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Demandas Tecnológicas Suinocultura

CARACTERIZAÇÃO DE DEMANDAS TECNOLÓGICAS NA SUINOCULTURA NA REGIÃO SUL DO BRASIL

Publicado: 27 de junho de 2012
Por: FRANCO MULLER MARTINS; MARCELO MIELE; JONAS IRINEU DOS SANTOS FILHO; ARI JARBAS SANDI. (EMBRAPA SUÍNOS E AVES, CONCÓRDIA - SC - BRASIL.)
Sumário

Resumo

Este trabalho apresenta um levantamento de demandas tecnológicas da suinocultura realizado na região sul do Brasil. O estudo foi conduzido por meio de entrevista semi estruturada junto a diferentes atores da cadeia produtiva e análise do conteúdo levantado. As áreas temáticas que apresentaram maior demanda foram Sistema de Produção, Economia e Gestão, Meio Ambiente, Bem Estar Animal e Sanidade. Os resultados mostraram necessidade de ganhos de eficiência e melhorias incrementais nos sistema de produção, melhorias nos instrumentos de coordenação da cadeia produtiva e na legislação. Demandas por ações de validação de tecnologias e capacitação para adoção também tiveram destaque. O trabalho se mostrou efetivo em orientar prioridades numa área responsável por negócios e transferência de tecnologias dentro de uma instituição científica e tecnológica.

Palavras-chaves: Demandas Tecnológicas, Suinocultura, Negócios Tecnológicos, Transferência de Tecnologias

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A carne suína é a principal fonte de proteína animal no mundo. Anualmente são produzidas 100 milhões de toneladas. A China responde por cerca da metade da produção mundial. O restante da produção é dominada pela União Européia (UE), Estados Unidos da América (EUA) e Brasil. Na última década , a participação do Brasil nas exportações saltou de 4% para 11% e o país se tornou o quarto maior produtor e exportador com 3% do mercado mundial. Existe perspectiva de crescimento na inserção internacional mesmo num cenário marcado pelo acirramento da concorrência, do aumento do protecionismo e da incerteza sanitária relacionada ao rebanho bovino. Estes fatores tiveram impacto restritivo nos volumes exportados em anos recentes. A suinocultura industrial engloba uma grande diversidade de produtores sejam estes familiares, patronais e empresariais. Está localizada em diferentes regiões do país e passou por profundas transformações organizacionais e tecnológicas na última década. Até meados dos anos 1990, predominava a produção em ciclo completo (CC), onde o mesmo estabelecimento desenvolve todas as etapas de produção do animal. Atualmente ocorre a segregação da produção em unidades produtoras de leitões (UPL) e unidades de crescimento e terminação (UT). Essa tendência ocorreu em todo o país, mas se deu de forma mais intensa entre as integrações na região Sul. Associados a essas mudanças organizacionais houve aumento de escala, avanços tecnológicos em genética, sanidade, nutrição, instalações, manejo e bem-estar animal, aumento da eficiência técnica e da qualidade dos animais entregues ao abate (Miele e Machado,2010). Em 2008 o Valor Bruto da Produção da suinocultura brasileira foi de US$ 5,2 bilhões (CNA, 2009). A partir dos dados da Pesquisa Industrial 2007 (IBGE, 2009), do levantamento de coeficientes técnicos de produção (EMBRAPA e CONAB, 2009) e das Novas Estimativas do Modelo de Geração de Empregos (BNDES, 2009) estima-se que a cadeia produtiva seja responsável por 634,7 mil empregos diretos e indiretos 2010) dos quais 15,6% estão "dentro da porteira", ou seja, diretamente ligados à produção de suínos para o abate.
