Explorar

Comunidades em Português

Anuncie na Engormix

Mercado Suinocultura Brasileira

A suinocultura brasileira em 2008 e cenários para 2009

Publicado: 12 de fevereiro de 2009
Por: Marcelo Miele
Este artigo organiza um conjunto de informações para caracterizar as condições de mercado em 2008 e as perspectivas para 2009.


Duas realidades em 2008
O ano de 2008 deve ser analisado em dois momentos. De um lado os três primeiros trimestres e, de outro, o período pós crise financeira internacional e seus desdobramentos na estrutura produtiva (a chamada economia real). Até os meses de setembro e outubro se configurou o cenário mais otimista traçado no final de 2007 com os mercados interno e externo aquecidos, queda no preço do milho e reconhecimento internacional da condição sanitária dos nossos rebanhos. Por outro lado, o último trimestre já apresenta uma deterioração significativa nas margens do suinocultor e suscita dúvidas quanto à capacidade dos mercados interno e externo absorverem nos atuais níveis de preços a produção de 2009 (em fase de gestação ou de engorda).
O alojamento de matrizes do rebanho industrial manteve a tendência de aumento verificada desde o final de 2004, com um crescimento estimado em 3,4% de 2007 para 2008, atingindo 1,526 milhões de cabeças. A estimativa de oferta de animais para abate só não cresceu na mesma proporção (+2,8%) em função de problemas com a circovirose em algumas regiões, que interromperam os ganhos de produtividade. Além disso, o aquecimento das vendas levou a uma pequena redução no peso médio das carcaças, o que também limitou as estimativas de crescimento na oferta de carne suína do rebanho industrial em 1,5%, atingindo 2,684 milhões de toneladas.
O preço do suíno vivo nas principais regiões produtoras sofreu apreciação de meados de 2007 até o final do terceiro trimestre de 2008. Enquanto que no segundo semestre de 2007 esta valorização foi em grande parte absorvida pelo aumento no preço dos grãos, em 2008 a lucratividade da atividade se recompôs tendo em vista que o preço do milho não acompanhou o do suíno vivo. As regiões Centro-Oeste e Sudeste apresentaram uma recuperação mais acentuada do que a região Sul, provavelmente refletindo as diferenças de estrutura de mercado (leia-se maior ou menor presença das integrações).
A crise financeira internacional teve impacto não apenas na demanda (interna e externa), mas também na saúde financeira das agroindústrias e na disponibilidade de crédito. Nesta nova realidade, ocorreu uma redução significativa no preço do suíno vivo a partir de novembro e, em alguns estados, a suspensão temporária das vendas de suinocultores não integrados. Esta situação se evidencia na relação de troca entre o preço do suíno vivo e o preço dos grãos (Fig. 1), bem como na comparação entre o acumulado de Nov/07 a Out/08 e Dez/07 a Nov/08 (Fig. 2).

A suinocultura brasileira em 2008 e cenários para 2009 - Image 1
Fig. 1 – Relação de troca entre o preço do suíno vivo e o preço dos grãos (70% milho + 30% soja) em Minas Gerais, Mato Grosso e na região Sul (Dez/07 a Nov/08)
Fonte: ACCS, Acrismat, Acsurs, Asemg, Conab e Deral-PR.


Os abates SIF cresceram 5% entre os períodos Jan-Out/07 e Jan-Out//08 refletindo a situação do mercado interno. Essa condição de mercado aliada a ações de promoção e investimentos em novos cortes e logística levou à retomada dos preços da carne suína in natura acima da inflação ao consumidor medida pelo IPCA, e acima do grupo alimentos e bebidas (Fig. 2). Em relação às demais carnes, verifica-se uma perda de competitividade frente à carne de frango, cuja oferta elevada reduziu o crescimento dos preços. Ocorreu o contrário em relação à carne bovina, cuja valorização abriu espaço para as demais carnes (Fig. 2). Os produtos processados como presunto, lingüiça, salsicha e salsichão apresentaram variação mais modesta, mas acima da inflação (com exceção da mortadela).

A suinocultura brasileira em 2008 e cenários para 2009 - Image 2
Fig. 2 – Variação nos preços ao longo da cadeia produtiva.
Fonte: IBGE, Abipecs, ACCS, Acsurs, Conab e Deral-PR.

Por sua vez, as exportações devem fechar o ano com uma queda de 6% nos volumes comercializados, com 571 mil toneladas em 2008 frente a 606,5 mil toneladas em 2007. Entretanto, esta queda foi mais do que compensada pela elevação no preço da carne suína no mercado internacional (Fig. 2), que ultrapassou o valor de US$ 3.180 por tonelada em setembro. Os ganhos com as exportações ainda foram impulsionados pela desvalorização do Real frente ao Dólar (de 41% entre agosto e novembro de 2008). A queda nos volumes exportados elevou a disponibilidade interna de carne suína e também os estoques das agroindústrias. Além disso, aponta para a perda de competitividade do produto brasileiro e menor participação no mercado internacional, onde se destaca o desempenho dos EUA, cujas exportações cresceram de 28% do mercado mundial em 2007 para 39% em 2008. Neste mesmo período China e Canadá perderam espaço e a União Européia manteve-se estável.

