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Manejo Pré-Abate Produtores

Manejo Pré-Abate: uma Visão de Produtores, Transportadores e Técnicos

Publicado: 17 de abril de 2012
Por: Dr. Osmar Dalla Costa; Roberto de Oliveira Roça; Claudio Rocha de Miranda; Natália Bortoleto Athayde; Aurélia Pereira de Araújo; José Rodolfo Panim Ciocca; Clênio Arborte; Leocir Balbinott.
Introdução
A produção de suínos no Brasil tem apresentado crescimento acentuado. Entretanto, pouco ainda se tem feito para incrementar o bem-estar dos animais com vistas à redução das perdas durante o manejo pré-abate.
A suinocultura apresenta no seu processo produtivo, desde o nascimento até o abate, diferentes etapas que podem submeter os animais a forte estresse, afetando consideravelmente a qualidade da carne e os resultados econômicos da atividade. Condições ambientais adversas enfrentadas pelos animais, particularmente em certos estágios antes do abate, podem levar a perdas por mortalidade ou afetar a carcaça e a qualidade da carne de maneira irreversível.
Além disso, existe uma crescente preocupação dos consumidores com os métodos de produção, o que exige estratégias adequadas das empresas produtoras de alimentos que efetivamente assegurem o bem-estar dos animais em todas as etapas do processo produtivo.
As perdas que ocorrem desde a granja até o frigorífico podem ser de responsabilidade tanto do suinocultor quanto do transportador, ou mesmo das agroindústrias que abatem os animais.
Estas possuem a responsabilidade de orientar os produtores de suínos quanto aos procedimentos mais adequados a serem adotados no manejo pré-abate dos animais. O produtor deve seguir estas recomendações e assegurar que os suínos sejam embarcados no veículo com o mínimo de estresse. Os transportadores devem se responsabilizar pela condução dos animais até ao abatedouro em condições adequadas e seguras.
Por sua vez, a empresa responsável pelo abate deve assegurar condições de ambiente, água e manejo que possibilitem que os animais se acalmem e descansem da viagem e passem para a próxima etapa do processo de abate.
No período pré-abate dos suínos, destacam-se alguns pontos críticos que podem influenciar a qualidade da carne (Bench et al. 2008; Faucitano, 2000), tais como: jejum, embarque, transporte (desenho do veículo, densidade animal, tempo de transporte), desembarque, área de espera (tempo na área de espera, manuseio dos animais) e atordoamento.
Este trabalho, realizado através do emprego da técnica de Grupos Focais, teve como objetivo avaliar a percepção de transportadores, suinocultores e técnicos quanto às condições de embarque e transporte utilizada pela Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia Ltda – Copérdia, no período do manejo pré-abate.
Materiais  e  Métodos
A metodologia empregada para levantar a percepção dos diferentes atores em relação aos fatores que estão influenciando na taxa de mortalidade dos suínos durante o manejo pré-abate foi a metodologia dos grupos focais.
Grupo focal é uma “técnica de pesquisa na qual o pesquisador reúne, num mesmo local e durante um certo período, uma determinada quantidade de pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo como objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate com e entre eles, informações acerca de um tema específico” (CRUZ NETO et al, 2002).
Os grupos, preferencialmente, devem ser formados por participantes que têm características em comum e serem incentivados pelo moderador a conversarem entre si, trocando experiências e interagindo sobre suas idéias, sentimentos, valores, dificuldades, etc. As principais vantagens dessa técnica são: baixo custo, resultados rápidos e formato flexível. Isso permite ao moderador explorar perguntas não previstas e o ambiente de grupo minimiza opiniões falsas ou subestimadas, proporcionando o equilíbrio e a fidedignidade dos dados.
Por outro lado, os grupos focais possuem algumas limitações: eles são susceptíveis ao viés do ponto de vista do moderador, as discussões podem ser desviadas ou dominadas por algum participante, as informações podem trazer dificuldades para análise e generalizações. Neste sentido, as informações colhidas, devem ser interpretadas no contexto do grupo e complementadas com dados coletados através de outros instrumentos.