A Embrapa Suínos e Aves é o centro nacional de pesquisa, de referência desde, 1975 e contribui para o desenvolvimento do setor com a geração e transferência de tecnologias, produtos e serviços, em virtude da grande importância social e econômica da suinocultura e a avicultura para o Brasil, é inerente à dinâmica destes setores a constante demanda por novas tecnologias, conhecimentos e melhorias incrementais nos sistemas de produção. Dentro do organograma dos centros de pesquisa da Embrapa, de modo geral, a Área de Comunicação e Negócios (ACN) é a responsável, dentre outras atividades, pela identificação e encaminhamento das demandas obtidas durante os processos de transferência de tecnologias. Os objetivos principais da área são a articulação e a formalização de instrumentos que viabilizam o atendimento de demandas ou formação de parcerias com outras instituições ou empresas. Neste contexto cabe a identificação de oportunidades para PD&I, destinadas à obtenção de tecnologias e conhecimentos, introduzidos ou gerados no centro de pesquisa, bem como captar as demandas manifestadas por outras instituições ou empresas e, com isso, promover a aproximação entre elos da cadeia produtiva e a sinergia para a cooperação entre as partes. No âmbito coorporativo, a Embrapa regula e apoia as ações de transferência de tecnologia. Um exemplo desta articulação é o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas e Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologias – PROETA (Silva et al, 2007).
Assim, para identificar oportunidades de melhoria no planejamento das atividades e contribuir com informações importantes para o planejamento da pesquisa, a ACN, em parceria com a área de pesquisa em economia, elaborou um projeto para organizar os procedimentos de classificação das tecnologias quanto ao potencial de transferência via licenciamento e ampliar a orientação do processo de negociação com parceiros potenciais. Uma etapa do trabalho foi identificar lacunas tecnológicas no mercado e os anseios e necessidades do público alvo da Embrapa Suínos e Aves. Para tal, foi feito um levantamento junto aos diversos atores da cadeia produtiva da suinocultura.
O objetivo deste trabalho é apresentar um levantamento de demandas tecnológicas na suinocultura, realizado predominantemente no sul do Brasil, classificado-as por tipo de demanda manifestada e por área temática.
Assim, ao realizar este levantamento, buscou-se, primordialmente, subsidiar ações de melhoria nos negócios tecnológicos e outros mecanismos de transferência de tecnologias. Para atender o objetivo inicial, o procedimento de simples aplicação do questionário e sua análise de conteúdo foram suficientes. Com isso, ressalta-se o fato de que o trabalho não chegou a ser planejado com os requisitos e rigorismos que completam uma prospecção, mas revelou informações que podem contribuir para os instrumentos já institucionalizados, como são aqueles aplicados no planejamento de pesquisa e desenvolvimento nas instituições de pesquisa e desenvolvimento.
 
2. BASE TEÓRICA
A necessidade de alocar recursos e definir prioridades nas instituições de pesquisa assume papel cada vez mais crítico num ambiente caracterizado por frequentes alterações nas estruturas de governança das cadeias produtivas, na (des)regulamentação dos mercados e na postura de uma sociedade cada vez mais informada e organizada. Este contexto implica numa incessante redução no ciclo dos paradigmas tecnológicos e a manutenção da competitividade é sustentada pela inovação em processos, produtos, tecnologias ou práticas de gestão.
A Lei de Inovação, promulgada em dezembro de 2004, incentiva a sinergia entre as Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT´s) e o setor privado. O propósito da lei é incentivar a inovação e buscar o aumento da competitividade empresarial nos mercados nacionais e internacionais (Barbosa, 2008). Arranjos para pesquisa e transferência de tecnologias via licenciamento, podem ser estabelecidos entre as ICT´s e o setor privado, sob o amparo da lei garantindo incentivos para criadores e investidores. As parcerias podem ter como objetivo: melhorias incrementais em produtos ou processos, desenvolvimento de produtos a serem aportados ao portfólio de empresas existentes ou a criação de empresas de base tecnológica.
A importância da análise prospectiva na identificação de demandas é resultado do fato de que o trabalho de PD+I somente tem sentido se tiver mercado. E quem define isso é o próprio mercado. A oferta adequada de tecnologias à clientela requer a utilização de técnicas prospectivas das necessidades futuras de tecnologia, como orientação de esforço de pesquisa e desenvolvimento tecnolígico. O mercado de tecnologia é definido como o encontro da oferta de tecnologias de um centro gerador de conhecimentos e tecnologias com as demandas dos diversos componentes da cadeia produtiva (Castro et al,1998).
A gestão integrada da inovação implementada numa empresa é um sistema gerencial que consiste em um processo de coleta e análise de informações para definir uma estratégia tecnológica, priorizar idéias e oportunidades, definir uma carteira equilibrada de projetos, definir os investimentos, implementar os projetos aprovados e medir o retorno dos esforços dos novos desenvolvimentos para a empresa (Coral et al, 2008).
