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Análise do comportamento de matrizes suínas lactantes com o uso de enriquecimento ambiental na maternidade

Publicado: 15 de outubro de 2013
Por: Gisele Dela Ricci, Graduanda em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista -UNESP-, SP, Estagiária da Embrapa Suínos e Aves; Dirlei Antônio Berto e Jose Roberto Sartori, Professores Drº da UNESP, SP; Osmar Dalla Costa, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e L. S. Lopes, Analista da Embrapa Suínos e Aves.
Introdução
Os principais prejuízos relacionados com o bem-estar dos animais confinados são devido à restrição do espaço, dos movimentos e da interação social, que modifica o comportamento natural dos animais (PUTTEN, 1989). Recentemente, o desafio é atender a determinação das exigências de bem - estar para os animais, buscando aumento dos índices produtivos (English & Edwards, 1992), a partir de ferramentas inovadoras, que permitam boa qualidade de vida para animas de produção (BORGES et al., 2010).
O bem-estar animal é avaliado por medidas comportamentais e indicadores fisiológicos. O primeiro, baseado na ocorrência de comportamentos diferentes do natural, como estereotipias ou agressividades, enquanto o segundo, em variações nos níveis sanguíneos, batimentos cardíacos, temperatura corporal e frequência respiratória (MACHADO FILHO & HOTZEL, 2000). Suínos submetidos a temperaturas acima da sua zona de termoneutralidade utilizam de mecanismos fisiológicos, como ofegação, para a redução da temperatura corporal (SARUBBI, 2005).
A mortalidade na maternidade representa a maior causa de perdas na suinocultura (ABRAHÃO et al., 2004). A maternidade é a instalação mais complexa na produção de suínos devido à necessidade de atender a microambientes diferentes para as matrizes e leitões, sendo este o maior desafio para o produtor (SILVA, I. J.O. et al., 2005). Sistemas como nebulização, ventilação, ar condicionado e resfriamento evaporativo são métodos que previnem o estresse calórico, apesar de a temperatura corporal não ser influenciada pelos resfriadores, os métodos são considerados benéficos para a melhora do conforto animal (NAAS, 2000).
O estresse por calor, em matrizes suínas, provoca alterações na quantidade e no tempo de ingestão de alimentos, caracterizando alteração do comportamento ingestivo (QUINIOU, N. et. Al, 2005) com consequentes redução no desempenho das fêmeas e de suas leitegadas. Comportamentos diferenciados como estereotipias podem ser notados em matrizes suínas submetidas a estresse calórico. Este comportamento é uma forma de anormalidade, definido como movimentos repetitivos que ocupam grande parte do tempo do animal (JENSEN, 2009). Esse comportamento possui função compensatória e tranquilizante, ocorrida através da redução da atividade do eixo pituitária-adrenal, com diminuição dos níveis de cortisol (DANTZER & MORMEDE, 1983). Para os suínos, as estereotipias mais comuns são a mastigação das gaiolas, madeiras, bebedouros e comedouros (instalações), enrolar a língua e falsa mastigação (ZANELLA, 1995; POLETTO, 2010).
A utilização de enriquecimento ambiental em instalações para suínos tem a capacidade de introduzir melhorias no ambiente de confinamento permitindo a redução do estresse, aumento das taxas reprodutivas, diminuição de distúrbios comportamentais e de mortalidade dos animais (CARLSTEAD & SHEPHERDSON, 2000).
De acordo com a importância do uso do enriquecimento ambiental e das variações comportamentais decorrentes do estresse por calor, este trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento de matrizes suínas na maternidade, em ambientes com e sem enriquecimentos ambientais.
 
Material e Métodos
O experimento foi realizado durante os meses do verão (janeiro a março) no setor de suinocultura da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP campus de Botucatu. Foram utilizadas oito matrizes da raça Landrace e Large White, distribuídas aleatoriamente de acordo com a ordem de parição (1°, 2°, 3° e ≥ 4°). O comportamento das matrizes foi avaliado na primeira semana de lactação nos períodos (manhã: das seis às oito horas, tarde: das doze às quatorze horas e a noite: das dezoito as vinte horas), com intervalos de cinco minutos entre as observações. Para o enriquecimento ambiental foram utilizados seis ventiladores e dois aspersores de telhado. Dos ventiladores, dois estavam localizados no telhado e outros quatro ventiladores de coluna (modelo Q500C e 1150 rpm) nas laterais da sala, na frente e na altura da cabeça do animal em sentido giratório. Os aspersores eram fixados no telhado e acionados no momento das observações. As temperaturas ambientais foram monitoradas através de termômetros de bulbo seco/úmido e globo negro (Tg) com leituras a cada 5 minutos, dentro dos três períodos do dia, no decorrer dos cinco dias. A temperatura corporal dos animais foi medida com o auxilio do termômetro de infravermelho. Foram comparados os ambientes com e sem enriquecimento, sendo a análise do comportamento das matrizes realizada com o auxílio de um etograma, onde se avaliou os seguintes comportamentos: lúdicos, estereotipados, ofego, ócio, interações sociais com leitões, alimentar, consumo de água, movimentação e de micção. O comportamento dos animais foi avaliado através do teste de Qui-Quadrado (X²), através do procedimento FREQ do SASTM (2008).
 
