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Bagaço de cevada na alimentação animal

Publicado: 17 de dezembro de 2013
Por: Prof. Antonio Assis Vieira e Zootecnista Jamil Monte Braz, MSc.
A alimentação é o fator que mais onera os custos da produção animal e por esta razão a procura por ingredientes que possam ser utilizados na alimentação de forma a reduzir estes custos é uma prática corrente na produção animal. Devem ser obtidas informações sobre esses ingredientes com relação à composição química e valor nutricional, níveis adequados de incorporação na dieta, de acordo com a espécie animal, fase produtiva, características climáticas da região, assim como a melhor maneira de se manipular, transportar e armazenar deste ingrediente.
A cevada (Hordeum vulgare sp. vulgare), dos cereais mais cultivados no mundo, considerado o quinto em importância, é utilizada na alimentação animal como forragem verde e na fabricação de ração. O grão de cevada é também largamente empregado na industrialização de bebidas (cerveja e destilados) gerando diversos subprodutos. Na produção de cerveja são descritos diferentes subprodutos que são usados na alimentação animal, como o broto ou radícula de malte (obtido na germinação forçada dos grãos antes da produção de malte), lúpulo, levedura seca de cerveja, malte, extrato e xarope de malte, refugo de maltaria (grãos de cevada descartados da seleção para produção de malte). Alguns são provenientes diretamente do processo de fabricação como o bagaço de cevada; enquanto outros ainda passam por alguma outra etapa de processamento, como no caso da polpa seca de cervejaria originada da desidratação da polpa úmida de cervejaria ou bagaço de malte.
Representando 85% do total de subprodutos gerados pela indústria cervejeira, o bagaço de cevada tem sido considerado o mais importante subproduto proveniente desse processo e que tem alto potencial de uso como ingrediente em ração animal. Também chamado de bagaço de malte, polpa úmida de cervejaria, resíduo úmido de cervejaria, e ainda outras denominações. Sendo proveniente da extração do mosto de cerveja, contém 23,45% de matéria seca, 34,69% de proteína bruta, 8,38% de extrato etéreo, 60,22% de carboidratos totais e 59,66% de fibra em detergente neutro.
A ensilagem do ingrediente tem sido recomendada para a alimentação de vacas leiteiras, visto que produtores atestaram dificuldade na conservação desse material devido ao seu alto teor de umidade, que propicia a proliferação de organismos indesejáveis. Vacas leiteiras apresentaram melhoria de produtividade ao ingerirem em até 15% de silagem do bagaço de cevada em comparação com animais que ingeriram dieta sem silagem, proporcionando aumento de até 30% na produção de leite.
Estudos de digestibilidade mostraram que esse ingrediente não aumenta os níveis de excreção de proteína, nitrogênio, fósforo e potássio nos dejetos de suínos
Para as indústrias de cerveja o bagaço de cevada foi considerado problema, uma vez que teria de ser descartado sem agredir o ambiente, não causando impacto ambiental negativo. Assim, ao ser avaliado como ingrediente da alimentação animal e identificando a sua potencialidade, está sendo dado um destino nobre a este subproduto, tanto no sentido de reduzir os riscos de poluição ambiental, quanto contribuindo com o conhecimento de mais um alimento a ser usado na alimentação animal, tendo como objetivo a sustentabilidade da produção.
Grandes quantidades de milho e farelo de soja são utilizadas na alimentação de suínos e aves, sendo estes ingredientes responsáveis pelo excelente desempenho dessas espécies, por outro lado, têm alcançado preço elevado e por isso muitas vezes inviabilizam a produção.
O bagaço de cevada tem se mostrado uma alternativa viável como ingrediente na alimentação de animais monogástricos, sendo um ingrediente que apresenta alto teor de umidade, em torno de 75%, porém é rico em proteína bruta (23%), energia, vitaminas e minerais, com alto teor em fibra bruta (em torno de 20%) e 74% de nutrientes digestíveis totais.
Este ingrediente começou a ser pesquisado no ano de 2003, na UFRRJ na alimentação de suínos, em substituição da matéria seca da ração convencional à base de milho e farelo de soja, promovendo aumento do consumo de matéria seca, sem influência na conversão alimentar e permitindo redução dos custos, demonstrando viabilidade técnica e econômica do seu uso.
Trabalhos de pesquisa conduzidos na UFRRJ com inclusão de até 50% de bagaço de cevada na dieta de suínos em crescimento têm revelado aumento do consumo matéria seca, com até 14,91% de inclusão de bagaço de cevada e redução do consumo com níveis de inclusão acima deste, o mesmo ocorrendo com o ganho de peso com até 12,85% de inclusão e com a conversão alimentar com a inclusão em até 13,38%. Com inclusão de 50% atinge-se redução de até 45,96% no custo de alimentação de suínos em crescimento, e com inclusão de 14,91%, a economia seria de 12,14%, que na prática representaria uma recomendação de uma mistura de 61,73 kg da ração de crescimento e 38,27 kg de bagaço de cevada in natura, para 100 kg de alimento.