A Embrapa, diante da necessidade de tornar eficiente a sua articulação com o mercado para a transferência de tecnologias estabeleceu sua Política de Negócios tecnológicos (Embrapa,1998) que tem por objetivo:
- contribuir para a transferência de qualquer tecnologia ou informação gerada na Embrapa ao maior número de usuários;
- apoiar o esforço de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, pela Embrapa ou por terceiros, com a captação de recursos ou identificação de clientes ou parceiros, de sorte a ampliar a base científica e tecnológica a serviço da sociedade brasileira;
- mobilizar suporte político-institucional dos diferentes segmentos da sociedade para que a empresa e seus parceiros possam reunir as condições econômicas e políticas necessárias para cumprir suas missões;
- ampliar a captação de recursos econômicos financeiros, mediante a venda ou cessão de direitos, que permite à empresa e a seus parceiros diversificarem suas fontes de receita;
- coletar no mercado dados e demandas sistematizadas, tendo como fim a definição de prioridades.
As demandas podem ensejar desde o desenvolvimento de soluções novas, adaptação, melhoria ou a simples difusão de soluções disponíveis. Também surgem demandas que extrapolam a capacidade ou os limites da missão da ICT. Segundo Castro et al (1998) as demandas tecnológicas da podem ser definidas em função dos sistemas que lhes dão origem e classificadas em três tipos básicos: demandas tipo I : para problemas dependentes de ações de adaptação/difusão de tecnologias; demandas tipo II, para problemas necessitando de ações de geração de tecnologias; demandas tipo III para problemas não dependentes de solução tecnológica, ligados a fatores conjunturais, infraestrutura de apoio, etc., mas com impacto direto nos resultados de pesquisa.
As soluções tecnológicas geradas numa ICT podem ser transferidas às empresas ou à sociedade mediante negócios tecnológicos ou por diferentes formas de organizar e disponibilizar informações. No entanto, torna-se necessário sistematizar procedimentos que possibilitem definir prioridades no atendimento das demandas à luz das necessidades do mercado em consonância com os preceitos da sustentabilidade nos pilares econômico, social e ambiental. A identificação das necessidades dos clientes é parte fundamental neste processo.
 
3. METODOLOGIA
O levantamento ocorreu predominantemente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, as entrevistas se concentraram nas regiões de Concórdia, no meio oeste, e de Braço do Norte no sul do estado. No Rio Grande do Sul o trabalho foi concentrado na região do Vale do Taquari. Apesar de o levantamento ter sido realizado na região sul do Brasil, o rol de entrevistados incluiu dirigente da empresa que é líder nacional em produção e industrialização, representantes de associações nacionais de produtores e da indústria exportadora. O levantamento ocorreu por meio de entrevista semi estruturada e as conclusões foram definidas a partir da análise do conteúdo. A escolha dos entrevistados se deu por amostra definida pela qualidade do informante, facilidades de acesso, aderência aos objetivos do estudo e por indicação de autoridades técnicas e políticas do setor. Em especial, buscou-se identificar, com apoio dos pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, os profissionais, empresários e produtores melhores posicionados no mercado e detentores dos conhecimentos desejados, para contribuir com a visão individual e experiência no setor na consecução dos objetivos de coletar as melhores opiniões sobre demandas tecnológicas. O foco para definição dos entrevistados foi concentrar o maior número de entrevistas possível no ambiente externo. Alguns pesquisadores também contribuíram com respostas ao questionário. No entanto, não foi levada em consideração a área de atuação de cada um. A escolha se deu pela reconhecida atuação junto ao setor produtivo e disponibilidade de tempo para colaborar durante o período. O levantamento ocorreu entre de março e julho de 2008. Após a coleta de dados os entrevistados foram separados nos quatro grupos especificados na Tabela 1.
Tabela 1. Grupos de entrevistados e caracterização de seus participantes.
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A entrevista restringiu-se a uma pergunta onde o entrevistado teve tempo livre para discursar a respeito do tema. Foi solicitado a cada entrevistado opinar sobre quais seriam as necessidades em termos de desenvolvimento tecnológico visando melhorar a competitividade da suinocultura. O entrevistado teve tempo para justificar e complementar a resposta. Portanto, além de demandas, foram registradas outras observações importantes para o contexto do trabalho. O conteúdo foi gravado e posteriormente transcrito para formulários. Observaram-se, vários tipos de manifestação, as quais foram classificadas por área temática e por tipo de demanda em que se enquadravam. Os resumos de cada manifestação foram tabulados em planilha eletrônica para facilitar os agrupamentos. Manifestações que se revelaram como sendo de pouca relevância para o objetivo da pesquisa e/ou focadas em problemas individuais foram descartadas segundo critérios dos autores e com base na literatura que sustenta este tipo de investigação.