Para a realização do presente trabalho foram organizados três grupos focais: produtores de suínos, transportadores e técnicos.
A convocação e escolha dos participantes nos grupos focais foram de responsabilidade da Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia Ltda - Copérdia. Os encontros tiveram duração média de duas horas e iniciaram a partir de uma breve explanação e orientação acerca do objetivo, forma de condução e sigilo das informações obtidas. Além disso, procurou-se esclarecer que não existem boas ou más opiniões. Assim, após uma breve auto-apresentação, cada membro teve oportunidade de realizar um comentário geral sobre o tema e seguiu-se a discussão.
O papel do facilitador consistia, principalmente, em proporcionar uma atmosfera favorável à discussão, controlar o tempo e estimular a participação de todos. Em alguns momentos, os facilitadores faziam intervenções através de algumas perguntas abertas sobre o tema, como forma de estimular e melhor orientar a discussão.
Foram realizadas reuniões com os transportadores de suínos da Copérdia, na sede da Cooperativa, no dia 25 de maio de 2007; com os produtores no dia 18 de junho de 2007; e com os técnicos no dia 28 de junho de 2007.
Resultados  e  Discussão
Opiniões  comuns  a  todos
  • Dificuldade  em  se  manejar  lotes  grandes;
  • Dificuldade em retirar os suínos da baia provocando cansaço nos mesmos (relacionado com a localização do comedouro na baia);
  • Mão-de-obra pouco preparada para realização do serviço;
  • Animais limpos e secos são mais fáceis de serem manejados;
  • Necessidade de melhorar a logística do transporte, principalmente no caso dos pequenos produtores do sistema de ciclo completo, que nem sempre estão aguardando o veículo transportador para realizarem o embarque dos suínos.
Opiniões comuns entre os suinocultores e transportadores.
  • Não se respeitar o tempo de jejum adequado dos animais (tempo);
  • Ausência de instrumentos que facilitam o manejo (tábua de manejo, instrumentos que fazem barulho, lonas, entre outros).
Opiniões comuns entre os suinocultores e técnicos
  • Elevada  densidade  de  animais  no  caminhão;
  • Mistura de animais saudáveis e não saudáveis no caminhão.
Opiniões comuns entre os transportadores e técnicos
  • Condições precárias dos embarcadores (iluminação inadequada ou ausência da mesma, inclinação alta e curvas acentuadas);
  • Inclinação negativa do caminhão (dificuldade para acomodar os animais nos compartimentos da carroceria).
Pontos importantes apresentados por apenas um dos segmentos da cadeia.
  • Acesso inadequado a propriedade (inclui espaço para manobrar o caminhão);
  • Utilização de instrumentos invasivos aos animais (tábuas de manejo com prego na ponta, mangueira de borracha ou sacos de ráfia com pedaço de madeira, entre outros).
  • Necessidade de se efetivar um programa de descarte de animais doentes e machucados, que deveriam ser transportados em condições especiais.
  • Deficiência na comunicação entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva de suínos (produtor x transportador x técnico);
  • Ausência de um procedimento padronizado e acompanhamento do embarque dos suínos (incluindo a obtenção dos índices de mortalidade);
  • Resistência dos produtores para aderir a novas tecnologias.
Considerações  Finais.
A percepção dos suinocultores, técnicos e transportadores demonstra que existem aspectos no procedimento de embarque e transporte dos suínos que devem ser aperfeiçoados, destacando-se como prioritário: a implementação de um programa de capacitação para os diferentes segmentos da cadeia sobre a importância do manejo pré-abate. Além disso, deve-se agilizar a adoção de algumas medidas tais como: adoção de um modelo de embarcador padrão; modificação dos modelos atuais de comedouros de maneira que não dificultem a retirada dos suínos das baias; e implantação de uma ficha de embarque e transporte dos suínos que possibilite o registro e avaliação de todas as etapas do processo de manejo pré-abate, para eventuais correções.
Tópicos relacionados:
Autores:
Dr. Osmar Dalla Costa
Embrapa Suínos e Aves
Roberto de Oliveira Roça
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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