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A importância da glicemia na duração do parto de matrizes suínas

Publicado: 21 de junho de 2022
Por: Cesar Augusto Pospissil Garbossa
Introdução
A seleção genética para prolificidade resultou no incremento da quantidade de leitões nascidos por fêmea/parto (1); o aumento do número de leitões nascidos, por sua vez, está associado a alguns efeitos indesejáveis, incluindo menor peso ao nascimento, maior heterogeneidade de peso da leitegada e aumento da duração do parto (2). Partos excessivamente prolongados (> 300 min) são deletérios para a saúde da matriz, podendo resultar em prejuízos nos parâmetros produtivos e reprodutivos (3). Adicionalmente, há prejuízos na vitalidade, sobrevivência e desempenho dos leitões (4). Nesse contexto, o entendimento dos fatores que influenciam a duração do parto é de suma importância para diminuir as perdas produtivas relacionadas ao parto. O objetivo desse trabalho foi determinar se a glicemia venosa possui relação direta com a duração do parto.
Materiais e Métodos
Foram utilizadas 80 fêmeas suínas parturientes híbridas comerciais com ordem de parto entre 0 e 8. Todas as fêmeas foram submetidas ao mesmo manejo alimentar e sanitário. Todas as fêmeas foram alimentadas duas vezes ao dia (9h e 14h), inclusive na data prevista do parto. Todos os partos foram acompanhados integralmente. A duração do parto foi definida como o intervalo entre o nascimento do primeiro e o último leitão da leitegada. A mensuração da glicemia plasmática foi realizada em dois momentos a saber: glicemia inicial (nascimento do primeiro leitão), e glicemia final (início de expulsão da placenta). A glicemia média foi calculada como sendo a média aritmética da glicemia inicial e glicemia final. A concentração plasmática de glicose foi avaliada por meio de um glicosímetro portátil (Accu-Chek Guide Meter™, Roche Diabetes Care, Inc). A amostra de sangue venoso foi coletada por meio de punção da veia auricular com agulha 25 x 8 gauges. As análises estatísticas foram realizadas através do software SAS, versão 9.4, todas as variáveis foram testadas quanto a normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk, utilizou-se o procedimento CORR do SAS, para se determinar as correlações entre glicemia inicial, média e final com a duração do parto por meio do teste de correlação de Pearson. Sendo considerado efeito significativo quando P < 0,05.
Resultados e Discussão
O valor médio das concentrações glicêmicas analisados foram de 4,43 ± 0,78 mMol, 4,56 ± 0,68 mMol e 4,70 ± 0,83 mMol, para glicemia inicial, média e final, respectivamente. A duração do parto das fêmeas analisadas foi em média 265,65 ± 80,70 minutos, sendo que os valores variaram entre 110 e 500 minutos. Houve correlação positiva entre as concentrações glicêmicas inicial, média e final com a duração do parto (P = 0,01, P < 0,01, P = 0,01, respectivamente), sendo que a glicemia média foi a variável que apresentou maior correlação com a duração do parto (r = 0,39), conforme ilustrado na figura 1. Ainda, ao se analisar apenas o primeiro quartil dos valores de glicemia média (≥ 4,91 mMol), a duração do parto de parto média foi de 222,04 ± 14,58 minutos, em contraste a uma duração do parto média de 308,15 ± 17,11 minutos para as fêmeas do terceiro quartil (≤ 4,07 mMol). Portanto, estratégias que reduzam a ocorrência de baixos níveis glicêmicos no momento do parto são essenciais para diminuir a duração do parto. Partos excessivamente prolongados prejudicam a saúde uterina da fêmea parturiente (5), aumentam a taxa de retenção de placenta (6), aumentam o estresse oxidativo sistêmico (7), aumentam a taxa de assistência ao parto (8), atrasam a involução uterina (5) e prejudicam a fertilidade da fêmea no ciclo subsequente (5). Os resultados encontrados nesse estudo corroboram com resultados de Feyera et al. (2018), em que os autores também descreveram uma correlação positiva entre a concentração de glicose plasmática na artéria uterina durante o parto e a sua duração. Feyera et al. (2018), atribuem esses resultados a um melhor “status” energético para as fêmeas com maior glicemia, pois partos mais curtos demandam uma maior disponibilidade de energia para as vigorosas contrações uterinas e abdominais em um curto espaço de tempo.
Conclusão
A glicemia venosa da fêmea parturiente é um fator diretamente relacionado com a duração parto. Estudos são necessários para entender como modular a glicemia no início e transcorrer do parto, e dessa forma evitar os efeitos deletérios de partos prolongados.
A importância da glicemia na duração do parto de matrizes suínas - Image 1
Figura 1: Correlação entre a glicemia venosa média de fêmeas parturientes e a duração do parto. Valor de P < 0,001 e r = 0,39
Esse artigo foi originalmente publicado em SINSUI 2021 13º Simpósio Internacional de Suinocultura | https://static.conferenceplay.com.br/conteudo/arquivo/anais-trabalhos-cientaficos-sinsui2021-1635776553.pdf.

(1) Quesnel H.; Brossard L.; Valancogne A; et al. Influence of some sow characteristics on within-litter variation of piglet birth weight. Animal, v. 2, p. 1842–1849, 2008. (2) Feldpausch J.A.; Jourquin J.; Bergstro, J.R.; et al. Birth weight threshold for identifying piglets at risk for preweaning mortality. Translational Animal Science v. 3, p. 633-640, 2019. (3)
Oliviero, C.; Kokkonen, T.; Heinonen, M.; et al. Feeding sows with high fibre diet around farrowing and early lactation: impact on intestinal activity, energy balance related parameters and litter performance. Research in Veterinary Science. v.
86, p. 314-319, 2009. (4) Fix J.S.; Cassady J.P.; Holl J.W.; et al. Effect of piglet birth weight on survival and quality of commercial market swine. Livestock Science, v. 132, p. 98–106, 2010. (5) Peltoniemi, O.A.T; Björkman, S.; Oliviero, C.;
Parturition effects on reproductive health in the gilt and sow. Reproduction in Domestic Animals, v. 51, p. 36 – 47, 2017. (6)
Björkman, S.; Oliviero, C.; Rajala-Schultz, P.J.; et al. The effect of litter size, parity and farrowing duration on placenta expulsion and retention in sows. Theriogenology v. 92, p. 36–44 2017. (7) Szczubia, M.; Da ̨browskia, R.; Bochniarz, M. et al. The influence of the duration of the expulsive stage of parturition on the occurrence of postpartum oxidative stress in sows with uncomplicated, spontaneous farrowings. Theriogenology, v. 80, p. 706–711, 2013. (8) Feyera, T.; Pedersen, T.F.;
Krogh, U.; et al. Impact of sow energy status during farrowing on farrowing kinetics, frequency of stillborn piglets, and farrowing assistance. Journal of Animal Science, 96, p. 2320–233, 2018.

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Autores:
Cesar Augusto Pospissil Garbossa
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Leonardo Fonseca Faria
Agroceres
22 de noviembre de 2022

Excelente material. Existe algum alimento indicado para fornecer as fêmeas no dia do parto além da ração? Já li a respeito do fornecimento de açúcar ou farelo de bolacha para as fêmeas.

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