As sete áreas temáticas em que se agruparam os conceitos manifestados foram: Sistemas de Produção, Sanidade, Bem Estar Animal, Meio Ambiente, Economia/Gestão/Instrumentos de Coordenação, Tecnologia de Processamento e Transporte e Logística. Essas áreas foram definidas, após o levantamento, pelo grupo de trabalho, após análise do conteúdo observado. Nesse trabalho a avaliação é mais agregada e visa dar um direcionamento. No entanto, o conjunto de informações coletadas permite subdivisões em mais itens se assim for necessário. A área Sistema de Produção pode, em princípio, ser compreendida como mais ampla e ter subjacente a ela áreas como Sanidade, Bem Estar e Meio Ambiente. No entanto, as exigências no comércio internacional, a necessidade de adequação dos sistemas às exigências legais e a pressão da sociedade em torno das exigências pela sustentabilidade, têm tornado essas três áreas como definidoras do sucesso do empreendimento suinícola. Os temas a elas relacionados, portanto, transcendem a busca da eficiência produtiva e, por esse motivo, estas três áreas foram tratadas individualmente. O Quadro 1 apresenta as áreas temáticas definidas para o e estudo e os assuntos subjacentes a cada uma.
Quadro 1. Áreas temáticas utilizadas na classificação das demandas e assuntos relacionados.
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As demandas foram classificadas de acordo com tipo de intervenção que cada manifestação do entrevistado poderia significar, não importando se esta intervenção seria da Embrapa ou de outro agente institucional ou organizacional. As categorias definidas foram: Melhoria em Tecnologia, Produto ou Serviço (TPS), Desenvolvimento de Tecnologia Produto ou Serviço, Melhoria na Gestão ou Instrumento de Coordenação, Mudança em Política Pública, Capacitação e Validação de Tecnologia Produto ou Serviço. O Quadro 2 sintetiza o significado para cada categoria.
Quadro 2. Grupos de Demanda e problemas relacionados
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A análise buscou identificar a freqüência de observações considerando área temática, tipo de demanda e perfil dos entrevistados. Assim, observações repetidas ou de mesmo significado foram consideradas na análise.
 
4. RESULTADOS
O conteúdo inicial das entrevistas resultou em 309 manifestações tabuladas. Após um exame quanto à contribuição para o objetivo da pesquisa, 69 foram descartadas e restaram 240 integralmente utilizadas. A Tabela 2 apresenta o número de observações por área temática e a distribuição das mesmas por tipo de demanda. Observa-se que 72 das 240 observações ficaram enquadradas na área "Sistema de Produção" representando 30% do total. A segunda área foi a de Economia e Gestão com cerca de 24%. Na seqüência observa-se Meio Ambiente com 15%, Bem Estar Animal 10,4%, Sanidade com 9,6%, Tecnologia de Processamento com 7,1% e, finalmente, Transporte e Logística com 4,2%. Em termos de tipo demanda caracterizada observou-se o maior destaque para Melhoria em Tecnologia, Produto ou Processo com 117 observações ou cerca de 49%. Em segundo lugar ficou a demanda por Validação de Tecnologia, Produto e Processo com 18,8%, seguida de Melhoria em Gestão e Instrumentos de Coordenação de Cadeias com 12,5%, Mudança em Política Pública com 8,8% , Capacitação com 6,3% e por último Desenvolvimento de Tecnologia, Produto ou Processo com 5%.
Quanto à classificação proposta por Castro et al (1998), verifica-se que as demandas tipo I concentram-se nos grupos de Melhoria em TPS (118), Validação(45), Capacitação(15) e parte do grupo Melhoria em Gestão(5). Ou seja, 178 (74,2%) das manifestações são relacionadas com problemas com melhorias, adaptações ou difusão de tecnologias.
Tabela 2. Classificação das demandas por área temática, participação relativa no total de observações e distribuição por grupo de demanda.