Cenários para 2009
Para 2009, algumas tendências já estão consolidadas. A oferta de animais para abate e a produção de carne suína estão praticamente dadas, com um crescimento semelhante ao ano de 2008 ou um pouco superior caso haja maior controle da circovirose. O preço da carne bovina deve se manter elevado devido à menor oferta, perdendo competitividade para as demais carnes, sobretudo à de frango. Além disso, as empresas exportadoras se beneficiarão do novo patamar do câmbio.

Dadas estas tendências, os preços e a rentabilidade na cadeia produtiva dependerão de duas incertezas. A primeira delas diz respeito à capacidade dos mercados interno e externo absorverem a oferta atual de carne suína. A segunda, que acompanha a suinocultura brasileira ao longo dos anos, refere-se ao reconhecimento internacional da sanidade do rebanho bovino brasileiro (Fig. 3).
O ano de 2008 foi marcado pela contínua melhora no reconhecimento internacional da condição sanitária do rebanho bovino, com reflexos para a carne suína através do avanço nas negociações de acordos sanitários com a China e o Japão, bem como a abertura do mercado Chileno. Além disso, a forte demanda interna e os elevados preços no mercado mundial caracterizaram uma situação de mercado bastante aquecido. Assim, configurou-se um cenário de crescimento da suinocultura brasileira denominado de “SEGUINDO EM FRENTE” (Fig. 3), sendo que até o terceiro trimestre a passos firmes.
Como apontado anteriormente, a crise financeira internacional já está trazendo desdobramentos para a economia real. Entretanto, em um cenário otimista de crescimento do PIB brasileiro de 3% e pouca perda de dinamismo das economias emergentes, se mantém a atual demanda por alimentos. Outro fator que impulsionaria as vendas neste cenário é a possibilidade de acesso aos mercados da China e do Japão. Assim, mantido o atual reconhecimento sanitário do rebanho bovino brasileiro, se configuraria um cenário favorável denominado “SEGUINDO EM FRENTE”, semelhante a 2008 mas um pouco menos dinâmico devido aos desdobramentos da crise nos países desenvolvidos (2009 A na Fig. 3). Neste caso, não ocorreria o acúmulo de estoques nas agroindústrias e as margens de lucro na suinocultura se manteriam positivas.
Caso ocorra um aprofundamento da crise financeira internacional, com uma significativa retração da economia brasileira e dos países emergentes, se configuraria um cenário denominado de “AJUSTE À CRISE” através do acúmulo de elevados estoques excedentes nas agroindústrias e da redução do preço do suíno a níveis iguais ou inferiores aos custos de produção (2009 B na Fig. 3). Esse quadro se agravaria ainda mais caso as exportações dos EUA avancem no mercado russo, tomando espaço do produto brasileiro. Por fim, a ocorrência de um lamentável retrocesso na condição sanitária do rebanho bovino levaria a um cenário de “DESASTRE” com o fechamento dos mercados exportadores em um momento de restrição da demanda interna em função da redução da atividade econômica (2009 C na Fig. 3).

A suinocultura brasileira em 2008 e cenários para 2009 - Image 3
Fig. 3 – Cenários para a suinocultura em 2009
Fonte: elaborado pelos autores.
Obs.: as estrelas (P) indicam a localização de cada ano nos cenários propostos, as setas (é) indicam as possíveis direções para os cenários futuros.


Considerções finais
Os sinais sobre a economia real ainda são confusos, não havendo consenso entre os especialistas e analistas de mercado quanto aos rumos em 2009. Nesse sentido, a principal incerteza é a capacidade do mercado em absorver a oferta de alimentos em geral, e de carne suína em particular. Mais do que nunca, isso reforça a necessidade de manter o reconhecimento internacional do controle sanitário do rebanho bovino. Espera-se com os três possíveis cenários acima desenhados trazer uma contribuição aos atores da cadeia produtiva e aos formuladores de política pública para melhor vislumbrar as possibilidades que configurarão o ano de 2009.
Tópicos relacionados:
Autores:
Marcelo Miele
Embrapa Suínos e Aves
Embrapa Suínos e Aves
Recomendar
Comentário
Compartilhar
Profile picture
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Usuários destacados em Suinocultura
S. Maria Mendoza
S. Maria Mendoza
Evonik Animal Nutrition
Evonik Animal Nutrition
Gerente de Investigación
Estados Unidos
Ricardo Lippke
Ricardo Lippke
Boehringer Ingelheim
Estados Unidos
Jose Piva
Jose Piva
PIC Genetics
Estados Unidos
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.