%20umidade%20ambiente,2004)%2C%20 SAMPAIO%20et%20al Acesso em 25/06/2023.

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a tendência para as próximas décadas, é um certo aumento da migração da atividade suinícola da região Sul para a Centro Oeste, por causa da competitividade, mas que não se dá por causa dos custos de alimentação.

Recomenda-se manter a temperatura entre 18°C e 22°C para suínos em crescimento.

Isso é importante porque os leitões têm uma superfície corporal relativamente grande em comparação ao seu tamanho, o que os torna mais suscetíveis ao estresse térmico.

Colabora de forma significativa para as alterações climáticas os gases emitidos pelos sistemas de criação de suínos, como o CO2 o CH4 e os gases de N (NH4, N2O e N2).
Autores:
Carlos Alexandre Oelke
Leandro Tiago Sperotto
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