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RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA E SOROTIPOS DE Salmonella enterica CIRCULANDO NA PRODUÇÃO SUÍNA BRASILEIRA

Publicado: 13 de outubro de 2016
Por: KETRIN C. SILVA1*, LUCIANE T. S. ZUCON1, VASCO TULIO DE M. GOMES1, DENIS H. NAKASONE1, THAIS S.P. FERREIRA1, NILTON LINCOPAN2, ANDREA M. MORENO1. 1Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ/USP- São Paulo/SP 2 Instituto de Ciências Biomédicas - ICB- São Paulo/SP
Sumário

Salmonella enterica é um dos principais agentes bacterianos isolados de infecções de origem alimentar em humanos. No presente estudo foram avaliadas 50 estirpes de Salmonella entérica isoladas em sistemas de produção de suínos no Brasil. Dentre estas estirpes 49 apresentaram multirresistência e foram caracterizadas como positivas para os genes tetA/tetB (tetraciclina), sul1/sul2/sul3 (sulfametoxazol), aadA1/ant2 (aminoglicosídeos) e floR (florfenicol). Além disso, houve predominância do sorotipo Salmonella Typhimurium. Dessa forma, faz-se necessário a adoção de medidas a fim de prevenir a disseminação de fenótipos resistentes tanto na produção suína quanto na população humana por via zoonótica.

 

Palavras-chave: porco; antibióticos; Salmonella Typhimurium.


Introdução
Salmonella enterica tem assumido importância epidemiológica pelos inúmeros surtos infecciosos causados pelo consumo de alimentos contaminados. No Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde afirma terem ocorrido 1275 surtos por Salmonella no período de 1999 a 2008, correspondendo a 42,9% do total de surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos no país (DTAs). Além disso, na região Sul, as taxas de DTAs causadas por Salmonella enterica variam de 33,8% a 74,7%, resultando em perdas diretas e indiretas, devido aos custos com hospitalização, ausência no  emprego, improdutividade (AMSON et al., 2006; NADVORNY et al, 2004). Dentre os alimentos frequentemente envolvidos na disseminação de Salmonella, podemos citar ovos, carne de frango e carne suína.
 
Dessa forma, o controle de Salmonella spp. ao longo da cadeia de produção de produtos de origem animal é fator preponderante na prevenção de salmoneloses de ordem comunitária, especialmente dos sorotipos mais prevalentes ou específicos de animais produção, mas que podem causar graves infecções em humanos, como, por exemplo Salmonella Typhimurium. Os diversos sorotipos de Salmonella enterica geralmente causam gastroenterites auto limitantes, que não requerem tratamento antimicrobiano. Porém, infecções severas necessitam de antibioticoterapia. Além disso, o controle das salmoneloses na produção animal dá-se por administração de agentes antimicrobianos. Portanto, a emergência de fenótipos resistentes é de grande importância para medicina veterinária e humana. Diante disso, esse trabalho visa determinar o perfil fenotípico e genotípico de resistência antimicrobiana de estirpes de Salmonella enterica isoladas da cadeia de produção suína, assim como estabelecer os sorotipos infectantes.
 
Materiais e métodos
Foram avaliadas 50 estirpes de Salmonella enterica isoladas de carcaças, linfonodos e suínos doentes em granjas e abatedouros dos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A sorotipagem foi realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro por aglutinação em lâmina. Posteriormente, o perfil de resistência antimicrobiana foi avaliado pelo método de Kirby- Bauer e a determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi realizada por ágar diluição de acordo com as recomendações do CLSI. Finalmente, a pesquisa dos genes de resistência i) tetA, tetB, tetC, tetG; ii) sul1, sul2, sul3; iii) floR; iv) ant2, ant4, aac6, aadD, aadB, aadA, aadA1 and v) qnrA, qnrB, qnrS, aac6'-Ib-cr foi feita por PCR.
 