Suínos em crescimento tiveram redução no ganho de peso com níveis maiores que 12,85% de inclusão de bagaço de cevada na ração. Porém, quando passaram a receber ração convencional (à base de milho e farelo de soja) na fase de terminação, tiveram ganho compensatório, uma vez que nesta fase não se observou diferenças no peso final, nem nas características de carcaça, o que demonstra que o bagaço de cevada incluído na dieta de crescimento não comprometeu a qualidade da mesma.
Estudos sobre a composição química e energia digestível do ingrediente mostraram valores de energia digestível de 2416 kcal/kg de matéria seca, para suínos em crescimento e de 2745 para suínos em terminação, mostrando que a utilização do bagaço de cevada pode ser viável principalmente na fase de terminação.
Em rações isoproteicas e isoenergéticas, o bagaço de cevada pode ser incluído em até 15%, com base na matéria natural, na dieta de suínos em crescimento e terminação, corroborando, pelo menos em parte, com os resultados de desempenho de 14,91% de inclusão na matéria seca observados em dietas para suínos em crescimento.
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Autores:
Antonio Assis
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
Jamil Montebraz
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Antonio Assis
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
9 de marzo de 2021
Olá, Não tivemos experiência com ensilagem do BCV! O mais próximo disso que fomos, foi armazenar o BCV em tonéis de plástico, na tentativa de prolongar a sua vida útil para ser usado, aqui, considerado "in natura", uma vez que exposto a céu aberto, perdia rapidamente as características originais, ocorrendo fermentação e lixiviação de parte dos seus constituintes para o solo onde era depositado ao chegar da cervejaria! Por outro lado, o teor de umidade do produto era bastante elevado, na maioria das vezes, sempre superior a 60%!
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Antonio Assis
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
19 de mayo de 2014
Caro Cícero, como a minha praia é com a alimentação de suínos, vou levar sua dúvida aos meus colegas da área de Bovinocultura para lhe responder com mais embasamento. Porém, já adianto que o que usei foi o denomino "bagaço" é o resíduo úmido da indústria de cervejaria, retirado imediatamente após a fermentação para a produção da cerveja, entregue na propriedade, bem próximo à fábrica (cerca de 10 km), portanto, quase sem alteração na sua característica. O bagaço tinha cerca de 70% de umidade, aparentemente, parecido com o que você descreve. Uma forma que tentamos para manter as características por mais tempo, foi a adição de sal grosso no bagaço armazenado em tonéis de plástico que alguns chamam de "bombonas"
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Jadiran Santana
26 de noviembre de 2022
Boa noite, amigos gostaria de tem algum estudo mais profundo no bagaço de cevada, se tem poderia me repassar, estou investindo no comércio de vendas desse produto
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Wilson Santos Pedreira
26 de abril de 2022
Por favor, no caso de Cevada seca para alimentação de bovinos de corte, qual seria uma formulação ideal, para quem tem disponibilidade de CAPIAÇU verde, milho e núcleo, considerando que esse material teria que ser hidratado, por favor.
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Laércio Alves  dos Santos
10 de noviembre de 2021
Boa tarde, gostaria de saber de algum fornecedor ou cervejaria na região de Jundiaí SP,?
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Izac Aguilar Gonçalves
18 de septiembre de 2021
Olá posso combinar o resíduo de cervejaria com cana de açúcar(tanto ensilada ou fresca) para gado leiteiro?
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claudio marcio teixeira da cunha
20 de julio de 2021
Gostaria de saber como ensilar RUC, para prolongar sua utilização. Me cadastrei em uma cervejaria para ter, esse residuo. será fornecido a vacas leiteira e suinos. quais os danos que sua utilização na dieta dos animais em excesso poderia provocar ?
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Ronaldo
17 de julio de 2021
Qual a melhor dieta pra um reprodutor suíno sei que o assunto aí é cavalo
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Daniel Bonatti
11 de julio de 2021
Professor...A proporção de 200g x 50kg de animal foi considerado úmido? Uma vez que eu queira seca-lo, para melhor armazenagem, poderia aumentar essa porcentagem? Falo isso com pensamentos no trato dos equinos.
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Roberto C Dias
10 de junio de 2021
Ola ! Desejo saber sobre o transporte e armazenagem do RUC para periodos de 120 dias .
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