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As demandas tipo II, caracterizadas pela necessidade de criação estão no grupo Desenvolvimento de TPS e somaram 12 observações ou 5 % do total. As demandas tipo III se concentraram no grupo de Demandas por Política Pública (21) e o restante do grupo de manifestações observadas em Economia em Melhoria em Gestão (24) somando 45 observações ou 18,8%. Ressalta-se que os números são resultados dos critérios de corte estabelecidos.
Para selecionar as demandas tipo III verificou-se que elementos como os ajustes em legislação em algum instrumento de coordenação entre atores da cadeia produtiva poderiam ser subsidiados por informações geradas na pesquisa. No entanto, onde o grupo de trabalho entendeu que o resultado dependeria mais da postura dos agentes a demanda foi enquadrada como seno do tipo III.
As observações feitas pelos entrevistados não foram submetidas a outra classificação quantitativa que não o enquadramento nas áreas temáticas e nos tipos de demanda. No entanto, através da utilização de filtros é possível examinar, de forma qualitativa, as demandas manifestadas em cada área temática, tipo de manda ou aquelas resultantes do cruzamento de uma área com um grupo de demandas.
Ao analisar a maior quantidade de observações percebidas para a área Sistema de Produção deve-se estar atento à ressalva de que esta encerra vários temas onde os entrevistados geralmente predominantemente manifestaram a necessidade de ganhos de eficiência. Esta constatação apoia-se no fato de que, nesta área, observa-se que 65,3 % das observações foram relacionadas à demanda por Melhoria em Tecnologia, Produto ou Serviço. A demanda por validação de tecnologias foi a segunda mais frequente com 20,8%. Os demais tipos demanda tiveram participação pouco relevante em relação às primeiras, sendo que juntas somaram 13,9%. Destaca-se a pouca repercussão em termos de Desenvolvimento de TPS e ausência de demanda para ajustes em Políticas Públicas. No entanto, cabe a ressalva de que essa demanda é frequente dentro da área temática Meio Ambiente que foi dissociada da área Sistema de Produção com base em critérios anteriormente explicados. Nas demandas do grupo Melhoria em TPS observou-se que as mais frequentes foram relacionadas à necessidade de padronização de instalações e equipamentos e dos sistemas de produção como um todo. Também foram manifestadas demandas por melhorias nos manejos nutricional e reprodutivo, e melhoramento genético. As demandas por Desenvolvimento de TPS se restringiram ao desenvolvimento de linhagens com características orientadas a nichos de mercado e para sistema de avaliação da qualidade de matérias primas para rações a ser utilizado por produtores. A demanda por Capacitação se restringiu à área de manejo da produção. Nas demandas por Validação de TPS destaca-se a busca por uma padronização de instalações e do sistema de produção. No grupo de Melhoria em Gestão/Instrumentos de Coordenação destacaram-se questões ligadas à rastreabilidade e certificação.
A área temática Sanidade teve três tipos de demanda em destaque: Melhoria TPS com, 30,4% de participação, Mudança em Política Pública com 26,1% e Validação de TPS com 21,7%. A demanda por Capacitação teve 13% de participação e a necessidade de Desenvolvimento de TPS foi observada em 8,7% dos casos. Não houve demandas na área Melhoria em Gestão/Instrumentos de Coordenação. Em Melhoria de TPS se destacaram a necessidade de aperfeiçoar o controle de enfermidades nos rebanhos. No grupo de demanda por Desenvolvimento de TPS foi a manifestada a necessidade de diminuir a dependência da importação de vacinas e desenvolvimento de "kit" diagnóstico de doenças aplicado ao pré-abate. No grupo Mudança em Política Pública foi manifestada a necessidade de implantar sistema unificado de inspeção e revisão nos critérios de condenação de carcaças. Nas demandas por Capacitação se destacou a necessidade de formação de certificadores sanitários. No grupo Validação de TPS predominaram a necessidade de validar protocolos sanitários na produção e vacinas para enfermidades.