Resultados e Discussões
A temperatura máxima e mínima dos termômetros de bulbo seco e globo negro foram 32, 34,9, 17 e 18ºC, respectivamente.
Observou-se um efeito significativo (P< 0,001) do enriquecimento ambiental sobre os comportamentos das matrizes para os comportamentos lúdicos, estereotipados, ofego, alimentação, consumo de água e movimentação, melhorando significativamente o bem-estar destas matrizes.
Para o efeito significativo dos comportamentos estereotipados, Broom (1981) afirma que quando os suínos são confinados em baias ou presos por um período de tempo longo, alguns indivíduos apresentam comportamentos estereotipados, enquanto outros se tornam inativos e não-responsivos. Neste estudo, o estado de inatividade, foi observado como ócio e não apresentou efeito significativo.
O sistema de enriquecimento ambiental não influenciou significativamente os comportamentos de interação social e micção, tabela 1.
 
Tabela 1. Variações de comportamento entre os tratamentos
Análise do comportamento de matrizes suínas lactantes com o uso de enriquecimento ambiental na maternidade - Image 1
 
Observou-se efeito significativo (P< 0,001) do período noturno apenas para o comportamento lúdico, contudo para o comportamento ofego foi significativo (P< 0,001) nos três períodos dentro do sistema sem enriquecimento ambiental.
 
Considerações
Finais Conclui-se que para as matrizes, na primeira semana de lactação, o uso de enriquecimento ambiental como ventiladores e aspersores de telhado são eficientes no incremento ao bem-estar das matrizes suínas.
 
Referencias Bibliográficas
ABRAHÃO, A. A. F.; VIANA, W. L.; CARVALHO, L. F. O. S.; MORETTI, A. S. Causas de mortalidade de leitões neonatos em sistema intensivo de produção de suínos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, n. 41, p. 86-91, 2004.
BORGES, G.; MIRANDA, K. O. S.; RODRIGUES, V. C.; RISI, N. Uso da geoestatística para avaliar a captação automática dos níveis de pressão sonora em instalações de creche para suínos. Engenharia Agrícola, v.30, n.3, p.377-385, 2010.
CARLSTEAD, K.;SHEPHERDSON, D. Alleviating stress in zoo animals with environmental enrichment. In: MOBERG, G.P.; MENCH, J.A. The Biology of animal stress: basic principles and implications for animal welfare. CAB International, cap. 16, p. 337-354, 2000.
ENGLISH, P.R.; EDWARDS, S.A. Animal welfare. In: LEMAN, A.D.; STRAW, B.E.; MENGELING, W.L. Disease of swine .7th ed. Ames: The Iowa State University, 1992. p.901-8.
QUINIOU, N.; RENAUDEAU, D.; DUOIS, S.; NOBLET, J. Effect of diurnal fluctuating high ambient temperatures on performance and feeding behavior of multiparous lactating sows. Animal Science, v.71, n3, p.571-575, 2005.
MACHADO FILHO, L.C.P. e M.J. HOTZEL. 2000. Bem- estar dos suínos. Em: V Seminário internacional de suinocultura. Anais... Gessuli. São Paulo. p. 70-82.
NÄÄS, I.A. et al. Uso de redes neurais artificiais na identificação de vocalização de suínos. Engenharia Agrícola, v.28, n.2,p.204-216, 2008.
PUTEN, G. V. The pig: Model for discussing animal behavior and welfare. Applied AnimalBehavior Science, Amsterdam, v.22, v.2, p.115-28, 1989.
SARUBBI, J. Estudo do conforto térmico, desempenho animal e racionalização de energia em uma instalação de suínos na região de Boituva – SP. Faculdade de Engenharia Agrícola, 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Estadual de Campinas, 2005
SILVA, I. J.O.; PANDORFI, H.; PIEDADE, S. M. S. Uso da zootecnia de precisão na avaliação do comportamento de leitões lactentes submetidos a diferentes sistemas de aquecimento. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n.1, p.220-229, 2005.
Tópicos relacionados
Autores:
Gisele Dela Ricci
USP -Universidade de São Paulo
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José Roberto Sartori
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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Dirlei Antônio Berto
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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Dr. Osmar Dalla Costa
Embrapa Suínos e Aves
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