Resultados e Discussão
As 50 estirpes isoladas da produção suína foram distribuídas em cinco diferentes sorotipos, Salmonella Typhimurium (46), Salmonella enterica 4,5,12:i:− (1), Salmonella London (1), Salmonella Anatum (1) e Salmonella Bredeney, as quais foram resistentes a ampicilina (90%), tetraciclina (80%), sulfametoxazol (60%), ácido nalidíxico (52%), estreptomicina (42%) e gentamicina (42%) (Tabela 1). Um total de 49/50 isolados exibiram perfil de multirresistência, debido a presença dos genes tetA/tetB (tetraciclina), sul1/sul2/sul3 (sulfametoxazol), aadA1/ant2 (aminoglicosídeos) e floR (florfenicol). Além disso, apenas amicacina, ceftiofur e imipenem foram efetivos contra todos os isolados de Salmonella sp.
 
Nesse estudo, dentre as 50 estirpes de Salmonella isoladas de suínos, carcaças e linfonodos, >90% pertenciam ao sorotipo Typhimurium, um dos cinco sorotipos mais frequentes nos quadros de infecção de origem alimentar em todo o mundo. De fato, Salmonella Typhimurium tem sido frequentemente isolada no Brasil em suínos, aves, alimentos e infecções humanas. Curiosamente, apenas uma estirpe foi classificada como o sorotipo Salmonella 4,5,12:i:− , que é altamente disseminado na produção suína em diversos países e que compartilha quase todos os fatores antigênicos com Salmonella Typhimurium. De fato, a expansão desse sorotipo dentro da população humana na Europa tem sido associada ao consumo de carne suína e alimentos derivados. No Brasil, o sorotipo 4,5,12:i:– tem sido isolado de amostras clínicas humanas e fontes não-humanas, mas relatos na produção suína tem sido escassos, distinguindo-se da produção europeia.
 
A emergência de fenótipos e genótipos resistentes tem sido um grande desafio tanto para medicina humana quanto veterináriac (MICHAEL et al, 2008). No presente estudo, 49 estirpes de Salmonella apresentaram multirresistência, sendo o perfil de resistência nal-sul-tet o mais frequente. O mecanismo de resistência em várias estirpes não foi identificado, este fato deve-se a ocorrência de outros genes mediando resistência a tetraciclina e aminoglicosídeos, além das bombas de efluxo. A resistência a quinolonas, não avaliada neste estudo, pode estar associada a mutações nas regiões dos genes gyrB, gyrA e parC.
 
Conclusões
A infecção de suínos por Salmonella enterica ocorre em alta frequência no país. A disseminação de estirpes multirresistentes do agente representa um grande risco de contaminação da carne suína. Dessa forma, faz-se necessário a implementação de medidas de controle nas diferentes etapas da cadeia de produção de suínos a fim de prevenir a disseminação de fenótipos resistentes transmitidos por via zoonótica.
 
Tabela 1. Susceptibilidade de Salmonella enterica isolada da produção de suínos a diversos antimicrobianos e genes de resistência
RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA E SOROTIPOS DE Salmonella enterica CIRCULANDO NA PRODUÇÃO SUÍNA BRASILEIRA - Image 1
 
Referências bibliográficas
1. AMSON, G. V.; HARACEMIV, S. M. C.; MASSON, M. L. Levantamento de dados epidemiológicos relativos a ocorrências/ surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) no estado do Paraná – Brasil, no período de 1978 a 2000. Ciênc. Agrotec., v.30, n. 6, p. 1139-1145, 2006.
2. MICHAEL, G. B., CARDOSO, M., & SCHWARZ, S. Molecular analysis of multiresistant porcine Salmonella enterica subsp. enterica serovar Bredeney isolates from Southern Brazil: identification of resistance genes, integrons and a group II intron. International Journal of Antimicrobial Agents, v. 32, n. 2, p. 120–9, 2008.
3. NADVORNY, A., FIGUEIREDO, D.M.S., SCHMIDT, V. Ocorrência de Salmonella sp. em surtos de doenças transmitidas por alimentos no Rio Grande do Sul em 2000. Acta Scient. Vet., v. 32, n. 1, p. 47-51, 2004.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Ketrin C. Silva
USP -Universidade de São Paulo
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