Na área de Bem Estar Animal se observou grande parte da demanda (52%) concentrada em Melhoria de TPS, seguida de Validação de TPS (28%), Capacitação (16%) e Desenvolvimento de TPS(4%). Não houve demandas associadas à Melhoria em Gestão/Instrumentos de Coordenação e Mudança em Política Pública. No grupo Melhorias em TPS predominaram manifestações sobre a necessidade de melhorias nos equipamentos de transporte e redução no stress pré-abate. No grupo de Desenvolvimento de TPS houve a demanda por equipamento que facilitem o carregamento. Nas demandas por Capacitação, destacou-se a necessidade de treinar motoristas e carregadores em práticas que promovam o bem estar no transporte até o abate. No grupo Validação foi unânime a necessidade de validar um protocolo de Boas Práticas no Carregamento e Transporte de Carga Viva.
Na área de Meio Ambiente a maior parte das demandas se enquadraram em Melhoria em TPS (41,7%), seguida de Mudança em Política Pública (27,8%), Validação de TPS (22,2%) e Capacitação (8,3%). Não houve demandas observadas nos grupos Melhoria em Gestão/Instrumentos de Coordenação e em Desenvolvimento de TPS. No grupo Melhorias em TPS destacaram-se a necessidade de redução do desperdício de água na produção e redução de odores na produção e no transporte. Nas observações associadas ao grupo Mudança em Política Pública foi predominante a demanda pela adaptação da legislação ambiental à particularidades regionais. Houve demanda por ajustes na regulamentação relacionada ao uso de fertilizantes orgânicos oriundos de dejetos de suínos e ajustes na legislação que regula os projetos de abatedouros quanto ao uso da água e tratamento de efluentes. No grupo Capacitação foi manifestada demanda por workshops em Educação Ambiental, treinamento Boas Práticas em Manejo de Dejetos e curso sobre tecnologias de tratamento e adequação das mesmas à legislação. A demanda que se destacou em Validação de TPS foi a necessidade de aumentar esforços na validação de tecnologias de tratamento.
A área de Economia/Gestão/Instrumentos de Coordenação teve o segundo maior número de observações. No entanto, cabe o registro de que esta área tem interface com outras áreas notadamente através de estudos de viabilidade econômica sobre adoção de tecnologias ou ajustes no sistema de produção. O grupo com maior número de demandas foi o de Melhorias em Gestão/Instrumentos de Coordenação com 42,1% das ocorrências. O grupo de Melhorias em TPS obteve 28,1%, seguido de Validação de TPS com (15,8%), Mudança em Política Pública com 8,8% e Desenvolvimento de TPS com 5,3%. Não foram observadas demandas no grupo Capacitação. No grupo Melhoria em TPS predominou a demanda por melhorias nos softwares de gestão e bases de dados utilizadas como ferramentas de apoio à tomada de decisão gerencial. A demanda por Desenvolvimento de TPS se caracterizou pela necessidade de desenvolvimento de base de dados com custos de produção em diferentes fases de crescimento do suíno, criação de base de dados com previsões de cenários econômicos e desenvolvimento de método de pagamento de insumos baseado em critérios de qualidade. No que diz respeito à Melhoria em Gestão/Instrumento de Coordenação destacaram-se as demandas por modelos de organização que viabilizem uma maior apropriação, pelos produtores, da renda gerada na cadeia produtiva e modelos de organização estratégica orientada a nichos de mercado e melhorias no fluxo de informações geradas por instituições até a assimilação pelos produtores e melhoria dos mecanismos de articulação entre o setor produtivo e as instituições visando a melhor assimilação de informações geradas e adoção de tecnologias. No grupo Mudança em Política Pública as demandas se concentraram em questões ligadas à disponibilização de crédito para investimentos e desoneração da importação de equipamentos. Dentro das necessidades de Validação de TPS houve destaque para a demanda para estudos sobre viabilidade econômica e técnica de tecnologias de tratamento de dejetos, reprodução animal e avaliação da substituição da mão de obra por equipamentos.
Na área temática Tecnologia de Processamento a maior frequência de demandas ocorreu dentro do grupo Melhoria em TPS com 82,4%. Não houve demanda observada nos grupos Mudança em Política Pública, Melhoria em Gestão/Instrumentos de Coordenação e Validação de TPS. As demandas no grupo Capacitação ficaram com 11,76% e no grupo Desenvolvimento de TPS com 5,88%. Dentro do grupo Melhoria em TPS a necessidade de maior diversificação e padronização de cortes, melhorias nos sistemas de conservação e embalagens visando aumentar o tempo de exposição da carne nas gôndolas nos pontos de venda e aumento da oferta de cortes in natura. A demanda por Desenvolvimento de TPS foi focada em tecnologia para potencializar o teor protéico, textura e sabor da carne. A demanda por Capacitação foi focada em treinamento em boas práticas de abate.
Finalmente, a área temática Transporte e Logística teve 80% das demandas associadas ao grupo Melhoria em TPS. Os demais 20% ficaram na área Desenvolvimento de TPS. Os ponto de destaque em Melhoria em TPS é a necessidade de redução de distâncias para o transporte de suínos e insumos. O grupo Desenvolvimento de TPS apontou a demanda por equipamento dotado de esteira para embarque dos suínos nos caminhões. Para o grupo Capacitação foi apontado a necessidade treinamento em transportes.
Tabela 3 apresenta a distribuição das demandas por área temática e por grupo demandante. Observa-se que no grupo Produção a área onde ocorreu o maior número de demandas foi a de Economia, Gestão e Coordenação com 34,7% das ocorrências. Sistema de Produção obteve 27,6 % e Meio Ambiente 20,4%. A área de Bem Estar Animal apresentou 8,4%. As demais tiveram participação relativamente baixa neste grupo. No grupo Pesquisa a área de maior ocorrência foi a de Sistema de Produção (44,4%), cabendo destaque também para a área Tecnologia de Processamento (22,2%), Meio Ambiente e Sanidade, ambos com 13,9%. Neste grupo as áreas de Economia, Gestão e Coordenação e Transporte tiveram pequena participação. Em Agroindústrias e Cooperativas, assim como na produção, a área de maior quantidade de observações foi Economia, Gestão e Coordenação com 24%. Neste grupo houve destaque também para área de Bem Estar animal (18%), Sistema de Produção(18%) e Meio Ambiente (16%). Ainda neste grupo, a área de Tecnologia de Processamento obteve 10% das observações e as demais áreas somaram 12%. No grupo Fornecedores a área de maior destaque foi Sistema de Produção com 37,7 %, seguida de Sanidade (19,6%), Economia , Gestão e Coordenação (17,9%) e Bem Estar Animal (12,5%). As demais tiveram participação individual não superior a 5,4%.
Tabela 3. Distribuição das Demandas Por Área Temática e Grupos Demandantes
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa revelaram alguns pontos importantes a saber: o setor manifestou maior demanda por melhorias em TPS, , Validação de TPS, Melhoria em Gestão, Mudança em Política Pública, Capacitação e, por último, Desenvolvimento de TPS. Resumidamente o setor busca melhorias incrementais no sistema produtivo, nos instrumentos de coordenação da cadeia e na legislação. As demandas por validação e treinamento podem reforçar a idéia o maior foco do grupo entrevistado está em adaptar soluções existentes e buscar ganhos de eficiência.
As demandas observadas nas áreas temáticas revelaram maior destaque para Sistemas de Produção e Economia e Gestão. A primeira é composta de várias sub-áreas onde pode ser feita uma análise mais detalhada oportunamente. A repercussão dada à Economia e Gestão não pode ser dissociada da interface com demais áreas pela necessidade de estudos de viabilidade econômica de tecnologias. No entanto, diante dos dados ela apresenta papel importante na geração de informações estratégicas de mercado e para ajustes em instrumentos de coordenação na cadeia produtiva. As áreas de Meio Ambiente, Bem Estar e Sanidade, por estarem mais bem delimitadas, se mostraram como temas relevantes para a competitividade do setor de acordo com os dados observados.
Em síntese, os dados revelam razoável aderência em termos de perspectivas de competitividade para o setor. O sucesso na suinocultura estará cada vez mais vinculado a ganhos de escala, necessidade de redução de custos e garantia de sanidade dos plantéis. Associados a estes aspectos existem ainda questões não sanitárias e emergentes como as boas práticas em bem estar animal e os impactos ambientais.
O roteiro adotado no trabalho ainda precisa de aprimoramentos como na definição da amostra dos critérios que limitam as áreas temáticas. O trabalho mostrou um processo simplificado de consulta ás necessidades dos clientes que foi efetivo em orientar prioridades numa área responsável por negócios e transferência de tecnologias dentro de uma instituição científica e tecnológica. O levantamento também gerou informações que podem contribuir com os instrumentos já adotados no planejamento da pesquisa.
 
6. BIBLIOGRAFIA
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Franco Muller Martins
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